Empossado
no último dia 1º de janeiro, o vereador professor Adeilton coloca seu nome na recente
história política de Altaneira. Isso porque ele foi o primeiro vereador da base
oposicionista a ocupar a presidência da Câmara. Uma mudança significativa que
vem sendo registrada em outros municípios, a exemplo de Santana do Cariri que
fica a cerca de 30 km da “terra alencarina”.
As
mudanças na presidência do legislativo podem configurar uma nova relação entre
os poderes. De aproximação ou também de dificultar a aprovação de legislações.
‘Foi o meu pior momento como político’, diz Adeilton ao classificar fase que antecedeu denúncia contra o prefeito de Altaneira. (Foto: Júnior Carvalho). |
O
Blog Negro Nicolau (BNN) entrevistou o novo presidente da Câmara de Altaneira,
o vereador professor Adeilton (PSD). O edil tem 38 anos e está no seu terceiro
mandato. O parlamentar vai substituir Antônio Leite (PDT), que ficou à frente
do Legislativo entre 2017 e 2018.
Adeilton
falou sobre o processo eleitoral que culminou com sua vitória para comandar a
casa para o biênio 2019 – 2020; sobre os projetos que pretende desenvolver para
aproximar a comunidade do legislativo; de capacitações para vereadores e
servidores; da queda do repasse do duodécimo para esse ano; de suas pretensões
políticas; da relação entre os dois poderes; de sua relação com seu ex grupo
político na casa e da denúncia contra o prefeito Dariomar Rodrigues (PT).
O
presidente eleito chegou a classificar a fase que antecedeu a denúncia contra o
prefeito de Altaneira como sendo seu pior momento como político. Ele
descreve que seu grupo passou a receber ingerência
do gestor municipal, alegando que iria sofrer uma traição e que os vereadores
da situação não estavam mais dispostos a continuar com o mesmo. Ressalta ainda que
alguns do antigo grupo “passaram a fazer jogadas políticas para ajudar nisso” e
“que outros pediam para não se destacar em denúncias”, o que poderia, segundo o
grupo (nas palavras dele), “fazer com que o Prefeito se reaproximasse da base”.
“Ou seja, deixamos de atuar e entramos,
erradamente no jogo do “esperar”. Era como se os vereadores de situação estivessem
esperando uma atitude nossa, com medo de sair da guarda do prefeito e nós da
oposição irmos ocupar seus lugares. E
nós opositores, esperando que eles reagissem, com medo de atacar e os mesmo se
valorizassem com o prefeito. Foi o meu pior momento como político”,
destacou o presidente.
No
que pese aos principais desafios que enfrentará no comando da casa, ele apontou
que é “conseguir adequar as despesas, as reais necessidades da Câmara com o novo
valor do repasse (duodécimo). ” O presidente afirmou que esse ano haverá uma
redução em torno de 12%.
O
vereador respondeu também sobre suas pretensões políticas. “Quero confessar aos
seus fiéis leitores que quase não seria candidato nas eleições de 2016, fui por
um chamamento de amigos, apoiadores que acreditam em nossa posição e trabalho”,
disse. Apontou que é hora de “abrir espaço para mentes novas, pessoas com gás
novo, que queiram bem a nossa terra e que desejem ir além do que já conseguimos
como vereador”, mas não descartou seguir na política.
“Se nossa gente nos convocar para reeleição ou para pleitear algo no executivo, estarei pronto para servi-los”, finalizou.
Leia
a entrevista concedida por e-mail ao Blog Negro Nicolau (BNN).
Blog Negro Nicolau (BNN).
Durante seus dois mandatos você nunca se lançou como presidente. O que te fez
mudar de ideia agora?
Professor Adeilton.
Para ser sincero, todos que se elegem Vereador, sonham em um dia poder comandar
a Casa Legislativa onde presta seu trabalho. Comigo não poderia ser diferente.
No entanto, durante meus mandatos assumir uma posição de conciliação, de buscar
o entendimento, de ceder diante de muitas situações em busca da unidade, de
manter um grupo fortalecido e exercer um bom papel de liderança. Me preocupei
muito mais com a condição de liderar, de ceder a muitos interesses dos membros
do grupo, do que lutar pela presidência da Câmara. Porém, durante o processo
investigativo, diante das divergências não justificadas pelo executivo a
respeito das denúncias, pelo posicionamento que a maioria dos membros da
oposição tomaram, com o resultado das eleições de 2018, onde as duas Vereadores
do nosso grupo não votaram em nossos candidatos, percebi que não estava
conseguindo exercer com maestria meu papel de líder da oposição, que o papel de
conciliador não estava mais funcionando e que em diversas situações estava
apenas sendo usado. Ouvindo algumas lideranças e alguns dos meus eleitores,
diante disso tudo, fui aconselhado a sair da liderança do grupo da oposição e
de lançar meu nome a presidência da Câmara.
BNN. A sua vitória
para comandar o legislativo municipal foi creditada pelos quatro vereadores
que, até bem pouco tempo, eram da base do prefeito. Para além das questões de
oposição e situação, a que você credita esse apoio?
PA. Como dito
anteriormente, lancei meu nome a pedido de algumas lideranças e de alguns
eleitores da oposição, que estavam chateados com o ocorrido. De início, nosso
pensamento foi de ser candidato para tirar meu voto e não compactuar com o
ocorrido, ou seja, com as mudanças de posições. Haja vista que quatro
Vereadores vieram para a oposição e três foram para a situação, nosso propósito
inicial foi demonstrar aos amigos, eleitores que acreditam em nosso trabalho
que permanecemos na mesma posição, isto é, na oposição. Que não aderimos aos
opositores recém-chegados e não seguimos aos que aderiram ao prefeito. Com o
anúncio da nossa candidatura, de forma espontânea e em público os quatro
oriundos da situação se comprometeram apoiar nosso projeto, utilizando o
discurso sobre as posições que adotei diante dos trabalhos legislativos, da
coerência durante o processo de investigação e da possibilidade de manter o
Poder Legislativo independente e atuante. Acredito que ao perceber que não
conseguiria eleger um candidato do grupo deles, acharam por bem eleger um da
oposição, ao invés de contribuir para que a direção da Câmara caísse nas mãos
de um situacionista.
BNN. Uma das
principais questões que afasta a comunidade da Câmara é o centralismo das
disputas pessoais em detrimento do interesse coletivo. O ex-presidente Antônio
Leite (PDT) chegou a afirmar que em sua gestão isso tinha diminuído. Você
concorda? E como você pretende lhe dar com esse problema?
PA. De certo modo,
concordo. Durante a gestão do Presidente Antônio Leite os servidores e as
assessorias do legislativo tiveram total autonomia em servir a todos, sem
indiferença. Essa figura da não participação da comunidade aos trabalhos do
legislativo não é fundamentalmente de responsabilidade do gestor da Câmara,
acredito que todos nós Vereadores, formadores de opinião, comunidade no geral
tem sua parcela de culpa. Precisamos ajudar no distanciamento da Câmara com a
comunidade, temos boas propostas para uma melhor aproximação e entendimento da
função do parlamentar, muitos desconhecem, não consegue diferenciar os três
poderes. Uma das propostas é implantar o projeto “Conheça Melhor o Legislativo Municipal”, que irá levar as escolas
e as organizações não governamentais as atividades dos parlamentares. Outra
medida é o projeto “Câmara nas
Comunidades” que visa promover a integração entre o Legislativo e a
comunidade a partir da troca de informações e um maior entendimento dos
problemas que envolvem o município. E por fim, implantar o Projeto “Câmara Mirim”, com a escolha anual de
9 crianças e adolescentes que irão se reunir uma vez a cada bimestre para
tratar assuntos de seus interesses que serão analisados em Plenário. Será um
grande desafio para esse ano, além do mais com uma queda de mais de 12% no
valor do repasse (duodécimo) para esse ano.
BNN. Para um bom
andamento dos trabalhos na casa legislativa é fundamental o respeito ao
regimento interno. Isso sempre foi um entrave durante as sessões. Diminuiu nos
últimos dois anos. O que você pretende fazer para sanar isso?
PA. Iremos continuar
com o respeito integral ao nosso Regimento Interno, buscar sempre o
entendimento dos membros do Parlamento Municipal, quando entendermos que tal
artificio esteja ultrapassado ou está sendo obstáculo para um melhor andamento
dos trabalhos, iremos propor alterações e sempre trabalhar com o respeito,
parceria e com muito entendimento.
BNN.
Nos últimos anos, testemunhou alterações nos horários das sessões e nas das
reuniões da comissão permanente. Você pretende colocar em discussão novas
mudanças nesse sentido?
PA. Não temos esse
interesse. No entanto, deveremos ouvir os anseios e interesses de todos os
membros do Parlamento, nunca foi permitido que um Vereador, independentemente
de sua posição política, seja prejudicado em outra atividade que exerça em
virtude de horários das sessões e das reuniões das comissões. Acredito que não
ocorra necessidade de alterações, caso contrário iremos ouvir a todos e
tomarmos a decisão mais sensata.
BNN.
A Câmara sempre participa de seminários com o quadro de vereadores. Não
obstante, raras são as vezes em que seus/uas servidores/as participam. Qual a
importância que você dará a capacitação funcional no oferecimento dos serviços
a população?
PA. Nossa intenção é
de capacitar os vereadores e servidores, pelo menos duas vezes por ano. Faremos
isso de forma proporcional, sempre que um ou mais vereadores for designado para
uma formação, iremos permitir a ida de servidores, não podemos permitir que
somente o parlamentar tenha esse direito, os trabalhos legislativos também
precisam sempre estarem atualizados e modernizados.
BNN. Quais os
principais desafios que tu apontas ao assumir a presidência da Câmara?
PA. Um dos
principais, inicialmente, será conseguir adequar as despesas, as reais
necessidades da Câmara com o novo valor do repasse (duodécimo). Como já dito
teremos uma perca de algo em torno de 12%, teremos que realizar adequações,
diminuir servidores, assessorias e trabalhar com uma nova realidade. Outro
desafio será reaproximar a comunidade do poder legislativo, promoveremos
diversas medidas nesse quesito, como já mencionamos acima.
BNN.
A crise de representatividade da classe política no país salta aos olhos. Não é
só por corrupção, mas também por ineficiência. Ou seja, por ausência de
trabalho na função. No município a realidade não tem sido diferente. Você foi
durante seus mandatos muito elogiado pela postura que adotou enquanto oposição,
porém, passou a ser contestado quando surgiu as denúncias contra o atual
prefeito. Até que ponto isso posso pesar em uma futura candidatura?
PA. De fato. Tivemos
dois mandatos de muita atuação, relator de CPI, de comissões, realizamos
diversas denúncias nos mais diversos órgãos de controle. Porém, na eleição de
2016, sofremos muito. Fomos atacados e muito perseguido com terrorismos
jurídicos, isso dificultou minha eleição e me deixou preocupado com o futuro.
Ao iniciar esse terceiro mandato, uma oposição renovada, dois dos colegas de
oposição não conseguiram reeleição, os trabalhos já não eram o mesmo. Passamos
a receber ingerência do gestor municipal, alegando que iria sofrer uma traição,
que os vereadores da situação não estavam mais dispostos a continuar com o
mesmo, que tudo era por não está mais atendendo aos interesses deles e que
precisava do nosso apoio, que Altaneira estaria acima disso tudo... Isso trouxe
uma força de inercia muito forte para nosso grupo. Passamos a esperar que isso
ocorresse, alguns do nosso grupo passaram a fazer jogadas políticas para ajudar
nisso, outros pediam para não se destacar em denúncias, em busca de
investigações, pois poderia fazer com que o Prefeito se reaproximasse da base.
Ou seja, deixamos de atuar e entramos, erradamente no jogo do “esperar”. Era
como se os vereadores de situação estivessem esperando uma atitude nossa, com
medo de sair da guarda do prefeito e nós da oposição irmos ocupar seus
lugares. E nós opositores, esperando que
eles reagissem, com medo de atacar e os mesmo se valorizassem com o prefeito.
Foi o meu pior momento como político. Recebia denúncias, reclamações, críticas,
ouvia que estávamos todos “comprados”, colegas contadores me traziam diversas
questões absurdas, levava para meu grupo e diziam: “vamos esperar, tenham
calma”. Foi, sem dúvidas o pior período político de nossa história. Uma
situação omissa e uma oposição fragilizada, acovardada. Veio a denúncia feita
pelo Advogado Deurisberto, essa serviu como divisor de águas. Acredito que
ressurge uma nova possibilidade, um novo momento, a chance de voltarmos a
sermos atuantes, de sabermos de fato quem é oposição e quem é situação. Uma
chance que irá, sem sombras de dúvidas, renovar as forças políticas para eleições
futuras.
BNN. Ainda com
relação aos últimos acontecimentos políticos que envolveu diretamente a relação
executivo e legislativo, vindo a culminar com uma nova oposição e uma nova
situação, a pergunta que está na boca do povo é: o vereador professor Adeilton
continua oposição ao prefeito? A que você credita essa dúvida?
PA. Essa dúvida se
deu por essa questão já explicada acima. Aceitamos a politicagem, o jogo, o
esperar, a temer favorecimento de adversários. O que julgo como nosso maior
erro. Não pode existir dúvidas de que sou o único que permaneci na oposição,
continuo com o grupo que me elegeu, continuo defendendo os interesses dos
amigos que acreditam em nosso trabalho. Vi meu grupo de oposição
desconstituído, sou culpado, também, por isso. Se tivesse, desde o início, não
permitido esse método de “esperar”, estaríamos em outro patamar. Mas não sou
responsável pela mudança de posições, não posso escolher quem vai ou quem vem
para a oposição. Tenho que garantir que precisamos de harmonia, parcerias, respeito
e sermos respeitados, que estaremos sempre em defesa dos interesses dos
altaneirenses, dos amigos que confiam em nosso trabalho. Ou seja,
permaneceremos fazendo oposição.
BNN. Nos últimos
meses a relação entre executivo e legitimo ficou estremecida. Na posse, tanto
você quanto o prefeito falaram em harmonia. De que forma isso se dará em seu
mandato sem que prejudique a autonomia da casa?
PA. É possível sermos
oposição sem prejudicar os trabalhos, sem prejudicar as relações entre os dois
poderes. Basta para isso, cada um entender do seu papel, compreender os
direitos e deveres de cada poder, apoiar as ações positivas, corretas e não
aceitar, denunciar os ilícitos, os abusos e falhas. Espero contar com a
compreensão do gestor maior, não fecharemos a Casa do Povo e não seremos
obstáculo para o bom andamento das ações positivas e necessárias para nossa
municipalidade. No entanto, não comungaremos com nada que venha prejudicar, que
seja irregular e que venha ocasionar prejuízos e desrespeitos com os nossos recursos
públicos.
BNN. Você almeja ser candidato ao executivo em 2020
ou pretende concorrer à reeleição?
PA. Acho muito cedo
para levantarmos essas possibilidades. Quero confessar aos seus fiéis leitores
que quase não seria candidato nas eleições de 2016, fui por um chamamento de
amigos, apoiadores que acreditam em nossa posição e trabalho. Acredito que já
contribuir o suficiente como parlamentar, entendo que devemos abrir espaço para
mentes novas, pessoas com gás novo, que queiram bem a nossa terra e que desejem
ir além do que já conseguimos como vereador. Com a experiência e conhecimentos
adquiridos nessas várias missões, acho que posso ajudar em outras funções. No
entanto, estou a inteira disposição de nossa gente, disposto a continuar
trabalhando, se nossa gente nos convocar para reeleição ou para pleitear algo
no executivo, estarei pronto para servi-los. Não podemos perder a esperança,
devemos continuar as nossas missões, até porquê “A luta continua”.
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