O
presidente Michel Temer deu posse nesta sexta-feira 15 a seu novo ministro da
Secretaria de Governo, órgão responsável pelas negociações políticas entre o
Palácio do Planalto e o Congresso. O escolhido é Carlos Marun, deputado eleito
pelo PMDB-MS e que se notabilizou por ser um defensor de primeira ordem de
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ex-presidente da Câmara cassado por mentir aos colegas
a respeito de contas na Suíça e condenado por corrupção na Operação Lava Jato.
Cunha
está preso no Paraná e, ao contrário da expectativa, não fez um acordo de
delação premiada que poderia incriminar Michel Temer. Em novembro, em embate
com o doleiro Lucio Funaro, apontado como operador financeiro do PMDB em
esquemas de corrupção, Cunha inclusive defendeu Temer. Agora, seu antigo
escudeiro chega ao primeiro escalão do governo.
Sem
Cunha no cenário, Marun se tornou um ferrenho defensor de Temer e se
notabilizou por dois fatos recentes. No início desta semana, ganhou as
manchetes ao pedir o indiciamento de Rodrigo Janot, ex-procurador-geral da
República que denunciou Temer, na CPI da JBS. Mais tarde, recuou para que o
relatório do colegiado fosse aprovado. No fim de outubro, definida a votação em
que a Câmara salvou Michel Temer de uma denúncia por formação de quadrilha e
obstrução da Justiça, o deputado não conseguiu esconder sua alegria. Em frente
a jornalistas, dançou e cantou. "Tudo
está no seu lugar. Graças a Deus, graças a Deus. Surramos mais uma vez essa
oposição, que não consegue nenhuma ganhar."
Marun
vinha atuando em posições estratégicas. Foi vice-líder do governo e também
presidente da comissão especial de reforma da Previdência, onde se discutiu um
dos carros-chefe do Planalto no Legislativo. Atualmente, vinha atuando como
como vice-líder do PMDB
Após
a votação da denúncia contra Temer, Marun foi o porta-voz da linha-dura que o
governo prometia adotar com quem votou contra o presidente. "Os deputados que votaram contra o presidente
devem ser excluídos da base e ser tratados como oposição. Não devem ser nem
recebidos pelos ministros", afirmou. Agora, o próprio Marun será o
responsável por essa articulação, no lugar de Antonio Imbassahy (PSDB-BA), que
volta para Câmara.
A
postura de escudeiro não é estranha a Marun. Só que antes de proteger Temer,
quem estava na posição de soberano era Eduardo Cunha. Ao longo de 2015, quando
o então presidente da Câmara, hoje preso, atuou para inviabilizar o mandato de
Dilma Rousseff, Marun esteve ao seu lado.
Defendeu
o desembarque do PMDB do governo, o impeachment e participou de manifestações
de rua contra a petista em Campo Grande, capital do seu estado. No ocaso de
Cunha, alvo de pedido de cassação por mentir à Câmara, Marun não o abandonou.
No Conselho de Ética, trabalhou para anistiar o colega e, na sessão que
culminou com o expurgo de Cunha, foi um dos nove deputados que votaram contra a
cassação, sendo o único a defender o correligionário em plenário.
A
prisão de Cunha não afastou os dois. Na véspera do Natal de 2016, o deputado
sul-mato-grossense usou verba da Câmara para visitar o colega cassado no
Paraná, onde está preso por ordem de Sergio Moro. Após a revelação do
escândalo, Marun prometeu devolver os 1,2 mil reais que usou na visita
natalina.
Com
a saída de Cunha de cena, Marun tornou-se automaticamente um defensor do
governo e de Temer. Era atualmente relator da CPI da JBS. O fato de Marun ter
recebido, nas eleições de 2014, 103 mil reais em doações do frigorífico (50 mil
por intermédio da senadora Simone Tebet e 53 mil por meio de Nelson Trad Filho,
ex-prefeito de Campo Grande), não foi empecilho para ele obter a posição. A CPI
da JBS é vista nos bastidores como foro ideal para que a delação de Joesley Batista
e outros executivos da gigante fabricante de proteínas animais seja anulada.
Em
novembro, o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot fez duras críticas
ao colegiado. Disse que "os maus
políticos que tomaram conta dessa investigação parlamentar desviaram totalmente
seu foco e estão mais interessados em fazer a 'CPI do MPF'" e que
"pretendem debilitar os
ex-investigadores". (Por José Antonio Lima, na CartaCapital).
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Marun fez sucesso como integrante da "tropa de choque" de Cunha. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil). |
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