Em 2019, antes da pandemia de covid-19, a relação estava em 16,9 vezes. O ponto mais desigual - 17 vezes - foi atingido em 2021, auge da pandemia. (FOTO | Wikimedia Commons). |
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) divulgados nesta sexta-feira (19) pelo IBGE mostram que os 10% mais ricos da população brasileira tiveram renda 14,4 maior que a dos 40% mais pobres em 2023. Essa é a menor diferença já registrada no país.
O
levantamento mostra que a renda média per capita dos 10% da população com maior
rendimento foi de R$ 7.580. Já a dos 40% dos brasileiros com menor rendimento,
de R$ 527. Ambos os valores são os maiores registrados para cada faixa de
renda.
Em comparação
mais extrema, o 1% da população com maior rendimento tinha renda mensal de R$
20.664, equivalente a 39,2 vezes à dos 40% de menor renda. Em 2019, a diferença
era de 48,9 vezes – a maior já registrada.
Redução da diferença de renda
A
diferença de 14,4 vezes entre os 10% das maiores faixas de renda e os 40% das
menores é a mesma de 2022. Em 2019, antes da pandemia de covid-19, a relação
estava em 16,9 vezes. O ponto mais desigual – 17 vezes – foi atingido em 2021,
auge da pandemia.
A
série histórica do IBGE teve início em 2012, quando a relação era de 16,3
vezes. Desde então, os menores rendimentos cresceram em proporções superiores
aos do topo da pirâmide. Por exemplo, os 5% menores rendimentos tiveram
evolução de 46,5%, e os localizados entre 5% e 10% menores subiram 29,5%. Na
outra ponta, a faixa dos 10% maiores cresceu 8,9%.
Em
janela de tempo mais curta, também é possível encontrar um estreitamento da
diferença. Em 2019, os 40% da população com menores rendas tiveram evolução nos
rendimentos de 19,2%. Já os 10% com maiores rendimentos aumentaram registraram
aumento de 1,51%.
Entre
2022 e 2023, enquanto o rendimento médio domiciliar por pessoa cresceu 11,5%, o
segmento dos 5% mais pobres teve elevação de 38,5%.
Novo Bolsa Família e novo salário mínimo
explicam melhora na renda
Para
o analista da pesquisa, Gustavo Geaquinto, três fatores podem explicar o
crescimento mais intenso da renda dos grupos mais pobres da população. Um deles
está relacionado aos programas sociais, em especial o Bolsa Família, que chegou
a R$ 600, com inclusão de R$ 150 por criança de até 6 anos e o adicional de R$
50 por criança ou adolescente (de 7 a 18 anos) e por gestante.
Outra
explicação é a expansão do mercado de trabalho, com a entrada de 4 milhões de
pessoas no número de ocupados. “Pessoas que não recebiam o rendimento de
trabalho passaram a receber”.
O
pesquisador cita ainda o aumento do salário mínimo acima da inflação. Em 2023 o
salário mínimo teve dois reajustes e, em maio, passou a valer R$ 1.320. “O que
afeta não apenas o rendimento do trabalho, mas também o rendimento de
aposentadorias e pensões e outros programas sociais, como o Benefício de
Prestação Continuada (BPC – um salário mínimo por mês ao idoso com idade igual
ou superior a 65 anos ou à pessoa com deficiência de qualquer idade).
A
pesquisa do IBGE classifica como rendimento todo o dinheiro obtido por meio de
trabalho por pessoas com 14 anos, aposentadoria, pensão, aluguel e
arrendamento, pensão alimentícia, doação e mesada de quem não é morador do
domicílio, e a categoria outros, que inclui rentabilidades de aplicações
financeiras, bolsas de estudos e programas sociais do governo. É o caso do
Bolsa Família, Auxílio Brasil, seguro-desemprego e BPC.
Massa de rendimento
Outra
forma de observar a desigualdade no país é ao analisar a distribuição da massa
de rendimentos a cada segmento da população. Em 2023, essa massa foi a maior já
estimada para o país, alcançando R$ 398,3 bilhões, um crescimento de 12,2% a
mais que o de 2022, quando foi de R$ 355 bilhões.
A
parcela da população brasileira com os 10% dos menores rendimentos respondia
por apenas 1,1% dessa massa. Ou seja, de cada R$ 100 de rendimento do país, R$
1,1 era recebido por 10% da população com menor renda.
Já
os 10% dos brasileiros no topo da pirâmide recebiam 41% da massa de
rendimentos. Isto é, de cada R$ 100, R$ 41 foram recebidos pelos 10% de maior
renda. Para se ter uma ideia do tamanho da concentração, os 80% dos brasileiros
com menores renda detinham 43,3% da massa nacional.
Entre
2022 e 2023, a desigualdade entre topo e base da pirâmide piorou um pouco. A
participação dos mais ricos passou de 40,7% para 41% da massa. Para os mais
pobres houve acréscimo de 1 para 1,1%. Comparando antes e depois da pandemia,
houve redução da desigualdade. A participação dos mais ricos caiu de 42,8%
(recuo de 1,8 ponto percentual); e a dos mais pobres subiu de 0,8% (elevação de
0,3 ponto percentual).
Índice de Gini
A
pesquisa do IBGE mostra o comportamento do Índice de Gini, ferramenta que mede
a concentração de renda da população. O indicador varia de 0 a 1, sendo que
quanto mais próximo de zero, menor a desigualdade.
O
indicador de 2023 ficou em 0,518, o mesmo de 2022 e o menor já registrado pela
série histórica iniciada em 2012. O ponto mais desigual foi em 2018, quando
alcançou 0,545.
O
analista Gustavo Geaquinto explica que se a análise fosse apenas com o
rendimento proveniente do trabalho, haveria pequena variação positiva do Índice
de Gini, ou seja, aumento da desigualdade. Mas o movimento foi compensado por
efeitos de programas sociais.
“Esse
efeito, sobretudo do Bolsa Família, contrabalançou isso, beneficiando
principalmente os domicílios de menor renda, de forma a manter a estabilidade
desse indicador”, diz.
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Com informações da Agência Brasil e RBA.
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