Povos indígenas na resistência ao genocídio


A Ponta do Arado é Guarani – desenho de Dani Eizirik. (Reprodução/Negro Belchior).


 Pode ter certeza que se eu chegar lá não vai ter dinheiro pra ONG. Se depender de mim, todo cidadão vai ter uma arma de fogo dentro de casa. Não vai ter um centímetro demarcado para reserva indígena ou para quilombola”. Com 62% dos votos válidos, o autor da frase chegou “lá” e no primeiro dia do mandato assinou um decreto que transfere a responsabilidade pela demarcação de terras indígenas da Funai para o Ministério da Agricultura. Eis aqui a primeira grande medida que permite o cumprimento da promessa.

A Constituição Federal de 1988 estabelece aos indígenas o direito à demarcação de terras. Isso, contudo, nunca impediu que ameaças, violências e perseguições colocassem em risco as vidas das muitas comunidades originárias. Potencializando essa sangria, um novo governo chega ao poder do país e preocupa diversos movimentos sociais. Diante do cenário tenso, a guarani mbya Jera Guarani, de 38 anos, revela acreditar que Bolsonaro é um enviado do diabo ou o próprio para destruir o Planeta Terra.

Toponoyê Júnior, indío xukuru, de 35 anos, acredita que a medida tomada pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), serve para beneficiar somente a fazendeiros, grileiros e madeireiros, o que classifica como um tremendo desrespeito à cultura e história do Brasil. Ele enfatiza que ao contrário do que Bolsonaro diz, os indígenas não precisam se integrar na sociedade, afinal sempre fizeram parte da população brasileira. “Podemos morrer, mas vamos deixar nossos legados assim como nossos antepassados”, diz.

Além de contribuir para a preservação étnica cultural, a demarcação é um importante processo de conservação e proteção ambiental, dados do PPCDAM (Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia) mostram que as áreas indígenas são as mais protegidas ambientalmente. Toponoyê, que é ativista na causa e frequentemente está em Brasília acompanhando os acontecimentos, acredita que embora a biodiversidade brasileira já esteja ameaçada há anos, poderá piorar com o novo governo. A rejeição, feita pelo presidente, de tornar o país sede da COP 25 é usada pelo xukuru para exemplificar o descaso no qual as questões ambientais estão submetidas.

Segundo uma pesquisa do instituto Datafolha, divulgada no último dia 13, cerca de 60% dos brasileiros são contra a redução de terras indígenas, que atualmente representam 12,2% do território nacional. Adriana Ramos, associada do Instituto Socioambiental (ISA), classifica como “absurdo” uma gestão governamental que subordine o cumprimento de um dispositivo constitucional em troca de interesses econômicos.

Na tentativa de reduzir os territórios e massacrar as culturas, o governo Bolsonaro vai se surpreender com uma rede enorme de pessoas – indígenas e não indígenas – defendendo as culturas originárias. O plano sanguinário do extermínio não vai dar certo”, são as palavras de esperança de artista visual Dani Ezrk, de 29 anos, que está auxiliando uma aldeia, localizada em uma área da fazenda Arado Velho, em Porto Alegre, que sofreu um ataque com tiros no último dia 11.

No próximo dia 24, acontecerá em São Paulo um ato sobre a conscientização indígena para instigar o debate e a luta contra a perca de direitos desses povos. (Por Marina Souza, no Negro Belchior).


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