14 de abril de 2022

Franquia da ditadura da aparência

 

Alexandre Lucas. (FOTO |Acervo pessoal).

Por Alexandre Lucas, Colunista

As estrelas estão bem distantes. As noites mesmo não sendo as mesmas constantemente anunciam os pontos de luzes no céu. Aparentemente nada muda, mas nunca estamos parados. A felicidade por exemplo é como a lua, tem seu tempo e intensidade. Das estrelas e da lua, sem a profundidade necessária para entender os seus comportamentos ficamos apenas detidos nas suas aparências.  

Do tempo da lua e das estrelas, pouco sabemos. Das noites e dos dias podem surgir as tempestades, os destroços, esses só explicam a aparência. Talvez seja necessário compreender da tempestade para evitar a sua fúria.

Faltou luz na terra e os caminhos estão incertos. Só sabemos das suas aparências, às vezes, até elas nós desconhecemos. Nas ruas, os rostos nunca foram códigos abertos, os olhos verdes nunca descreveram sobre os esconderijos e as armadilhas da vida.  A forma não diz quase nada do processo e assim os rostos ocultam trajetórias, portas fechadas, feridas abertas e incógnitas.             

Sei que as estrelas estão bem distantes, um dia pensamos em tocá-la, de chegar perto e observar os seus detalhes, mas parece que as estrelas são delírios ou um encaixe para o poema, mas as estrelas existem, bem distantes da palma mão e dos nossos olhos. Talvez essa distância seja para que possamos especular, criar uma espécie de semideusa, de pêndulo celeste.

Os espaços estão preenchidos por pontos humanos: gritos, cantos e corpos agitados de felicidade transbordam nas vielas e palácio da cidade, as estrelas piscam nos olhos e as outras ainda continuam distantes.  

É possível ver os detalhes das bocas. Às máscaras vão desaparecendo, é difícil ver o povo desmascarado. É tudo tão estranho, nada é imutável, cada mudança é uma nova realidade, cravada com espinhos e a maciez das pétalas. Hoje, estamos maquiados para franquia da ditadura da aparência, enquanto disfarçamos as estrelas e a lua que carregamos.

13 de abril de 2022

11 benefícios do café

 

José Nicolau. (FOTO/ Acervo Pessoal).

O café é uma bebida rica em ácido clorogênico, ácido cafeico e kahweol, que são compostos bioativos com propriedades antioxidantes, que ajudam a combater os radicais livres, prevenindo envelhecimento precoce, câncer, depressão e diabetes.

Além disso, o café tem ótimas quantidades de cafeína, um composto que estimula o sistema nervoso central, ajudando a combater a depressão, melhorando o humor e a disposição física e mental. Conheça outros alimentos fontes de cafeína.

O sabor, o aroma e a quantidade de cafeína do café variam de acordo com o tempo de torrefação, o tipo de moagem e a forma de preparo dos grãos, incluindo o expresso, o solúvel, o coado ou o descafeinado, que podem ser consumidos puros ou usados em preparações doces, como tiramisu ou sorvete, e salgadas, como molhos.

Os benefícios alcançados com o consumo moderado do café para a saúde são:

1. Melhorar memória e concentração

Por ser rico em cafeína, um composto estimulante do sistema nervoso central, o café ajuda a melhorar a memória e o estado de alerta, além de aumentar a capacidade de concentração e diminuir o sono.

No entanto, a tolerância aos efeitos da cafeína é muito comum, ou seja, muitas vezes é necessário consumir doses cada vez maiores para se obter os mesmos benefícios que se tinha consumindo doses iniciais pequenas.

2. Evitar a depressão

Os polifenóis presentes em ótimas quantidades no café combatem os radicais livres e diminuem inflamações nas células do sistema nervoso central, o que contribui para reduzir a ansiedade e melhorar o humor, prevenindo quadros de depressão.

Além disso, o consumo de café geralmente também está associado com hábitos sociais de convívio, estimulando o contato com outras pessoas e favorecendo o bem-estar geral.

3. Prevenir câncer

O café contém cafeína, ácido clorogênico, ácido cafeico e kahweol, antioxidantes que protegem as células contra os danos provocados pelos radicais livres, impedindo o desenvolvimento de alguns tipos de câncer.

Além disso, o café ajuda a diminuir os níveis de estrogênio no organismo, um hormônio relacionado a alguns tipos de câncer, como de mama, fígado, cólon e de endométrio.

4. Ajudar a combater dores de cabeça

O café possui propriedades anti inflamatórias e analgésicas que ajudam a diminuir e prevenir a dor de cabeça, incluindo a enxaqueca.

No entanto, algumas pessoas que deixam de consumir o café, podem observar melhoras da dor de cabeça. Isto acontece, pois os efeitos da bebida variam de acordo com cada organismo. Por isso, é importante observar se a ingestão de café provoca a dor de cabeça ou ajuda a melhorar o sintoma.

5. Ajudar no emagrecimento

O consumo de café favorece a perda de peso, pois a cafeína ajuda a controlar a fome  temporariamente, contribuindo para a redução da ingestão de alimentos.

Além disso, o café tem propriedades termogênicas, aumentando o gasto energético e a queima de gordura corporal, favorecendo o emagrecimento. A ingestão de 300mg de cafeína por dia, estimula um gasto energético de aproximadamente 79 calorias.

6. Melhorar o desempenho durante exercícios

A cafeína, presente no café, tem propriedades ergogênicas, que aumentam a produção de energia do organismo, diminuindo o cansaço e a dor durante os exercícios físicos, e melhorando o desempenho físico e mental.

7. Evitar doenças cardiovasculares

O café é rico em ácido clorogênico, ácido cafeico e kahweol, potentes antioxidantes e anti-inflamatórios que ajudam a combater os radicais livres, promovendo a saúde das artérias e melhorando a circulação sanguínea, prevenindo doenças como infarto, pressão alta e derrame.

8. Combater a prisão de ventre

Por conter cafeína, o café aumenta a contração do estômago e intestino, estimulando a eliminação das fezes e ajudando no combate à prisão de ventre.

Além disso, o café, especialmente na versão solúvel, contém boas quantidades de magnésio, um mineral com propriedades laxantes, estimulando os movimentos intestinais e facilitando a eliminação das fezes.

9. Prevenir a diabetes

O café é rico em antioxidantes que protegem as células do pâncreas e, por isso, melhoram a função do hormônio insulina, regulando os níveis de glicose no sangue e prevenindo a diabetes.

10. Prevenir o envelhecimento precoce

Por ter ótimas quantidades de compostos antioxidantes, como cafeína, ácido clorogênico e ácido cafeico, o café ajuda a proteger a pele contra a ação dos radicais livres, prevenindo a flacidez e o envelhecimento precoce.

11. Prevenir a doença de Parkinson

A cafeína, um composto presente em altas quantidades no café, protege as células do sistema nervoso central e estimula a liberação de dopamina, um neurotransmissor que, em baixas concentrações, aumenta o risco do desenvolvimento da doença de Parkinson.

Por isso, alguns estudos [1], [2]têm mostrado que o consumo do café ajuda na prevenção da doença de Parkinson.

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Com informações do Tua Saúde.

12 de abril de 2022

Prazo para pedir isenção de taxa do Enem acaba nesta sexta-feira; veja como solicitar

Enem - Marcello Casal Jr / Agência Brasil

O prazo para solicitar a isenção da taxa de inscrição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2022 e justificar ausência na edição de 2021 encerra no final dessa semana, na esta sexta-feira (15), às 23h59. O procedimento deve ser realizado através da internet, na Página do Participante.

A justificativa de ausência é para o participante que conseguiu a isenção da taxa de inscrição no Enem 2021, mas faltou aos dois dias de aplicação e deseja pedir isenção na edição de 2022. 

É importante destacar que a isenção da taxa não garante a participação no exame. Os interessados em realizar o Enem 2022, isentos ou não, devem se inscreverr na na Página do Participante.

Quem tem direito de solicitar a isenção?

Alunos que estão na última série do ensino médio em escolas públicas;Estudantes que cursaram todo o ensino médio em escola pública ou sejam bolsistas integrais em escolas privadas. Neste caso, os candidatos precisam ter renda igual ou inferior a um salário mínimo e meio (R$ 1.818) por pessoa;Participantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica, por serem membros de família de baixa renda, e que estejam inscritos no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico).

Quais documentos devo apresentar?

Identidade do participante e dos demais membros que compõem o núcleo familiar;Cópia do cartão com o NIS válido, no qual está a inscrição no CadÚnico;Declaração que comprove a realização de todo o ensino médio em escola pública ou histórico escolar do ensino médio, com assinatura e carimbo da escola;No caso de participante bolsista, acrescentar a declaração da escola que comprove a condição de bolsista integral em todo o ensino médio.

O resultado da solicitação de isenção e da justificativa de ausência será divulgado em 22 de abril. O candidato que não tiver o pedido aceito pelo Inep ainda poderá solicitar o recurso de 25 a 29 de abril. O valor da taxa de inscrição é de R$ 85.

Como uso as notas do Enem?

As notas do Enem podem ser usadas para ingressar no ensino superior, em universidades públicas e privadas, e para participar de programas federais como o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), o Programa Universidade para Todos (ProUni) e o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).
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Com informações do Brasil de Fato.

11 de abril de 2022

150 anos da chegada do Padre Cícero a Juazeiro

 

(FOTO | Reprodução | Facebook).


O dia 11 de abril de 1872, uma quinta-feira, exatamente 150 anos atrás, chegava para fixar residência definitivamente no povoado do Joaseiro, o sacerdote Pe. Cícero Romão Batista. Ele veio da cidade do Crato na companhia de sua mãe, Joaquina Vicência Romana (Dona Quinô), suas irmãs Angélica Romana Batista e Maria Angélica Batista (Mariquinha) e a senhora Tereza Maria de Jesus (Terezinha ou Teresa do Padre). A primeira casa que foi morar localizava-se na Rua do Arame, depois chamada Rua Grande e, atualmente, Rua Pe. Cícero, número 130. A vila do Joaseiro continha aproximadamente 32 casas e um pequeno contingente populacional nesta camada do interior cearense.

Que ensinamentos podemos aprender desse fato histórico da vida do Pe. Cícero e do Juazeiro?

Em primeiro lugar, Pe. Cícero é um homem de decisão. A escolha em morar no lugar pequeno e inexpressivo na cena política e geográfica do Ceará representou um sinal de desprendimento e humildade. Ele foi motivado por um sonho no qual Jesus lhe apresentou um bando de camponeses miseráveis, famintos e desvalidos, vindos dos confins dos sertões, e fixando o olhar, exclamou: “E, você Cícero, toma conte deles”. O Pe. Cícero levou a sério o sonho e tomou consciência da sua missão de acolher e amar esse povo.

“Se acordou na certeza de que o Senhor,

Lhe botava para ser nesse caminho,

o padrinho do povo sem padrinho

 e o pastor das ovelhas sem pastor” (Poema de Geraldo Amâncio).

Outro importante aspecto dessa história é que o Pe. Cícero não veio sozinho, mas trouxe consigo a mãe viúva, as irmãs órfãs e uma senhora que vivia com a sua família. Esse gesto revelou o cuidado, o amor e o senso de responsabilidade com sua família.

A atitude de estabelecer morada no pequeno povoado significou abandonar o desejo de ser missionário na China ou mesmo o projeto de ser professor no seminário da prainha em Fortaleza.  O início do apostolado do Padre Cícero no lugarejo marcado por rodas de samba, consumo de álcool e prostituição consistiu no trabalho árduo, firme e forte atuação moralizadora de fazer as pessoas abandonarem os antigos vícios e pecados, e ficarem próximos a religião cristã. Com os ensinamentos e conselhos do Pe. Cícero, Juazeiro reencontrou o caminho da concórdia, da paz e da ordem, pautando a vila pela oração e pelo trabalho. O vilarejo começa a receber centenas de pessoas, tornando-se o lugar mais populoso dos sertões. Há uma multiplicação de famílias que, provenientes de outros estados nordestinos, vieram residir no povoado, desenvolvendo as atividades do comércio, da agricultura e do artesanato. A casa do padre era o abrigo dos pobres necessitados que ali vinham em busca de alimento, ajuda financeira e trabalho para fixar morada em Juazeiro. Este crescimento da população, aliado à produção de bens e à criação do comércio artesanal, estimulado pelo Padre Cícero, transformou a cidade num lugar de atração econômica de muitos que recorriam a Juazeiro, alimentando a esperança de encontrar a redenção e sustentabilidade de suas vidas. Além do mais, os admiradores e devotos do padrinho Cícero atribuíam  e reconheciam esse território como sagrado, projetando o sonho e desejo da salvação eterna.

A memória dos 150 anos da chegada do Pe. Cícero no Juazeiro é momento de gratidão e reconhecimento da sua generosidade, dos seus ensinamentos e das  suas virtudes de compaixão, ternura, paciência, dedicação e amor aos pobres. Ele colocou suas mãos no Juazeiro e hoje colhemos bons frutos.  Que o nosso padrinho Cícero seja inspiração e referência para nós reconstruirmos esse lugar de fé e trabalho nos dias atuais, na promoção da cultura de paz, na defesa da justiça social, na vivência da solidariedade e no respeito a dignidade da natureza e de todo ser humano.

OBRIGADO MEU PADRINHO CÍCERO!

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Texto de José Carlos dos Santos – Professor de Filosofia da URCA e do IFCE, doutorando em Educação pela UFRN.

Brasil vive democracia para ricos', diz 1ª negra pré-candidata a presidente em 2022

 

(FOTO | Romerito Pontes | Divulgação).

Vera Lúcia Salgado, do PSTU, é a primeira mulher negra confirmada por um partido como pré-candidata à Presidência para as eleições de 2022. Ela também disputou o pleito em 2018 e concorreu à Prefeitura de São Paulo em 2020.

Atualmente com 54 anos, a pré-candidata nasceu em Inajá, cidade do interior de Pernambuco. Depois de trabalhar como faxineira, garçonete e operária em uma fábrica de calçados  – período em que iniciou na militância política e sindical, Vera Lúcia estudou e se formou em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Sergipe (UFS).

Para o Brasil, ela propõe uma mudança radical no modelo político e o protagonismo da luta antirracismo. Aumento de salários e redução da jornada de trabalho estão entre suas promessas de campanha.

Vera Lúcia também faz um contraponto aos dois nomes que lideram as pesquisas de intenção de voto ao criticar os desmontes de direitos sociais no governo de Jair Bolsonaro (PL) e a falta de reformas estruturantes nas gestões de Lula (PT). 

Com informações do Alma Preta.Confira a entrevista clicando aqui.



10 de abril de 2022

Menezes Pimentel: de Deputado a Interventor do Ceará

 

Interventor Francisco de Menezes Pimentel. (FOTO/ Ceará em Fotos e Histórias). 


Francisco de Menezes Pimentel foi um político cearense nascido em Santa Quitéria em 1887. Aos 20 anos, fundou, em Pacoti, o Ginásio São Luís, que depois seria transferido para Fortaleza e formaria gerações de alunos que viriam a ter influência local e nacional.

Estudou na Faculdade de Direito do Ceará, formando-se em 1914 e vindo a tornar-se diretor dessa instituição em 1921, permanecendo no cargo até 1935. Nesse período em que esteve a frente da FDC, Menezes Pimentel ingressou na política como deputado estadual em 1929, mas devido à dissolução das assembleias estaduais e do Congresso Nacional depois da Revolução de 1930.

Em 1935, venceu José Acióli na disputa para o governo do estado do Ceará pela Liga Eleitoral Católica (LEC). Essa campanha foi por Getúlio Vargas. Pouco depois de empossado como governador, Menezes Pimentel participou da repressão à um grupo de 2 mil operários a pedido do prefeito daquele município, Francisco Duarte Filho, que temia uma Revolta Comunista como as que eclodiram em Natal, Recife e Rio.

Em 1937, após a implantação da ditadura do Estado Novo, Menezes Pimentel deixa de ser governador, devido ao fechamento do Congresso e abolição dos cargos efetivos. Ainda nesse ano, tropas federais invadiram a cidade de Caldeirão, reprimindo os moradores da comunidade sob a alegação de que eles davam guarida a foragidos que participaram da Intentona Comunista de 1935, fato não noticiado pela imprensa censurada pelo Estado Novo.

Foi exonerado do cargo de interventor em 1945, dois dias antes de Getúlio Vargas ser deposto. O período que o Ceará passou sob sua intervenção foi marcado por perseguições políticas, prisões arbitrárias e tortura. Uma das presas e torturadas foi a escritora Rachel de Queiroz, que ficou presa no Quartel do Corpo de Bombeiros. Além disso, teve seus romances Caminho das Pedras, O Quinze e João Miguel apreendidos e queimados. O conservadorismo religioso durante a intervenção de Menezes Pimentel fechou lojas maçônicas, centros espíritas e terreiros de candomblé. As livrarias foram censuradas por conter livros com ideias subversivas.

Como podemos ver, Menezes Pimentel nada tem a ver com a leitura no Ceará. Na verdade, esse personagem nomeando a Biblioteca Pública do Ceará é um verdadeiro tapa na cara da sociedade cearense. Uma mudança de conceito da biblioteca deve consequentemente passar pela mudança de seu nome. Torturadores não devem ter espaço em nossas homenagens e em nossos patrimônios públicos.

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Com informações do Medium.

Veja também:

Intelectualidade Católica e projeto cultural estado novista: educação e disciplina para um “novo homem” em Fortaleza — Janilson Rodrigues Lima

Francisco de Meneses Pimentel — Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC)

A Interventoria de Menezes Pimentel (1937–1945) — Fátima Garcia

Biografia do (a) Deputado(a) Federal Menezes Pimentel

Movimentos populares ocupam as ruas em todo Brasil e pedem "Bolsonaro nunca mais"

(FOTO|Chokito |Divulgação).

 

Com atos em pelo menos 10 capitais e cidades do interior, os movimentos populares, centrais sindicais e partidos de oposição, reunidos pela Campanha Fora Bolsonaro, realizaram neste sábado (9) a mobilização nacional "Bolsonaro nunca mais".

A pauta central dos protestos foi a denúncia do aumento abusivo dos preços dos alimentos, dos combustíveis, da moradia e também a cobrança por investigações dos casos de corrupção envolvendo o governo Jair Bolsonaro (PL).

Lideranças das organizações e manifestantes avaliaram a mobilização de hoje como "um grande esquenta" para as disputas de ideias e projetos de país em 2022. Nos cartazes, as mensagens eram de indignação com a condição econômica do país, que mescla alta inflação e derretimento da renda.

Havia também mensagens em defesa da soberania nacional, das estatais como a Petrobras e do serviço público. O comportamento do presidente da república, Jair Bolsonaro (PL), durante a pandemia também foi alvo de protestos. 

O sentimento, segundo depoimento dos presentes, era de "retomada" das manifestações de rua, dando continuidade à jornada de luta construída ao longo de 2021, em que a Campanha Fora Bolsonaro se articulou para pedir o impeachment do presidente, vacina para todos e auxílio emergencial no valor de R$ 600. 

"Nós sabemos que não podemos esperar até 1º de Janeiro, com um novo governo, para que a situação do país melhore. Nós temos angústias e problemas que precisam ser resolvidos agora, como o preço dos alimentos. Por isso, precisamos ir às ruas. E hoje, este dia 09/04, foi um esquenta do que será todo ano de 2022, de muita luta e resistência nas ruas", explicou Raimundo Bonfim, da Coordenação Nacional da Central de Movimentos Populares (CMP).

Para Rud Rafael, da Coordenação Nacional da Frente Povo sem Medo, os atos conseguiram atingir os objetivos.

"Foi uma jornada de atos extremamente vitoriosa, que conseguiu encontrar a versão mais perversa hoje do desgoverno Bolsonaro. Não só em relação à denúncia que a Campanha Fora Bolsonaro já vinha fazendo do genocídio na pandemia, mas também a questão de debater, hoje, o tema da inflação, do preço do gás, gasolina, da fome e do desemprego. Dialogou muito com o sentimento da população", pontuou. 

Em São Paulo, a manifestação se concentrou na Praça da República, às 14h, e depois seguiu até o Largo do São Francisco. Segundo estimativas dos organizadores do ato, aproximadamente 30 mil pessoas estavam presentes na manifestação. 

Pela manhã, Recife também registrou mobilização. Os manifestantes se concentraram na Praça Treze de Maio, na área central da cidade, e seguiram em passeata até a Avenida Guararapes. Houve batucada, intervenções culturais dos movimentos de juventude e discursos das lideranças sindicais da cidade.

Demócrito Miranda, um dos articuladores do Pedal Lula Livre na cidade, explica que a sociedade precisa se mobilizar contra o governo: "Apesar de a gente já estar no último ano do governo de Bolsonaro, ele continua ainda dando razões para impeachment e para não ser reeleito", explicou. "A gente tem que fazer, até o final, uma série de mobilizações para tirar Bolsonaro, seja pelo impeachment ou seja o derrotando nas eleições", convocou o manifestante. 

Em São Luís, o ato se concentrou na Praça João Lisboa, no centro histórico da cidade, e depois seguiu em passeata pelos principais corredores da área comercial. Houve contato direto com trabalhadores da região. A servidora pública Isabella Larissa participou do ato e disse que foi estimulada pelo sentimento de indignação contra o governo

"Eu nunca concordei com as propostas durante o período da eleição, nem com a figura do presidente. E ainda piorou depois que ele se tornou governante do país, por causa da carestia, da desmobilização popular. Então a gente busca se mobilizar para se organizar e resistir frente aos desmandos do governo", pontuou. 

Já no período da tarde, algumas cidades, como Brasília e Porto Alegre, registram mobilização. Em Brasília, o ato se concentrou no Museu da República e contou com a participação dos indígenas que estão reunidos desde o dia 04 de abril no Acampamento Terra Livre.

Em Porto Alegre, apesar da chuva, o protesto se concentrou, às 15h, no Largo Glénio Peres e depois seguiu em marcha até o Largo Zumbi dos Palmares. Foram registrados atos também em Belo Horizonte, Goiânia, Aracaju, Rio de Janeiro e Maceió. 
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Com informações do Brasil de Fato.

9 de abril de 2022

‘Poucas vezes na História os artistas foram tão hostilizados’, diz Gil em sua posse

 

Gilberto Gil por ocasião de sua posse na Academia. (FOTO | Reprodução).

Foi inevitável, para o cantor e compositor Gilberto Gil, na noite de sua posse na Academia Brasileira de Letras (como o primeiro representante da música popular a ser eleito para a instituição) lembrar da capa de seu LP tropicalista de 1968, em que aparece envergando um fardão e usando pincenê. Um poema, escrito especialmente para o evento, foi recitado na noite de sexta-feira, na cerimônia na ABL, como uma tentativa de conciliação entre os dois momentos na vida do artista baiano de 79 anos de idade:

— Eu mesmo, nos meus tempos de aventuras, / cheguei a envergar um garboso fardão, / vestido então como ironia dura, / a fantasia pura da ilusão! / juntava-me, naquele instante, aos muitos / que alfinetavam a Instituição / mal sabia eu quais os intuitos, / do destino astuto a interrogação. Um amigo lembrou-me outro dia / que as ironias sempre trazem seu revés / papéis trocados, eis aqui, vida vadia: / fardão custoso, bordado a ouro, vistoso, / me revestindo da cabeça aos pés.

No início do seu discurso, Gil ressaltou o fato de ter chegado, no limiar dos seus 80 anos, à Casa “onde já estiveram tantos escritores de minha admiração, alguns dos quais foram amigos queridos, na condição de primeiro representante da música popular do Brasil a ser eleito para esta instituição”.

— Entre tantas honrarias que a vida, generosamente, me proporcionou, essa tem para mim uma dimensão especial, não só porque aqui é a Casa de Machado de Assis, um escritor universal, e afrodescendente como eu, mas também porque a ABL, fundada em 20 de julho de 1897, representa, mesmo para quem a critica, a instância maior, que legitima e consagra de forma perene a atividade de um escritor ou criador de cultura em nosso país — disse o compositor.

Contando com o prefeito do Rio Eduardo Paes na mesa, a cerimônia teve na plateia a presença de acadêmicos, de atrizes como (a também acadêmica) Fernanda Montenegro, Fernanda Torres, Malu Mader, Cissa Guimarães, Arlete Sales e Jessica Ellen, músicos como Jorge Benjor, Carlinhos Brown, Fernanda Abreu e também José Bonifácio de Oliveira Sobrinho e o casal Marcelo Freixo e Antônia Pellegrino. Vieram também suas filhas Preta, Maria, Bela e Nara, além da mulher, Flora.

Gil confessou que, até recentemente, não havia pensado em concorrer a uma cadeira da ABL, “mesmo sabendo que Tom Jobim chegara a se inscrever em 24 de setembro de 1993, retirando em seguida a candidatura em homenagem a seu amigo Antonio Callado, eleito em março de 1994”. Antes da posse, comentou que há dois meses passou a frequentar mais a Academia e que pretende “dar uma descontinuada” nas turnês para seguir frequentando. O momento político do país, em grande medida, o impeliu à disputa.

— A Academia Brasileira de Letras é a Casa da Palavra e da Memória Cultural do Brasil. E tem uma responsabilidade grande no sentido de fortalecer uma imagem intelectual do país que se imponha à maré do obscurantismo, da ignorância, e demagogia de feição antidemocrática. Poucas vezes na nossa história republicana o escritor, o artista, o produtor de cultura, foram tão hostilizados e depreciados como agora — denunciou, para aplausos da plateia. — Há uma guerra em prol da desrazão e do conflito ideológico nas redes sociais da internet, e a questão merece a atenção dos nossos educadores e homens públicos. A ABL tem muito a contribuir nesse debate civilizatório
E eu gostaria, aqui, de colaborar para o debate, em prol da cultura e da justiça.

Gilberto Gil se apresentou aos acadêmicos como alguém que “sempre procurou acompanhar o desenvolvimento das novas tecnologias no que elas possam contribuir para o bem de todos.” E expôs suas interrogações:

— O que será do Brasil em meio a esse mundo de pandemias e guerras? Que destino aguarda a Amazônia? O que os políticos estão fazendo para acabar com a fome e o analfabetismo? Quando conseguiremos alcançar a tão sonhada independência científica e tecnológica? Até quando o Brasil será o “país do futuro” de Stefan Zweig? — perguntou-se ele, na incerteza de que algum dia vá ter as respostas. — Procurei, junto com alguns brilhantes companheiros de geração, colaborar para que o Brasil fosse respeitado e amado mundo afora. Participei de movimentos culturais como a Tropicália, que continua dando frutos por aí. Tive grandes êxitos e alegrias nesta vida. Mas também fundas tristezas, a maior e a mais dolorosa a perda de meu filho Pedro Gil [falecido em 1989, num acidente automobilístico]. Mas não desanimo, porque é preciso resistir sempre.

Em tempos “politicamente sombrios”, Gil disse apostar na esperança. E pediu a permissão para citar os versos de um dos seus maiores sucessos, “Luar”: “Se a noite inventa a escuridão / a luz inventa o luar / o olho da vida inventa a visão / doce clarão sobre o mar”.

— Contra a treva física e moral, que haja ao menos a chama de uma vela, até chegarmos a toda luz do luar — disse o cantor, compositor e imortal da ABL.

Em seu discurso, Gil ainda saudou os acadêmicos, os amigos, a família (em especial a mulher, Flora) e os seus pais, a professora primária Claudina e o médico José Gil Moreira (“a eles devo o meu amor às letras e à música”). E fez longas menções aos ocupantes anteriores da Cadeira 20: o patrono Joaquim Manuel de Macedo (“um nome a merecer resgate, para além de sua eterna ‘Moreninha’”), o fundador Salvador de Mendonça, o “poeta, satiristra e boêmio” Emílio de Menezes, Humberto de Campos, Múcio Leão, Murilo de Melo Filho (seu antecessor imediato) e o general Aurélio de Lyra Tavares – nome que teve certo desconforto em dizer, por tratar-se “de um dos três integrantes da Junta Governativa Provisória  que comandou o Brasil de 31 de agosto a 30 de outubro de 1969” — a mesma que levou Gil e Caetano a serem presos e exilados.

— Mas, ao contrário, na constatação de como gira, às vezes com ironia, a roda da História, do ponto de vista acadêmico, os que conheceram e conviveram com o general Lyra Tavares nesta Casa reiteram o seu comportamento sempre afável e solidário, sua cultura literária e histórica e sua dedicação aos valores que balizam a história da ABL — amenizou Gil.

Seguindo os protocolos, Fernanda Montenegro entregou a Gil o colar de acadêmico; Arnaldo Niskier entregou a espada; Cacá Diegues entregou o diploma e Merval declara Gil empossado na cadeira 20.

Depois do discurso, esperavam os convidados acarajé e abará de Carina, baiana radicada no Rio, e tapioca. Uma festa baiana montada por Flora, segundo Gil, a pedido dos próprios colegas acadêmicos.

Saudações dos colegas

No discurso em que recebeu o canto e compositor na ABL, o acadêmico Antonio Carlos 
Secchin disse que a Casa é não apenas de Machado de Assis, mas também de José do Patrocínio, Dom Silvério Gomes Pimenta, Pereira da Silva, João do Rio, Domício Proença Filho e “de tantos, enfim, que na história da Academia marcaram e marcam, de modo indelével, a benfazeja herança da diversidade e a força da afro-descendência para a cultura e as letras do país”.

—  A perspectiva de Gil, ampla, ecumênica, dissolve hierarquias e congrega alteridades — disse Secchin. — Experimentador de formas, explorador de um largo espectro temático, o cancioneiro de Gilberto Gil assombra pela complexidade e pela amplitude, pautando-se, ao mesmo tempo, por um princípio de clareza e comunicabilidade. A cadeira 20 vai comportar muitos Gilbertos. Por isso, equivoca-se quem supõe que a ABL esteja simplesmente acolhendo Gilberto Gil; na verdade, ao acolhê-lo, ela se engrandece com a chegada do múltiplo Gilberto Mil.

Domício Proença Filho exaltou a novidade de Gilberto Gil na Academia:

— Sua presença na ABL evidencia dois princípios reveladores da visão aberta da Casa: a integração de tradição e contemporaneidade; a concretização de uma entre as múltiplas e necessárias ações afirmativas da representatividade do negro na cultura brasileira.

Para o presidente da ABL e imortal Merval Pereira, a Academia “recebe com alegria o grande poeta Gilberto Gil, que representa a cultura popular brasileira de maneira sublime, e a cultura afrobrasileira como parte dela”:

— Gilberto Gil, além do mais, foi ministro da Cultura, podendo dar contribuições importantes no trabalho que a ABL desenvolve na defesa da língua e da literatura nacional.  Sua presença na Casa de Machado de Assis expande, portanto, nossa abrangência cultural, nossa diversidade de representações.

Poeta e letrista de canções, o acadêmico Geraldo Carneiro festejou a eleição do colega:

— Gilberto Gil é um dos grandes exemplos de como a força da palavra se encantou na música brasileira e criou um repertório de imagens e ideias comuns a todos nós. A entrada de Gil na Academia é uma celebração da vida e da poesia traduzidas em música. Como já disse um poeta, é uma alegria pra sempre.

Já para a acadêmica Rosiska Darcy, a chegada de Gil a ABL “é de imensa importância, assim como foi a de Fernanda Montenegro, uma afirmação de que a ABL elege o que de melhor a Cultura Brasileira oferece, em sua formidável diversidade, nossa maior riqueza”:

— É uma eleição cheia de simbolismos, Gil é homem de muitos deuses, expressão estelar da Cultura Negra. A música popular acolhe grandes poetas de língua portuguesa, Gil é um poeta de excelência e, por isso, seu lugar é na Academia Brasileira de Letras.


Com informações do Geledés.