(Foto: CCO Wikimedia). |
Segue
animada a luta de partidos e candidatos por alguns segundos a mais no horário
eleitoral obrigatório no rádio e na TV, a se iniciar em 31 de agosto. Há
candidatos, como é o caso do ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que
apostam tudo nesse tipo de propaganda. É a sua última esperança de melhorar os
índices de intenção de voto registrados até aqui por todas as pesquisas.
A
expectativa, por certo, é que se repita o fenômeno das últimas eleições
municipais realizadas em São Paulo, onde um candidato desconhecido recebeu uma
cuidadosa embalagem de marketing e venceu as eleições no primeiro turno graças
à TV – e ao desinteresse pela política, já que Doria perdeu para abstenções e
brancos e nulos.
Se
por um lado esse tipo de uso do horário eleitoral distorce sua finalidade,
levando o eleitor ao engano, por outro é nesse momento que as mensagens
honestas e não manipuladoras podem transitar livremente. Personagens e ideias
banidas ou distorcidas durante as programações regulares das emissoras podem
aparecer em sua integralidade nos horários obrigatórios.
A
ditadura civil-militar de 1964-1985 tentou aniquilar todas as organizações de
esquerda existentes no pais, mesmo aquelas que não aderiram à luta armada. Qual
não foi a surpresa quando, ao final desse período, era possível ver nas telas
de TV, nos horários obrigatórios, os símbolos do comunismo até então
demonizados pela ditadura. Além das mensagens denunciando as mazelas nacionais
contrastando com a propaganda governamental ufanista.
Os
programas eleitorais cumpriram um importante papel na abertura democrática dos
anos 1980 e na consolidação das liberdades políticas dali em diante.
A
sua importância está diretamente ligada à falta de pluralidade no noticiário e
na ausência de debates políticos no rádio e na TV. Durante a ditadura a Polícia
Federal enviava seguidamente ordens às redações proibindo a divulgação de
determinados assuntos ou a realização de entrevistas com determinadas pessoas.
Entre
os nomes censurados estavam, por exemplo, os de dom Hélder Câmara e de Darcy
Ribeiro e entre os inúmeros assuntos proibidos incluíam-se o surto de meningite
que ocorreu em São Paulo em meados da década de 1970 e a volta às ruas das
manifestações estudantis.
Hoje
a situação se repete, não por via direta da Policia Federal mas pela própria
censura empresarial imposta pelos donos dos meios de comunicação. Exemplo mais
recente é o do banimento do nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dos
noticiários. Ao ser preso, a ordem das empresas é que ele fosse esquecido, com
a intenção de determinar a sua queda nas pesquisas de intenção de voto, o que
não ocorreu.
Sobreveio,
no entanto, um fato novo, inesperado para os operadores do jornalismo dessas
empresas. A ordem do desembargador Rogério Favreto de libertar o ex-presidente
em pleno domingo pegou os plantonistas nas redações de surpresa. De repente,
tinham que falar de Lula de novo.
Para
tanto, comentaristas e apresentadores de folga foram chamados e, ao longo do
dia, tentaram ir se refazendo do susto. Se o nome do ex-presidente não podia
deixar de voltar as telas e microfones, a forma como isso foi feito
enquadrou-se na linha da distorção, enfatizando o irrelevante (o desembargador
ser plantonista ou ter trabalhado em administrações petistas) e escondendo o
relevante (a incomunicabilidade do ex-presidente impedindo-o de falar com a
imprensa, a ausência de razões para o
seu encarceramento e a perseguição pessoal exercida sobre ele pelo juiz de piso
Sérgio Moro).
Mas
não é só em momentos excepcionais como os do domingo, 8 de julho, que a mídia
adota essa postura. Ela faz parte da rotina normal de trabalho.
Na
televisão aberta, o veículo informativo único para a maioria da população
brasileira, não se debate política. E na TV fechada os poucos que existem
mantêm uma linha editorial conservadora, quando não reacionária. O
contraditório inexiste.
Outro
exemplo recente de parcialidade ocorreu com o programa Roda Viva, da TV Cultura
que, diga-se, não é um programa de debates e sim uma espécie de entrevista
coletiva, ao contrário do que afirmou o vice-presidente do Conselho Curador da
emissora, Jorge da Cunha Lima, em artigo publicado num jornal da imprensa
corporativa.
Nesse
programa, a pré-candidata do PCdoB à Presidência da República, Manuela D’Ávila,
viveu um dos momentos mais constrangedores da história da TV brasileira.
Cercada de entrevistadores alinhados ideologicamente em campo oposto ao dela,
quase não pôde falar, interrompida que foi por mais de 60 vezes. As perguntas
eram de nível pedestre, quase sempre evidenciando a indigência cultural dos
perguntadores.
Como
se vê, nos raros momentos em que a TV se abre para a política, o faz de forma
canhestra, não dando ao telespectador a possibilidade de formar opinião através
de um debate qualificado, rico em ideias capazes de despertar o público para
temas que são essenciais à sua vida.
Ao
contrário, programas como o Roda Viva já há muito tempo vêm dando a sua
contribuição para o desencanto com a política cujo resultado é o surgimento de
“salvadores da pátria” que, em outros
momentos históricos, espalharam o terror pelo mundo. (Com informações da RBA).
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