(Foto: Reprodução/Brasil 247). |
É
bom levar a sério a afirmação que Lula já fez chegar aos jornais, segundo a
qual pretende exercer seus direitos de candidato a presidente até o fim -- e
participar da eleição, caso seja possível vencer obstáculos jurídicos que
previsivelmente surgirão pelo caminho.
Para
quem imaginava que ele estaria prestes a conformar-se com a ideia de que tem
zero chances de colocar seu retrato na urna de 7 de outubro, e no momento
apenas faria cenas de teatro na cela de Curitiba antes de providenciar a
indicação de um substituto, ele tem enviado sinais de uma orientação mais
clara, que pode produzir uma campanha eleitoral muito mais animada e combativa
do que se costumava prever até aqui.
A
decisão de não baixar a guarda se alimenta de dois fatores. Um é político e
reside na constatação, óbvia, de que o nome Lula desfruta de indiscutível apoio
popular, confirmado a cada rodada nas pesquisas eleitoral. Num país com uma
maioria de presidenciáveis cujo nome o eleitorado ignora ou quase nunca
respeita, Lula ocupa um lugar único como memória e como esperança de uma
parcela cada vez maior de cidadãos. Quando falam do risco de uma eleição
esvaziada como nunca, os pesquisadores só se esquecem que estão falando da
ausência de Lula como elemento principal de desânimo e desmobilização. Em vez
de perder votos depois da prisão, como se imaginava, ele não para de receber
apoio de novas parcelas do eleitorado.
Outro
aspecto é jurídico. Com auxilio do advogado Luiz Fernando Pereira, especialista
em direito eleitoral, cresce em torno de Lula a visão de que não lhe cabe
facilitar o trabalho dos adversários políticos que, depois de uma condenação
sem provas, agora querem retirá-lo da campanha de qualquer maneira -- e ainda
esperam que contribua para isso.
"Se a legislação eleitoral for respeitada, Lula
irá disputar o primeiro turno e terá direito até a aparecer no horário
eleitoral," disse o advogado ao longo de um encontro com jornalistas e
blogueiros, hoje. O argumento de Luiz Fernando Pereira apoia-se no retrospecto
de 146 candidatos a prefeito que, em 2016, enfrentaram uma situação análoga a
de Lula em 2018. Condenados em processo criminal, disputaram a eleição
protegidos por uma liminar, na esperança de que poderia ser confirmada que
poderia ser rejeitada por tribunais superiores após a apuração. No fim das
contas, "sete em cada 10 conseguiram
confirmar suas candidaturas e hoje permanecem em seus cargos", afirma
Pereira.
Não
há dúvida de que, diante da parcialidade exibida contra Lula em todas as fases
da Lava Jato, a natureza particularmente política de um julgamento envolvendo
uma sucessão presidencial estratégica para os destinos da 8a economia do mundo
permite encarar a possibilidade de um final feliz para Lula -- e para a maioria
dos eleitores brasileiros, como informam as pesquisas -- como o ceticismo
devido aos contos de fada. Basta recordar a quantidade de recursos e liminares
rejeitadas nas fases intermediárias do processo para calcular o que aguarda
Lula nos momentos finais e decisivos. "Para
tirar o Lula da campanha, será preciso sujar as mãos", diz o advogado.
Nenhuma destas dificuldades, contudo,
permite ignorar o ponto principal.
A
decisão de seguir em frente representa não só a reafirmação de sua inocência, a
denúncia de uma injustiça histórica. Também equivale a uma demonstração de
respeito absoluto pela soberania de um povo que não para de gritar por sua
liberdade e sua volta ao governo. Quarenta anos depois de paralisar o ABC -- e
depois o país inteiro -- nas greves de trabalhadores, e deixar o Planalto
coberto de glórias como ninguém antes de dele, Lula caminha para travar, decide
aos 72 anos, aquela que pode ser a luta mais heroica de sua vida. (Com
informações do Brasil 247).
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