A
Central Única dos Trabalhadores lançou a revista CUT com Raça na quarta-feira
(12), em evento na capital paulista que reuniu representantes dos movimentos
sindical e negro. A publicação é parte da campanha permanente ‘Basta de racismo
no trabalho e na vida’, ação da Secretária Nacional de Combate ao Racismo da
Central, e também faz parte do calendário da CUT para o Mês da Consciência
Negra. A revista foi produzida em parceria com a Fundação Friedrich Ebert,
entidade alemã que desenvolve programas de cooperação para a promoção do desenvolvimento
e da democracia.
Publicação é resultado da campanha permanente 'Basta de racismo no trabalho e na vida' |
"Os conteúdos foram pensados para ser
trabalhados do ponto de vista da ação cotidiana de combate ao racismo, como
informação e formação", disse Maria Julia Nogueira, secretária
nacional de Combate ao Racismo da CUT, ao reafirmar a necessidade de promover essa
discussão no dia a dia da classe trabalhadora.
O
evento, que foi mediado pelo secretário-geral nacional da CUT, Sérgio Nobre,
foi aberto pelo presidente da Central, Vagner Freitas. O dirigente destacou que
qualquer discussão referente ao tema deve partir da constatação de que "o Brasil é um país racista, preconceituoso,
desumano, desigual, injusto com as minorias". Para Vagner, a revista
CUT com Raça é importante porque mostrará que o país "tem várias facetas e várias caras, e não só aquelas que nos apresentam".
A
revista, segundo Júlia, reflete a pluralidade de opiniões e ideias por reunir a
trajetória e histórias de lideranças negras brasileiras, como Zumbi dos
Palmares e Lélia Gonzalez, informações sobre a Década Internacional de Povos
Afrodescendentes (2015-2024), além de uma entrevista com o goleiro Aranha (do
Santos), vítima de preconceito racial, e artigos assinados por dirigentes da
CUT, de confederações filiadas à central e por militantes do movimento negro de
todos o país.
A
publicação traz ainda um estudo realizado pelo Departamento Intersindical de
Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), encomendado pela CUT, que
constatou que 65% dos dirigentes da central se declaram como negros.
Ideias
Após
o lançamento da revista, formou-se uma mesa para aprofundamento da discussão de
dois eixos fundamentais: ações para combater a discriminação e os impactos do
racismo na vida cotidiana.
A
procuradora do Ministério Público do Trabalho (MPT) e coordenadora nacional de
Promoção de Igualdade de Oportunidades e Eliminação da Discriminação no
Trabalho (Coordigualdade), Lisyane Motta, explicou que o órgão atua no combate
à discriminação de maneira preventiva, repressiva e na promoção de direitos. A
procuradora ressaltou a necessidade de que os trabalhadores conheçam e se
apropriem dos instrumentos oferecidos pelo MPT. Para ela, o Judiciário deve
manter estreita articulação com os movimentos sociais. “Se não houver articulação política e social, o Judiciário não responde”,
afirma Lisyane.
Carlos
Alberto Silva, ouvidor nacional da Secretaria de Políticas de Promoção da
Igualdade Racial (Seppir), falou dos avanços nas políticas de igualdade racial,
nos últimos anos, como a inclusão do crime de racismo como inafiançável na
Constituição Federal de 1988 e a promulgação, em 2010, do Estatuto da Igualdade
Racial, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a primeira
legislação específica a tratar de direitos da população negra, e não apenas ao
combate da discriminação.
Outra
medida destacada pelo ouvidor foi a Política Nacional de Saúde Integral da
População Negra, que garantiu uma mudança na forma como o Sistema Único de
Saúde (SUS) tratava, até então, esse grupo da população. "São questões que não têm relação direta com
o mundo do trabalho, mas é importante que os sindicatos se apropriem e defendam
essas medidas que visam a garantir a saúde da população negra",
alertou.
Para
falar das implicações do racismo no dia a dia da população, Clédisson Júnior,
membro da direção do Enegrecer (Coletivo Nacional de Juventude Negra), resgatou
o legado da escravidão, que, segundo ele, colaborou para a deterioração do
conceito de trabalho. "Quando você
pergunta a uma criança o que ela quer ser quando crescer, dificilmente vai
dizer que quer ser pedreiro, porteiro ou gari, porque são as profissões que
majoritariamente os negros ocupam e dialogam historicamente com as heranças do
período da escravidão", refletiu.
Já
a secretária Nacional de Combate ao Racismo do Partido dos Trabalhadores (PT),
Cida Abreu, que em sua explanação revisitou os principais momentos e fatos do
movimento negro, do Quilombo de Palmares aos dias atuais, disse acreditar que a
reforma política é também essencial para fazer avançar a luta contra a
discriminação. "Financiamento
público de campanha é que vai fazer a grande mudança no perfil dos que são
eleitos. Se tem lista e financiamento público, tem eleição de pobres e negros",
afirmou, defendendo a formação de listas preordenadas, com representação
igualitária entre homens e mulheres, para os cargos legislativos.
Via
Rede Brasil Atual
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