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A empreendedora Ana Paula Xongani posa para foto em Artur Alvim, São Paulo/ Reprodução/ Folha de São Paulo). |
Três vírus se espalharam pelo mundo em 2020. Um deles, tão conhecido dos brasileiros, ficou ainda mais evidente: o da desigualdade social, ocupando uma marca histórica jamais vista antes. Os outros dois são o coronavírus e as fakenews. E o mundo acordou para isso.
O
racismo virou a pauta da vez nessa pandemia, com casos como o do americano
George Floyd, barbaramente assassinado em plena luz do dia por policiais
americanos, e o do brasileiro João Alberto Silveira Freitas, morto por agentes
de uma empresa de segurança, dentro do Carrefour.
Os
dois casos foram gravados por quem assistia. Fotos e vídeos da brutalidade dos
ocorridos espalharam-se por todos os lados. De revirar o estômago.
Debra
Ray é consolada após falar em velório de seu sobrinho, Dijon Kizzee, um homem
negro de 29 anos que foi morto por policiais com pelo menos dez tiros pelas
costas após uma abordagem motivada por uma infração de trânsito Mario Tama -
1º.set.20/Getty Images/AFP
O
caso George Floyd deflagrou uma onda de manifestações nos Estados Unidos. No
Brasil, manifestantes fizeram protestos e uma filial do Carrefour, em São
Paulo, foi destruída.
Afinal
de contas, como nós, cidadãos, podemos olhar pra tudo isso pacificamente? Não
estou incitando a quebradeira geral, mas percebo que os nervos estejam à flor
da pele.
Fato
é que passeatas e manifestações, além de posts em redes sociais, ajudam, sim,
chamam a atenção e mostram, mais que tudo, a indignação e a inquietude da
população. Porém, atitudes mais concretas e palpáveis deveriam ser tomadas.
O que
efetivamente está sendo feito para o combate ao racismo? Divulgar nas redes
sociais a nossa aflição e pesar frente a atitudes racistas é um passo, embora
ainda pequeno.
Num tributo a George Floyd e à onda mundial dos protestos Black Lives Matter, alguns canais da ViacomCBS, entre eles Comedy Central e MTV, interromperam a sua programação e deixaram a tela da TV preta com os dizeres: "Não consigo respirar", que piscava no ritmo do som da respiração.
Foram
8 minutos e 46 segundos – tempo em que o policial asfixiou Floyd. Quem
sintonizou os canais do grupo nesse dia certamente sentiu uma enorme agonia com
essa mensagem.
Desde
esses ocorridos, algumas empresas tem se mostrado bastante abertas a mudar seu
cenário. É o caso do Magazine Luiza, que encarou uma iniciativa extremamente
positiva e abriu um processo seletivo exclusivo para admissão de trainees
negros.
Um
ato concreto, que possibilita privilegiar quem nunca teve privilégios. E ainda
teve gente dizendo que dona Luiza Trajano estaria aplicando um racismo ao
reverso.
O
Brasil está entre os países mais desiguais do mundo. Convivemos há mais de 500
anos com racismo e desigualdade social, mesmo sendo os negros e pardos a
população com maior representatividade, com 56%; e brancos com 43% no país.
Uma
multidão que é minoria mesmo sendo maioria.
Segundo
o IBGE, 29% dos negros no Brasil são trabalhadores subutilizados (sem emprego
ou trabalhando menos do que gostariam) versus 19% dos brancos. A renda mensal
domiciliar per capita de um negro é de R$ 934 e a de um branco é de R$ 1.846.
Os
cargos de gerência são ocupados por 69% de brancos enquanto apenas 30% são
preenchidos por negros. Já uma pesquisa inédita realizada em janeiro pela rede
de escolas de informática Microcamp, com 2.624 alunos, destacou que quase 100%
dos jovens brasileiros acham o Brasil um país racista, mas apenas 3,7% assumem
preconceito.
A
maioria (77%) também concorda que faltam políticas públicas para enfrentar o
preconceito racial com seriedade no país e 51% pensam que as redes sociais
causam discórdia e pouco avanço na solução do problema.
Esse
é o momento, talvez, de empresas privadas assumirem seus papéis e implementarem
planos de reais de combate às desigualdades sociais. E desigualdade social
inclui não apenas oferecer oportunidades a pretos, mas também à representantes
LGBTQIA+, além de deficientes físicos e intelectuais e pessoas gordas.
Com
o objetivo de desenvolver projetos nessa área, a ViacomCBS Brasil acaba de
firmar parceria com o CEERT - Centro de Estudos das Relações de Trabalho e
Desigualdades para promover a equidade e combater a discriminação racial.
Criada
em 1990, a ONG produz conhecimento, desenvolve e executa ações para a igualdade
racial e de gênero.
A
parceria visa abordar diversos temas nas áreas de juventude, educação, justiça
e de estímulo à equidade racial. Segundo Daniel Teixeira, diretor de Projetos
do CEERT, é fundamental pautar o racismo e a promoção da equidade nos meios de
comunicação, principalmente naqueles focados no público jovem.
É
preciso que a conscientização sobre a temática racial e o desequilíbrio social
seja a mais ampla possível e que os meios de comunicação cumpram sua função
social ao contribuir para isso.
Há,
mais do que nunca, uma necessidade emergencial de se dedicar à uma mudança
estrutural e cultural. E a ViacomCBS está aberta para parcerias que visem
combater essa disparidade.
_________________________
Por Natasha Szaniecki, na Folha de São Paulo e reproduzido no CEERT.
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