18 de março de 2018

Nós negros somos resistentes a esse sistema que nos oprime e que tenta nos invisibilizar, diz professor Nicolau



O professor Nicolau Neto, blogueiro e ativista dos direitos civis e humanos das populações negras, fala sobre movimento negro e suas conquistas, o mito da democracia racial brasileira, a lei 10.639/03, o papel da educação no combate ao preconceito no país e acerca do seu Blog em entrevista cedida ao Blog Recortes Diversos.

Entrevista cedida ao estudante Sávio Marinho e publicada em seu Blog Recortes Diversos.

Recortes Diversos (RD) - O que é Movimento Negro e o que ele busca?

Nicolau Neto (NN) – A própria etimologia das palavras “movimento” e “negro” nos dá uma noção do que ele significa, do que ele representa para a comunidade negra. Movimento Negro enquanto forma de expressão de luta e de resistência de um povo existe desde que se começou o processo de escravidão. No Brasil, essa prática foi visível desde o século XVI e se estendeu até fins do século XIX. Nesse sentido, podemos falar deste movimento como aquilombamento de vários povos e de etnias distintas historicamente marginalizados da sociedade brasileira buscando formas de sobreviverem sem as correntes que aprisionavam seus corpos e as péssimas condições a que eram submetidos nas plantações de cana de açúcar, nos engenhos, nas fazendas, nos cafezais, etc. O Brasil é o país que tem a maior população de negros fora da África. Os negros foram trazidos do continente africano para cá, escravizados e, não se contentando com isso, as elites político-econômicas da época, através de diversas práticas, cuja escravização inclui-se aqui como a mais clara, fizeram com que eles passassem por um processo de ‘aculturação’, sendo obrigados a deixarem de praticar suas linguagens, religiões e costumes adotando práticas europeias. Sendo assim, movimento enquanto ato de mover-se e pretender mover alguém – no caso negras e negros africanos – em busca de liberdade, vem junto com o processo de escravização.

Mas o termo Movimento Negro enquanto entidade nasce oficialmente em 1978. Sendo mais detalhista, em 18 de junho de 1978 quando vários representantes de grupos se reuniram em prol de uma causa, a luta contra a discriminação racial. Na época, quatro garotos do time infantil de voleibol do Clube de Regatas Tietê foram discriminados e Robinson Silveira da Luz, trabalhador, pai de família, foi acusado de roubar frutas numa feira, sendo depois torturado no 44º Distrito Policial de Guaianases, vindo a falecer em consequência das torturas. No dia 7 de julho do mesmo ano, ocorreu a criação e o lançamento oficial do Movimento Negro Unificado agregando representantes de várias entidades das causas negras, como Centro de Cultura e Arte Negra – CECAN, Grupo Afro-Latino América, Associação Cultural Brasil Jovem, Instituto Brasileiro de Estudos Africanistas – IBEA, além de atletas e artistas negros. Cerca de duas mil pessoas participaram do ato nas escadarias do Teatro Municipal da Cidade de São Paulo, em plena ditatura civil-militar, para combater fortemente a discriminação racial.

O termo “movimento dos negros do Brasil” é correto?

Depende de quem fala. O lugar da fala e quem fala é muito importante em qualquer circunstância. Há frases e expressões que ao invés de ajudar a desconstruir mitos como o da “democracia racial” e preconceitos, no caso o racial, acabam por reforça-los.

O que é racismo?

Há várias maneiras de se responder essa pergunta. No Brasil, quem pratica racismo está sujeito à pena de reclusão. Isso está posto no inciso quarenta e dois, do artigo quinto, da Constituição Federal de 1988. Dentro dessa lógica, significa dizer que o racismo gera injustiças, desconforto, segregação e privilégios. Por isso, há a necessidade de se combatê-lo veementemente todos os dias. Por isso a importância de movimentos – e o movimento negro – não deve ser o único a lutar por esta causa. O racismo é um desvio moral e ético e quem o pratica se vê em posição superior ao outro e a outra, a enxergando como incapaz de ocupar certos cargos. O racismo no Brasil é institucional também. Quantos negros e negras já exerceram o cargo de presidente/a? Quantos/as parlamentares negros/as há no Brasil? E em Altaneira, cidade que residimos, quanto/as diretores/as de escolas há que são ou se consideram negros/as? Quantos/as vereadores/as já tivemos negros/as? Nessa legislatura, quantos/as se declaram negros/as?

Pensar assim evita, por exemplo, que se cometa erro histórico, como do tão falado “racismo reverso”. Ele inexiste. Quantas leis foram criadas no Brasil para proteger ou reparar danos causados a pessoas brancas? Quantas destas já foram paradas nas ruas e confundidas com bandidos/as? Quantas pessoas brancas foram as delegacias fazer denúncias por terem sidos alvo de discriminação ou por terem sido impedidas de terem acesso a estabelecimentos comerciais? Essas perguntas são importantes, porque são elas que atestam o quanto o Brasil deve a nós, negros/as. No Brasil, o costume é presenciar negro sofrendo racismo, não o contrário.

É preciso ser negro para participar do movimento?

Não. Lutar par extirpar a discriminação, por melhores e maiores oportunidade em todos os espaços de poder para o povo negro é um dever de todos. Praticar isso cotidianamente é um exercício de cidadania.

Qual a principal conquista que o movimento já teve?

Poucas foram às conquistas, mas as que conquistamos são provenientes de muita luta e reivindicação dos movimentos negros e demais pessoas, como as leis de cotas em concursos públicos e universidades - mas que precisam ser ampliadas para outros municípios e universidades, inclusive para a URCA. O Estatuto da Igualdade Racial e as Leis 10.639/03 e 11.645/08 que obriga o estudo da cultura africana e afro-brasileira e da cultura indígena, nas escolas, respectivamente, além da instituição do dia nacional da consciência negra e do dia 20 do mesmo mês, mas no âmbito local, que instituiu ponto facultativo nos setores públicos de Altaneira. São poucas, porém, significativas. Precisam de reajustes. Algumas porque estão incompletas e outras porque ainda não surtiu o efeito esperado.

As leis que tornam obrigatório o ensino da cultura africana, afro-brasileira e indígena nas instituições de ensino ainda não vingou mesmo depois de 15 e 10 anos, respectivamente. O ensino brasileiro ainda é pautado e cunhado pelo viés do povo branco, do europeu. E muitas escolas ainda não obedecem a lei, seja por não cumprir, seja por cumprir de forma parcial. Lembro de texto que escrevi para meu blog em novembro de 2015 onde afirmei que cotas raciais ainda é um tabu. Pouco se discute e as pouquíssimas universidades que incluíram esse sistema de seleção nos vestibulares são taxadas de favorecerem a desigualdade e citam inclusive a CF/88 para isso, pois segundo ela todos somos iguais. Quanto a instituição do Dia Nacional da Consciência Negra necessita-se também de uma discussão mais profunda, de forma que se permita a ampliação do foco para além de novembro, com debates, palestras e rodas de conversas o ano inteiro. No nível municipal, o primeiro ano em que a lei entrou em vigor, poucas instituições deram ponto facultativo e as que funcionaram não promoveram reflexões acerca do assunto. O caminho é difícil, mas vamos semeando.

O que seria o mito da democracia racial?

Vamos ter que voltar para a questão do racismo como uma ideologia, como gosta de dizer o antropólogo Kabengele Munanga. Segundo ele, a ideologia só pode ser reproduzida se as próprias vítimas aceitam, a introjetam, naturalizam essa ideologia. Além das próprias vítimas, outros cidadãos também, que discriminam e acham que são superiores aos outros, que têm direito de ocupar os melhores lugares na sociedade. Se não reunir essas duas condições, o racismo não pode ser reproduzido como ideologia, mas toda educação que nós recebemos é para poder reproduzi-la.

Há negros e negras que em virtude do processo de escravização que gerou o racismo e as desigualdades, acabam por assumirem o discurso de seus algozes e se alienam, achando que são mesmo inferiores e a outros que negam a si mesmo para poderem ser aceitos no “mundo” idealizado e construído pelos brancos. Um exemplo que salta aos olhos é o vereador eleito em São Paulo, Fernado Holiday. Como ele, há muitos em cidades pequenas do interior do Ceará. Isso acaba gerando o mito da democracia racial. Afinal, o brasileiro foi educado para não aceitar que é racista. Mas basta aplicar o teste do pescoço que logo se perceberá que a democracia racial no Brasil está longe de ser atingida.

O que seria “cotas raciais” e qual sua seria sua opinião, contra ou a favor?

Esse tema é gerador de muita discórdia entre setores da sociedade brasileira. Há aqueles que se posicionam contrário e os que são favoráveis a sua aplicação. Os que são contrários se valem da própria constituição ao afirmarem que todos somos iguais e que as cotas, ao serem aplicadas atestam a inferioridade de quem delas usufruem. Então, para eles/as não se deve tratar as pessoas de forma diferenciadas. Outro argumento muito utilizado é a mestiçagem. Somos um país constituídos de várias misturas, europeu, indígena e africano. Logo, identificar quem é negro e negra no país se torna uma tarefa muito difícil.

O que se percebe, é que todos esses argumentos são frágeis e não se sustentam. O Racismo no Brasil existe. Ele é cotidiano. Se todos somos iguais perante a lei, porque negros e negras são os que mais sofrem? Por que somos minorias nos espaços de poderes mesmo sendo maioria da sociedade? Então, a discriminação por si só é chave para se identificar quem é negro/a no Brasil.

As cotas não são apenas um sistema de reservas de vagas em instituições públicas ou privadas para determinados grupos classificados por raça ou etnia, na grande maioria das vezes negros e indígenas. Na verdade, muitas pessoas erram ao atribuir as cotas como sendo feita apenas para negros e negras. No Brasil, ao contrário dos Estados Unidos, o critério (com raríssimas exceções) é a escola pública e não simplesmente a cor da pele. Nos EUA para ter direito as cotas basta ser negro/a. Aqui a grande maioria das universidades e, a URCA (uma das últimas universidades públicas) usam o critério étnico-racial combinado com as condições socioeconômica. As cotas precisam ser entendidas como uma política de ação afirmativa que visa corrigir uma desvantagem histórica.

Se não for vista por este viés as pessoas vão sempre perceber que elas são desnecessárias. Em novembro de 2016 fui à Câmara de Altaneira e lá demonstrei dados do IBGE confirmando que ainda há, mesmo com as cotas, um abismo muito grande, principalmente em educação, entre negros e brancos. Este mês publiquei um texto no Blog Negro Nicolau em que se constatou que só 10% das mulheres negras do Brasil têm ensino superior. As informações são das pesquisas do IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD e PNAD Contínua). Então, isso comprova a necessidade dessa política afirmativa. Quem é contrário as cotas pensam como se não existisse racismo no pais. Logo, enquanto houve discriminação por cor de pele haverá a necessidade de cotas.

Para as cotas raciais, quem é negro no Brasil?

De certa forma já respondi nas questões anteriores. Mas basta uma autodeclaração. Claro que pode haver algumas falhas, como alguém querendo burlar a lei. Mas isso pode ser facilmente resolvido.

Qual sua característica negra que você mais gosta e lhe marca?

A resistência. Nós negros somos resistentes a esse sistema que nos oprime, que tenta nos invisibilizar.

Para você, qual a melhor forma de lidar com a discriminação racial

Isso vai depender da situação. Há aquelas que necessitam um enfrentamento e um combate mais incisivo e outras que podem ser resolvidas de forma tranquila. Mas todas elas precisam ser discutidas no sentido de construir relações baseadas no respeito as diferenças, de valorização e reconhecimento de cada humano. Você não precisa esperar que alguma situação que coloque em xeque a dignidade das pessoas ocorra. É preciso que cada um de nós, nos mais variados espaços de poder, tenhamos atitudes e provoque debates no sentido de promover a igualdade respeitando as diferenças. Tem uma frase do professor Boaventura de Souza Santos que gosto muito e que aponta um caminho para o que ora se está discutindo. “Temos o direito de ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito de ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza. Daí a necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades”. Então, é nesse sentido que podemos e devemos nos situar.

O que seria a Unegro e como ela vê as conquistas do movimento junto ao governo atual?

A Unegro é a sigla que representa a União nos Negros pela Igualdade. Ela está presente em 24 estados do Brasil, com sua sede na capital de São Paulo e no próximo dia 14 de julho fará três décadas de atuação. Mesmo com sua sede na capital paulista, a Unegro foi fundada em Salvador, na Bahia, em pleno processo de redemocratização do Brasil e busca combater o racismo e toda forma de discriminação e opressão social.

No que pese ao como a entidade percebe as conquistas junto ao governo atual, não seria bem a pessoa mais competente para falar sobre. Mas como ativista das causas negras me vejo no dever de responder. Não vejo nenhuma conquista do movimento negro neste governo. Ao contrário, nós enquanto negros e enquanto movimento só tivemos retrocessos desde que esse governo usurpou o poder com anuência dos setores mais conservadores e retrógrados do pais, como a mídia e também daqueles que deveriam ser os guardiões da constituição, representado pelo STF. Poderia citar aqui a extinção da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), uma das primeiras medidas do Temer.

Em sua opinião a Lei 10.639/03, que obriga o ensino da história e cultura africana está sendo bem aplicada?

Esse ano a lei completou 15 anos. Já é possível perceber mudanças significativas na aplicabilidade dela nas escolas. Já há uma extensa variedade de textos acerca do assunto para se trabalhar com alunos e alunas e o mais importante, sob o viés de negros e negras. Agora, o interessante é buscar refletir sobre o como as instituições de ensino estão buscando se adequar à lei, enveredando sobre o caminho dos avanços e dos desafios quanto a isso. Então, não basta apenas criar leis obrigando o ensino da história africana, mas tão importante quanto é gerar condições para que o processo ensino aprendizagem ocorra com qualidade.

Quando nos propomos a este tipo de questionamento, verificamos que uma conquista do Movimento Negro, hoje a Lei 10.639 ainda não é efetivamente cumprida em função de um conjunto de discriminações e intolerâncias enraizadas na nossa sociedade e de um ensino nas escolas pautado no modelo europeu. O não cumprimento dessa lei acaba reforçando uma série de estereótipo atribuídos aos africanos, o que faz com que não tenhamos referências negras na política, nas ciências, nas artes, na educação, na cultura e em tantas outras áreas do conhecimento registradas nos livros didáticos utilizados nas escolas de ensino fundamental e médio. Felizmente algumas boas ações estão ocorrendo. Quando lecionei (2014 – 2016) na EEEP Wellington Belém de Figueiredo, em Nova Olinda, consegui, junto a todos os professores, a gestão e a demais membros/as da comunidade escolar, trabalhar durante todo o ano letivo essas questões e a escola foi referência no Brasil, com destaque no site Portal do Professor, vinculado ao Ministério da Educação (MEC).

O que lhe motivou a criação do seu Blog Negro Nicolau?

Quando lançamos o Blog em 27 de abril de 2011, o nome não era esse. Começamos com “Altaneira Infoco”, depois mudamos para “Informações em Foco”. Com este permanecemos por quase 5 anos.  Mudamos o endereço na rede mundial de computadores, mas a qualidade nas informações e a preocupação para que esta seja utilizada como um instrumento de poder e transformação social, o blog Informações em Foco agora denominado de “Negro Nicolau” superou todas as expectativas e se tornou a menos de um mês em um dos portais mais acessados do estado do Ceará e do Brasil.

A ideia de mudar o nome se deu em face de poder, através deste veículo de comunicação contribuir a partir das minhas ações de sentimento de pertencimento, para que outras pessoas se sintam representadas/os e empoderadas/os por negras e negros e possam ainda se sentirem como tal, lutando para superar e eliminar um dos maiores cânceres do Brasil – o preconceito e o racismo.

O fato é que o nosso blog sem se apegar ao modismo dos veículos de comunicação hospedados na internet e sem aderir ao elitismo barato e ao sensacionalismo, está desses seis anos de atuação constante na rede mundial de computadores sempre A SERVIÇO DA CIDADANIA e, para tanto, sempre buscamos oportunizar os menos favorecidos, os que por algum motivo não tem voz através da comunicação. Esta (Comunicação) que consideramos uma das principais armas contra a homofobia, misoginia, racismo, conservadorismo, elitismo, enfim... contra as mais diversas formas que corroborem para perpetuar as desigualdades sociais. E é exatamente por pensar assim que além das nossas lutas diárias em vários espaços de poder, seja na escola ou na rádio, resolvemos há seis anos colocar esse portal como mais uma das ferramentas nessa luta de classe onde estamos do lado dos oprimidos na busca permanente por fazer com que cada vez mais pessoas se sintam parte e se sintam principalmente empoderadas/os.

Um livro ou filme que você indica para melhor entendimento do movimento? Porque?

Joel Rufino dos Santos, historiador, professor e escritor brasileiro e um dos nomes de referência sobre o estudo da cultura africana no país, diz que “movimento negro é, antes de mais nada, aquilo que seus protagonistas dizem que é movimento negro”. Então, tomando como base esse pensamento, sugiro como leituras para conhecer um pouco mais profundo o movimento, a obra de Verena Alberti e Amilcar Araújo Pereira intitulada “Histórias do movimento negro no Brasil”; “Orfeu e o Poder: o movimento negro no Rio de Janeiro e São Paulo (1945 – 1988)”, de Michael Hanchard, “O Movimento Negro Educador. Saberes Construídos nas Lutas por Emancipação”, de Nilma Lino Gomes e “Saber do Negro”, do próprio Joel Rufino dos Santos.
 
Nicolau Neto - professor, blogueiro e ativista dos direitos civis e humanos das populações negras. 
(Foto: Lucélia Muniz).








Altaneirense conquista 1º lugar na 19º Corrida de São José



Cerca de 600 atletas divididos em mais de quarenta categorias, entre masculino e feminino, participaram na manhã desde domingo, 18, em Juazeiro do Norte, da décima nona edição da já tradicional Corrida de São José.

O evento que já ultrapassou o limite do regionalismo e hoje é considerada uma competição que envolve atletas de todo o estado, é uma idealização da equipe “os voluntários” de Juazeiro, tendo o apoio do Serviço Social da Indústria (SESI) e da Secretaria Municipal de Esporte e Juventude (Sejuv).

A prova ofereceu os percursos de 25m, 50m, 100m, 2km, 5km e 10km e a largada ocorreu em frente a sede do Sesi, na rua Delmiro Gouveia. O altaneirense Ravi Timóteo conquistou mais um resultado positivo ao trazer para casa o troféu de campeão na categoria de 16 a 24 anos percorrendo os 10 km.

Ao Blog Negro Nicolau (BNN), seu treinador Tiago Alves falou da importância que este resultado tem para Ravi, principalmente pelas condições de saúde, já que este esteve com uma virose uma semana antes da prova. Tiago ainda realçou que dentre os mais de 600 competidores, o atleta de Altaneira ficou entre os 7 melhores.

Ravi que percorreu algumas das principais ruas do município de Juazeiro do Norte como a avenida Castelo Branco, contou com o patrocínio do governo municipal de Altaneira, por meio da Secretaria de Cultura, Esporte e Turismo.

 
Ravi Timóteo conquista primeiro lugar na  19ª Corrida de São José, em Juazeiro do Norte. (Foto: Tiago Alves).


Historiadora lista as influências da cultura africana em Pantera Negra


(Foto: Reprodução/ Amigos do Forum).

Pantera Negra, o mais importante filme feito pela Marvel, segue quebrando tudo nos cinemas, com quase US$ 500 milhões arrecadados mundialmente em menos de uma semana. E se você ficou maravilhado com tanta diversidade e cores, uma historiadora somali chamada Waris Duale resolveu detalhar todas as influências da cultura africana no figurino, maquiagem e cabelo de Pantera Negra.  A informação é do site Amigos do Fórum.

Waris fez uma thread no twitter. Aqui você pode acompanhar as postagens originais.


 A fanpage “Um Filme Me Disse” traduziu os tuites.:




Os pratos de lábios das tribos Mursi e Surma. Os pratos ou discos de lábios são uma forma de modificação cerimonial do corpo. Enquanto muitas culturas os usam, eles são mais conhecidos pelas tribos Surma e Mursi na Etiópia.


Chapéu Zulu. A rainha Ramonda usa uma touca distinta. É uma lembrança dos chapéus Zulu ou "Isicholos". Os chapéus Zulu são tradicionalmente usados por mulheres casadas para celebrações cerimoniais.


Muitos dos trajes têm ornamentação única e futurista, cheios de detalhes. Estes foram feitos homenageando estilos do povo Maasai. O povo Maasai da África Oriental vive no sul do Quênia e norte da Tanzânia.



Máscara Ibo. Em uma cena, Erik Killmonger usa uma máscara. As máscaras, conhecidas como Mgbedike, são distinguidas pelo tamanho grande e traços masculinos realçados. Elas são usados nos rituais dos Igbos e são projetadas para contrastar com as dançarinas mulheres, que levam traços mais femininos.





Anéis de pescoço dos Ndebele. Shuri e a Dora Milaje têm roupas com um colar proeminente. O povo Ndebele do Zimbábue e da África do Sul usam anéis de pescoço como parte de sua vestimenta tradicional e como um sinal de riqueza e status.




Muitos dos trajes têm um tom de terra vermelho distinto. Isto foi feito estudando as cores usadas pelo povo Himba do noroeste da Namíbia. O povo de Himba é conhecido por aplicar uma pasta ocre vermelha, conhecida como "otjize", para sua pele e cabelo.




Forest Whitaker interpreta Shaman Zuri, o líder espiritual de Wakanda. Ele usa mantos ornamentais conhecidos como Agbada. Este é um dos nomes do manto de manga larga usado por homens e mulheres em grande parte da África Ocidental e no Norte da África.




Houve muita inspiração do povo Dogon. Eles vivem na região do planalto central do Mali, na África Ocidental.




Lenço do povo Tuareg. Vários personagens do filme usam lenços grandes cobrindo suas cabeças e rostos. Estes são semelhantes aos usados pelo povo Tuareg, que habita uma área no Norte e no Oeste da África.




Outra tribo que inspirou o filme foi a do povo Turkana, que habita o território do Quênia.




As marcas tribais ritualísticas de Michael B. Jordan, em seu peito e torso, assemelham-se a cicatrizes de tatuagens das tribos Mursi e Surma na Etiópia.




O cachecol Kente de T’Challa. Kente é um tipo de tecido de seda e algodão feito de tiras de pano entrelaçados e é nativo do povo de Akan, de Gana.




Essas são as mulheres negras que passaram meses pesquisando e fazendo Wakanda ganhar vida. Ruth Carter, figurinista, e Hannah Beachler, designer de produção.

17 de março de 2018

Regra que exigia curso e prova teórica para renovação da CHN será anulada pelo governo



O Ministério das Cidades anunciou neste sábado (17) que será revogada a resolução que tornava obrigatória a realização e aprovação em Curso de Aperfeiçoamento para motoristas renovarem a Carteira Nacional de Habilitação (CNH).

Por meio de nota, a pasta informou que a revogação se dará para “não afetar a rotina dos condutores que precisam renovar suas carteiras de habilitação/CNHs por todo o Brasil”.

O ministério informa ainda que a revogação vai reduzir custos. “Esta ação acontece em conformidade com os objetivos do Governo Federal, de reduzir custos e facilitar a vida do brasileiro”.

A resolução do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) estabelecia que, a partir de junho deste ano, os condutores que fossem renovar a carteira de motorista teriam que passar por um curso teórico com exame para atualizarem seus conhecimentos. Esse curso de reciclagem seria composto por dez aulas e, para que os motoristas renovassem a documentação, deveriam obter um resultado favorável de, pelo menos, 70% da prova.

Ainda segundo a nota divulgada pelo Ministério das Cidades, a revogação acontecerá no próximo dia útil. (Com informações da Agência Brasil).

Hoje, para renovar a CNH nas categorias A e B, é necessário apenas exame médico. (Foto: Mateus Dantas).


Festa de menina branca de 15 anos com escravos negros é criticada



Uma festa de 15 anos com uma temática que remetia ao período colonial provocou uma série de críticas na internet. A má repercussão foi tanta que a cerimonialista precisou divulgar um pedido público de desculpas.

O caso aconteceu em Belém do Pará e a polêmica começou após a divulgação de duas imagens (ver acima) no Instagram Stories — recurso da rede social em que a publicação desaparece após 24 horas no ar. Nas fotos, a aniversariante, branca, é servida por escravos.

Muita gente se espantou com o que viu. “Foi feito uma festa de 15 anos com um tema relacionado a Escravidão. Está no Instagram e eu estou completamente assustada. O rosto da menina foi cortado por ser menor de idade e esse é o perfil da cerimonialista. Sem palavras, completamente”, escreveu uma internauta que repercutiu as imagens.

A cerimonialista Lorena Machado publicou uma nota de esclarecimento. “Diante dos ocorridos, com total humildade, estamos vindo a público nos retratar e pedir PERDÃO”, afirmou.

Pedimos perdão a todos os negros, negras, descendentes, pardos e pardas e a qualquer pessoa que tenha se sentido atingida por nossa publicação. Não foi nossa intenção agredi-los ou ofendê-los, mas admitimos que fizemos”, continuou.

A responsável prosseguiu: “Não quisemos fazer qualquer retratação que levasse a entender que a escravidão foi algo bom em nossa história. Tínhamos a única intenção de retratar o período histórico do Império que, infelizmente, tinha escravidão. Agradecemos os comentários feitos para que pudéssemos identificar e entender onde erramos, foi essencial para que crescêssemos”.

Mais críticas

O pedido de desculpas não foi bem aceito pelos usuários. Nos comentários, as pessoas pedem que o racismo seja denunciado.

Vocês brincam com nossa dor e, depois, vem dizer que foi ‘sem querer’ ou uma ‘homenagem’! Vai se foder!”, publicou uma jovem no Facebook.

Você pensa que já acabou os jeitos das pessoas serem retardadas, mas a criatividade humana vai lá e joga na tua cara que dá pra ser ridículo de infinitas formas”, disse outra.

Algumas pessoas ainda fizeram menção à morte da vereadora do Psol, Marielle Franco, assassinada na noite dessa quarta-feira, 14.

Mulheres pretas morrendo enquanto as brancas brincam de sinhá. #RacistasNãoPassarão”, publicou mais uma internauta. (Com informações do Pragmatismo Político).

(Foto: Reprodução/ Pragmatismo Político).


Lançamento de Livro marca despedida de Meire Alencar como diretora da Escola Estadual Santa Tereza, em Altaneira


Escola Santa Tereza, em Altaneira, lança segundo livro. (Foto: Wlberlândio Oliveira).

Foi lançado nesta sexta-feira, 16/03, o volume II do livro “Uma Ponte para os Valores”, da Escola de Ensino Médio Santa Tereza, em Altaneira. O evento reuniu pais de alunos/as, ex-alunos/as da instituição, representantes políticos partidários, além da gestão escolar, professores/as, estudantes e de representantes da 18ª Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação (Crede 18).

A obra é resultado do II e III Campeonatos de Leitura e Escrita, um dos projetos desenvolvidos pela escola “que inclui além das ferramentas pedagógicas habituais, a persistência e a crença para se comprovar que ainda se pode fazer uma escola pública de qualidade”, diz a diretora Meire Alencar na apresentação do livro que é constituído de pequenos textos construídos por discentes, docentes e outros profissionais que fazem o dia-a-dia da instituição.

Auríço Tertuliano, aluno da EJA, autografando
livro. (Foto: Nicolau Neto).
Durante o lançamento, parte dos/as autores/as se reversaram a contar por que escreveram e como escreveram. Um dos textos mais emocionantes foi o de Auriço Tertuliano da Costa, estudante da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Ele expressou o que sentia ao ler a música de Guilherme Arantes, “Taça de Veneno”.

Quem também emocionou o público foi Francisco Ferreira Silva, do terceiro ano “a” ao ler a poesia “Minha escola, meu orgulho”.

A escola Santa Tereza
Tenho eterna gratidão
Por ter passado três anos
Na melhor instituição.
Deixo aqui o meu recado
Mais levarei meu legado
De orgulho e gatidão...”
(Introdução do texto poético de Fcº Ferreira).

O livro fala ainda sobre amizade, amor, saudade, desejo, poder, respeito, mudança, violência, racismo, bullying, aplicação de softwares educacionais no ensino de física, a contribuição do ensino de história para a formação do aluno na sociedade contemporânea, dentre outros temas.

Luciana Brito, Coordenadora da Crede 18
(Foto: WlberLândio Oliveira).
Para a Coordenadora da Crede 18, Lucina Brito, o momento é de suma importância. Segundo ela, é comum as pessoas acharem chato irem a eventos de lançamento de livros, “mas aqui nós vimos outra coisa. Vimos jovens, professores em produções belíssimas. Isso nos deixa muito feliz. Mostra que a nossa escola está produzindo e que estamos mesmo construindo o conhecimento”, realçou.

Wellton Cardoso, coordenador pedagógico da escola, reforçou as palavras de sua antecessora ao arguir que para que o evento viesse a acontecer foi necessário a construção de uma série de etapas, como a promoção de ações visando o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita em vários ambientes. “O projeto”, segundo o coordenador, “contribuiu para a formação dos alunos ao aprofundar o conhecimento importantes para o prosseguimento nos estudos”.

O lançamento do livro marcou a conclusão da gestão de Meirenildes Alencar frente à Escola Santa Tereza. Foram nove anos como diretora. Ao iniciar seu discurso, Meire saudou a todos/as aqueles/as que representam a sociedade altaneirense, como o prefeito Dariomar Rodrigues, a Secretária de Educação, Leocádia Soares – aquém ela chamou de amiga e comadre -, os ex-prefeitos, este professor, ativista dos direitos civis e humanos da população negra e blogueiro, além daqueles com quem ela conviveu diretamente – professores, professoras, alunos/as e demais integrantes da comunidade escolar, que foram os principais responsáveis pelo projeto.

Meirenildes Alencar, diretora da Escola Santa Tereza.
(Foto: Wlberlândio Oliveira).
De acordo com Meire, foram dois campeonatos de leitura, mas só no terceiro houve a conclusão com o livro. A diretora ressaltou que a escola recebeu do governo federal uma verba do Programa Ensino Médio Inovador (ProEMI) de R$ 33.000,00 e que foi gasto R$ 19.800,00 em 2017 na compra de materiais e na confecção de oficinas. “O restante desse dinheiro”, pontuou ela, “nós recebemos este ano e foi a nossa grande alegria poder voltar a conclusão do terceiro campeonato de leitura e escrita e finalizamos com o lançamento que nossa escola se propôs a ser e foi uma ponta para os valores nesses noves anos” na sua gestão.

Em tom de despedida, ele frisou, “mas a gestão de Meirenildes Alencar não é apenas este nome. São todos esses nomes que passaram por aqui e que estão também ai. Nunca fiz nada sozinha. Sempre tive ao meu lado uma equipe de professores competentes, um núcleo gestor comprometido, alunos interessados, pais que confiavam no trabalho da nossa equipe e não apenas no de Meire”. E ainda disse com o olhar fixo para a coordenadora da Crede 18, “por essa razão Luciana, esse é o nosso sucesso”. “Esse é o nosso grande prazer nesse momento”.

Meire também falou da dificuldade que enfrentou quando a escola passou a perder estudantes para a Escola de Educação Profissional Wellington Belém de Figueiredo. “Nós sabíamos que íamos perdem em aprendizagem. Mas nós não tivemos medo dessa nova realidade e dessa nova forma de aprendizagem da nossa escola. Não está sendo fácil e não foi fácil”, destacou. E disse que o foco maior da escola foi ENEM e vestibulares.

O lançamento do segundo livro da escola Santa Tereza, espaço que amo, que aprendi, que sofri, espaço que fui feliz. Não estou me despedindo ainda. Ficarei aqui até o dia 31 com vocês, mas antecipo os agradecimentos a todos pela caminhada”, encerrou.

Ainda discursaram o prefeito Dariomar e os professores Wlberlândio Oliveira, Paulo Robson - único candidato a direção da referida escola -, e Nicolau Neto. O primeiro parabenizou o protagonismo estudantil e concluiu dizendo que vai presentear com um celular aquele/as que obteve a melhor nota no Enem. Já Wulberlândio frisou que a melhor nota foi da aluna Paula Gabrielly. Paulo Robson, por sua vez, ao tempo em que também estendeu os parabéns a todos apelas belíssimas apresentações, destacou a importância da presença da comunidade no evento. Por fim, este signatário veio a realçar a relevância do que este momento tem para a sociedade, vindo a mencionar valores presentes no livro como cidadania que é a base para a construção de uma sociedade mais participativa, respeitando as diferenças e promovendo a igualdade.

Antes do lançamento que teve como cerimonialista o professor aposentado Ivanildo Cidrão, Charles animou o público com músicas.

Participaram também da solenidade, os ex-prefeitos João Ivan Alcântara e Antonio Dorival, a vereadora Silvânia Caldas, Deza e Leocádia, secretário de governo e secretária de educação, respectivamente, a professora aposentada e ex-diretora da escola em evidência, Maria Duarte, além de representantes de entidades como o Sinsema e o Conselho Tutelar.

Abaixo outras fotos do evento:



















16 de março de 2018

“Tava chorando a defensora de bandido”: O que nos diferencia das bestas?



''Tava chorando a defensora de bandido, Sakamoto?'' Voltando do protesto por conta da execução de Marielle Franco, que passou pela avenida Paulista, na noite desta quinta (15), ouvi a frase dita pela voz de um rapaz, acompanhada de risos de outros, provavelmente seus amigos. Dessa vez não me dignei a olhar para trás e fazer alguma brincadeira, como sempre. Apenas respirei fundo, muito fundo, e segui meu caminho, pensando na tristeza que é ter orgulho da própria ignorância.

Já havia me deparado com centenas de comentários ao longo do dia que celebraram o assassinato de Marielle – liderança feminista, do movimento negro e da comunidade da Maré, no Rio de Janeiro, e quinta vereadora mais votada da capital carioca – e de seu motorista Anderson Gomes. Boa parte deles repetia exaustivamente abominações típicas de quem não faz ideia do que seja esse pacote mínimo de garantias para nossa dignidade.

Alguns dos leitores, aliás, acham que direitos humanos é o nome de um grupo de pessoas. Escreveram que ''com a morte dessa mulher, vai ter menos direitos humanos por aí'' ou algo semelhante.

Parte desses jovens acha que está sendo subversiva e revolucionária, pois luta contra a ''ditadura dos direitos humanos''. Essa ditadura, claro, é uma ficção. Pois se eles fossem minimamente respeitados não teríamos essa taxa pornografia de homicídios, mulheres sendo estupradas, negros ganhando menos do que brancos e pessoas morrendo por amar alguém do mesmo sexo. Não teríamos pessoas sendo executadas por defender a qualidade de vida de outras, inclusive daquelas que querem o seu mal.

Achei que valia a pena retomar trechos de um texto que eu havia escrito, em dezembro passado, para ilustrar a situação:

Direitos humanos dizem respeito à garantia de não ser assaltado e morto, de professar a religião que quiser, de abrir um negócio, de ter uma moradia, de não morrer de fome, de poder votar e ser votado, de não ser escravizado, de poder pensar e falar livremente, de não ser preso e morto arbitrariamente pelo Estado, de não ser molestado por sua orientação sexual, identidade, origem ou cor de pele.

Mas devido à deformação provocada por políticos escandalosos, líderes espirituais duvidosos e formadores de opinião ruidosos, a população acha que direitos humanos dizem respeito apenas a ''direito de bandido'', esquecendo que o mínimo de dignidade e liberdade do qual desfrutam estão neles previstos.

O mundo, ainda em choque com os horrores da Segunda Guerra Mundial, produziu a Declaração Universal dos Direitos Humanos para tentar evitar que esses horrores se repetissem. De certa forma, com o mesmo objetivo, o Brasil, ainda olhando para as feridas de 21 anos de ditadura militar, sentou-se para escrever a Constituição Federal de 1988 – que não é um documento perfeito, longe disso. Mas, com todos seus defeitos, ousa proteger a dignidade e a liberdade de uma forma que se hoje sentássemos para formula-lo, não conseguiríamos.

É depois de grandes momentos de dor que estamos mais abertos para olhar o futuro e desejar que o sofrimento igual nunca mais se repita. Desde então, não vivemos uma guerra como aquela entre 1939 e 1945, muito menos um período de exceção quanto 1964 e 1985. Acabamos nos acostumando. E esquecendo. E banalizando.

Minha geração herdou esses textos – um de nossos avós e outro de nossos pais. Agora, precisamos ensinar à geração de nossos filhos sua própria história sob o risco de que o espírito presente em 1948 e 1988 se perca por desconhecimento. O problema é que parte da geração que ajudou a escrever a Declaração Universal bem como a Constituição de 1988 se esqueceu por completo dos debates que levaram até elas, em nome do poder.

O mundo está em convulsão, com guerras, ataques terroristas, crises migratórias, catástrofes ambientais. O Brasil passa por um período sombrio, com um Palácio do Planalto castrador de direitos, o pior Congresso Nacional de todos os tempos (que está aprovando leis que retiram, à luz do dia, direitos de trabalhadores, mulheres, populações tradicionais, minorias) e um Poder Judiciário que, por vezes, faz política ao invés de resguardar a Justiça.

Contudo, é exatamente nestes momentos que precisamos nos lembrar da caminhada que nos trouxe até aqui. Para ter a clareza de que, mais importante do que reinventar todas as regras, é tirar do papel, pela primeira vez, a sociedade que um dia imaginamos frente aos horrores da guerra ou da ditadura. O que só se fará com muito diálogo e a garantia desse quinhão mínimo de dignidade que todos têm direito por nascerem humanos.

Só assim frases como as que podem ser lidas abaixo deixarão a boca das pessoas para cair no esquecimento. Frases que, não raro, nós falamos sem perceber, guiados pela nossa ignorância, medos e preconceitos. Até que sejamos devidamente educados para o contrário.

– Amor, fecha rápido o vidro que tá vindo um ''escurinho'' mal encarado. – Aquilo são ciganos? Vai, atravessa a rua para não dar de cara com eles! – Não soupreconceituoso. Eu tenho amigos gays. – Tá vendo? É por isso que um tipo como esse continua sendo lixeiro. – Por favor, subscreva o abaixo-assinado. É para tirar esse terreiro de macumba de nossa rua. – Bandido bom é bandido morto. – Tinha que ser preto mesmo! – Vestida assim na balada, tava pedindo. – Por que o governo não impede essas mulheres da periferia de ter tantos filhos assim?. Depois, não consegue criar e vira tudo marginal. – Mulher no volante, perigo constante. – Sabe quando favelado toma laranjada? Quando rola briga na feira. – Os sem-teto são todos vagabundos que querem roubar o que os outros conquistaram com muito suor. – A política de cotas raciais é um preconceito às avessas. Ela só serve para gerar racismo onde não existe. – Ai, o Alberto, da Contabilidade, tem Aids. Um absurdo a empresa expor a gente a esse risco. – Esse aeroporto já foi melhor. Hoje, tem cara de rodoviária. – Por mim, tinha que matar mulher que aborta. Por que a vida do feto vale menos que a da mãe? – Os índios são pessoas indolentes. Erram os antropólogos ao mantê-los naquele estado de selvageria. – Criança que roubou não é criança. É ladrão e tem que ir para cadeia. – Tortura é método válido de interrogatório. – Um mendigo! Vamos botar fogo nas roupas dele. Assim ele aprender a trabalhar. – Pena de morte já. – Eutanásia? Pecado. A vida pertence a Deus, não a você. – Temos que tirar essas regalias trabalhistas. O Brasil não aguenta crescer com tantos custos engessando o desenvolvimento.

Por fim,  gostaria de dar parabéns a todos que veem tudo isso acontecer ao seu redor, mas preferem ficar na ignorância quentinha de sua bolha na rede social porque pensam que o mundo lá fora é a barbárie. Afinal, a ignorância coletiva precisa, para se reproduzir, do silêncio dos que têm consciência, mas não falam.

E o silêncio é sentença de morte dos direitos humanos. (Por Leonardo Sakamoto, em seu Blog).

Marielle Franco. (Foto: Reprodução/ Blog do Sakamoto).


Atos em memória de Marielle e Anderson reúnem consternação, perplexidade e revolta


O silêncio ultrapassa os militantes identificados com o Psol, partido da vereadora.
(Foto: Reprodução/ Facebook/ Luis Paiva).


Em diversas capitais do país, muitas pessoas choram a execução da vereadora Marielle Franco (Psol-RJ). "Ousou percorrer um caminho que não foi construído para mulheres como ela. Tentam calar a voz"

Em silêncio, sem trocar palavras, muitas pessoas se abraçam e choram, se amparando mutuamente. O sentimento ultrapassa os militantes identificados com o Psol, partido da vereadora Marielle Franco, 38 anos, assassinada ontem no Rio de Janeiro. Entre camisetas, broches e cartazes de movimentos sociais e partidos, circulavam pessoas aparentemente não engajadas, com expressões de tristeza, indignação, perplexidade.

Muitas andam caladas, sozinhas. Outras se abraçam como que se solidarizando mutuamente pela dor de cada uma. Abraços e lágrimas. Cenas semelhantes em São Paulo, no Rio de Janeiro, em diversas cidades do Brasil e do mundo percorrem as redes sociais. Na Argentina, o movimento Mães da Praça de Maio mandam sua mensagem.

A professora da rede municipal de São Paulo Silvia Ferraro lembra a repressão desta quarta-feira (14), na Câmara de Vereadores, quando servidores municipais tentavam barrar a aprovação da proposta do prefeito João Doria (PSDB) que altera regra para a aposentadoria dos trabalhadores do município. “Com isso já estamos acostumados. Mas o sangue derramado de uma companheira nos deixa muito abaladas. Marielle não se curvou diante das atrocidades contra o povo pobre das favelas do Rio. Foi executada. Executada! Se quisermos honrar Marielle, não podemos sair das ruas. Temos que continuar a luta.”

A vereadora paulistana Sâmia Bomfim, do Psol, afirmou que nunca poderia imaginar ocupar o Masp, palco de tantas manifestações, porque “uma de nós foi tombada pelo Estado”. “A Marielle ousou percorrer um caminho que não foi construído para mulheres como ela. Tentam calar a voz das mulheres. Vão ter que calar milhões e não vão conseguir.”

Ela lembrou o motorista Anderson Pedro Gomes que foi executado junto com a vereadora. “A Marielle e o Anderson ousaram defender a vida de outros e outras. Tem nome quem apertou o gatilho. Marielle era negra como muitas aqui, feminista como muitas aqui, pobre como muitas aqui. Não vamos nos curvar.”

A ativista Diana Assunção, do grupo de mulheres Pão e Rosa disse tratar-se de um “assassinato com a intenção de calar a luta das mulheres, a luta de quem denuncia o extermínio cometido por policiais”. (Com informações da RBA).


Milhares de manifestantes se reuniram  em frente a Assembleia Legislativa  do Rio de Janeiro. (Foto: Mídia Ninja).