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Blog Negro Nicolau tem papel importante na disseminação da história da população negra, por Dayze Vidal


Dayze Vidal. (FOTO/Alexandre Lucas).

A professora e ativista das causas negras, Dayze Vidal, encaminhou via WhatsApp mensagem de apoio e de sugestão pela passagem dos oito anos do Blog Negro Nicolau na rede mundial de computadores.

“Mate a Sinhá que existe dentro de você”, por Karla Alves


"Mate a Sinhá que existe dentro de você",
por Karla Alves.
(FOTO/Reprodução/Facebook).
Com todos os avanços conquistados pelo feminismo no Brasil, país de maioria populacional negra, se há mulheres negras que não se sentem humanas dentro desta organização política, das duas uma:

Ou o feminismo falhou na base de sua competência, ou se trata de uma organização política que não enxerga mulheres negras como mulheres.

Não posso dar credibilidade a qualquer organização política que se consolide com base na exploração daquelas que supostamente se propõe a defender. Reconhecer nossa humanidade é se dedicar a incendiar a casa grande e a senzala, o que também significa combater o patriarcado. Para que isso aconteça, estou disposta a sair da senzala. E você, tá disposta a se despir dos costumes herdados da casa grande?

#Altaneira60Anos. A força do movimento negro


A força do movimento negro, por Nicolau Neto. (Foto: Cláudio Gonçalves).

Comecemos essa discussão com o poema de Jorge Posada:

" Um negro sempre será um negro,
Chame-se pardo, crioulo, preto, cafuzo, mulato ou moreno-claro
Um negro sempre será um negro:
Na luta que assume pelo direito ao emprego
E contra a discriminação no trabalho
Um negro sempre será um negro:
Afirmando-se como ser humano
Na luta pela vida".

Tem-se aqui uma nítida ideia de que é preciso um senso crítico quanto ao tema em questão. Faz-se necessário então a desconstrução do mito da igualdade racial.

O Brasil é o país que tem a maior população de negros fora da África. Os negros foram trazidos do continente africano para cá, escravizados e, não se contentando com isso, as elites político-econômicas da época, através de diversas práticas, cuja escravização foi uma delas, fizeram com que negros e negras deixassem de praticar suas linguagens, religiões e costumes adotando práticas europeias.

No dia 20 de novembro, data dedicada à consciência negra, é importante destacar que o movimento negro tem por objetivo não deixar esmorecer e resgatar essa cultura afro- brasileira, rebatendo a desigualdade e a separação racial que insiste em permanecer sobre o povo negro. Ressaltemos ainda que ele (o movimento) é uma batalha travada contra o senso comum. Numa sociedade onde se assume que existe preconceito racial é contraditória a afirmação que não há discriminação e racismo pessoal.

Não é novidade que o racismo está presente no cotidiano. As questões aqui são: onde o racismo atrapalha, rouba, diminui, fere, interfere, omite, engana, diferencia a população negra que constitui toda uma nação de outra raça? Aí está a chave. É entra o movimento negro, numa armadura e resistência coletiva de uma raça presente e atuante.

Nunca é demais lembrar, já que ele insiste, apesar dos avanços que já foi efetivado, que o Estado é o personagem responsável em garantir a igualdade. Porém, se o estado age de forma ativamente contrária ou de forma omissa em seus serviços de policiamento, saúde pública, geração de renda e trabalho, educação, o que leva a discriminação racial, então temos algo além de problemas sociais. O Estado passa a alimentar um atraso e constrói um apartheid.

No entanto, o país é composto de edifícios, a saber, as instituições de ensino, Ongs, empresas, templos religiosos e famílias. Porém, muitas dessas organizações não estão afastadas de conceitos errados, uma vez que não romperam com seus dogmas racistas, não tendo em seus quadros representantes de diversas raças e etnias. Isso leva ao fato de que o racismo tem efeito letal e em massa.

Diante desse quadro movimento negro assume seu papel de destaque, não se baseando apenas em probabilidades e teorias, mas em fatos comprovados nos diversos espaços de poder na sociedade. As ações do movimento estão diretamente ligadas às lutas não só contra o racismo e a discriminação racial, mas também ao machismo e intolerâncias religiosas e culturais.

No Brasil, as referências para essas lutas continuarem são muitas, como por exemplo, Zumbi, Dandara, Beatriz Nascimento, Tia Simoa, Abdias Nascimento, Revolta dos Malês, Grupo de Valorização Negra do Cariri (GRUNEC), Grupo de Mulheres Negras Pretas Simoa e tantas representações de luta e resistência do povo negro. Assim, o movimento negro é resultado de uma série de manifestações decorrentes de um processo histórico. A amplitude do movimento negro é um conjunto de manifestações que surgem de inquietações individuais e coletivas.

Conclui-se que o movimento negro precisa expandir suas ações e chegar em outras localidades.



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Nicolau Neto é professor; palestrante na área da Educação com temas relacionados a história e cultura africana e afrodescendente, desigualdades raciais, preconceito racial, diversidade e relações étnico-raciais; ativista dos direitos civis e humanos das populações negras; membro do Grupo de Valorização Negra do Cariri (Grunec); membro da Academia de Letras do Brasil/Seccional Araripe (ALB/Araripe); servidor público no município de Altaneira, diretor vice-presidente da Rádio Comunitária Altaneira FM e administrador/editor do Blog Negro Nicolau (BNN).

Personalidades Negras que Mudaram o Mundo: Tia Simoa



Tia Simoa. Cordel biográfico de Jarid Arraes.
(Foto/ Reprodução/ Blog Mônica Aguiar Souza).
A Preta “Tia Simoa” foi uma negra liberta que, ao lado de seu marido (José Luís Napoleão) liderou os acontecimentos de 27, 30 e 31 de janeiro de 1881 em Fortaleza – Ce , episódio que ficou conhecido como a “Greve dos Jangadeiros”, onde se decretou o fim do embarque de escravizados naquele porto, definindo os rumos para a abolição da escravidão na então Província do Ceará, que se efetivaria três anos mais tarde. No entanto, apesar de sua importante participação para a mobilização popular que impulsionou os acontecimentos, esta mulher negra teve sua participação invisibilizada na história deste Estado onde, ainda hoje, persiste a falsa premissa da ausência de negr@s.

As mulheres negras cearenses são comumente indagadas sobre sua origem e constantemente remetidas à Bahia, principalmente se não submetem seus cabelos a processos de alisamento. Esta não aceitação de nossa identidade se deve a cruel associação d@ negr@ à condição de escrav@, que no caso do estado do Ceará, teve seu processo diferenciado das principais capitanias importadoras de mão de obra escravizada devido a suas condições climáticas e geográficas, o que não significa dizer que aqui não tiveram escrav@s ou que não existiram negras e negros livres, a exemplo da “Tia Simoa” que, além de liberta lutou pela liberdade de seu povo, evidenciando uma expressiva característica da população negra (escravizada ou liberta) deste período que ultrapassa a visão dicotomizada entre o conformismo e a resistência, pois demonstra “uma experiência construída historicamente pela etnia negra” (FUNES) estabelecida através de sua sociabilidade, engajamento e luta inserida em seu cotidiano.

A ausência desta documentação histórica se repete no tocante as demais lideranças negras que atuaram no restante do país como Luíza Mahin (Ba), Mariana Crioula (Rj), Tereza de Benguela (Mt) dentre tantas outras que poderiam figurar na lista de resistência e resiliência negra feminina mas que são invisíveis na historiografia oficial do país, bem como na história do feminismo brasileiro que desconhece o extenso histórico de enfrentamento político e social da mulher negra no Brasil. A omissão desta representação na história oficial perpetra o imaginário social e destina, controla e manipula a subjetividade desse contingente significativo de mulheres no Ceará, assim como no restante do Brasil que, além de não veem suas demandas específicas inseridas no debate sobre feminismo também não se percebem nos principais embates simbólicos travados no bojo dessa importante organização política.

Atrelando o conceito de gênero ao de “raça”, onde ambos descartam o discurso biologizante das diferenças para se deterem ao campo semântico do conceito abreviado de “mulher negra”, devemos considerar que este é, sobretudo, um conceito determinado pela estrutura da sociedade e pelas relações de poder que a conduzem. Dessa forma, conhecer a história de Simoa, mulher negra cuja história está submersa entre os escombros da memória é, pois, estabelecer um sentido de pertencimento a um grupo social historicamente invisibilizado no estado do Ceará. Ao sabermos da influencia que as representações históricas exercem na organização social poderemos compreender de que forma o discurso, inserido no pensamento social, contribui para a construção das relações que se estabelecem neste meio.

Ao eleger os sujeitos de uma representação histórica, estamos exercendo o que Bourdieu chama de “poder simbólico” (2006, p.14), pois estamos nomeando um objeto constituído na enunciação. Compreendendo o discurso como campo de exercício deste poder e, portanto, como instrumento de dominação, ele assim se efetua ao tomar reconhecimento e se concretiza ao tornar-se uma representação social ideologicamente estruturada, vindo a contribuir significativamente para a construção da realidade.

Com isso quero dizer que, ao buscar conhecer a estrutura socioeconômica dos responsáveis pela produção e reprodução deste discurso, podemos entender como se formaram as configurações ideológicas acerca da imagem da população negra no Ceará, sobretudo no discurso do período pós-abolição, onde se elegeu os sujeitos para representarem o movimento abolicionista ao mesmo tempo em que sepultava a memória dos “atores” esquecidos. É por meio do poder simbólico que a historiografia oficial tende a forjar a “não presença” de negras e negros no estado do Ceará e, assim, a naturalizar essa invisibilidade por meio da reprodução deste discurso no âmbito educacional perpetrando o imaginário social.

É, portanto, percorrendo o itinerário oposto que buscamos desvendar os elementos para compor nossa representação histórica a partir do protagonismo de mulheres negras que tiveram sua participação omitida nos discursos sobre a série de ações de resistência e de enfrentamento à escravidão, como no caso do movimento abolicionista no Ceará que resultou em uma abolição pioneira no Brasil e que este mês completa 130 anos, nos levando, mais uma vez, a refletir sobre os desdobramentos deste processo no bojo dos discursos que se sucederam. Da mesma forma, a omissão sobre o protagonismo de mulheres negras ao longo da história do Brasil se reproduz no tocante a história oficial do feminismo brasileiro.

Ao voltar o olhar para o feminismo brasileiro percebemos as profundas desigualdades que se reproduzem em suas contradições internas, principalmente quando visto a partir da dimensão racial, ao desconhecer e desconsiderar o duro processo de aprendizagem em busca da construção da identidade da mulher negra. É necessário, portanto, avançar diante destas e outras contradições específicas através de um denso questionamento da lógica estrutural da sociedade, onde estará presente o racismo.

É neste sentido que buscamos reescrever nossa história, para que possamos nos reconhecer como sujeitos em nosso próprio discurso e, assim, fortalecer os laços de nossa identidade através da organização coletiva. Pouco sabemos sobre a vida da Preta “Tia Simoa”, que de forma quase que despercebida passa as vistas dos historiadores, constando apenas um minúsculo relato sobre sua participação na Greve dos Jangadeiros de janeiro de 1881 (GIRÂO, 1984, p.104), o que demonstra a dívida histórica deste país para conosco.

Contudo, Simoa representa para nós uma visão alternativa de mundo ao mesmo tempo em que propõe para tod@s novas discussões acerca das estruturas sociais tradicionais, nos permitindo a reconfiguração de uma realidade social. Em nome dela, saudamos a todas as negras invisíveis na história e nos fortalecemos no eco de suas vozes silenciadas para dizer que aqui estamos e que daqui, do Ceará, falamos em inúmeras primeiras pessoas e dizemos que ainda há muito que se contar. Nossa história apenas começou. (Texto de Karla Alves, no Blog Pretas Simoa).

Saiba mais sobre a série "Personalidades Negras que Mudaram o Mundo" aqui.

Alex Baoli e Karla Alves discutirão literatura de Lima Barreto em Juazeiro do Norte



O professor Alex Baoli e a ativista das causas negras pelo Grupo de Mulheres Negras do Cariri Pretas Simoa, Karla Alves discutirão nesta quinta-feira, 23, a literatura do escritor Lima Barreto.

Nascido no Rio de Janeiro, o autor do romance O triste fim de Policarpo Quaresma e de dezenas de obras hoje em domínio público, não foi reconhecido na literatura de sua época, apenas após sua morte. Teve um estilo informal de escrever, foi cronista de costumes do Rio de Janeiro, adotando um texto que contrastava muito com os autores de então. Batalhou sempre por sua inserção no meio literário, chegando a receber uma menção honrosa da Academia Brasileira de Letras. Morreu com 41 anos de idade.

Lima Barreto fez de suas experiências pessoais canais de temáticas para seus livros. Em seus livros denunciou a desigualdade social, como em Clara dos Anjos; o racismo sofrido pelos negros e mestiços e também as decisões políticas quanto à Primeira República. Além disso, revelou seus sentimentos quanto ao que sofreu durante suas internações no Hospício Nacional em seu livro O cemitério dos vivos.


É com esse sentimento, que a temática central facilitada por Alex e mediada por Karla versará sobre “A voz Negra Contra a Corrente: A Escrita Negra de Lima Barreto” e será promovida no auditório do Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB), às 19h00, em Juazeiro do Norte.

Karla Alves e Alex Baoli. (Fotomontagem: Blog Negro Nicolau).



Grunec Cariri manifesta repúdio ao Projeto de Lei que proíbe discussão de gênero e sexualidade nas escolas de Crato


O Grupo de Valorização Negra do Cariri (Grunec) tornou pública carta repúdio contra a aprovação pela Câmara de Vereadores (as) do município de Crato na última segunda-feira, 23, do Projeto de Lei que proíbe a discussão de gênero e sexualidade na rede pública e particular de ensino desta municipalidade.

O projeto é de autoria do vereador Roberto Anastácio (Podemos) que antes havia apresentado o texto em forma de emenda, mas para evitar dificuldades na aprovação, já que esta exige 3/5 dos (as) edis, a transformou em PL por meio de articulação política, como salientou a este Blog, o parlamentar Amadeu de Freitas (PT), contrário à ideia.

Na manhã de ontem, 27, a prefeitura foi povoada por movimentos sociais que protocolaram documento solicitando do Prefeito Zé Ailton (PP) a vedação da proposta. Elaborado pela Defensoria Pública, o protocolo contou com assinatura de vinte movimentos sociais.

Com a carta de repúdio, o Grunec se junta ao Centro Acadêmico de História Francisca Fernando Anselmo – CAHFFA/URCA, ao Grupo de Mulheres Negras do Cariri Pretas Simoa, do Laboratório de Pesquisa em História Cultural (LAPEHC), da URCA e do Conselho LGBT (Juazeiro do Norte), que fizeram isto anteriormente.

Até o fechamento desta matéria, Zé Ailton e Otonite Cortez, prefeito e secretária de educação, respectivamente, não haviam se manifestado publicamente sobre o caso.

Confira Carta Repúdio do Grunec na íntegra

O Grupo de Valorização Negra do Cariri – GRUNEC manifesta seu repúdio contra aprovação pela Câmara de Vereadores do Crato/CE de projeto de lei que veda o ensino de ideologia de gênero na rede pública municipal e na rede privada, ocorrida na data de 23 de outubro de 2017.

O GRUNEC entende que a construção de uma sociedade justa e fraterna, passa pelo respeito à dignidade humana de todas as pessoas independentemente de seu credo, cor, etnia, gênero, classe social, grau de instrução e outras características e que o desrespeito à tal dignidade é a fonte de todas as formas de violência que aviltam nossa sociedade.

O enfrentamento de todas as formas de violências trafega pelo caminho da educação, sobretudo, no seio das instituições de ensino. O enfretamento deve ser realizado pelo Município do Crato com coragem e determinação. Escola não deve ter medo, nem mordaça.
Assim, o machismo arraigado na nossa sociedade é a fonte de toda a violência de gênero contra mulheres, gays e transgêneros. A ação dos grupos e indivíduos defensores da supremacia masculina a qualquer custo protagonizam atos diários de violências que ocasionam variadas formas de agressão e culminam com a ocorrência de homicídios. Em razão disso, o Estado brasileiro tem destaque negativo mundial por se acovardar na promoção do respeito entre seus cidadãos conjugado a liberdade de manifestação de sua sexualidade.

O GRUNEC defende a liberdade das famílias e dos credos na orientação moral e na forma de lidar com identidade de gênero de seus membros, nos seus espaços de sua convivência e que tais orientações sejam respeitadas. Contudo, defende que deve existir um caminho bem definido no espaço público que proporcione a construção do RESPEITO à todos os indivíduos e suas formas de manifestação da sexualidade e gênero.

Este caminho deve ser construído coletivamente a partir de debates profundos e bem amadurecidos, reconhecendo e respeitando toda a pluralidade de opiniões e diversidade de ideias existentes na sociedade, de forma a construir-se um aparato legítimo que garanta o desenvolvimento civilizado e não-violento da nossa nação.

Nesse contexto, o GRUNEC considera o pronunciamento da Câmara de Vereadores do Crato, já referido, como ILEGÍTIMO, eis que tramitou de forma açodada, se valendo de subterfúgios jurídicos para inviabilizar debate e colher uma votação vencida por menos da metade dos membros da casa (são 19 vereadores, somente 09 votaram favoráveis), em ambiente nocivo de enfrentamento e intimidação entre os grupos oponentes, que culminou em atos de violência física nas dependências e proximidades da Câmara.

A votação referida é uma manifestação de supremacistas masculinos (entre os 09 favoráveis, há somente um voto feminino) em defesa e perpetuação do machismo como ideologia e pensamento único, que para tanto se valeram da violência e intimidação física em detrimento da argumentação racional, prática que se espera que de uma casa legislativa democrática e séria.

Portanto, o GRUNEC conclama ao Prefeito do Crato, Zé Ailton Brasil, a vetar por inteiro a proposta apresentada, bem como convocar de forma incontinenti debate público com sociedade cratense e grupos divergentes, para construção de um caminho racional e parâmetros para a prática do respeito a todos os indivíduos e suas manifestações de gênero e sexualidade, a ser consolidado em documento legal pertinente.

Reafirmamos, que a uma nação civilizada se constrói com uma Escola sem medo e sem mordaça, voltada para o respeito às diferenças e convívio não-violento entre seus cidadão”.


Movimentos Sociais protocolam documento solicitando veto do prefeito de Crato ao projeto que proíbe discussão de gênero nas escolas


Movimentos Sociais solicitam veto do prefeito de Crato ao projeto de lei que proíbe discussão de gênero nas escolas.
(Foto: Reprodução/ WhatsApp).
A prefeitura de Crato, na região do cariri, ficou bastante movimentada na manhã desta sexta-feira, 27. Mas não era porque estava ocorrendo processo licitatório ou algo semelhante.

Em verdade, o motivo do grande contingente nos corredores daquele paço municipal, se deu em face do protocolamento de um documento que solicita do prefeito Zé Ailton (PP) a vedação ao esdrúxulo (para não dizer homofóbico) Projeto de Lei do vereador Roberto Anastácio (Podemos) aprovado na última segunda-feira, 23, que proíbe a discussão de gênero e sexualidade (sob o nome de disciplina “ideologia de gênero") na rede pública e particular de ensino.

Ao Blog Negro Nicolau, Valéria Carvalho, ativista do Grupo de Valorização Negra do Cariri (Grunec), afirmou que o documento protocolado foi elaborado pela Defensoria Pública e contou com a assinatura de vinte movimentos sociais, como a Frente de Mulheres de Movimentos de Movimentos do Cariri, Conselho da Mulher, Sindicatos, além do próprio Grunec.

No ensejo, o prefeito não se encontrava e o documento foi recebido pelos procuradores do município. Indagada sob a fundamentação e expectativa do ato, Valéria realçou que a nota foi muito bem fundamentada e que a justificativa tem como base fundamental a inconstitucionalidade e espera “sensibilidade do gestor no que pese o respeito à dignidade humana”.

Ela informou ainda que está previsto para segunda-feira, 30, o protocolo das notas individuais de cada movimento. “Pressão em dose homeopáticas”, frisou.

Na quinta-feira, 26, o Grunec elaborou uma carta de repúdio contra a aprovação do projeto descrito acima e se juntou ao Centro Acadêmico de História Francisca Fernando Anselmo – CAHFFA/URCA, ao Grupo de Mulheres Negras do Cariri Pretas Simoa e ao Laboratório de Pesquisa em História Cultural (LAPEHC), da URCA, que fizeram isto anteriormente.

Abaixo integra da Carta do Grunec

O Grupo de Valorização Negra do Cariri – GRUNEC manifesta seu repúdio contra aprovação pela Câmara de Vereadores do Crato/CE de projeto de lei que veda o ensino de ideologia de gênero na rede pública municipal e na rede privada, ocorrida na data de 23 de outubro de 2017.

O GRUNEC entende que a construção de uma sociedade justa e fraterna, passa pelo respeito à dignidade humana de todas as pessoas independentemente de seu credo, cor, etnia, gênero, classe social, grau de instrução e outras características e que o desrespeito à tal dignidade é a fonte de todas as formas de violência que aviltam nossa sociedade.

O enfrentamento de todas as formas de violências trafega pelo caminho da educação, sobretudo, no seio das instituições de ensino. O enfretamento deve ser realizado pelo Município do Crato com coragem e determinação. Escola não deve ter medo, nem mordaça.
Assim, o machismo arraigado na nossa sociedade é a fonte de toda a violência de gênero contra mulheres, gays e transgêneros. A ação dos grupos e indivíduos defensores da supremacia masculina a qualquer custo protagonizam atos diários de violências que ocasionam variadas formas de agressão e culminam com a ocorrência de homicídios. Em razão disso, o Estado brasileiro tem destaque negativo mundial por se acovardar na promoção do respeito entre seus cidadãos conjugado a liberdade de manifestação de sua sexualidade.

O GRUNEC defende a liberdade das famílias e dos credos na orientação moral e na forma de lidar com identidade de gênero de seus membros, nos seus espaços de sua convivência e que tais orientações sejam respeitadas. Contudo, defende que deve existir um caminho bem definido no espaço público que proporcione a construção do RESPEITO à todos os indivíduos e suas formas de manifestação da sexualidade e gênero.

Este caminho deve ser construído coletivamente a partir de debates profundos e bem amadurecidos, reconhecendo e respeitando toda a pluralidade de opiniões e diversidade de ideias existentes na sociedade, de forma a construir-se um aparato legítimo que garanta o desenvolvimento civilizado e não-violento da nossa nação.

Nesse contexto, o GRUNEC considera o pronunciamento da Câmara de Vereadores do Crato, já referido, como ILEGÍTIMO, eis que tramitou de forma açodada, se valendo de subterfúgios jurídicos para inviabilizar debate e colher uma votação vencida por menos da metade dos membros da casa (são 19 vereadores, somente 09 votaram favoráveis), em ambiente nocivo de enfrentamento e intimidação entre os grupos oponentes, que culminou em atos de violência física nas dependências e proximidades da Câmara.

A votação referida é uma manifestação de supremacistas masculinos (entre os 09 favoráveis, há somente um voto feminino) em defesa e perpetuação do machismo como ideologia e pensamento único, que para tanto se valeram da violência e intimidação física em detrimento da argumentação racional, prática que se espera que de uma casa legislativa democrática e séria.

Portanto, o GRUNEC conclama ao Prefeito do Crato, Zé Ailton Brasil, a vetar por inteiro a proposta apresentada, bem como convocar de forma incontinenti debate público com sociedade cratense e grupos divergentes, para construção de um caminho racional e parâmetros para a prática do respeito a todos os indivíduos e suas manifestações de gênero e sexualidade, a ser consolidado em documento legal pertinente.

Reafirmamos, que a uma nação civilizada se constrói com uma Escola sem medo e sem mordaça, voltada para o respeito às diferenças e convívio não-violento entre seus cidadão”.


Aluna de ensino médio em Nova Olinda diz que PL aprovado em Crato é um insulto à memória das pessoas


A emenda que depois se transformou em projeto de lei de autoria do vereador Roberto Anastácio, conhecido por Bebeto, com assento na Câmara de Crato pelo Podemos, que proíbe a discussão de gênero e sexualidade na rede pública e particular continua a merecer duras críticas.

Kézia Adjane quer ser professora de História.
(Foto: Reprodução/Facebook).
Depois de notas do Centro Acadêmico de História Francisca Fernando Anselmo – CAHFFA/URCA, do Grupo de Mulheres Negras do Cariri Pretas Simoa e do Laboratório de Pesquisa em História Cultural (LAPEHC), da Universidade Regional do Cariri, Kézia Adjane, estudante do terceiro ano do ensino médio integrado a educação profissional da Escola Educação Profissional Wellington Belém de Figueiredo, em Nova Olinda, na região do cariri, teceu fortes críticas ao ator e apoiadores (as) do texto aprovado na última segunda-feira, 23.

Conforme já publicado aqui neste Blog, sete parlamentares foram contrários (as) e nove aprovaram. Professores (as), alunos (as) e outras pessoas foram, segundo informações publicadas em grupos de Whatsapp agredidas durante a sessão. Os agressores gritavam o nome de Bolsonaro e o autor da matéria disse que ela é de todos aqueles que acreditam em Cristo e ajoelhou-se tão logo houve a aprovação da emenda.

Ao usar seu perfil na rede social facebook, Kézia foi taxativa ao repudiar o texto aprovado:

Minha nota de repúdio as pessoas que aprovaram a emenda que proíbe a discussão sobre gênero em sala de aula em Crato. Isso é um retrocesso tremendo. Além disso, é um insulto a todas as pessoas que morreram e morrem diariamente justamente pela falta desse diálogo. É uma pena que uma cidade tão grande ainda tenha pessoas com mente tão pequena”.

A aluna é conhecida por seu posicionamento firme e contundente acerca dos principais temas que afetam o país. Líder estudantil, Kézia atualmente ocupa a presidência do Grêmio Escolar e deseja ser professora de História. 


II Marcha das Mulheres Negras do Cariri debaterá as diversas forma de discriminação, opressão e aniquilamento


Pelas nossas vidas, pelo bem viver, contra todas as formas de discriminação, opressão e aniquilamento. Aquilombar é preciso". É com esse tema que um conjunto de mulheres do município de Crato e adjacências ligadas a diversos movimentos sociais irão promover a 2ª edição das Marcha das Mulheres Negras do Cariri Cearense.

Em 2015, mais de duas mil pessoas se concentraram em frente a prefeitura do Crato e percorreram algumas ruas até chegarem à Praça da Reffsa. Naquela oportunidade, o movimento foi idealizado pelo Grupo de Valorização Negra do Cariri (Grunec), Cáritas Diocesana e Conselho Municipal dos Direitos da Mulher Cratense para refletirem acerca do combate a violência, o racismo e a desvalorização feminina no mercado de trabalho.

Para esta edição, um dos assuntos a se refletir será os frequentes atentados aos terreiros de religiões de matriz africana e afro-brasileira verificados principalmente em Juazeiro do Norte, além de pontuar os velhos problemas crônicos como a desigualdades racial nas instituições de ensino superior e a exclusão de gênero e raça no seio político e social. 

"As mulheres de terreiros estão também na construção do ato", realçou Valéria Carvalho, do Grunec. 

Ao ser indagada pelo Blog Negro Nicolau acerca da construção de um movimento em um cenário tão adverso onde há todos os dias cortes de diretos, atingindo principalmente negros e negras, Valéria foi taxativa. "Eita. É luta meu filho. Mas é a indignação que nos move". E citou como a mola propulsora a irem as ruas as cotas na Universidade Regional do Cariri (URCA) que não atendeu as demandas debatidas em audiência pública em 14 de fevereiro do ano em curso. "A história das cotas da URCA foi o pingo d'água que faltava. Já tivemos quatro encontros e não está fácil e nem será fácil. Mas nunca nada veio fácil para nós", disse.

Verônica Neves, da Cáritas e do Grunec, também respondeu a indagação e endossou as palavras de sua irmã de sangue e de luta. "O que nos motivou a ir as ruas foi sem dúvida as discussões das cotas". Ela cita que houve uma primeira reunião que agregou 14 mulheres, lideranças de movimentos e associações e de terreiros. "Naquela ocasião", disse, "refletimos um pouco sobre o cenário político e como este cenário tem impactado na vida das mulheres e não nos restou outra alternativa senão a luta incessante pelos direitos cada vez mais violados nesse momento. A gente compreendeu naquele momento que essas questões de terreiro, de genocídio da população negra, dos jovens periféricos, o feminicídio naturalmente impactam violentamente na vida das mulheres e das mulheres pretas."

A ativista também fez questão de mencionar o quantitativo populacional no pais. 

"Somos mais de 50% da população mundial e desse percentual, só no Brasil 25% da população é constituída de mulheres negras. Então a gente continua lutando pela vida em primeiro lugar e pelo bem viver, compreendendo o bem viver como um conceito político, um conceito que nos liga diretamente com a nossa ancestralidade."

A marcha ainda está em formação e de acordo com Verônica, haverá visitas as escolas e outras instituições e que existe várias comissões, cada uma com uma agenda a ser construída. O diálogo com a administração municipal também será feito.  "Amanhã haverá um diálogo com o poder público local no sentido de buscar apoio. Já conversamos com a Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Social visando o envolvimento dos Cras, naturalmente as mulheres das bases, com algumas escolas, universidade e com sindicatos", realçou.

Acerca da perspectiva, ela mencionou que está bastante animada, mesmo sabendo que é muito trabalho, mas que a luta pelo combate ao racismo e de promoção da igualdade racial são as finalidades maiores do movimento.

O lançamento da II Marcha das Mulheres Negras do Cariri Cearense ocorreu no último dia 28 de setembro na Universidade Regional do Cariri (URCA), durante a realização VIII Artefatos da Cultura Negra e é uma idealização da Cáritas, Grunec, Capoeira Arte e Tradição, Pretas Simoa, Carrapato Cultural, Mulheres de Terreiros, professoras do ensino médio e universidade.

A Cáritas Diocesana de Crato publicou em seu perfil no Facebook um cartaz (ainda em construção) em que há confirmação do dia 20 de novembro para a realização da II Marcha. A concentração se dará na Feira de Economia Solidária (URCA).

Cartaz da II Marcha Regional das Mulheres Negras do Cariri Cearense publicado pela Cáritas Diocesana de Crato, no Facebook. 



Karla Alves e Alex Baoli discutirão literatura de João Antônio em Juazeiro do Norte



Os ativistas das causas negras Karla Alves e Alex Baoli discutirão nesta sexta-feira, 09, no Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB), às 19h00, em Juazeiro do Norte, a literatura do escritor e jornalista João Antônio Ferreira Filho.

Desconhecido do grande público e, inclusive por boa parte da classe docente e discente do pais, o escritor alvo da discussão, passou a figurar no cenário nacional apenas como João Antônio. Seus escritos, porém, foram alvo de várias premiações pelo rigor crítico com o qual retratava pessoas à margem da sociedade.

João Antonio veio de família humilde do subúrbio de São Paulo e teve que aceitar diversos subempregos e ficou conhecido pelo lançamento do seu livro de contos “Malagueta, Perus e Bacanaço”, publicado em 1963.

Ao fazer menção ao evento, Karla, ativista do Grupo de Mulheres Negras do Cariri – Pretas Simoa, usou a metáfora para descrever o autor. “Amanha (09/06) as 19h no CCBNB estaremos discutindo a literatura nada sutil de João Antonio. Quem conhece vem somar. Quem não conhece e gosta de navalha na lingua vem somar tbm... De todo jeito somaê que tá valendo”, realçou.

Já o professor Alex foi um dos primeiros a compartilhar o evento na sua rede social. “Na próxima sexta-feira, no CCBNB”, dizia a legenda que acompanhava o cartaz de divulgação.

Karla Alves e Alex Baoli. Foto: Reprodução/Facebook.



Mulheres do Cariri marcharão unidas em um mês de luta


O Conselho Municipal do Direitos da Mulher Cratense (CMDMC) e a Frente de Mulheres dos Movimentos de Mulheres afirmaram ao Blog Negro Nicolau que dedicarão todo o mês de março para refletir acerca das condições feministas no cariri cearense em uma alusão ao dia internacional de luta das mulheres.

Este movimento, que envolve diversos atores da sociedade civil, movimentos sociais negros e alguns setores do poder público tem como tema “Mulheres: Reforma da Previdência e Retirada de Direitos” e atuará em diversos espaços, lutando contra a desigualdade salarial, a violência doméstica, a misoginia, a LBTfobia, a xenofobia, o feminicídio, devendo ainda se unificar no combate ao machismo e ao racismo.

Segundo Verônica Neves, integrante do Grupo de Valorização Negra do Cariri (Grunec), há a possibilidade de uma greve geral marcada para o dia 15 enfocando a temática central, haja vista ser esse público um dos mais prejudicados pelas mudanças na legislação brasileiras propostas pelo presidente Michel Temer (PMDB).

Os atos estão marcados para acontecer em pontos diversificados conforme a programação discriminada abaixo:

Neste dia 07, na REFSA, a FOCAES-FASOL (ACB-UFCA), promoverá Feira da Rede FASOL-Cariri a partir das 09h00. Na quarta-feira, 08, haverá um Ato de rua: Mulheres na rua contra a reforma da previdência e retirada de direitos com Concentração na praça da prefeitura do Crato. Ainda no mesmo dia está marcada uma palestra acerca da reforma da previdência e terá como ministrante Marcelo Lettieri, Fiscal da Receita. A fala ocorrerá no Salão de Atos da URCA, campus Pimenta. Leda Mendes e Célia Rodrigues discutirão sobre a temática "conversa de mulher e coisa séria" em uma roda de conversa na OAB Mulher - Lagoa Seca (Juazeiro do Norte). Um Cine Negra e roda de conversa, A Cova da Negra está programado para o dia 09 às 09h00, na sala do Grunec. O Poder Legislativo de Juazeiro do Norte receberá no dia 10, às 09h00 uma Audiência Pública com o movimento de mulheres organizado pela Frente, GRUNEC e Pretas Simoa. No mesmo dia a URCA, no campus pimenta, receberá uma roda de conversa que versará sobre "ser mulher na univesidade". O momento será realizado pelo SINDURCA a partir das 08h00. "Um piquenique feminista: gênero e educação" será desenvolvido por Maria Almeida a partir das 15h00 na Praça do Memorial Padre Cícero, em Juazeiro do Norte no dia 11. Dia 18 será promovido pelo MAIS um "café com elas: mulheres que resistem - o feminismo em Clara Zetkin", com a professora Cláudia Rejane. 

Entre os dias 27 e 28, Verônica Neves desenvolverá a temática "feminismo como forma de resistência" em Salgueiro (PE). Ainda no dia 28, Francy ministrará um Seminário Regional com as Trabalhadoras Rurais na sede da FETRAECE às 08h00. Dois dias depois, no auditório da URCA, haverá o desenvolvimento do seminário "mulher: contra a reforma da previdência e retirada de direitos" às 08h00. A programação será encerrada no último dia do mês com um seminário sobre "orçamento participativo da defensoria pública do Estado" no centro de Convenções. 


Mulheres do Cariri marcharão unidas em mês de luta. Foto: Divulgação.




URCA abre inscrições para Audiência Pública sobre implantação do sistema de cotas


A Universidade Regional do Cariri (URCA), através da Pró-Reitoria de Ensino e Graduação (PROGRAD), comunica que já estão abertas as inscrições On-line para os interessados em participar da Audiência Pública para implantação do sistema de cotas nos cursos de graduação.

Na última terça-feira, 07, a instituição de ensino superior realizou o “I Seminário de Ações Afirmativas: A Implantação do Sistema de Cotas” envolvendo mais de mais de trezentas pessoas, entre professores, universitários dos mais variados cursos de graduação tanto da própria casa, como também da Universidade Federal do Cariri (UFCA) e dos movimentos sociais negros do cariri, com destaque para o Grupo de Valorização Negra do Cariri (GRUNEC) e o Grupo de Mulheres Negras do Cariri (Pretas Simoa), bem como das pessoas com algum tipo de deficiência.

A audiência ocorrerá na próxima terça-feira, 14, a partir das 8:00 no salão de Atos da universidade.


Imagem capturada da plataforma de inscrição para a Audiência Pública acerca da implantação do sistema de cotas na URCA.



Universidade Regional do Cariri promove seminário acerca da implantação do sistema de cotas


URCA debate políticas afirmativas: a implantação do sistema de cotas.
Foto:Divulgação.
A Universidade Regional do Cariri (URCA), do campus pimenta, em Crato, realizou durante todo o dia de ontem (terça-feira, 07), o I Seminário de Ações Afirmativas: A Implantação do Sistema de Cotas e contou com a participação de mais de trezentas pessoas que se inscreveram, entre professores, universitários dos mais variados cursos de graduação tanto da própria casa, como também da Universidade Federal do Cariri (UFCA) e dos movimentos sociais negros do cariri, com destaque para o Grupo de Valorização Negra do Cariri (GRUNEC) e o Grupo de Mulheres Negras do Cariri (Pretas Simoa).

O evento foi aberto pelo vice-reitor da URCA, o professor Francisco do Ó de Lima Júnior que ressaltou a importância histórica desse seminário para a instituição que, em suas palavras é “a mais nordestina de todas”. Francisco de Lima que ao justificar a ausência do professor José Patrício Pereira Melo, que ora responde pela reitoria por que estava participando de uma gravação para a UNESCO, frisou que o momento é mais um dos marcantes que entrará para a história da universidade, pois entende que o ato favorece a inclusão de parcelas da sociedade sempre excluídas.

Fizeram uso ainda da palavra o professor  Egberto Melo, da Pró-reitora de Ensino e Graduação, destacando os trabalhos da Comissão de Cotas que deu todo o suporte para a realização do seminário, inclusive garantindo a participação de universitários como membro e fez questão de lembrar a forte atuação da professora do Departamento de Pedagogia, Cícera Nunes na organização do evento. Esta que ao tomar a palavra fez um balanço de todo o percurso até o presente momento e disse que o seminário buscou garantir a participação de todas as representações dos setores historicamente excluídos – negros, índios e pessoas com os mais variados tipos de deficiência. 

Professor Nicolau Neto fala sobre a luta do movimento social
negro pela superação das desigualdades. Foto: Fran Oliveira.
Com o dia de programação, a manhã teve a realização de uma mesa com o propósito de discutir e debater a temática “Ações Afirmativas e Movimentos Sociais: Lutas pela Superação das Desigualdades”. Este professor, blogueiro e ativista das causas negras pelo GRUNEC apresentou um panorama histórico das lutas dos movimentos sociais negros para a superação das desigualdades associadas a raça, cor e etnia, com enfoque para negros e negras. Nicolau, trouxe à luz do debate, a conceituação de ações afirmativas tendo como suporte a lei 12.288/2010, que versa sobre o Estatuto da Igualdade Racial. Ao citar o inciso VI, do Art. I, ele afirmou que elas compreendem os programas e medidas especiais adotadas pelo estado e pela iniciativa privada para a correção das desigualdades raciais, bem como para a promoção da igualdade de oportunidades. Para tanto, disse que a ação da URCA na promoção do seminário é um ato de reconhecimento de que o país é elitista e profundamente racista.

Nicolau ressaltou que as políticas afirmativas são paliativas, mas necessárias que ocorram, pois são formas que permitem a superação de obstáculos históricos, políticos, socioculturais e institucionais que impedem a representação da diversidade étnica nos espaços de poderes, mas argumentou que as cotas são apenas uma modalidade que coexistem com outras, citando a as leis 10.639/03, 11.645/08 e a 12.990/14. Estas versam sobre a o trabalho da história e cultura africana e afro-brasileira; história e cultura indígena nos currículos escolares e a reserva de vagas aos negros e negras (20%) em concursos públicos na esfera federal. Estas, segundo ele, são importantes e fruto dos movimentos sociais negros, mas que ainda não correm como diz a lei.

O professor disse ainda que tão importante quanto o acesso desse grupo que corresponde a mais de 50% da população na universidade é garantir sua permanência sem que sofram quaisquer atos discriminatórios e racistas, frisando, desta feita, que as ações afirmativas não podem e nem devem ser entendidas tão simplesmente como reservas de vagas, mas fundamentalmente no seu sentido real, qual seja, de reestruturação profunda dos espaços de poder historicamente excludentes e finalizou citando o professor da Faculdade de Economia da Universidade de CoimbraBoaventura de Sousa Santos:

Temos o direito de ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito de ser diferente quando nossa igualdade nos descaracteriza. Dai a necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades”.

A mesa foi formada ainda por Kaio Cardoso – Acadêmico do Curso de Ciências Sociais – URCA; Adão Pedro – Comunidade Quilombola de Vassouras – Porteiras – CE; Ramiro Ferreira – Acadêmico do Curso de Direito – URCA. A Coordenação foi feita pela professora Cicera Nunes – NEGRER/URCA.

Várias intervenções foram realizadas como as de Maria Eliana, Cicero Chagas, Valéria e Verônica Neves (GRUNEC), Dayze Vidal (Pretas Simoa) e do professor João Luís Mota, do curso de Economia da URCA.

Professores da URCA discutem as ações afirmativas no Brasil para negros,
indígenas e pessoas com deficiência. Foto: prof. Nicolau Neto.
O seminário seguiu a tarde com a palestra “Ações afirmativas no Brasil: panorama histórico e experiências”, desenvolvida pelos professores da própria instituição de ensino superior. O professor Ms. Antônio José de Oliveira, do Departamento de História, abordou as questões indígenas; a professora Dr. Maria Telvira da Conceição, do mesmo departamento versou acerca do povo negro e a professora Marla Vieira trouxe discussões concernentes as pessoas com algum tipo de deficiência (surdo, mudo, baixa visão, locomotora....).

À noite, o evento teve prosseguimento com a apresentação de uma proposta da PROGRAD e da Comissão da URCA, intermediada pelo Pró-reitor de Graduação, professor Dr. Egberto Melo, com a coordenação do professor João Luís Mota do Nascimento.

Ficou acordado que na próxima terça-feira, 14, haverá a realização de uma audiência pública com a finalidade de oportunizar mais pessoas a participarem das discussões.