Livia Nascimento, ex-aluna da URCA, conquista prêmio de equidade racial

 

(FOTO | Reprodução | URCA).


A egressa do curso de Direito da Universidade Regional do Cariri (URCA), Livia Maria Nascimento Silva, conquistou premiação importante sobre equidade racial em concurso de monografia promovido pelo escritório Pinheiro Neto Advogados, com o objetivo de fomentar e dar visibilidade para a produção de trabalhos acadêmicos sobre diferentes aspectos envolvendo a temática.

A ex-aluna desenvolveu a pesquisa “A repercussão da luta dos movimentos negros pelo direito à igualdade racial no constitucionalismo brasileiro”, durante a pós-graduação lato sensu em Direito Constitucional da URCA, sob a orientação das professoras Danielly Clemente e Cícera Nunes.

Livia, que além de especialista em Direito Constitucional é mestra em Direitos Humanos, destaca que essa premiação é muito especial não só do ponto de vista pessoal, mas principalmente da pauta coletiva que envolve a discussão, já que o desenvolvimento da pesquisa só foi possível, graças aos passos que vêm de longe das intelectualidades negras. “Embora por muito tempo tenham sido excluídas dos espaços acadêmicos, atualmente pode-se dizer que existe uma ruptura epistemológica e hermenêutica em andamento, promovida por juristas negras e negros”, ressalta.

Ela ainda destaca que esses são frutos da luta da professora Cícera Nunes, que há muito forma grandes intelectuais negras e negros na URCA e em outros espaços, e da professora Daniely Clemente, que sempre foi uma inspiração, enquanto jurista, professora e ativista dos Direitos Humanos.

Livia foi a única candidata premiada de uma instituição do Nordeste. Os/as outros/as candidatos/as selecionados/as são da UnB, PUC-SP, USP e UFRJ. O trabalho foi avaliado pelos profs. Drs. Adilson Moreira e Renê Medrado. Em breve os trabalhos premiados serão publicados em livro.

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Com informações da URCA.

Silvio Almeida será Ministro dos Direitos Humanos do governo Lula

 

(FOTO  | Divulgação).


O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) , anunciou Silvio Almeida como titular do Ministério dos Direitos Humanos.

Almeida é professor, filósofo e advogado. Ele fez parte do grupo técnico de direitos humanos durante a transição de governo e é considerado um dos maiores especialistas em questão racial no país.

Como integrante do colegiado, ele foi um dos que recomendaram a Lula a revogação de indicações feitas pelo governo Jair Bolsonaro (PL) para as comissões de Anistia e de Mortos e Desaparecidos.

A Comissão de Anistia foi criada em 2002, no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) , com o objetivo de oferecer reparação a vítimas ou familiares de vítimas de perseguição durante a ditadura militar (1964-1985).

Já a Comissão sobre Mortos e Desaparecidos foi instituída em 1995, também na gestão FHC. O objetivo do grupo é reconhecer desaparecidos por atividades políticas entre 1961 e 1979, período que engloba parte da ditadura militar até o ano em que foi promulgada a Lei da Anistia.

Durante a transição, o agora futuro ministro defendeu ainda a criação de mecanismos estatais de proteção à vida das pessoas e o diálogo constante com organismos internacionais ligados ao tema.

Para 2023, Almeida deve contar com um reforço de R$ 250 milhões no Orçamento da pasta, espaço aberto com a aprovação da PEC da Transição.

Perfil

Silvio Luiz de Almeida, 46, nasceu em São Paulo. É bacharel em Direito pelo Mackenzie, doutor pela Universidade de São Paulo (USP), onde concluiu o pós-doutoramento. O novo ministro também é graduado em Filosofia pela USP.

Almeida é pesquisador do programa de pós-doutorado da Faculdade de Economia da USP, professor de graduação e docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Direito Político e Econômico da Faculdade de Direito do Mackenzie.

Além disso, é presidente do Instituto Luiz Gama, uma associação civil sem fins lucrativos formada por acadêmicos, juristas e militantes de movimentos sociais que atua na defesa das causas populares, com ênfase nas questões sobre negros, minorias e direitos humanos.

Ele também leciona na Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV-EAESP) e na Escola de Direito de São Paulo da FGV. O ministro foi ainda professor visitante da Universidade de Columbia (EUA) e da Universidade de Duke (EUA).

Almeida é autor de uma série de livros e publicações, como "Racismo estrutural" (2019) e "O direito no jovem Lukács: A filosofia do direito em 'história e consciência de classe'" (2006).


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Com informações do G1.

Anielle Franco será Ministra da Igualdade Racial do governo Lula

(FOTO | Reprodução).

A ativista Anielle Franco, irmã de Marielle, será a ministra da Igualdade Racial do governo Lula (PT). A informação, divulgada a princípio pelo Estadão, foi confirmada à Fórum pela assessoria de imprensa do Instituto Marielle Franco, que é dirigido por Anielle.

Educadora, jornalista e escritora, Anielle deve ser anunciada como ministra pelo próprio presidente eleito Lula na manhã desta quinta-feira (21), quando os nomes para outros ministérios serão divulgados. Logo após o pronunciamento do mandatário, Anielle também falará sobre o novo desafio. 

Anielle fez parte do grupo de trabalho sobre Mulheres no gabinete de transição. O arranjo para que ela seja ministra da Igualdade Racial envolve ainda o nome do educador e ativista Douglas Belchior para assumir a presidência da Fundação Palmares. Fórum tentou contato com Belchior para confirmar a informação e aguarda retorno. 

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Com informação da Revista Fórum.

GRUNEC elege a advogada Lívia Nascimento como nova presidente

 

Da esq. para a dir. (Janayna, Valéria, Lívia e Verônica). FOTO | Reprodução | WhatsApp).

Por Nicolau Neto, editor

Em reunião realizada no formato híbrido na noite desta terça-feira, 20, o Grupo de Valorização Negra do Cariri (GRUNEC) promoveu sua Assembleia Geral visando dentre outras pautas, eleger e empossar a nova diretoria.

Antes da eleição, diversos integrantes fizeram um balanço da atuação do grupo nessas mais de duas décadas, como Verônica Carvalho, Maria Raiane, Valéria Carvalho, Zuleide Queiroz Adriano Almeida, Carlos, Givaldo, este editor e Lívia Nascimento.

Todos fizeram questão de lembrar "os passos que vêm de longe desse grupo que vem fazendo história não só no Cariri e Ceará, mas nacionalmente, com reconhecimento até internacional”, principalmente em que pese "a força motriz para mover e romper com estrutura racista".

Destacaram também as dificuldades enfrentadas nesses últimos quatro anos. "Lutamos para viver", disseram.

Nova Diretoria

Apenas uma chapa foi constituída e foi eleita sem ter questionamentos em contrário. A advogada, educadora e mestre em Direitos Humanos, Lívia Nascimento foi eleita presidente para o biênio 2023|2024. Completam a diretoria Janayna Leite (vice-presidente), Carlos (1° Secretário), Maria Raiane (segunda Secretária), Givaldo (3° Secretário), Valéria Carvalho (primeira tesoureira) e Lourdes (segunda tesoureira).

Conselho Fiscal

O Conselho Fiscal será composto por Zuleide Queiroz, Adriano Almeida e Gauberto.

Camilo Santana será o ministro da Educação de Lula

 

Camilo Santana. (FOTO | Divulgação).

Conforme o Blog do Rovai antecipou nesta Fórum, o ex-governador e senador eleito Camilo Santana (PT-CE) será o futuro ministro da Educação. O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) bateu o martelo numa reunião em Brasília na noite desta segunda-feira (19), que contou com a presença da atual governadora do estado, Izolda Cela, que será a secretária nacional de Educação Básica.

Também estavam presentes ao encontro o futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad e o governador eleito do Ceará, Eumano de Freitas.

Izolda

Havia uma articulação para que a sua vice e atual governadora, Izolda Cela, fosse a indicada para o cargo e com isso ocupasse o espaço do Ceará na Esplanada.

Mas o PT não estava satisfeito com em entregar um ministério que considera estratégico para alguém que não fosse do partido e havia crescido a pressão para que o deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG) assumisse o cargo.

Neste interim o senador eleito Camilo Santana teria trucado. Se o cargo fosse para o Ceará, ele queria assumi-lo.

Trucou e levou.

Suplente no Senado

Com a indicação de Camilo Santana na Educação, quem assume o mandato do ex-governador do Ceará no Senado é a deputada estadual Augusta Brito (PT).

Ela é a primeira-suplente na chapa do senador, que foi eleito com 69,75% dos votos válidos nestas eleições.

Augusta ocupa um mandato na Assembleia Legislativa do Ceará até 31 de dezembro. Como a legislatura dela encerra neste ano, ela não precisa renunciar para ser diplomada para o novo cargo - cuja posse ocorre apenas em 2023.

A segunda-suplente é a ex-secretária de Governo, Janaína Farias. Ambas são filiadas ao PT. 
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Com informações da Revista Fórum.

Os sons do sagrado: o que representa a música no candomblé?

 

(FOTO | Reprodução |Internet).

Um elemento essencial para o culto de religiões de origem africana é a música. Com ritmos específicos para cada orixá, as cantigas são uma forma de se conectar com o sagrado, fazendo parte das festas e funções das casas de candomblé. É o que explica o Maurício Cruz, ogãn e Axogun.

“O couro sagrado é tocado em Ketu para que os orixás se manifestem nos filhos daquela casa. Existem cantigas próprias para ‘esquentar’ o barracão, para a sacralização animal, para a consagração do Ori. Tudo é musical, e o ogãn é peça fundamental para fazer essa conexão”, explica.

Amauri dos Santos, também ogãn, explica que são cerca de 28 ritmos entre as nações de Ketu, Jeje e Angola. Convidado para diversas festas de candomblé, o batuqueiro – como ele mesmo gosta de ser chamado – comenta que os ritmos são executados com o apoio de quatro instrumentos principais: o sino, tambor agudo, tambor médio e grave, denominados Gã, Lé, Rumpi e Rum, respectivamente.

“Em Angola a gente toca tudo com as mãos. Já em Ketu e Jeje, usamos também o aguidavi, que serve como ‘baquetas’. Conforme tocamos, os orixás vão se manifestando. Acho que é a parte mais bonita em ser ogãn: saber que somos responsáveis por esse momento”, destaca Amauri.

Dança

Segundo Maurício, o ritmo está diretamente associado à dança típica de cada orixá (vodun ou nkisis, dependendo da nação). O intuito, segundo ele, é rememorar os atributos e passagens da divindade pela Terra.

“Por exemplo, Ogum, estabelece uma dança na qual os movimentos são ágeis, rápidos e vigorosos, adequando-se ao ritmo executado, diferentemente dos passos lentos, fluidos e ondulantes de Oxum, uma deusa das águas doces. O ritmo tem a ver com o que a divindade está fazendo naquela cantiga”, explica.

“Com seus ritmos característicos, cada entidade – seja orixá, nkisi, vodun – expressa de forma gestual criando uma atmosfera que mesmo quem não tenha familiaridade consiga compreender, como a caça de Oxóssi”, descreve Amauri.

Cada um com seu ritmo

Dentre os ritmos entoados nos terreiros de candomblé, cada um tem um nome e uma “temperatura”, segundo Maurício. O ogãn explica que para Ogum, toca-se o Adarrum, ritmo quente, rápido e contínuo, que pode ou não ser unido aos cânticos

“O Adarrum é um ritmo que também pode acelerar o transe dos filhos da casa, ele chama o orixá”, diz. Apesar de ser caracteristicamente tocado para Ogum, também é tocado para outros orixás.

Além disso, em casas pertencentes à nação Ketu, o transe é propiciado ao som do Aguerê, ritmo associado a Oxóssi – o rei de Ketu. O Aguerê é, segundo Maurício, acelerado, cadenciado e exige agilidade na dança, “do mesmo modo que a caça exige a agilidade do caçador”.

“Para Omolu ou Obaluaê, temos o Opanijé, um ritmo mais pesado, pausado, lento, denso. A gente está tocando para o rei da terra, portanto, precisamos compreender o peso desse ritmo e o que este orixá representa”, comenta o ogãn Amauri.

Outro ritmo – o Bravum – embora não seja atribuído especialmente a algum orixá, é frequentemente escolhido para saudar Oxumarê, Ewá e Oxalá. “É um ritmo rápido, bem dobrado e repicado”, explica Amauri. “Combina perfeitamente com esses orixás transformadores, como Ewá e Oxumarê, mas às vezes é usado para saudar o pai de todos”, completa

Xangô é dono do ritmo chamado Alujá. Maurício explica que o ritmo é quente, rápido, que expressa “força e realeza”, voltado a encenar nos tambores “os trovões dos quais Xangô é o senhor”.

“Para mãe Oxum temos exclusivamente o Ijexá, o único ritmo tocado com as mãos no rito Ketu. É um ritmo calmo, balanceado, envolvente e acolhedor, como a deusa da água doce, à qual faz alusão”, ressalta Maurício. O Ijexá, segundo ele, é tocado ainda para o orixá filho de Oxum, Logun-Edé e para Oxalá.

Para Oyá, divindade dos raios e dos ventos, toca-se o Ilú, ritmo que, de tão rápido, repicado e dobrado, também é conhecido como "quebra-prato". “É o mais rápido ritmo do candomblé, correspondendo à personalidade agitada, contagiante e versátil da deusa guerreira, senhora dos ventos e que tem poder de afastar os espíritos dos mortos, os eguns”, diz

Para Nanã, toca-se o Sató, um ritmo vagaroso e pesado. “Ele é lento, e deve remeter ao momento da criação, de maneira respeitosa à Nanã”, descreve Amauri.

“Ser ogãn é vivenciar isso de olhos abertos, quando orixá se manifesta de olhos fechados”

“Quando soube, aos 12 anos de idade, que eu não era rodante, no começo fiquei triste, pois queria sentir o orixá. Hoje, eu sei que Ogum sabe o que faz, pois a emoção que sinto ao conseguir – com as minhas mãos no atabaque – trazer essas divindades para perto de nós é indescritível”, relata Maurício.

O Axogun ainda explica que, durante o transe, os orixás manifestados costumam ficar de olhos fechados, restando muitas vezes aos ogãns observar o que acontece durante as festas e rituais.

“Ser ogãn é vivenciar isso de olhos abertos, sentir a aproximação quando o orixá se manifesta de olhos fechados. É cantar e ver orixá soltar seu ilá, entender que somos necessários para o culto e que o nosso ofó [encanto] é importante”, finaliza.
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Com informações do Alma Preta.

Grunec lança nota de repúdio as violações a lei de cotas no Ceará

 

Grunec lança nota de repúdio às violações a lei de cotas no Ceará. (FOTO/ Reprodução).
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Por Valéria Rodrigues, Colunista

 

O Grupo de Valorização Negra do Cariri (GUNEC) lançou nesta segunda-feira, 19 de dezembro, nota de repúdio as violações sistemáticas à lei de cotas por parte das instituições públicas do estado do Ceará. Segundo o grupo, mesmo havendo legislações tanto a nível nacional, como o Estatuto da Igualdade Racial de 2010 e, no âmbito estadual, como a que preceitua a reserva de vagas nos cursos de graduação das universidades estaduais e a que estabelece a reserva de vagas nos concursos públicos de entidades públicas estaduais, de 2017 e 2021, respectivamente, foi preciso recorrer de forma coletiva ao sistema de justiça para denunciar a inobservância dessas normas.

 

A nota endereçada a governadora do Ceará, Izolda Cela (Sem partido) e ao governador eleito Elmano de Freitas (PT), foi assinada por vários movimentos.

 

Confira abaixo o documento:

 

À Excelentíssima Senhora Governadora do Estado do Ceará

Professora Isolda Cela

 

Ao Senhor

Elmano de Freitas

Governador Eleito do Estado do Ceará

Fortaleza/CE

 

  REPÚDIO A VIOLAÇÃO SISTEMÁTICA DA LEI DE COTAS PELO ESTADO DO CEARÁ

 

O Grupo de Valorização Negra do Cariri (GRUNEC) vem a público manifestar repúdio as violações sistemáticas à lei de cotas por parte das instituições públicas do estado do Ceará.

A efetividade das políticas de ações afirmativas, que resultou da luta histórica dos movimentos negros pela igualdade, impõe à Administração Pública a observância da sua concretude, tratando os iguais de forma igual e os desiguais de forma desigual, na medida da sua desigualdade. 

Apesar da existência da Lei nº 12.288/2010, que instituiu o Estatuto da Igualdade Racial no âmbito nacional, que preza por políticas em prol da igualdade, no âmbito estadual, a Lei n.º 16.197, de 17 de janeiro de 2017 estabelece a reserva de vagas nos cursos de graduação das universidades estaduais e a Lei n° 17.432/2021, que estabelece a reserva de vagas nos concursos públicos de entidades públicas estaduais, apenas entre 2021 e 2022, diversos processos coletivos foram instaurados perante o sistema de justiça para denunciar a inobservância dessas normas.

A título de exemplo, cita-se:

1-   Procedimento nº 01.2022.00000958-4, em trâmite no Ministério Público do Estado do Ceará, em face do Instituto de Desenvolvimento Educacional, Cultural e Assistência Nacional (Idecan) e o Estado do Ceará para retificação do resultado dos candidatos autodeclarados negros do concurso público da Polícia Civil do Ceará (PCCE);

2-   o Procedimento n° 09.2022.00027444-7, em trâmite no Ministério Público do Estado do Ceará, em face da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Ceará e Perícia Forense do Estado do Ceará (PEFOCE) para retificação do resultado dos candidatos autodeclarados negros do concurso público da PEFOCE;

3-   a Ação Civil Pública n° 0201613-44.2022.8.06.0071 em face da Universidade Regional do Cariri (URCA) para retificação do edital do concurso público de magistério superior, visando aplicação do percentual correto de vagas reservadas ao cotistas sem o método de fracionamento;

4-   Procedimento nº 01.2022.00000969-5, em trâmite no Ministério Público do Estado do Ceará,  também em face da URCA para implantação da comissão de heteroidentificação nas seleções dos vestibulares;

5-   o acordo extrajudicial entre Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS-CE), a Polícia Militar do Ceará (PMCE), a Secretaria de Planejamento e Gestão do Estado do Ceará (Seplag), a Defensoria Pública do Estado do Ceará (DPCE) e Fundação Getúlio Vargas (FGV) para convocação de mais candidatos cotistas aprovados no concurso para soldado da PMCE.

O GRUNEC denuncia à sociedade que há por parte dos gestores do Governo e dos órgãos do estado do Ceará um descumprimento sistemático da efetividade da política de cotas por meio de omissões e práticas administrativas ilegais, que burlam o microssistema legal que rege a política afirmativa com o fim de criar obstáculos ou relaxar dolosamente os mecanismos de controle, diminuindo na prática o quantitativo de pessoas negras com acesso às vagas definidas em editais para os cotistas.

Importa ressaltar que a Política Afirmativa de Cotas no Brasil tem respaldo na Constituição Federal, nas leis federais, estaduais e nas diversas convenções internacionais firmadas junto aos sistemas globais e regionais, como:

A - Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial - aprovada pela Resolução 2106 da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 21 de dezembro de 1965;  

B - Declaração de Durban – adotada em 31 de agosto de 2001, em Durban (África do Sul), durante a III Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata;

C - Convenção Interamericana Contra o Racismo e a Discriminação Racial e Formas Conexas de Intolerância, ingressando no ordenamento pátrio com status de Emenda Constitucional;

Há de se considerar que o período de 2015-2024 foi estabelecido como a Década Internacional dos Afrodescendentes proposta pela Organização das Nações Unidas (ONU), cuja proposta é reconhecer a desigualdade e a discriminação étnico-racial; promover a justiça através de medidas especiais e desenvolver a comunidade afrodescendente assegurando a adoção de políticas sociais.

As ações afirmativas são bandeiras históricas dos movimentos negros brasileiros que reivindicam plena democracia nos espaços de saber e poder. Na academia, é preciso que as universidades se comprometam com a construção de uma agenda de enfrentamento ao racismo, o que inclui a implementação das Leis 10.639/03 e 11.645/08 na estrutura curricular dos cursos que ofertam e da política de cotas, com garantias de acesso e permanência.

No Ceará, as organizações dos movimentos negros unem-se ao contexto nacional e, com isso, reivindicam a ampliação, o aperfeiçoamento e o monitoramento das políticas de ações afirmativas nas instituições públicas do Estado.

No Cariri cearense, o GRUNEC vem debatendo essa questão desde a sua criação em 2001, com a realização de audiências públicas e outras atividades onde essa pauta tem sido central, a entrega à URCA da Carta de Princípios Institucionais para Políticas Afirmativas da Igualdade Racial elaborada com a participação de outros coletivos negros como o Pretas Simoa, as discussões geradas anualmente nos últimos 13 (treze) anos por ocasião da realização do Artefatos da Cultura Negra que tem oferecido suporte formativo, além dos encaminhamentos via carta aberta pelos Coletivos que formam esse importante movimento de combate ao racismo e tem sido pauta das ações protagonizada pelos movimentos estudantis.

Não obstante, os dados divulgados pelos estudos do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE) demonstram que mesmo sendo um dos estados brasileiros com maior número de população negra (72%), considerando a soma de pretos e pardos, os marcadores sociais de desigualdades raciais são significativos no que diz respeito ao grau de escolaridade, taxas de encarceramento, renda e ocupação formal, evidencializando a precarização histórica da vida da população negra. 

É por isso que as medidas legais adotadas para a reserva de vagas para pessoas negras pressupõem uma reparação histórica de desigualdades e desvantagens acumuladas, de modo a aumentar a representação negra nos espaços de poder, saber e de tomadas de decisões, refletindo no seu acesso a direitos fundamentais com igualdade de oportunidades.

Nesse ínterim, a reserva de vagas para pessoas negras se justifica em face dos severos obstáculos enfrentados para a sua inserção nas mais diversas esferas da vida social, fazendo-se necessária, portanto, a aplicação da igualdade material, a fim de possibilitar o adequado combate à discriminação racial.

O GRUNEC informa que ante a ausência de uma retificação nas condutas dos gestores dos órgãos, autarquias e fundações estaduais para correção, reparo e restauro da máxima eficiência da Política de Cotas no Estado do Ceará passará a requerer providências perante as instâncias federais e órgãos internacionais para que esta unidade federativa seja compelida a repelir as burlas e omissões que afastam o povo negro do acesso às vagas que lhe são de direito.

 

Crato/CE, dezembro de 2022.

ASSINAM ESSA NOTA:

Ponto de Cultura Municipal Terreiro das Pretas

CONSELHO MUNICIPAL DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL-COMPIR CRATO

Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos (CEDDH) e Conselho Municipal de Direitos Humanos de Sobral (CMDH-Sobral)

NEDESA (Núcleo de Estudos de Descolonização do Saber)

Associação Quilombola do Cumbe/Aracati - CE

Organização Popular - OPA

Teia dos Povos do Ceará

Núcleo de Estudos em Gênero e Relações Étnico-Raciais (NEGRER)

Instituição Religiosa de matriz africana. Candomblé Quilombaxé Kwe Sèjá Omi Yponda

MNU (Movimento Negro Unificado)

Rede de Mulheres negras do Ceará

Confederação dos trabalhadores do serviço público municipal - Confetam/CUT

Conselho Municipal dos Direitos da Mulher do Crato

Ouvidoria Geral Externa da Defensoria Pública

Caritas Diocesana de Crato

Fórum Cearense de Mulheres-AMB

De Preto Plataforma de Criação e Produção Artística

Espaço Arte Africana Campinas

NEPIR- Núcleo de Educação para Promoção de Igualdade Racial (Juazeiro do Norte)

Neabi -  IFCE Juazeiro do Norte

Coletivo Camaradas

Ponto de Cultura Carrapato Cultural

CAIC

CARLKISSDANCE- COMPANHIA DE DANÇA NEGRA CONTEMPORANEA

Associação Abayomi Juristas Negras

Associação Mensageiras da Paz

Comitê Quilombola

Fórum Permanente de Educação e Diversidade Ético Racial do Ceará

Comitê impulsionador em defesa da liberdade religiosa

NOSSO movimento pelo bem estar no Brasil

NEEHDREM UFCA (Núcleo de Estudos em Educação, História, Diversidades, Raça, Etnia e Movimentos Sociais)

Frente de Mulheres do Cariri

Instituto Feminista Casa Lilás

Íamis kariris

Trupe dos Pensantes - Artes

Coletivo Florestar

Altaneira completa 64 anos de Emancipação Política

 

(FOTO | Fabrício Ferraz).

Por Nicolau Neto, editor

O Município de Altaneira, localizado na microrregião serrana de Caririaçu e na Região do Cariri possui, segundo estimativas de 2020 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), uma população equivalente a 7.650 habitantes e veio a ganhar autonomia política e administrativa no dia 18 de dezembro de 1958 segundo a historiografia contada pelas elites da época e sustentada ainda hoje.

De acordo com as explicações dessas fontes e de alguns populares mais velhos, a formação desse território que posteriormente veio a ser denominado de Altaneira teve início nos anos finais do século XIX, quando os primeiros habitantes começaram a ocupar a área em 1870. Com a fixação e organização desses povos formou-se um povoado que levou o nome de Santa Tereza. Esta posteriormente foi concebida como a padroeira do município. Segundo as mesmas fontes, as primeiras famílias a se estabelecerem na localidade tinham como chefes João Bezerra, Manoel Bezerra, Joaquim de Almeida Braga, José Almeida Braga, além de José Braz, Firmino Ferreira Lima e João Correia de Araújo. O que permite perceber laços familiares no molde patriarcal.

Antes de se tornar independente politicamente o povoado da vila Santa Tereza foi subordinado aos municípios de Quixará (hoje Farias Brito) e Assaré. A historiografia local, seja por intermédio de fontes orais ou escrita, são poucas e até ineficiente para se ter um relato mais preciso e as que estão a disposição acabam não revelando uma luta pela independência fervorosa e ou, com grandes conflitos armados. O que leva a perceber a necessidade de um estudo mais aprofundado para se analisar a historiografia local.

Levando em consideração esses relatos, pode-se afirmar que o povoado foi elevado a categoria de distrito pela lei estadual nº 1153, de 22 de novembro 1951, sendo pertencente ao município de Quixará. Pela lei estadual nº 2194, de 15 de dezembro de 1953, o distrito de Altaneira passou a fazer parte do município de Assaré. Toda via, o ponto auge é atingido somente em dezembro de 1958 quando, de fato, o distrito passa a se tornar município de Altaneira. O Padre David Augusto Moreira é apontado como o responsável pela denominação do Município. Ainda no que toca ao processo de autonomia política, ocorreu em virtude do Projeto de Lei nº. 299/58, cujo o autor foi o Dep. Cincinato Furtado Leite, nome que, inclusive foi dado ao plenário da Câmara.

Segundo as informações de populares mais antigos e de algumas fontes escritas a religiosidade é uma conotação ávida e se faz presente com vigor ainda hoje. Nas primeiras décadas do século passado foram dados os primeiros passos para a construção de uma capela no distrito, sendo que a primeira missa campal se deu em 1937 sob a organização do Padre Joaquim Sabino Dantas.

Durante mais de meio século de história, Altaneira já passou por grandes acontecimentos, a maioria deles ligados a política partidária. Entre o final de 2010 e início de 2011 o município passou pelo momento mais conturbado e complicado da sua curta história. Antonio Dorival de Oliveira, prefeito no período, foi cassado por abuso de poder político (acusado de distribuir vales de combustível durante o processo eleitoral de 2008 com dinheiro público). Em virtude disso, em um período de um ano os munícipes foram as urnas duas vezes, uma em 2011, na eleição suplementar e, outra em outubro do ano seguinte, para elegerem seu novo gestor.

Em 2020, em plena pandemia, a cidade sofreu mais um abalo politicamente e acreditou-se que o município teria em sua curta história mais um caso de prefeito afastado do cargo quando em uma operação secretários e empresários foram presos por suspeitas de fraudes em licitação. A operação recebeu o nome de “Salus.”

Em 64 anos de História nenhuma mulher chegou a ocupar o cargo de prefeita. As mulheres, inclusive, estão ausentes na história tradicional que conta a formação do município, fato que em nada se diferencia dos acontecimentos contados sobre a formação do Brasil. Essa lacuna precisa ser preenchida. Alias muitas lacunas precisam ser preenchidas, a exemplo do papel das populações negras, dos homens e mulheres que não pertenciam às elites políticas e econômicas nesse jogo de poder.

No ano em que Altaneira celebra seus 64 anos de Emancipação Política, um dos símbolos históricos e culturais do município, Dona Angelita, faleceu. Ela deixou um legado cultural que precisa ser preservado: a dança do São Gonçalo, do Coco e suas poesias.

Foucault, por exemplo, um dos filósofos mais estudados quando o assunto é poder, destaca que o poder ajuda a identificar sujeitos. Na relação de poder, os sujeitos atuam sobre os outros estabelecendo uma relação de dominação. Poder é, portanto, dominação. E essa sobrepõe verdade que precisa ser contada e recontada. Nas sociedades capitalistas, quem tem dinheiro tem poder, tem dominação e as impõe. As histórias contadas são as histórias dos “vencedores”, nunca a dos “vencidos”. E é aqui que reside o papel dos historiadores e das historiadoras – o de demonstrar e analisar essas relações de poder. É contar a história por outro viés e lembrar, como constatou o historiador inglês Peter Burke, que nossa função é “fazer lembrar aquilo que a sociedade quer esquecer.”