Professora Cícera Nunes ministra formação antirracista para profissionais da educação da EEMTI Padre Luís Filgueiras. (FOTO | Professor Rafael Ferreira). |
Por Nicolau Neto, editor
Com a finalidade de ressignificar olhares e práticas pedagógicas no sentido de que os conteúdos levados as salas de aulas atendam a perspectiva da educação antirracista, a EEMTI Padre Luís Filgueiras, em Nova Olinda-CE, a partir da área de Ciências Humanas e por intermédio do professor Nicolau Neto, promoveu na manhã deste sábado, 26, uma formação direcionada a profissionais da educação.
Segundo Nicolau, a formação com esse foco é uma demanda urgente, visto que destaca temáticas muito caras para as populações negras e povos originários. Para ele, ainda não há o cumprimento das leis 10.639/2003 e 11.645/2008, que alteraram a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996 (LDB/96), que destacam a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena no currículo escolar da educação básica pública e privada em todos os componentes curriculares e durante todo o ano letivo.
Professor Nicolau Neto falando sobre os objetivo da formação e apresentando a professora Cícera Nunes. (FOTO | Professor Rafael Ferreira). |
Nicolau
destacou que só a lei não garante a efetividade das discussões nas
escola, é preciso que se tenha formação para os profissionais da educação, “por isso”, disse, “contaremos hoje com a professora Cícera Nunes, do Departamento de
Pedagogia da URCA, pesquisadora, ativista do movimento negro no cariri, doutora
em educação, coordenadora do Núcleo de Estudo e Pesquisa em Educação, Gênero e
Relações Étnico-Raciais (NEGRER) e organizadora Geral do Congresso
Internacional Artefatos da Cultura Negra”.
Cícera
organizou sua fala em dois três eixos, a saber: a necessidade da
institucionalização na questão antirracista; aspectos legais que dão sustentação
ao trabalho direcionado a equidade racial e de gênero e exemplos de ações
voltadas para a educação antirracista.
A necessidade da institucionalização na
questão antirracista
Segundo
ela, é inadmissível que a lei maior da educação (LDB/96) esteja sendo
desrespeitada, chamando a atenção para o fato de que as instituições ainda não
abraçaram a causa. “O cumprimento das
leis que alteraram a LDB começa dentro das salas das direções de cada escola”,
disse e já destacando que só assim para termos um corpo docente comprometido
com a valorização dos saberes negro e dos povos originários em todas as áreas
do conhecimento.
Nesse
sentido, é importante destacar os números trazidos pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) em 2021. No levantamento, foi demonstrado que apenas
329 de todas as secretarias municipais de educação no Brasil possuem projetos
voltados para a educação de povos indígenas, o que equivale a apenas 6%. Já em
relação a quilombolas, 551 secretarias de educação, ou 10% do total afirmaram
ter projetos. “Nesse sentido”, afirmou
ela, é preciso que entendamos a nossa história e sabermos que não há Brasil sem
os povos africanos e sem os povos originários. “Nós estamos sentados em um
quilombo”, asseverou.
Profissionais da educação da EEMTI Padre Luís Filgueiras em formação antirracista. (FOTO | Professor Rafael Ferreira). |
Aspectos legais que dão sustentação ao
trabalho direcionado a equidade racial e de gênero
Cícera
trouxe para a conversa as legislações que mesmo passados tanto tempo continuam
sendo desrespeitadas. Os documentos elencados foram o Programa Nacional do
Livro e do Material Didático (PNLD); Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura
Afro-Brasileira e Africana; As leis 10.639/2003 e 11.6452008, a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), além das leis internas na
escola, como o Regimento Interno e Projeto Político Pedagógico (PPP).
Segundo
ela, é essencial e urgente que os regimentos internos e os PPPs sejam
atualizados com as temáticas. “Mas não
basta só isso, é preciso dizer como vai fazer para implementar a discussão
antirracista”, comentou.
Ações voltadas para a educação
antirracista
Por
fim, ela exibiu um vídeo destacando que a educação institucionalizada tem muito
a aprender com os movimentos sociais, sobretudo os movimentos negros, pois foram
eles que destacaram que não tem como pensar IDEB sem pensar e sem refletir
sobre o racismo. Os números saltam aos olhos, pois ele (o racismo) que o
desenvolvimento de crianças e jovens negros (as) e indígenas.
A
professora Cícera destacou diversas ações e práticas pedagógicas voltadas para
a educação das relações étnico-raciais que podem ser norte para as escolas, a
exemplo do próprio NEGRER que desenvolve reuniões todas as sextas-feiras na
URCA, reunindo professoras(es) e universitárias(os). Ela demonstrou algumas
ações desenvolvidas pelo grupo, como, por exemplo, as plataformas online
(perfil no instagram e um site). Neste último, há uma biblioteca virtual com
vários livros, teses e dissertações sobre as temáticas análise; Outra ação elencada
por ela foi o Grupo de Estudo e Pesquisa em História Afrodiaspórica (GEPAFRO),
vinculado ao curso de História da URCA e que tem a professora Telvira e o
professor Túlio como organizadores. E elencou ainda o blog Negro Nicolau, uma
mídia antirracista que traz discussões (muitas delas fruto das ações em sala de
aula) sobre a importância da educação para a diversidade. O blog é do professor
Nicolau e tem sido fonte de pesquisas de monografias e dissertações de mestrado.
Durante a fala da professora Cícera Nunes, várias intervenções foram feitas pelos professores Nicolau Neto, Marcos Ramos, Adriana Nunes, Alysson Santos e também pela coordenadora pedagógica, Samara Macêdo e, pela diretora, Cida Matos.
Excelente iniciativa.
ResponderExcluirO silenciamento da educação formal, ignorando o legado da população negra no arcabouço das cidades do interior cearense, vem contribuindo para a perpetuação das desigualdades!
ResponderExcluirExatamente, professora Ismêmia.
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