12 de março de 2015

Arqueólogos acreditam ter encontrato restos mortais de autor de D. Quixote de la Mancha



Os arqueólogos e cientistas forenses que há um ano procuram o túmulo de Miguel de Cervantes no Convento das Trinitárias Descalças, em Madrid, terão mesmo achado os restos mortais do autor de D. Quixote de la Mancha, segundo a Efe, a agência de notícias espanhola, citada por vários jornais.

A informação baseada nos primeiros dados laboratoriais terá sido avançada por uma “fonte próxima do projecto”, mas não tem ainda confirmação oficial por parte da autarquia madrilena, impulsionadora deste estudo que visa identificar um corpo sepultado há 400 anos.

Cientistas com fragmentos do caixão com as iniciais "MC"
Explicam os cientistas que as ossadas “compatíveis” com as de Cervantes (1547-1616), encontradas junto às da sua mulher, Catalina Salazar, não estavam no local da sua sepultura primitiva e sim na cripta para onde terão sido transladadas a partir de 1673, ano em que começaram as obras de renovação da igreja deste convento do Bairro das Letras, em pleno centro da cidade (terminaram em 1690).

Para afirmar com absoluta certeza que identificaram os restos mortais do escritor, os especialistas precisam ainda de aprofundar os estudos. Mas, depois de os ter submetido a um espectómetro de massa (aparelho que permite identificar as diferentes moléculas que compõem uma substância), a equipa dirigida pelo antropólogo forense Francisco Etxeberría chegou à conclusão preliminar de que, pela composição óssea e a datação dos fragmentos, é plausível que pertençam a Cervantes.

Segundo o jornal ABC, os cientistas, que têm concentrado atenções num fragmento de mandíbula, fazem questão de sublinhar, no entanto, que os ossos estão em muito mau estado, o que pode dificultar futuras análises.

Ferido em batalha

No final de Janeiro, a equipa de Etxeberría anunciou com grande entusiasmo que tinha encontrado na cripta desta casa religiosa – um espaço de 70 metros quadrados que fica quase cinco metros abaixo do solo da igreja, com 36 nichos ocupados por ossadas – um caixão de madeira em avançado estado de decomposição com as iniciais “MC” gravadas em ferro. Iniciou-se, então, um complexo processo de análise dos vestígios, apostado em identificar provas de lesões nos ossos do escritor e dramaturgo.

Cervantes foi ferido no peito e na mão esquerda na Batalha de Lepanto, a que em 1571 apôs a República de Veneza e os reinos partidários do Papa ao império otomano, o que levou os especialistas a procurarem, por exemplo, marcas do impacto de balas no esterno e traços de atrofia óssea.

A mandíbula e outros ossos que agora dizem ser “compatíveis” com os de Cervantes foram retirados deste caixão, onde estavam misturados com ossadas infantis. Na cripta das trinitárias, precisa o jornal El País, foram identificados vestígios de mais de 200 crianças. Os cientistas, lembra ainda este diário espanhol, sempre disseram que não esperavam encontrar um esqueleto completo.

De acordo com as fontes históricas, Cervantes foi sepultado neste convento a seu pedido, já que era um grande devoto da ordem trinitária, que o terá salvado do cativeiro em Argel, onde esteve cinco anos.

Os resultados desta fase de trabalhos, que coincide com os 400 anos da publicação da segunda parte de D. Quixote de la Mancha e que antecede o quarto centenário da morte do escritor universal, deverão ser apresentados à imprensa nos próximos dias.

Por quem as panelas dobram?




Impossível não comentar o famoso panelaço realizado por setores de classe média e alta de algumas cidades do sul, sudeste e centro-oeste do país, durante o pronunciamento da presidenta da república, realizado domingo último em rede nacional.

Porém, para quem testemunhou — felizmente não de corpo presente, com receio de ser com eles confundido — a Presidenta Dilma ser mandada tomar no c… e vaiada por um público maciçamente de classe média e alta durante a abertura dos jogos da Copa de 2014, deixando o mundo inteiro boquiaberto, para dizer o mínimo — sim, aquela Copa que não iria acontecer, onde haveria quebra-quebra, os ônibus, metrôs e trens não funcionariam, os aeroportos não ficariam prontos, etc. —, depois o hino chileno ser vaiado durante a solenidade que precedeu ao jogo disputado pelo Chile com o Brasil (que vergonha!), confesso que não vi nada demais no panelaço ou nas vaias. Claro que o som das vaias e panelas não lhes satisfazem, e o xingamento machista execrável haveria de vir: vaca!, bradaram os covardes.

Mas como dizia, o panelaço e as vaias são próprios da democracia. O que me deixa intrigado, tentando considerá-los resultantes de uma construção mental racional, é contra o quê, exatamente, batiam.

Seria porque em apenas dois meses de governo Dilma há maior transferência de renda do que a soma dos oito anos de mandado do governo FHC? Seria porque a empregada doméstica de alguns teria passado no ENEM e a filha dos patrões, não? Seria, ainda, porque mais de quarenta milhões de brasileiros teriam ingressado na classe média, a viajar de avião até para o estrangeiro, sentados na poltrona ao lado da irresignada paneleira? Ou simplesmente seria porque a corrupção, ao ser combatida como jamais o foi antes do governo Lula, ao atingir servidores subalternos e altas autoridades do país atingem, também, os que lhes fornecem o combustível à sua existência, a propina milionária, o financiamento empresarial de campanha?

Há alguns anos atrás tentaram mudar o nome da Petrobras para Petrobrax, reduziram o seu papel e pretendiam entregá-la, completamente, ao capital privado. As denúncias de corrupção não iam à frente. Veio o governo Lula e a Petrobras tornou-se umas das maiores empresas petrolíferas do mundo.

Agora, o maior vício de que padece boa parte dos brasileiros, a corrupção, está sendo de lá extirpada, espera-se com a amplitude necessária.

Menos mal: Papa é contrário ao financiamento privado de campanhas eleitorais



Pelo DCM, fica-se sabendo que a agência de notícias italiana ANSA noticia que o “papa Francisco defendeu que as campanhas eleitorais sejam financiadas com dinheiro público para evitar que “interesses” influenciem a atuação dos candidatos”.

-"O financiamento da campanha eleitoral envolve muitos interesses, que depois cobram a conta. Evidentemente, é um ideal, porque é preciso de dinheiro para manifestos, para a televisão. Em todo caso, que o financiamento seja público. Eu, como cidadão, sei que financio esse candidato com essa exata soma de dinheiro, que tudo seja transparente e limpo”, explicou.

O Papa, como se vê, é obvio.

A nossa “moralista” mídia e o nosso “impoluto” conservadorismo, não são, por hipócritas.
Esconde o “já vai pra um ano” do engavetamento da decisão já tomada pelo TSE de proibir empresas de financiarem candidatos.

Camufla as  declarações insólitas do Presidente da Corte, Dias Tóffoli, de que ele, querendo, terá “todo o tempo” para manter na gaveta a decisão, sem esconder que deseja que o Congresso faça uma “conta de chegar” para preservar a turma da bufunfa como o grande cabo eleitoral do Brasil.

(aliás, Tóffoli, o lento, foi rápido como um azougue para pegar uma vaga na Turma que irá julgar a lista do Janto, que coisa, não é?)

Mas é curioso que a grande mídia, até agora, tenha mantido silêncio sobre a opinião do papa sobre ou tema que se está – para seu desgosto – discutindo aqui eque guarda total conexão com o que foi transformado no quase único problema nacional: a corrupção política.

O episódio, aliás, guarda uma boa lição aos marqueteiros de Dilma.

O papa não foi ao programa da Ana Maria Braga ou ao Jornal Nacional para dizer isso.

Disse a uma publicação da paróquia de La Cárcova, uma favela de Buenos Aires, o que fez a jornalista italiana Stefania Falasca dizer:

O Papa Francisco não respondeu aos jornalistas habituais, “de profissão”. Encurtou distâncias e respondeu diretamente ao povo da rua. Às pessoas nos subúrbios. Sim, porque quem fez as perguntas para o Papa foram os favelados da Villa La Carcova, uma dessas favelas intermináveis ​​e infames de Buenos Aires.”

O conteúdo, o conteúdo forte e concentrado, e não diluído por aqueles “mas, porém, entretanto” que, aqui no Brasil, são companhia obrigatória de qualquer ato ou declaração presidencial.

Este papa pode até dispensar as pompas. Mas não desce do trono, o que é a força de quem o ocupa.

10 de março de 2015

Experiência de dor, resistência e liberdade: Pequenas Histórias de Escravas Fugidas


Não são expressões de própria lavra de escravas no Rio de Janeiro oitocentista, mas escritas da imprensa que expõem poderes, resistências, dispositivos de “captura do corpo e de imposição de identidades naturalizadas”. Avisos de fuga de cativas exprimem a agonia e força da ordem escravocrata. Aqui, a escrita é da historiadora que procura “problematizar a diferença e escutar o outro”, ou exercitar a re-significação do passado na análise de discursos acerca de mulheres que escaparam, ainda que não registrassem, elas mesmas, suas agruras, alianças e negociações em relação aos poderes do patriarcado na experiência da monarquia constitucional escravista.

Publicadas diariamente nas páginas do Jornal do Commercio, periódico que circulava na capital da Corte no século XIX, as imagens de escravos “fujões” modeladas nos avisos não estavam revestidas da pele de heróis ou heroínas e, aos olhos da época, mais revelavam o espectro de corpos semoventes de uso (e abuso) privado em suas marcas singulares. Eram, portanto, figuras carregadas da reprovação de anunciantes que precisavam detalhar as características dos corpos que escapavam – mercadorias, propriedades, capitais perdidos -, na tentativa de recuperá-los. Figuras desenhadas sob certas marcas que compunham a representação de cada uma das “peças”, em espaços reservados para indicar bens, patrimônio, até mesmo rendas, que as elites proprietárias não queriam perder. Trata-se de uma perda, que, naquela evidência cotidiana e expressiva, todavia, exibia tensões sociais, outras forças em movimento e a fragilidade do regime e da dominação.

Daí porque, geralmente anônimas nos anúncios de venda e aluguel, as mulheres escravizadas apareciam nesses avisos designadas por seus nomes. Em meio à descrição das características de aparência física que configuravam cada uma, seus nomes seriam ferramentas necessárias no arsenal de trabalho de caçadores urbanos, na intenção de que, municiados com os traços que singularizam e distinguem corpos que escapam, caçadores pudessem recuperá-las e a ordem pudesse ser recomposta.

Ademir Gebara acrescenta um dado importante sobre os critérios que orientavam aquela descrição. Ele observa que, após 1870, a construção de ferrovias, o movimento da fronteira agrícola, a elaboração de uma política imigrantista e o próprio crescimento urbano contribuiriam para o enfraquecimento dos mecanismos de controle social. São mudanças que transparecem nas atitudes de proprietários e na formulação dos enunciados, que (…) ao anunciarem fugas através da imprensa, passam a descrever os fugitivos mais cuidadosamente – enfatizando suas qualificações profissionais e as possíveis articulações sociais dos fugitivos.

A despeito do controle da ordem escravista ou de seu enfraquecimento, ele lembra, os avisos pareciam também sinalizar para a necessidade de mão-de-obra para o trabalho. Portanto, a questão leva a crer que, àquela altura, a fuga representava também a disponibilização de força de trabalho, no caso mão-de-obra em circulação.

Tensão e controle são faces daquela sociedade que se explicitam em discursos da imprensa, do mercado, das instituições sociais no âmbito das províncias do Império e do regime monárquico em geral, abrigam/revelam jogos movediços e expressam relações que estão cada vez mais tensas na segunda metade do século XIX. Afinal, desde a independência do Haiti, em fins do século XVIII e ao longo de todo o século XIX, a questão da manutenção da escravidão e a possibilidade de sua extinção não deixaram de ser objeto do discurso social, não só na capital e nas províncias da Corte imperial, mas na maior parte do continente americano3.

Os avisos podem ser tomados como um front e uma trincheira, e também um aparato de luta de proprietários, de comerciantes de escravos, em suma, de elites econômicas e políticas, para manter o poder e resgatar seu patrimônio naquela batalha cotidiana. As peças gráficas que reúnem o elenco de traços que as identificam representam, portanto, parte de uma tecnologia política de produção e manutenção do regime, voltada para a recuperação de corpos escravizados. Uma tecnologia que Machado de Assis tão bem apreendeu4 que, ao ser acionada, expressava um empenho para a recuperação de um bem privado e o restabelecimento da ordem escravocrata. Trata- se de uma tecnologia que deixa transparecer as tensões que procura dissimular, porquanto, em cada detalhe dessas formulações, fica explícita uma marca, um gesto, um nome, que poderia significar a chave ou o caminho para a possível recaptura da propriedade perdida ou exatamente o contrário nos corpos que conseguiram escapar definitivamente.

Cada enunciado remete ao conjunto de signos que demarcam a propriedade humana e sinalizam para práticas de coação e crueldade que estavam naturalizadas no cotidiano do cativeiro. Nesse sentido, os avisos apresentam formulações que conferem um testemunho e uma materialidade discursiva referente ao confronto daquelas forças sociais; exprimem o poder e a repressão da autoridade escravocrata e a reação pela fuga; exprimem sentidos que remetem à ordem e à transgressão; falam do poder em nuances e em movimento, ao tempo em que não ocultam indícios daquele exercício político impresso em marcas que remetem à violência e às experiências de dor.


Computador fabricado em 1944 volta a resolver equações




Um computador analógico japonês fabricado em 1944, uma das máquinas pioneiras da computação moderna, foi restaurado e reativado em uma universidade de Tóquio, voltando a resolver equações depois de sete décadas.

O aparelho mecânico é um dos dois únicos analisadores diferenciais que ainda existem no mundo. O outro se encontra na Universidade de Manchester, no Reino Unido.

Pesquisadores da Universidade Científica de Tóquio e vários colaboradores conseguiram restaurar o aparelho que, depois de um ano e meio de trabalho, voltou a funcionar, informou nesta quarta-feira (3) o jornal Asahi.

A equipe teve que limpar todo o dispositivo, que tem aproximadamente o tamanho de uma mesa de pingue-pongue, e instalar componentes que tinham sido perdidos.

Através de um emaranhado de engrenagens, varas metálicas e discos movidos por motores, o equipamento resolvia equações diferenciais e traçava os gráficos resultantes em papel.

Os pesquisadores tiveram que utilizar cordas de koto - um instrumento musical japonês parecido com a harpa - para fazer com que os discos girassem novamente, pois se acredita que este foi o material utilizado originalmente pela Universidade Imperial de Osaka para sua construção.

Com isso, o aparelho voltou a realizar operações nesta semana durante cerca de 15 minutos, mas a equipe encarregada de sua restauração contou ao Asahi que os resultados variam em função das condições de temperatura e umidade, pois a máquina é extremamente sensível a elas.

Após um período de testes, a Universidade Científica de Tóquio fará demonstrações públicas do funcionamento da máquina duas vezes por semana a partir do ano que vem.

9 de março de 2015

É uma ilusão acreditar que a mídia tradicional se abrirá ao contraditório




Na primeira reunião ministerial do segundo mandato, a presidenta Dilma Rousseff convocou seus auxiliares para a “batalha da comunicação”. Foi enfática: “Nós devemos enfrentar o desconhecimento, a desinformação sempre e permanentemente. Vou repetir: sempre e permanentemente”.

Nada mais justo. A desinformação contrária ao governo campeia pelo país, orquestrada pelos grandes meios de comunicação. A reação da presidenta é justificável. Resta saber quais são as armas que ela e seus ministros possuem para essa batalha. Se esperam contar com a benevolência dos meios tradicionais, podem tirar o cavalo da chuva. A batalha estará perdida antes de ser travada.

Alguns veículos até publicam o que chamam de “outro lado”, mas sempre de forma discreta e submissa à pauta criada para fustigar o governo. A desproporção entre o ataque da mídia e a possibilidade de resposta através dela mesma é brutal. Constata-se uma grave falha da democracia ao exigir que governantes eleitos pelo voto popular sejam obrigados a se dirigir à sociedade por meios privados, controlados por minorias que os querem ver apeados do poder.
Além disso a participação do governo na batalha da comunicação não pode ser apenas reativa aos ataques da oposição midiática. É preciso tomar a iniciativa e buscar canais despoluídos para que as mensagens cheguem ao público sem ruídos.

Para ampliar a liberdade de expressão uma lei de meios é fundamental, embora não seja o único caminho. Outro, de construção mais rápida, é o da comunicação pública, indispensável para o jogo democrático. Dela, já há o embrião constituído pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC), com suas duas emissoras de televisão, oito de rádio, duas agências de notícias e um portal na internet. Resta tirá-la da irrelevância. Não para se tornar porta-voz do governo mas para fazer jornalismo de qualidade, livre de ingerências partidárias e comerciais.

A primeira medida é dar a esses veículos abrangência nacional, atendendo a um dos princípios básicos da comunicação pública que é o do acesso universal. Toda pessoa tem o direito, em qualquer parte do país­, de receber os sinais desses meios de forma rápida e fácil. A TV Brasil, por exemplo, deve ser sintonizada em qualquer lugar da mesma forma com que hoje sintonizamos a Globo ou a Record.

Com a digitalização e a consequente multiplicidade de canais, torna-se possível segmentá-los constituindo um conjunto formado pelo canal generalista já existente, ao lado do infantil e do noticioso. Seria o núcleo básico ao qual poderiam ser agregados canais de filmes, de música, de arte e esportes.

Quanto ao rádio, cabe lembrar que ele continua sendo a segunda fonte mais utilizada para a informação e o entretenimento no Brasil. Ao controlar um leque de emissoras que vai da histórica Rádio Nacional do Rio de Janeiro à estratégica Rádio Nacional do Alto Solimões, o serviço de rádio da EBC tem potencial para se tornar uma alternativa importante em relação ao que hoje é oferecido ao público.

Necessidade imediata nesse sentido é a constituição de emissora noticiosa 24 horas no ar, capaz de produzir uma narrativa distinta das produzidas pelas rádios comerciais que tornam homogênea a informação radiofônica em circulação pelo país.

No caso da internet, a Agência Brasil já exerce um papel importante voltado para o público leitor e para o municiamento informativo de um número expressivo de veículos em todo o território nacional. Cabe popularizar e ampliar esse serviço tendo como uma das janelas o portal da EBC, dando a ele formas de acessibilidade e fidelização semelhantes às obtidas pelos portais informativos vinculados à mídia comercial.

Com a existência de canais públicos fortes, abertos aos interesses mais gerais da sociedade, a batalha da comunicação seria travada em termos um pouco mais equilibrados, dando ao público o direito de uma escolha real.

8 de março de 2015

Possibilidade de mudança da feira em Altaneira volta a cena do debate


Depois de vários debates nas ruas, praças, pontos comerciais, no poder legislativo municipal e nas redes sociais, a possibilidade de mudança ou não do dia feira municipal do domingo, como ocorre tradicionalmente, para o sábado ou até mesmo para um dia da semana, voltou a ser alvo de debates na manhã deste domingo, 08 de março.

O assunto tinha sido amplamente discutido em 2014, inclusive parte dos comerciantes locais decidiram fechar seus estabelecimentos aos domingos, porém essa decisão não foi acatada por todos. Ante ao cenário, o caso foi discutido também e em mais de uma sessão na Câmara. A maioria dos vereadores chegaram em certos momentos a acenar favoravelmente a mudança da feira, tão logo ouviram o pronunciamento do comerciante Júnior Arrais. Este, na reunião da casa no dia 1º de abril arguiu que o comerciante é uma profissão e como tal os que fazem parte dela necessitam ter lazer e desfrutar de um dia de folga. Nenhum profissional trabalha dia de domingo. Porque só o comerciante tem que trabalhar? Indagou-o. O defensor da proposta utilizou exemplos de outras municipalidades que resolveram implantar mudança do tipo e que tiveram êxito, com crescimento econômico favorável, como Potengi, na região do cariri.

Rádio Comunitária Altaneira FM chegou a lançar com o propósito de colher junto à comunidade rural e do perímetro urbano um posicionamento sobre o assunto. Segundo dados divulgados, a maioria da comunidade é favorável a permanência da feira aos domingos. A Câmara voltou atrás da decisão acima proferida e resolveu aprovar um texto em que pretendia consultar a população por meio de um plebiscito, mas o caso caiu no esquecimento.

Quadro montado por este blogueiro. A credencial das fotos
 é do comerciante Luiz Pedro.
A chama foi reascendida mais uma vez. O comerciante Luiz Pedro, da “Ana Maria Variedades”, em nota na rede social facebook neste domingo, 08, afirmou que a feira local está a cada dia sendo eliminada e lamentou o fato de não se ter nenhum plano de ação para resgatá-la.  Luiz ainda disse que não tem nenhum incentivo a classe dos comerciantes e indagou: “já foi citado em alguns comentários que sábado e domingo são dois dias mortos em altaneira para o comercio,vejam o movimento hoje domingo dia 08/03/2015 as 10:30 hs. porque será que uma possível mudança do dia da feira local incomoda tanto algumas pessoas”???  

A nota rendeu alguns comentários, mas como de praxis tomou proporções político-partidárias.  

O parlamentar Adeilton (PP) lembrou o caso do plebiscito. “Na oportunidade o Vereador Antônio Leite colocou projeto solicitando a realização de um Plebiscito, que ficou a cargo do Executivo realizar com prazo até o mês de julho do ano passado. Nada foi feito. Não entendo como um Vereador que defende o Executivo e aimda se torna Secretário desse Executivo não tem uma propositura atendida pelo chefe do mesmo? Iremos reunir os interessados para chegarmos no consenso de qual posição e atitude iremos adotar. Não podemos é deixar como está”.

O ex-vereador e agora Secretário de Obras Antonio Leite apimentou o caldo e questionou a autoridade de Adeilton no caso. “nobre vereador vc já foi situação e sabe que nem tudo que o Sr solicitou do gestor da sua época foi atendida ou o nobre não defendia o executivo agora vem com essa que não entende porque um vereador não tem uma propositura atendida por ser do executivo ou no passado as suas eram todas atendidas ou o Sr não fazia nem uma ao seu gestor”.

Para além do lado político-partidário, a Agente de Edemias, Regilene Gonçalves argumentou que o assunto deveria ser solucionado apenas pelos comerciantes. (ela excluiu o comentário).

Faz-se necessário afirmar que um passo importante na resolução desse impasse é procurar meios de revitalização da feira. Mudar o dia simplesmente não irá surtir efeitos. Toda via, isso só pode ser feito de forma que se respeite o principio democrático ouvindo o povo, de forma específica os agricultores. O assunto é do interesse da comunidade e não apenas de uma classe. Sendo assim ela pode e deve ser consultada. Sem isso, estaremos eximindo o povo de uma decisão que lhe compete.

Segundo o jurista e blogueiro Raimundo Soares Filho, do Blog de Altaneira, irá apresentar um projeto que visa consultar o povo. “Ainda esta semana apresentaremos o projeto de consulta popular”, frisou.

Dia Internacional da Mulher – A pergunta prevalece: comemorar o quê?



Eu gostaria que nós, mulheres, tivéssemos bons motivos para comemorar o Dia Internacional da Mulher. Gostaria mesmo! Mas o fato é que há ainda tanta coisa a avançar, tanta, que fica realmente difícil qualquer comemoração.

E, se em março de 2014, eu iniciei meu texto dizendo que não tínhamos o que comemorar neste dia,“porque o ano de 2013 foi marcado pelo conservadorismo, e vários setores que representam as minorias tiveram que se mobilizar muito, mas muito mesmo, para não perder direitos que já estavam garantidos na constituição”. O ano de 2014 não foi diferente e o de 2015 também não promete mudanças. Ao contrário!

Na verdade, tenho a impressão que a luta por respeito e igualdade tende até a aumentar nos próximos anos, tendo em vista que nas últimas eleições o povo brasileiro elegeu o congresso mais conservador desde 1964!
E, se o ano de 2013 também foi marcado pela divulgação de estatísticas assustadoras: “segundo apontamentos, há três anos, o Brasil ocupa a 7ª posição na listagem dos países com maior número de homicídios femininos”. Em 2014, a coisa não foi nada diferente. Apesar de não ter estatística mais recente em mãos para confirmar essa informação, é perceptível, a qualquer um que queira ver, que a violência contra a mulher está aumentando significativamente, sobretudo a violência psicológica.

Vejam os diversos casos de mulheres que sofreram ameaças de estupro “corretivo” e morte ao defender o empoderamento e direito da mulher nas redes sociais. É simplesmente AS-SUS-TA-DOR!!

E não, não é nenhum exagero dizer que o machismo, a misoginia têm crescido nas redes sociais. Tem sim. E muito. Conforme a matéria ‘Misoginia na internet’, no ano passado a misoginia online entrou na roda com o chamado ”GamerGate”, quando diversas mulheres na indústria dos jogos, principalmente as desenvolvedoras Zoe Quinn e Brianna Wu, além da blogueira Anita Sarkeesian, foram alvo de uma onda de ataques machistas. No Twitter, no Reddit e em imageboards como o 4chan, as mulheres receberam ameaças de estupro e morte. Há também o caso da jornalista australiana Alanah Pierce, que ficou famosa por enviar printscreens das ameaças que recebia para as mães de seus assediadores, em sua maioria adolescentes.

Há algumas semanas, a jornalista Ana Freitas publicou um texto sobre misoginia em chans e imageboards brasileiros. Nos comentários da página, as manifestações de algumas pessoas — principalmente homens, mas não só — confirmaram perfeitamente as críticas expostas no texto. Para esses comentaristas, pedir respeito é “mimimi” e as mulheres seriam aceitas nesses espaços desde que não se identificassem publicamente como mulheres. Nada contraditório vindo de quem, por exemplo, se refere a mulheres como “depósito de esperma”.

Em relação ao mercado de trabalho, tudo continua notoriamente sem qualquer mudança. A mulher permanece ganhando um salário menor que o homem, “continua sendo uma mão de obra barata, ‘dócil’, instruída (já que conforme pesquisas, mulheres têm mais anos de estudos que os homens) e de autoestima reduzida por uma cultura misógina, que lucra muito pregando inseguranças às mulheres (a ‘ditadura da beleza’ instituiu dois grandes medos para dominar o público feminino: o medo de envelhecer e de engordar, e isso gera altos lucros às ‘indústrias da beleza’)”. E continuamos com a dupla ou tripla jornada de trabalho, tendo em vista que a maioria das mulheres trabalha fora e em casa.

Há ainda a necessidade cada vez mais premente de questionar velhos mitos que nos infligiram ao longo do tempo e que em nada nos engradecem ou privilegiam, ao contrário, nos colocam em uma posição que nos torna subordinadas a tradições patriarcais. É costume ver nas redes, em datas como essa, uma enxurrada de mensagens com fotos de flores e asneiras que parecem “elogiar” as mulheres, mas que, infelizmente, só ressaltam expectativas machistas.

Enfim, ratifico que temos uma batalha muito grande pela frente nas mudanças dessas e de outras tantas situações e também na desconstrução desses mitos que nos abatem diariamente, nos inferiorizam, nos tiram a autonomia e nos limitam a papéis de dependência dentro da sociedade.

A violência contra a mulher é REAL e diária. Está nas redes sociais, nas ruas das cidades e dentro de muitas empresas e inúmeras residências. Por isso é tão importante provocarmos o debate nesse dia 08 de março e estendermos para os demais dias do ano, para o dia a dia. Por isso é tão importante que homens e mulheres se unam na desconstrução de mitos e na conquista pela igualdade de direitos. Afinal, mudanças desse porte não ocorrem do dia para a noite e nem muito menos num único dia. Pensem nisso!

*Autora

Janethe Fontes é escritora e tem, atualmente, 4 livros publicados: Vítimas do Silêncio, Sentimento Fatal, Doce Perseguição e O Voo da Fênix.