Geremias Carvalho: “Da série: Vi, portanto escrevi algo”

 

Geremias Carvalho. (FOTO/ Arquivo Pessoal).

Gente, vou contar algo para vocês, porém, tenho comigo, muitos não acreditarão.

Logo no inicio da pandemia de 2020, não tínhamos muitas informações sobre o vírus causador. Verdade seja dita, já estamos no segundo semestre e também não temos informações como gostaríamos: doença nova, vírus novo, tudo novo.

A questão é que, logo no início de tudo isso, houve um conto, divulgado pela classe de cientistas que, estarrecidos, ainda comtemplavam a novidade COVID-19. O conto dizia: “apenas idosos acima de 50 anos estariam dentro do grupo de risco que levaria vidas à morte. Não temos necessidade de pânico”. A fonte do conto foi a OMS. Caso você seja racional, penso que o mais assusta nesta fala é a parte que diz: nada de pânico.

O tempo passou e o conto era de fato apenas um conto de mau gosto. Fala tenebrosa que, quando caiu em descrédito, permitiu que muitas pessoas, brasileiras, aceitassem a Nossa Senhora da cloroquina vingadora como única e suficiente salvadora, redentora de todos e heroína que nos livraria do apocalipse nos guiando para o paraíso retratado nos folhetos distribuídos pelas Testemunhas de Jeová. Humanos acreditam em cada coisa! Será muito complicado explicar aos nossos alunos sobre esse período da história.

A fala simples da OMS, que não tinha estudos suficientes, ainda, para nortear as rotas de fuga do mundo, caiu por terra quando víamos o número de mortes crescer de maneira assustadora entre pessoas que tinham idade inferior, algumas delas, bem inferiores aos 50 anos citados. O mundo entrou em um verdadeiro cativeiro. Tornamo-nos reféns do invisível e nada, simplesmente mais nada, é como antes. Usando todo o meu lado pessimista, quase um dom, afirmo que nada mais será como antes. Reitero para aqueles que curtem uma boa metáfora, nada recheado de nada!

Comunismo, capitalismo, socialismo, bolsonarismo e todos os demais ismos existentes, mostraram o quão são ineficientes no quesito cuidar da vida do próximo. Ah, não posso me esquecer dos grupos religiosos, aqueles que se diziam detentores da salvação e possuidores únicos da única chave que dá acesso aos céus. Pregavam coisas do tipo “somente a minha igreja salva e cura”, “venha receber sua vitória”, “Deus vai curar você de tudo, aqui no nosso templo”.

Parece que a pandemia teve um peso quase que fatal sobre esse “veículo de capitação de verba e controle mental das pessoas”. Todos foram acometidos, incluindo esses intocáveis.

Leitor, você está lembrado quando, logo no início do texto, afirmei que iria contar algo que vocês não acreditariam? Pois bem, aí vem a bomba! No inicio da pandemia, quando a noticia de que somente as pessoas acima de 50 anos fariam parte do grupo que mais geraria óbito, vi pessoas – com menos de 50 anos, lógico – celebraram e vibrarem porque não seria dessa vez que partiriam para o além, limbo, céu, purgatório, inferno ou pior, Brasília (deixo a nomenclatura do pós morte para a livre escolha do leitor). Eles bradavam vitória porque seus filhos seriam poupados da mais nova praga dos dias modernos. Não vou mentir, não fiquei surpreendido.

Afinal, através de comportamentos assim, a humanidade estava sendo apenas, ela mesma.

Pois bem, vamos a verdade! Quando parte do povão apresentou esse comportamento, quase ninguém compreendeu, mas isso era a demonstração mais brutal de que o apocalipse estava acontecendo, de que a trombeta estava tocando, e nós, surdos, cumpríamos a profecia que dizia que “ao final, o amor de muitos esfriaria”. Hoje, em nosso pós-apocalipse, estamos vivendo dentro do seriado americano chamado de LOST: todos morremos e não percebemos!

Encontramo-nos em uma dimensão paralela ao que vivíamos antes. Porém, mesmo depois de tudo isso, mesmo depois de a humanidade ter apresentado fortes indícios que o mundo já acabou, as pessoas ainda continuam fazendo e sendo o que de melhor sabem fazer e ser: “agir” como humanos.

Terminei meu texto. Mesmo assim, preciso esclarecer alguns pontos que ficaram obscuros para aqueles que não possuem a habilidade de interpretação de textos que contenham ironias ou mensagens implícitas (algo ensinado pela escola pública como uma habilidade do SPAECE de língua portuguesa, o descritor D4).

Viversem se colocar no lugar do próximo em sua jornada pela busca da felicidade diária, não entender que pessoas falham e precisam de nossa ajuda, não é ser humano, isso é ser egoísta. Infelizmente, além de surdos por não termos escutado o som da trombeta, que informava que a bodega chamada de mundo estava com as horas contadas, somos cegos também, pois não conseguimos enxergar nossas atitudes egoístas do dia a dia, revelando a nossa cara de pau em, depois de praticar tanto mal ao próximo e ao mundo, afirmamos que somos humanos.

Mentir que somos humanos quando nem sabemos o verdadeiro significado do substantivo citado, lembra-me muito, tipo, coisa de gente branca, rica e privilegiada, ou simplesmente coisa de políticos em período eleitoral. Lembra-me até, pessoas que antes de assumirem algum cargo eram pessoas, e agora, agem como verdadeiros enviados das trevas (eu conto ou vocês contam que cargos são passageiros?). E se esse político for branco, rico, privilegiado e extremista, temos aí, a famosa besta do apocalipse (devo admitir que fiquei com vontade de citar alguns exemplos aqui. Tenho muitos. Mas precisamos entender que não somos melhores que eles, afinal, são os nossos votos que colocam eles no podium da vitória).

Da mesma forma que muitos usam a palavra amor de maneira errada em seu cotidiano, muitos, também usam o termo ser humano da pior maneira possível. Andamos muito longe de sermos adjetivados assim por mérito. Oxalá tivéssemos, realmente, vindo dos macacos. Você já viu como os macacos se comportam entre eles? Pois é.

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