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Boulos. (FOT)/ Mídia Ninja). |
É possível haver alianças pontuais com a centro-direita no país em defesa da democracia? “Sim, não tem nem que olhar para o lado”, responde Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto. Mas acreditar em alguma aliança com essa centro-direita para se discutir um projeto de país não é razoável, ele alerta. “E te digo por quê: porque eles são sócios da agenda econômica. Todos eles são sócios desse projeto (retirada de direitos, privatizações, teto de gastos, autonomia do Banco Central…)”, observa Boulos. Então, como construir uma ampla aliança capaz de derrotar o bolsonarismo em 2022? “Nós temos que ser capazes de disputar a consciência popular, de despertar a esperança no povo.”
Candidato
à prefeitura de São Paulo pelo Psol, no ano passado, Guilherme Boulos afirma
que a campanha trouxe dois ensinamentos que devem servir de parâmetro para a
esquerda nos embates que estão por vir. “Nossa campanha em São Paulo mostrou
que o bolsonarismo não é imbatível nas redes sociais. Vencemos o bolsonarismo
sem fake news, sem nenhuma baixaria nas redes. Por vezes a esquerda faz um
debate muito sisudo. O bolsonarismo ganhou a eleição de 2018 com memes”,
lembra. E acrescenta a segunda lição das eleições: “Construir pontes com o
povo. Fascista é o Bolsonaro, e não o eleitor dele.”
Guilherme
Boulos foi o convidado da série de entrevistas República e Democracia – O
Futuro não Espera. O programa, idealizado pelo ex-ministro e ex-governador do
Rio Grande do Sul Tarso Genro, foi ao ar na noite desta terça-feira (9) pela
TVT. E depois de debates com Ciro Gomes, José Dirceu, Flávio Dino e Roberto
Requião, desta vez ouviu o promissor líder do Psol sobre o tema da unidade, que
movimenta o campo progressista desde o golpe de 2016.
No
programa, Boulos adverte para a ausência da esquerda na guerra cultural.
“Bolsonaro ganhou disputa ideológica e de valores na sociedade por W.O. A
esquerda não entrou. E precisa disputar valores solidários, coletivos. O outro
lado está disputando e a gente não”, avalia. Para ele, é preciso dialogar com
as novas modalidades de economia e de relações de trabalho num mundo
precarizado e uberizado. “Parte da classe dessa trabalhadora entra nessa fase
com viés de empreendedorismo. Precisamos saber dialogar com isso. Deparamos com
jovens na periferia dizendo que não querem carteira assinada. Querem incentivo.
A economia tem outra cara e nós perdemos nossa capacidade de diálogo com uma
imensa massa de trabalhadores.”
O
enfrentamento da desigualdade, ele afirma, é o grande desafio de uma
reconstrução nacional pós-bolsonaro. E isso inclui desigualdade social,
desigualdade racial e de gênero. “Nem negros, nem mulheres são minoria neste
país. Essas lutas são estruturantes. Não podem ser tratadas com viés
identitário.”
“Não venceremos só com arranjos
políticos”
As duas pontes de reconexão com o povo são os movimentos sociais e o trabalho de base, define Boulos. “Movimento social tem papel chave. Trabalho de base tem papel chave nessa reconexão com o povo brasileiro. Por exemplo, agora é um momento de enfrentar a fome. O MTST está organizando cozinhas solidárias. Aquela senhora que ficou sem gás vai procurar o pastor ou a esquerda?”, provoca ele. Para ilustrar novamente com a disputa eleitoral paulistana sua tese.
“Os
bairros em que eu ganhei a eleição na periferia são aqueles em que o MTST tem
trabalho há mais de 15 anos. O enraizamento territorial também tem
consequências da relação do povo com o processo eleitoral”, explica. E essa
retomada do trabalho de base, defende o líder do MTST, embora tenha virado
clichê, também é chave, é essencial. “A integração entre partidos e movimento
social num momento como esse é decisiva para que gente consiga derrotar o
bolsonarismo.”
Isso
porque, embora seja possível uma aliança pela democracia com o dito centro
político – que para ele é a mesma velha direita de sempre –, essa aliança não
passa da página dois. “Não vai haver derrota do bolsonarismo sem um projeto
popular, sem a reconquista da confiança do povo. Não vamos derrotar o
bolsonarismo apenas com arranjos políticos. Nós vamos precisar – essa é a lição
de casa que temos de fazer nesse período – estar cada vez mais presentes junto
ao povo. Ouvindo as suas demandas. Incorporando as suas pautas e buscando reacender
uma chama de esperança nesse povo tão sofrido.”
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Por Paulo Donizetti de Souza, na RBA. Confira o artigo completo aqui.
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