“Existe uma história do povo negro
sem o Brasil, mas não existe uma história do Brasil sem o povo negro”.
O trecho acima é parte de um dos poemas que integram o livro “A
poesia corre em minhas veias”, lançado pelo poeta mirim Wesley Carlos
Soares, 12.
Morador
de Perus, região noroeste da capital paulista, o garoto se aproximou da poesia
por meio da disciplina de história ainda quando estava no 5º ano do ensino
fundamental, em 2015, em uma escola pública de seu bairro.
“A professora de história, Rosálio, pediu
para fazer uma poesia de cordel e depois não parei mais”, conta o poeta,
que impressiona com textos que tratam sobre genocídio da juventude negra,
religiosidade e a importância da ancestralidade africana, como o poema
completo, abaixo:
A favela pede paz
"Existe uma história do povo negro sem o Brasil,mas não existe uma história do Brasil sem o povo negro.Genos, povo, raça, tribo, a destruição de um povo de uma nação.Não queremos viver só chorando em cima de um caixão.Ver negros, jovens de periferia estirados naquele chão.Mas o pensamento da polícia é, se o negro correr, ele é ladrão.77% das mortes de negros crescem a cada dia e o que a polícia diz:– Eu não sabia.Mas cansamos dessa vida.Temos que ser capaz.A favela pede paz!. "
Para
a produção do livro, Wesley contou com o apoio de seu irmão, Willian Soares, e
da diretora da Biblioteca Padre José de Anchieta, Beth Pedrosa. “Eu nem sabia que poderia digitar e imprimir
a capa. E saiu tudo muito ‘daóra’. Foi novo, pra mim, ver a capacidade para
montar um livro”.
O
menimo, que ainda gosta de brincar de esconde-esconde com seus amigos, sonha
em, um dia, se tornar professor de história.
“Quando eu crescer quero ser
professor de história, porque fico vendo nos livros alguns assuntos que ninguém
nunca entendeu direito, aí eu vou lá e faço uma poesia como se fosse um resumo,
um improviso. Eu acho que posso incentivar outras crianças lendo poesias para
elas, ensinando a verdadeira história e ajudando no processo de desconstrução
[dos preconceitos].”
Atualmente,
Wesley integra o coletivo artístico e independente Afronte Empodere-se, fundado
pelo irmão Willian em 2016, e tem como objetivo o empoderamento de pretos e
pretas da periferia por meio da moda.
“Para o Wesley, assim como todo o restante do
grupo, foi uma vivência muito bacana, de desconstrução e construção da
identidade de nós mesmos. Desde o nosso primeiro evento o Wesley tem
participado com poesia e percebo que cada vez mais ele escreve sobre os negros.
Ele faz parte do Centro da Criança e do Adolescente (CCA), onde ele pode servir
de inspiração para outros jovens como ele, mostrando que podem lançar um livro.”
O
livro “A poesia corre em minhas veias”,
impresso em papel reciclável, traz 15 poesias e custa um valor simbólico de R$
2, que é para colaborar na impressão de novos exemplares para o poeta continuar
apresentando seu livro em saraus pelas periferias de São Paulo. (Com informações do CEERT).
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Aos 12 anos, menino de Perus publica livro de poesia sobre história negra no Brasil. (Foto: Viviane Prado/ Divulgação/ Reprodução/ Blog Mural). |
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