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Universidade Regional do Cariri promove seminário acerca da implantação do sistema de cotas


URCA debate políticas afirmativas: a implantação do sistema de cotas.
Foto:Divulgação.
A Universidade Regional do Cariri (URCA), do campus pimenta, em Crato, realizou durante todo o dia de ontem (terça-feira, 07), o I Seminário de Ações Afirmativas: A Implantação do Sistema de Cotas e contou com a participação de mais de trezentas pessoas que se inscreveram, entre professores, universitários dos mais variados cursos de graduação tanto da própria casa, como também da Universidade Federal do Cariri (UFCA) e dos movimentos sociais negros do cariri, com destaque para o Grupo de Valorização Negra do Cariri (GRUNEC) e o Grupo de Mulheres Negras do Cariri (Pretas Simoa).

O evento foi aberto pelo vice-reitor da URCA, o professor Francisco do Ó de Lima Júnior que ressaltou a importância histórica desse seminário para a instituição que, em suas palavras é “a mais nordestina de todas”. Francisco de Lima que ao justificar a ausência do professor José Patrício Pereira Melo, que ora responde pela reitoria por que estava participando de uma gravação para a UNESCO, frisou que o momento é mais um dos marcantes que entrará para a história da universidade, pois entende que o ato favorece a inclusão de parcelas da sociedade sempre excluídas.

Fizeram uso ainda da palavra o professor  Egberto Melo, da Pró-reitora de Ensino e Graduação, destacando os trabalhos da Comissão de Cotas que deu todo o suporte para a realização do seminário, inclusive garantindo a participação de universitários como membro e fez questão de lembrar a forte atuação da professora do Departamento de Pedagogia, Cícera Nunes na organização do evento. Esta que ao tomar a palavra fez um balanço de todo o percurso até o presente momento e disse que o seminário buscou garantir a participação de todas as representações dos setores historicamente excluídos – negros, índios e pessoas com os mais variados tipos de deficiência. 

Professor Nicolau Neto fala sobre a luta do movimento social
negro pela superação das desigualdades. Foto: Fran Oliveira.
Com o dia de programação, a manhã teve a realização de uma mesa com o propósito de discutir e debater a temática “Ações Afirmativas e Movimentos Sociais: Lutas pela Superação das Desigualdades”. Este professor, blogueiro e ativista das causas negras pelo GRUNEC apresentou um panorama histórico das lutas dos movimentos sociais negros para a superação das desigualdades associadas a raça, cor e etnia, com enfoque para negros e negras. Nicolau, trouxe à luz do debate, a conceituação de ações afirmativas tendo como suporte a lei 12.288/2010, que versa sobre o Estatuto da Igualdade Racial. Ao citar o inciso VI, do Art. I, ele afirmou que elas compreendem os programas e medidas especiais adotadas pelo estado e pela iniciativa privada para a correção das desigualdades raciais, bem como para a promoção da igualdade de oportunidades. Para tanto, disse que a ação da URCA na promoção do seminário é um ato de reconhecimento de que o país é elitista e profundamente racista.

Nicolau ressaltou que as políticas afirmativas são paliativas, mas necessárias que ocorram, pois são formas que permitem a superação de obstáculos históricos, políticos, socioculturais e institucionais que impedem a representação da diversidade étnica nos espaços de poderes, mas argumentou que as cotas são apenas uma modalidade que coexistem com outras, citando a as leis 10.639/03, 11.645/08 e a 12.990/14. Estas versam sobre a o trabalho da história e cultura africana e afro-brasileira; história e cultura indígena nos currículos escolares e a reserva de vagas aos negros e negras (20%) em concursos públicos na esfera federal. Estas, segundo ele, são importantes e fruto dos movimentos sociais negros, mas que ainda não correm como diz a lei.

O professor disse ainda que tão importante quanto o acesso desse grupo que corresponde a mais de 50% da população na universidade é garantir sua permanência sem que sofram quaisquer atos discriminatórios e racistas, frisando, desta feita, que as ações afirmativas não podem e nem devem ser entendidas tão simplesmente como reservas de vagas, mas fundamentalmente no seu sentido real, qual seja, de reestruturação profunda dos espaços de poder historicamente excludentes e finalizou citando o professor da Faculdade de Economia da Universidade de CoimbraBoaventura de Sousa Santos:

Temos o direito de ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito de ser diferente quando nossa igualdade nos descaracteriza. Dai a necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades”.

A mesa foi formada ainda por Kaio Cardoso – Acadêmico do Curso de Ciências Sociais – URCA; Adão Pedro – Comunidade Quilombola de Vassouras – Porteiras – CE; Ramiro Ferreira – Acadêmico do Curso de Direito – URCA. A Coordenação foi feita pela professora Cicera Nunes – NEGRER/URCA.

Várias intervenções foram realizadas como as de Maria Eliana, Cicero Chagas, Valéria e Verônica Neves (GRUNEC), Dayze Vidal (Pretas Simoa) e do professor João Luís Mota, do curso de Economia da URCA.

Professores da URCA discutem as ações afirmativas no Brasil para negros,
indígenas e pessoas com deficiência. Foto: prof. Nicolau Neto.
O seminário seguiu a tarde com a palestra “Ações afirmativas no Brasil: panorama histórico e experiências”, desenvolvida pelos professores da própria instituição de ensino superior. O professor Ms. Antônio José de Oliveira, do Departamento de História, abordou as questões indígenas; a professora Dr. Maria Telvira da Conceição, do mesmo departamento versou acerca do povo negro e a professora Marla Vieira trouxe discussões concernentes as pessoas com algum tipo de deficiência (surdo, mudo, baixa visão, locomotora....).

À noite, o evento teve prosseguimento com a apresentação de uma proposta da PROGRAD e da Comissão da URCA, intermediada pelo Pró-reitor de Graduação, professor Dr. Egberto Melo, com a coordenação do professor João Luís Mota do Nascimento.

Ficou acordado que na próxima terça-feira, 14, haverá a realização de uma audiência pública com a finalidade de oportunizar mais pessoas a participarem das discussões. 

II Marcha das Mulheres Negras do Cariri debaterá as diversas forma de discriminação, opressão e aniquilamento


Pelas nossas vidas, pelo bem viver, contra todas as formas de discriminação, opressão e aniquilamento. Aquilombar é preciso". É com esse tema que um conjunto de mulheres do município de Crato e adjacências ligadas a diversos movimentos sociais irão promover a 2ª edição das Marcha das Mulheres Negras do Cariri Cearense.

Em 2015, mais de duas mil pessoas se concentraram em frente a prefeitura do Crato e percorreram algumas ruas até chegarem à Praça da Reffsa. Naquela oportunidade, o movimento foi idealizado pelo Grupo de Valorização Negra do Cariri (Grunec), Cáritas Diocesana e Conselho Municipal dos Direitos da Mulher Cratense para refletirem acerca do combate a violência, o racismo e a desvalorização feminina no mercado de trabalho.

Para esta edição, um dos assuntos a se refletir será os frequentes atentados aos terreiros de religiões de matriz africana e afro-brasileira verificados principalmente em Juazeiro do Norte, além de pontuar os velhos problemas crônicos como a desigualdades racial nas instituições de ensino superior e a exclusão de gênero e raça no seio político e social. 

"As mulheres de terreiros estão também na construção do ato", realçou Valéria Carvalho, do Grunec. 

Ao ser indagada pelo Blog Negro Nicolau acerca da construção de um movimento em um cenário tão adverso onde há todos os dias cortes de diretos, atingindo principalmente negros e negras, Valéria foi taxativa. "Eita. É luta meu filho. Mas é a indignação que nos move". E citou como a mola propulsora a irem as ruas as cotas na Universidade Regional do Cariri (URCA) que não atendeu as demandas debatidas em audiência pública em 14 de fevereiro do ano em curso. "A história das cotas da URCA foi o pingo d'água que faltava. Já tivemos quatro encontros e não está fácil e nem será fácil. Mas nunca nada veio fácil para nós", disse.

Verônica Neves, da Cáritas e do Grunec, também respondeu a indagação e endossou as palavras de sua irmã de sangue e de luta. "O que nos motivou a ir as ruas foi sem dúvida as discussões das cotas". Ela cita que houve uma primeira reunião que agregou 14 mulheres, lideranças de movimentos e associações e de terreiros. "Naquela ocasião", disse, "refletimos um pouco sobre o cenário político e como este cenário tem impactado na vida das mulheres e não nos restou outra alternativa senão a luta incessante pelos direitos cada vez mais violados nesse momento. A gente compreendeu naquele momento que essas questões de terreiro, de genocídio da população negra, dos jovens periféricos, o feminicídio naturalmente impactam violentamente na vida das mulheres e das mulheres pretas."

A ativista também fez questão de mencionar o quantitativo populacional no pais. 

"Somos mais de 50% da população mundial e desse percentual, só no Brasil 25% da população é constituída de mulheres negras. Então a gente continua lutando pela vida em primeiro lugar e pelo bem viver, compreendendo o bem viver como um conceito político, um conceito que nos liga diretamente com a nossa ancestralidade."

A marcha ainda está em formação e de acordo com Verônica, haverá visitas as escolas e outras instituições e que existe várias comissões, cada uma com uma agenda a ser construída. O diálogo com a administração municipal também será feito.  "Amanhã haverá um diálogo com o poder público local no sentido de buscar apoio. Já conversamos com a Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Social visando o envolvimento dos Cras, naturalmente as mulheres das bases, com algumas escolas, universidade e com sindicatos", realçou.

Acerca da perspectiva, ela mencionou que está bastante animada, mesmo sabendo que é muito trabalho, mas que a luta pelo combate ao racismo e de promoção da igualdade racial são as finalidades maiores do movimento.

O lançamento da II Marcha das Mulheres Negras do Cariri Cearense ocorreu no último dia 28 de setembro na Universidade Regional do Cariri (URCA), durante a realização VIII Artefatos da Cultura Negra e é uma idealização da Cáritas, Grunec, Capoeira Arte e Tradição, Pretas Simoa, Carrapato Cultural, Mulheres de Terreiros, professoras do ensino médio e universidade.

A Cáritas Diocesana de Crato publicou em seu perfil no Facebook um cartaz (ainda em construção) em que há confirmação do dia 20 de novembro para a realização da II Marcha. A concentração se dará na Feira de Economia Solidária (URCA).

Cartaz da II Marcha Regional das Mulheres Negras do Cariri Cearense publicado pela Cáritas Diocesana de Crato, no Facebook. 



#Altaneira60Anos. A força do movimento negro


A força do movimento negro, por Nicolau Neto. (Foto: Cláudio Gonçalves).

Comecemos essa discussão com o poema de Jorge Posada:

" Um negro sempre será um negro,
Chame-se pardo, crioulo, preto, cafuzo, mulato ou moreno-claro
Um negro sempre será um negro:
Na luta que assume pelo direito ao emprego
E contra a discriminação no trabalho
Um negro sempre será um negro:
Afirmando-se como ser humano
Na luta pela vida".

Tem-se aqui uma nítida ideia de que é preciso um senso crítico quanto ao tema em questão. Faz-se necessário então a desconstrução do mito da igualdade racial.

O Brasil é o país que tem a maior população de negros fora da África. Os negros foram trazidos do continente africano para cá, escravizados e, não se contentando com isso, as elites político-econômicas da época, através de diversas práticas, cuja escravização foi uma delas, fizeram com que negros e negras deixassem de praticar suas linguagens, religiões e costumes adotando práticas europeias.

No dia 20 de novembro, data dedicada à consciência negra, é importante destacar que o movimento negro tem por objetivo não deixar esmorecer e resgatar essa cultura afro- brasileira, rebatendo a desigualdade e a separação racial que insiste em permanecer sobre o povo negro. Ressaltemos ainda que ele (o movimento) é uma batalha travada contra o senso comum. Numa sociedade onde se assume que existe preconceito racial é contraditória a afirmação que não há discriminação e racismo pessoal.

Não é novidade que o racismo está presente no cotidiano. As questões aqui são: onde o racismo atrapalha, rouba, diminui, fere, interfere, omite, engana, diferencia a população negra que constitui toda uma nação de outra raça? Aí está a chave. É entra o movimento negro, numa armadura e resistência coletiva de uma raça presente e atuante.

Nunca é demais lembrar, já que ele insiste, apesar dos avanços que já foi efetivado, que o Estado é o personagem responsável em garantir a igualdade. Porém, se o estado age de forma ativamente contrária ou de forma omissa em seus serviços de policiamento, saúde pública, geração de renda e trabalho, educação, o que leva a discriminação racial, então temos algo além de problemas sociais. O Estado passa a alimentar um atraso e constrói um apartheid.

No entanto, o país é composto de edifícios, a saber, as instituições de ensino, Ongs, empresas, templos religiosos e famílias. Porém, muitas dessas organizações não estão afastadas de conceitos errados, uma vez que não romperam com seus dogmas racistas, não tendo em seus quadros representantes de diversas raças e etnias. Isso leva ao fato de que o racismo tem efeito letal e em massa.

Diante desse quadro movimento negro assume seu papel de destaque, não se baseando apenas em probabilidades e teorias, mas em fatos comprovados nos diversos espaços de poder na sociedade. As ações do movimento estão diretamente ligadas às lutas não só contra o racismo e a discriminação racial, mas também ao machismo e intolerâncias religiosas e culturais.

No Brasil, as referências para essas lutas continuarem são muitas, como por exemplo, Zumbi, Dandara, Beatriz Nascimento, Tia Simoa, Abdias Nascimento, Revolta dos Malês, Grupo de Valorização Negra do Cariri (GRUNEC), Grupo de Mulheres Negras Pretas Simoa e tantas representações de luta e resistência do povo negro. Assim, o movimento negro é resultado de uma série de manifestações decorrentes de um processo histórico. A amplitude do movimento negro é um conjunto de manifestações que surgem de inquietações individuais e coletivas.

Conclui-se que o movimento negro precisa expandir suas ações e chegar em outras localidades.



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Nicolau Neto é professor; palestrante na área da Educação com temas relacionados a história e cultura africana e afrodescendente, desigualdades raciais, preconceito racial, diversidade e relações étnico-raciais; ativista dos direitos civis e humanos das populações negras; membro do Grupo de Valorização Negra do Cariri (Grunec); membro da Academia de Letras do Brasil/Seccional Araripe (ALB/Araripe); servidor público no município de Altaneira, diretor vice-presidente da Rádio Comunitária Altaneira FM e administrador/editor do Blog Negro Nicolau (BNN).

Karla Alves: O genocídio negro tem a função de garantir a boa vida da branquitude. Não seja cúmplice do extermínio


Karla Alves é historiadora e colunista do Blog Negro Nicolau. (FOTO/ Reprodução/ Faccebook).


A vida as vezes parece um pássaro em que estou montada para tentar voar no imenso céu. Meu pássaro é pequeno e voa rápido, as vezes é muito difícil se equilibrar em cima dele para não cair.

Karla Alves e Alex Baoli discutirão literatura de João Antônio em Juazeiro do Norte



Os ativistas das causas negras Karla Alves e Alex Baoli discutirão nesta sexta-feira, 09, no Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB), às 19h00, em Juazeiro do Norte, a literatura do escritor e jornalista João Antônio Ferreira Filho.

Desconhecido do grande público e, inclusive por boa parte da classe docente e discente do pais, o escritor alvo da discussão, passou a figurar no cenário nacional apenas como João Antônio. Seus escritos, porém, foram alvo de várias premiações pelo rigor crítico com o qual retratava pessoas à margem da sociedade.

João Antonio veio de família humilde do subúrbio de São Paulo e teve que aceitar diversos subempregos e ficou conhecido pelo lançamento do seu livro de contos “Malagueta, Perus e Bacanaço”, publicado em 1963.

Ao fazer menção ao evento, Karla, ativista do Grupo de Mulheres Negras do Cariri – Pretas Simoa, usou a metáfora para descrever o autor. “Amanha (09/06) as 19h no CCBNB estaremos discutindo a literatura nada sutil de João Antonio. Quem conhece vem somar. Quem não conhece e gosta de navalha na lingua vem somar tbm... De todo jeito somaê que tá valendo”, realçou.

Já o professor Alex foi um dos primeiros a compartilhar o evento na sua rede social. “Na próxima sexta-feira, no CCBNB”, dizia a legenda que acompanhava o cartaz de divulgação.

Karla Alves e Alex Baoli. Foto: Reprodução/Facebook.



URCA vira palco de discussões sobre africanidade e papel da mulher negra


A Universidade Regional do Cariri – URCA foi palco de uma intensa discussão nesta quinta-feira, 03/07, sobre africanidade e também no que toca o papel que a mulher negra ocupou durante o período escravocrata e as suas diversas formas de resistir a essa condição.

Em mesa redonda professores debatem sobre "os mundos da África no Brasil". Foto: Profª Beatriz Benevenuto.
A temática teve início pela manhã através de uma iniciativa do Núcleo de Pesquisa em Ensino de História e Cidadania – NUPHISC da referida instituição de ensino superior que promoveu uma mesa redonda com o propósito de discutir “os mundos da África no Brasil”. As professoras Simone Pereira da Silva, Marcela dos Santos Lima, ambas da URCA e Maria Firmino, da Secretaria de Educação do Município de Juazeiro do Norte, trabalharam o assunto a partir da vertente religiosa e que foi mediada pelo professor Joaquim dos Santos.

Simone em uma exposição oral chegou a compartilhar um trabalho de pesquisa que vem desenvolvendo sobre as manifestações do reisado nos municípios de Crato e Barbalha, na região do cariri, a partir das contribuições negras. Em um relato minucioso a professora demonstrou a riqueza e a diversidade como que se apresentam.

Já a professora Marcela apresentou dados de uma pesquisa de gênero realizada a partir do campo religioso Umbanda. Na pesquisa foi trabalhado o feminismo e dentro deste o imaginário da mulher ameaçadora, dona e senhora do corpo. Marcela relata e explica que a pesquisa científica foi feita a partir do seu espaço de pertencimento e desenvolve o que ela chamou de oralidade da pesquisa através do seu pai de santo Daniel de Xangô, da Casa de Oxossi e, claro, da entidade da umbanda. De forma sintetizada ela partilhou a conceituação de umbanda e suas linhas, em direita e esquerda, assim como a origem da palavra pomba-gira.

Nessa mesma linha de raciocínio Maria Firmino discutiu a história do povo banto e a rota de migração feita de forma forçada por intermédio do tráfico negreiro para o Brasil. Ainda aqui, Firmino lembrou da diáspora negra e de forma categórica afirmou ser este o maior genocídio da história da humanidade. Como filha de santo, ela contou sua experiência de fazer parte do Candomblé e os preconceitos que sofre no cotidiano, fruto, inclusive da falta de conhecimento da história do povo negro e suas manifestações culturais.

Este signatário (foto ao lado – Profª Beatriz Benevenuto) ressaltou sobre a importância de se pesquisar e compartilhar trabalhos em momentos como esse relacionado ao povo africano, ao povo negro. E mais importante ainda é variar as formas e as linhas de pesquisa que venha a tentar compreender a relevância dos negros e das negras africanos (as) nas mais diversas linhas, cultural, social e organização política. Deve-se levar em consideração ainda que tão necessário quanto essas pesquisas, esses estudos é saber como fazê-lo. Sendo assim, é preciso buscar contar a história dos africanos pela vertente africana, quebrando preconceitos e estereótipos que sempre acompanhou a história negra contada pela visão do europeu, do opressor. E por último, há que se pensar em estratégias que possam colaborar com o cumprimentos por parte dos municípios da Lei 10.639/03 e 11.645/08 que tornam obrigatório o ensino da história e cultura africana e afro-brasileira e indígena nas escolas.

A professora de História da rede pública do município de Iguatu, Beatriz Benevenuto ao comentar sobre a mesa redonda pontuou “durante as apresentações e os debates, o sentimento era de como é bem mais proveitoso saber mais a respeito da cultura e religiões africanas através das experiências de pessoas que vivem tal cultura e religião, isso desmistifica muita coisa, muitos estereótipos arraigados na história do povo brasileiro que é essencialmente africana”.

A tarde este signatário esteve com o Grupo de Mulheres Negras do Cariri Pretas Simoa. Tínhamos como objetivo analisar e debater sobre obra de Ângela Davis - "Mulher, Raça e Classe”. Em pouco mais de duas horas de discussão foi apresentado os quatro primeiros capítulos do livro, a saber, O Legado da Escravatura: bases para uma nova natureza feminina; O movimento anti-escravocrata e o nascimento dos direitos das mulheres; Classe e raça no início da campanha dos direitos das mulheres e Racismo no movimento sufragista feminino. Ficou acordado que na próxima segunda-feira, 07 de julho, haverá um novo encontro de formação para a completa análise da obra.

Escritor Alexandre Lucas é o novo colunista do Blog Negro Nicolau

 

Alexandre Lucas. (FOTO/ Arquivo Pessoal).

Por Nicolau Neto, editor-chefe

Alexandre Lucas, uma das vozes mais atuantes em defesa da cultura popular na região do cariri, é o mais novo colunista do Blog Negro Nicolau.

Ações afirmativas do negro é alvo de reflexões na EEEP Wellington Belém de Figueiredo


Alunos/as, professores/as, coordenação e demais funcionários no auditório da EEEP Wellington Belém de Figueiredo
durante encontro reflexivo sobre a contribuição do negro na formação do Brasil.
A Escola Estadual de Educação Profissional Welington Belém de Figueiredo, em Nova Olinda, realizou na última quinta-feira, 20, ato reflexivo sobre a contribuição dos negros e negras na formação da sociedade brasileira a partir de ações afirmativas desse grupo social. A ideia partiu do projeto intitulado “Cultura Afro-brasileira na Escola” que vem sendo desenvolvido desde que esta instituição de ensino iniciou suas atividades letivas no dia 05 de maio do corrente ano.

O ensaio científico corrobora para a efetivação da Lei nº 10. 639/2003, tendo, portanto, o propósito de conscientizar o alunado desse nível de ensino, da importância dos negros e das negras e de sua história na formação da sociedade brasileira. Na abertura do encontro, a professora e coordenadora Ana Maria afirmou “neste dia em que a sociedade brasileira se volta para falar sobre a consciência negra, é preciso que estejamos atentos e vigilantes quanto a promoção da igualdade racial. Pensar assim é perceber que não é só em um dia que iremos extirpar de vez esse câncer social que nos assola, o racismo, tampouco será em um único momento que iremos contribuir para a inserção do negro e da negra nos livros didáticos como promotores e formadores da sociedade brasileira” e completou discorrendo que “só se constrói uma sociedade antiracista e recohecedora da importância dessa classe social se se tiver uma discussão constante e cotidiana e é extamente por isso que nossa escola está desenvolvendo semanalmente atividades que corroboram para uma educação que valoriza e reconhece o negro como sujeito protagonista da história”.

Como parte integrante do projeto idealizado pelos professores das ciências humanas – Edisângela Sales (Geografia), José Nicolau (História) e Yane Moura (Sociologia/Filosofia), houve a promoção de atividades durante todo o dia. Pela manhã a educadora Dayze Vidal, do Pretas Simoa – Grupo de Mulheres Negras do Cariri, ministrou palestra ao qual dedicou cerca de 60 (sessenta) minutos para arguir sobre “A Implantação e a Aplicabilidade da Lei 10.639/03 nas Redes Públicas de Ensino”. Em sua fala apareceram noções como a falta de formação para os profissionais do ensino no que toque a temática em evidência, o que acaba contribuindo para a abordagem de forma superficial dos conteúdos nas escolas. “E quando há o tratamento”, argumentou Dayze. Ela chegou a discorrer ainda sobre as conquistas, desafios e perspectivas da cultura afro retratada no seminário dos dez anos da lei que foi referência para a roda de conversa com alunos/as, professores/as, coordenação e funcionários da escola.


Ainda pela manhã houve a apresentação do Grupo “CultuArte Capoeira”, do município de Altaneira, coordenado pelo professor/mestre Cesar Rodrigues. Os alunos encerraram o momento matutino com a exposição em forma de ações afirmativas de pernsonalidades negras que mudaram o mundo. Fez parte dessa mostra homens e mulheres como Carolina de Jesus, Dandara, Martin Luther King Jr., Mestre Bimba, Nelson Mandela, Zumbi dos Palmares, Mestre Pastinha, Luis Gama, Machado de Assis, Franscisco José do Nascimento (Dragão do Mar), Abdias Nascimento, Grande Otelo, João Cândido (Almirante Negro), Mãe Stella, Cruz e Sousa, Lima Barreto, Antonieta de Barros, Tereza de Benguela, Luiza Mahin, Oliveira Silveira e Beatriz Nascimento.

À tarde, o cronograma seguiu com um documentário tendo como protagonistas os discentes que em roda de conversas trataram de temas como o racismo, as ações afirmativas do negro e da negra, assim como sobre a atualidade do continente africano. Com um dos coordenadores deste encontro reflexixo apresentamos um diagnóstico sobre o sentimento de pertencimento do alunado quanto a cor ou raça por curso e da escola. O gráfico não retrata de fato a realidade. Em todos os cursos o número de pessoas que se identificaram como negro foram sempre menores. Explicamos que os dados levam a uma reflexão que não foge a realidade e que é fruto de um processo histórico em que o negro sempre ocupou um papel inferior na sociedade, corroborando para que cânceres sociais como preconceito e o racismo se perpetue. Tal assertiva permite que a opressão seja alimentada pelo próprio negro que se esconde e tem medo de se autoidentifcar como tal, pois teme ser tachado como inferior, sem cultura e que não irá lograr êxito na vida. Citamos exemplos de que quando o assunto refere-se as diferenças e as desigualdades etnico-raciais na mídia não houve grande mudanças. Ao contrário, o que se percebe são discursos falsários e o negro e a negra sempre ocupando papeis inferiores em relação ao branco. Toda via, o gráfico serviu também para que pudéssemos contribuir (e acredito que estamos contribuindo) para o despertar da consciência crítica dos nossos alunos quanto as relações etnicos-raciais.

Fez parte também da programação o desfile da beleza negra (homens e mulheres), o recital do Poema “Navio Negreiro”, de Castro Alves, Danças que retratam a cultura africana (Waka Waka), além da encenação sobre a música “Raiz de Kunta Kinte”, tendo como norte a relação feitores e negros escravizados.

Segundo Lúcia Santana, diretora da instituição, o dia foi muito proveitoso, pois são encontros como esses que podem contribuir para a construção de uma educação voltada para a igualdade racial.

A cobertura fotográfica foi realizada pelos professores Leonardo Barbosa, Yane Moura e Lucélia Muniz. 

Confira mais fotos clicando aqui.



Com informações da EEEP Wellington Belém de Figueiredo

VII Caminhada pela Liberdade Religiosa é realizada em Juazeiro do Norte



O Município de Juazeiro do Norte, localizado na região metropolitana do Cariri, sul do Estado do Ceará, foi palco de um importante evento na última sexta-feira, 20, da VII Caminhada Pela Liberdade Religiosa.

Com o subtema “Pelo Respeito a Diversidade e o Direito à Liberdade de Crença”, o encontro teve concentração às 14h00 na praça da prefeitura seguindo às ruas onde os terreiros de matrizes africanas exigiram justiça em um ato de fazer política como deixou entrever membra do Grupo de Mulheres Negras Pretas Simoa, Karla Alves em seu perfil na rede social facebook.

Maria Eliana, do Grupo de Valorização Negra do Cariri (Grunec) ao compartilhar fotos na mesma rede social afirmou que “a beleza, alegrias, danças, sorrisos e caminhada falam de uma realidade, existência ancestral e resistência...  Fala da Sua História, da História Afro-brasileira...

Fala de amorosidade e organização entre terreiros, religiões de matrizes africanas da região do Cariri...

Fala de des(construção) de entendimento negativo e coletivo da sociedade e convite à conhecimento e convivência positiva de forma respeitosa....

Fala de liberdade de existir, ser, exercer sua crença em mundo de diversidade religiosa.....” e concluiu ressaltando que o momento foi um convite à utopia e a esperança possível. 






Em sete anos, dobra a população considerada preta no Ceará


Integrantes da comunidade quilombola Serra Boca da Mata, em Jardim-CE.
(FOTO/Reprodução/YouTube).

Texto | Nicolau Neto

Entre 2012 a 2018, o número da população do Estado do Ceará que se declarou preta dobrou. A informação tem como base os dados publicados na última quarta-feira, 22, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua 2018.

A educação Popular não começa com Paulo Freire, diz Alex Ratts


Ironides Rodrigues ministra aula de alfabetização para jovens e adultos
 inscritos no Teatro Experimental do Negro. Rio de Janeiro, 1945.
(FOTO/Reprodução/Alex Ratts).

Texto | Nicolau Neto

No último dia 19 de setembro o Brasil relembrou o nascimento de Paulo Reglus Neves Freire. O pernambucano mais tarde se tornaria o educador mais conhecido e influente no mundo.

Alex Baoli e Karla Alves discutirão literatura de Lima Barreto em Juazeiro do Norte



O professor Alex Baoli e a ativista das causas negras pelo Grupo de Mulheres Negras do Cariri Pretas Simoa, Karla Alves discutirão nesta quinta-feira, 23, a literatura do escritor Lima Barreto.

Nascido no Rio de Janeiro, o autor do romance O triste fim de Policarpo Quaresma e de dezenas de obras hoje em domínio público, não foi reconhecido na literatura de sua época, apenas após sua morte. Teve um estilo informal de escrever, foi cronista de costumes do Rio de Janeiro, adotando um texto que contrastava muito com os autores de então. Batalhou sempre por sua inserção no meio literário, chegando a receber uma menção honrosa da Academia Brasileira de Letras. Morreu com 41 anos de idade.

Lima Barreto fez de suas experiências pessoais canais de temáticas para seus livros. Em seus livros denunciou a desigualdade social, como em Clara dos Anjos; o racismo sofrido pelos negros e mestiços e também as decisões políticas quanto à Primeira República. Além disso, revelou seus sentimentos quanto ao que sofreu durante suas internações no Hospício Nacional em seu livro O cemitério dos vivos.


É com esse sentimento, que a temática central facilitada por Alex e mediada por Karla versará sobre “A voz Negra Contra a Corrente: A Escrita Negra de Lima Barreto” e será promovida no auditório do Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB), às 19h00, em Juazeiro do Norte.

Karla Alves e Alex Baoli. (Fotomontagem: Blog Negro Nicolau).



Movimentos Sociais protocolam documento solicitando veto do prefeito de Crato ao projeto que proíbe discussão de gênero nas escolas


Movimentos Sociais solicitam veto do prefeito de Crato ao projeto de lei que proíbe discussão de gênero nas escolas.
(Foto: Reprodução/ WhatsApp).
A prefeitura de Crato, na região do cariri, ficou bastante movimentada na manhã desta sexta-feira, 27. Mas não era porque estava ocorrendo processo licitatório ou algo semelhante.

Em verdade, o motivo do grande contingente nos corredores daquele paço municipal, se deu em face do protocolamento de um documento que solicita do prefeito Zé Ailton (PP) a vedação ao esdrúxulo (para não dizer homofóbico) Projeto de Lei do vereador Roberto Anastácio (Podemos) aprovado na última segunda-feira, 23, que proíbe a discussão de gênero e sexualidade (sob o nome de disciplina “ideologia de gênero") na rede pública e particular de ensino.

Ao Blog Negro Nicolau, Valéria Carvalho, ativista do Grupo de Valorização Negra do Cariri (Grunec), afirmou que o documento protocolado foi elaborado pela Defensoria Pública e contou com a assinatura de vinte movimentos sociais, como a Frente de Mulheres de Movimentos de Movimentos do Cariri, Conselho da Mulher, Sindicatos, além do próprio Grunec.

No ensejo, o prefeito não se encontrava e o documento foi recebido pelos procuradores do município. Indagada sob a fundamentação e expectativa do ato, Valéria realçou que a nota foi muito bem fundamentada e que a justificativa tem como base fundamental a inconstitucionalidade e espera “sensibilidade do gestor no que pese o respeito à dignidade humana”.

Ela informou ainda que está previsto para segunda-feira, 30, o protocolo das notas individuais de cada movimento. “Pressão em dose homeopáticas”, frisou.

Na quinta-feira, 26, o Grunec elaborou uma carta de repúdio contra a aprovação do projeto descrito acima e se juntou ao Centro Acadêmico de História Francisca Fernando Anselmo – CAHFFA/URCA, ao Grupo de Mulheres Negras do Cariri Pretas Simoa e ao Laboratório de Pesquisa em História Cultural (LAPEHC), da URCA, que fizeram isto anteriormente.

Abaixo integra da Carta do Grunec

O Grupo de Valorização Negra do Cariri – GRUNEC manifesta seu repúdio contra aprovação pela Câmara de Vereadores do Crato/CE de projeto de lei que veda o ensino de ideologia de gênero na rede pública municipal e na rede privada, ocorrida na data de 23 de outubro de 2017.

O GRUNEC entende que a construção de uma sociedade justa e fraterna, passa pelo respeito à dignidade humana de todas as pessoas independentemente de seu credo, cor, etnia, gênero, classe social, grau de instrução e outras características e que o desrespeito à tal dignidade é a fonte de todas as formas de violência que aviltam nossa sociedade.

O enfrentamento de todas as formas de violências trafega pelo caminho da educação, sobretudo, no seio das instituições de ensino. O enfretamento deve ser realizado pelo Município do Crato com coragem e determinação. Escola não deve ter medo, nem mordaça.
Assim, o machismo arraigado na nossa sociedade é a fonte de toda a violência de gênero contra mulheres, gays e transgêneros. A ação dos grupos e indivíduos defensores da supremacia masculina a qualquer custo protagonizam atos diários de violências que ocasionam variadas formas de agressão e culminam com a ocorrência de homicídios. Em razão disso, o Estado brasileiro tem destaque negativo mundial por se acovardar na promoção do respeito entre seus cidadãos conjugado a liberdade de manifestação de sua sexualidade.

O GRUNEC defende a liberdade das famílias e dos credos na orientação moral e na forma de lidar com identidade de gênero de seus membros, nos seus espaços de sua convivência e que tais orientações sejam respeitadas. Contudo, defende que deve existir um caminho bem definido no espaço público que proporcione a construção do RESPEITO à todos os indivíduos e suas formas de manifestação da sexualidade e gênero.

Este caminho deve ser construído coletivamente a partir de debates profundos e bem amadurecidos, reconhecendo e respeitando toda a pluralidade de opiniões e diversidade de ideias existentes na sociedade, de forma a construir-se um aparato legítimo que garanta o desenvolvimento civilizado e não-violento da nossa nação.

Nesse contexto, o GRUNEC considera o pronunciamento da Câmara de Vereadores do Crato, já referido, como ILEGÍTIMO, eis que tramitou de forma açodada, se valendo de subterfúgios jurídicos para inviabilizar debate e colher uma votação vencida por menos da metade dos membros da casa (são 19 vereadores, somente 09 votaram favoráveis), em ambiente nocivo de enfrentamento e intimidação entre os grupos oponentes, que culminou em atos de violência física nas dependências e proximidades da Câmara.

A votação referida é uma manifestação de supremacistas masculinos (entre os 09 favoráveis, há somente um voto feminino) em defesa e perpetuação do machismo como ideologia e pensamento único, que para tanto se valeram da violência e intimidação física em detrimento da argumentação racional, prática que se espera que de uma casa legislativa democrática e séria.

Portanto, o GRUNEC conclama ao Prefeito do Crato, Zé Ailton Brasil, a vetar por inteiro a proposta apresentada, bem como convocar de forma incontinenti debate público com sociedade cratense e grupos divergentes, para construção de um caminho racional e parâmetros para a prática do respeito a todos os indivíduos e suas manifestações de gênero e sexualidade, a ser consolidado em documento legal pertinente.

Reafirmamos, que a uma nação civilizada se constrói com uma Escola sem medo e sem mordaça, voltada para o respeito às diferenças e convívio não-violento entre seus cidadão”.