Um
dos assuntos mais discutidos neste sábado em Santana do Cariri e nas regiões
circunvizinhas foi, sem dúvida, a explosão (mais uma para as estatísticas) da Agência
do Banco do Brasil deste município. Nos blogues e em alguns sites, esse foi o
almoço e o jantar do dia.
Há
um dito popular que preceitua “as notícias ruins chegam logo”. Mas para algumas
pessoas e, em particular para a “mídia sensacionalista” e “espetaculosa” só
estas bastam. Não se está em nenhum momento a afirmar que elas (notícias) sejam
menosprezadas e deixadas de lado sem que se faça a divulgação. Elas precisam
serem tornadas públicas e, inclusive, com o rigor de criticidade que lhes é
cabível para que não seja só mais uma informação descontextualizada e não
contribua para a formação de opinião de quem dedica tempo para lê-las.
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Estudante Kézia Adjane fez discurso politizado na tribuna da Câmara de Santana do Cariri na última quinta-feira, 01. (Foto: Reprodução/ Facebook). |
Dois
dias antes da explosão da supracitada Agência, Kézia Adjane, egressa do ensino
médio integrado a educação profissional, residente na terra conhecida (não só,
mas principalmente) pelo Museu de Paleontologia, deu uma aula de cidadania em
um discurso politizado na tribuna do Poder Legislativo. Não só os vereadores e
vereadoras que a ouviram puderam perceber uma fala de quem não fez da educação
básica um passatempo, mas aprendeu de fato, o valor e o peso que deve ter a
educação escolar – a arte da cidadania exercida com crítica e ativismo social –
mas quem não esteve lá também. Kézia disponibilizou seu discurso na sua rede
social.
Mas
sua postura, sua desenvoltura e seus questionamentos não receberam a atenção
daqueles e daquelas que fizeram questão de propagar a explosão da Agência.
Eles/as não se alimentaram e não fizeram questão de compartilhar o alimento
chamado cidadania e a sobremesa da politização para que outras pessoas com fome
destas pudessem alimentar-se. Mas o que de tão importante disse Kézia? Ela fez
o que todos/as aqueles/as em situações semelhantes deveriam fazer. Colocar a
boca no trombone.
Em
seu discurso Kézia relatou as dificuldades que seus pais, Maria Elenilce da
Silva Xavier, Auxiliar de Serviços Gerais e, Francisco Alberto Xavier da Silva,
Guarda Municipal, estão tendo para conseguir fazer empréstimo consignado para
custear seus estudos no Estado da Paraíba. A estudante afirma que “o dinheiro que tinha sido descontado da
conta” de sua mãe “não foi repassado
para a Caixa, logo, ela não poderia fazer o empréstimo”. Ela ressaltou que
eles (os pais) foram “à caixa e os funcionários disseram que a
dívida tinha sido paga....”, e que era do interesse dela (caixa) a “realização do empréstimo”. Mas que para
isso “só dependia da prefeitura para que
o mesmo fosse realizado”.
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Kézia Adjane. (Foto: Reprodução/ Facebook). |
Kézia
enfatizou ainda que procuraram “todas as
pessoas possíveis”, mas que sempre as “jogavam
de um lado para o outro (‘a culpa é da caixa’, ‘a culpa é da prefeitura’)”.
Disse que não queria encontrar um culpado ou culpada, mas que o caso fosse
resolvido e completou “quero que nos deem
a importância que merecemos”.
Ainda
segundo a estudante, o fato dela ter solicitado o espaço na tribuna da Câmara
foi motivado pela falta de oportunidade em ser ouvida. “Vocês podem estar se
perguntando o motivo de eu estar falando tudo isso aqui, a verdade é que não
nos deram voz, esse foi o único meio que encontrei de ser ouvida sem que
mentissem que ‘fulano ou cicrano não encontra-se no momento’”.
“Quero
ressaltar também que sou isenta de qualquer partido político, não vim aqui para
isso, vim para dizer que sobrevivi a falta de condições de estudo enquanto
estudante de ensino fundamental, falta de transporte no primeiro ano do ensino
médio, muitas horas por dia estudando, muitas piadas...e não vou perder minha
faculdade por algo que não cabe a mim resolver”, disse enfaticamente.
Por
fim, ela frisou que não estava ali pedindo um favor, mas lutando por um direito.
“Agora preciso que os senhores e as senhoras que são vereadores, eleitos pelo
povo e para o povo, olhem para mim, por favor, que faço parte do povo, eu não
estou pedindo dinheiro, ou algo semelhante, estou querendo algo que é meu por
direito, e não importa o que tenhamos que fazer, eu irei cursar Medicina
Veterinária, com ou sem a ajuda dos presentes nesse momento”.
Durante
sua passagem pelo ensino médio integrado a educação profissional, em Nova
Olinda, Kézia foi presidente do Grêmio Estudantil e sempre foi ativa
socialmente. Foi aprovada no curso de História pela Universidade Regional do
Cariri (URCA), mas decidiu que quer cursar sua outra paixão, Medicina
Veterinária. Neste último, passou tanto no Instituto Federal da Paraíba (IFPB),
quanto da Universidade Federal do mesmo estado (UFPB).
A
postagem de Kézia já tem mais de cem reações e mais de 40 compartilhamentos. No entanto, ninguém ligado/a à administração municipal havia se manifestado acerca
do caso.
Clique aqui e confira integra do discurso contundente da estudante.
A administração do Blog Negro Nicolau
(BNN) comunica que está à disposição para quaisquer esclarecimentos por parte
da gestão do município de Santana do Cariri e da Caixa.