O
Auditório da Fundação Educativa e Cultural ARCA sediou na noite desta
sexta-feira, 01/12, uma mesa redonda alusiva aos 500 anos da Reforma
Protestante.
A
mesa foi composta por Carlos Alberto Tolovi, Doutor em Ciência das Religiões,
Filósofo e Professor de Filosofia da Universidade Regional do Cariri (URCA),
Vinícius Freire, Líder do Ministério Nissi e professor de História da Escola de
Ensino Médio Santa Tereza (Altaneira) e por este professor signatário com
especialização em Docência do Ensino Superior, licenciado em História,
blogueiro e ativista pelo Grupo de Valorização Negra do Cariri (Grunec), tendo
como finalidade discutir os avanços e os desafios advindos da Reforma
Protestante.
Para
tanto, alguns temas foram geradores do debate como as consequências da reforma
no contexto atual, a relação Política e Religião, o Gênero e o Ensino
Religioso. Segundo Vinícius, a ideia inicial era promover um momento só para as
pessoas ligadas a religiosidade de cunho protestantes. “Pensávamos em evento
com pastores e os fiéis com a presença de pregadores de outros lugares, mas por
falta de recursos e de outras questões, não foi possível esta realização”,
disse. “Depois", ponderou, "pensei em construir um momento mais democrático e de
debates em que pontos de vistas diferentes fossem expostos. Por isso, essa mesa
hoje aberta a toda a comunidade altaneirense".
Contexto da Reforma
Tolovi
propôs 15 minutos de fala para cada componente da mesa e em seguida abrir para
as intervenções, curiosidades e questionamentos do público. O professor da URCA
trouxe a cena o que levou um dos principais expoentes da reforma se rebelar
contra o clero católico romano. Segundo ele, as ideias de Martino Lutero eram
legítimas, pois questionou um dos principais erros cometidos pela igreja, a
venda de indulgências ou a compra do perdão. Outro grande feito dele que
ninguém conseguirá apagar foi permitir que outras pessoas tivessem acesso aos
escritos bíblicos, antes restritos só ao clero.
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Tolovi fala das condicionantes da Reforma Protestantes. (Foto: Professor Paulo Robson). |
“Lutero
se notabilizou porque ele conseguiu mexer com uma das instituições mais
poderosos do período, quase foi queimado por isso”, disse. “Mas porque não foi”, indagou? Porque as
alianças com os monarcas o livraram, em uma clara demonstração de que política
e religião estavam juntas.
O
filósofo também apontou falhas na reforma e no reformador. “Quem precisa de reforma”?, perguntou. A
igreja católica cometia erros e por isso Lutero sentiu a necessidade de corrigi-los.
“Mas se antes seu reformador foi um
rebelde ao questionar a doutrina católica, ele cometeu os mesmos erros que
criticou ao mandar executar camponeses que estavam fazendo como ele – se rebelando”.
Ainda conforme Tolovi, outro erro marcante do reformador foi ter afirmado que
só a fé pode salvar. “Isso acabou
servindo para alimentar o individualismo”, realçou.
Por
fim, ele mencionou que hoje a venda de indulgência, principal motivo da
explosão da reforma protestante e que dividiu o cristianismo, continua sendo
praticado em larga escala, principalmente pelas igrejas protestantes.
Permanências, Mudanças, Gênero e
Ensino Religioso
O
professor Nicolau Neto seguiu a linha de raciocino de seu antecessor, trazendo
para o debate questões em voga atualmente como forma de tentar chegar ao cerne
da questão – O que mudou desde 1517? Nicolau afirmou que Lutero não foi o único
que ousou colocar em xeque o poder da igreja católica, mas foi o que mais se
notabilizou porque mexeu com as estruturas do clero.
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Nicolau discorre acerca de temas defendidos pelas instituições religiosas que reforçam a segregação e o preconceito. (Foto: Paulo Henrique Maia). |
"A
partir século XVI, testemunhamos o surgimento de várias vertentes religiosas de
linhagem protestantes e de líderes que assim como Lutero marcou história. Foram até além dele porque não ficaram
apenas no seio religioso, mas que usando da prerrogativa religiosa lutaram por
justiça social e racial, como o pastor Martin Luther King, o Metodista Nelson Mandela
e o anglicano Desmond Tutu”, argumentou. “Estas pessoas, ao contrário do Lutero”, pontuou,
“não caíram em contradição”.
Para
o professor, esses bons exemplos de protestantes não apagam o que foi feito de
ruim quando do desenrolar da reforma, tão pouco o que vem sendo praticada na atualidade.
Ao mencionar a grande visibilidade na mídia e a atuação na política partidária
a partir de 2001 dos “evangélicos”, Nicolau
destaca o ódio praticado por eles a grupos historicamente massacrados, tendo um
esforço gigante para demonizar ações indígenas e grupos religiosos de matrizes
africanas e para ampliar esse ódio, a bancada evangélica imbuída de um projeto
“Escola Sem Partido” querem inserir nas escolas o ensino religioso de
vertente protestante e católica, corroborando para segregar mais e silenciar
cada vez mais quem não se encontra em nenhuma destas linhagens.
O
ativista ainda mencionou acerca das questões de gênero que tem conseguido
juntar os que estão separados historicamente - igrejas protestantes e igreja
católica em alguns municípios - provocando um verdadeiro desastre humano ao reforçar
a política religiosa de segregação e de preconceito:
“São esses grupos, as exceções são algumas pessoas dentro destas instituições, que estão continuando a defenderem ideias de submissão da mulher, os maus-tratos a comunidade LGBTTs, o controle do corpo e da sexualidade, além de apoiarem políticos homofóbicos, racistas e machistas, tudo em nome de deus e da defesa da ‘família’”.
Segundo
Nicolau, a verdadeira reforma não está nas instituições em si, em prédios, mas
em nós mesmo. “Nós precisamos aprender a
conviver com o diferente”, finalizou.
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Vinícius fala da chegada dos protestantes em Altaneira. (Foto: Prof. Nicolau Neto). |
Crescimento do Movimento Protestante
em Altaneira
Vinícius
Freire fez um resgate de como as igrejas protestantes se instalaram em
Altaneira. Para o professor, que já tem estudos nesse sentido, o movimento
começou a chegar ainda na década de 70 do século passado, tendo na Igreja Congregação
Cristã no Brasil a sua maior expressão e ainda hoje é a que tem o maior número
de adeptos. A Igreja Assembleia de Deus Templo Central ganharia espaço na
cidade alta nos anos 80.
O
líder do Nissi pontuou que diferente de outras localidades, em Altaneira a
entrada dos evangélicos se deu por migração. Enquanto os primeiros grupos que
se desenvolveram no Brasil eram invasores - franceses e holandeses protestantes - aqui grupos viajaram e conheceram as doutrinas em outros estados, como São
Paulo e trouxeram para cá, ressaltou.
Intervenções
Após
as explanações, o público passou a intervir. Para o professor e coordenador
Paulo Robson, o momento foi muito rico e merecia uma maior participação se
referindo a professores, professoras e estudantes. Já o professor e
sindicalista José Evantuil, preferiu não lamentar as ausências, afirmando que o
momento foi proveitoso. Essa ideia foi compartilhada pelo mestrando Cícero
Lourenço. Já o radialista João Alves parabenizou a mesa pelo bom debate.
A
mesa foi idealizada pelo Nissi Altaneira e apoiada pela Fundação Educativa e
Cultural ARCA, tendo como público alvo estudantes do Ensino Médio,
universitários (as), professores (as), pastores e líderes de outras
denominações religiosas e pessoas com afinidades na temática.
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Professores, estudantes e demais pessoas por ocasião da Mesa Redonda que debateu os 500 anos da Reforma Protestante em Altaneira. (Foto: Professor Nicolau Neto). |
Parabéns aos palestrantes e também pela iniciativa. O diálogo sempre será o caminho mais democrático uma vez que as opiniões possam ser compartilhadas. E daí ocorre a reflexão! Uma reflexão que precisa ser feita sempre que necessário não apenas sobre está temática, mas também sobre muitos temas bastante pertinentes. Lucélia Muniz
ResponderExcluirGratidão por nos acompanhar, Lucélia. Abraço fraterno.
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