23 de outubro de 2021

No meio do caminho tem tanta coisa, inclusive poesia

 

Alexandre Lucas. (FOTO/ Reprodução).

Por Alexandre Lucas, Colunista

Existe uma poesia no meio do caminho, mas nem tudo que está no caminho conseguimos enxergar. A poesia pode ser um abridor de novos horizontes, mas é preciso descobrir, evidenciar e deixar a epiderme social livre dos dedos moralizantes e preconceituosos para não aniquilar a imaginação, a criatividade, o processo lapidoso da palavra e o protagonismo literário.

A decodificação da escrita é parte da decodificação do contexto histórico-social. Caminhar para enxergar a poesia no meio do caminho se faz a partir da apropriação dos códigos e dos contextos. Ler e escrever não é suficiente para enxergar a poesia.

Ler para além das palavras e escrever para além do previsível e do repertório reduzido é o grande desafio que se apresenta. Junta-se a isso a construção da autonomia e da autoestima como parte deste elo. É preciso esperançar em cada indivíduo e coletivamente a capacidade de acreditar na potência produtiva e transformadora dos seres humanos.

A autonomia e autoestima dos estudantes das escolas públicas são sistematicamente abaladas. A violência psicológica é um modus operandi que se processa nos espaços familiares e escolares constituindo descrença, insegurança e sentimento de incapacidade. Expressões do tipo “burro”, “preguiçoso”, “desinteressado”, “não quer nada” e suas variantes fazem parte do cotidiano de crianças, adolescentes e jovens do nosso país. Esse aspecto deve ser alterado se quisermos construir na classe trabalhadora um contingente ativo e amplo de leitoras e leitores, escritoras e escritores.                      

É preciso encontrar a poesia na apropriação da linguagem, no escavacar da história e na prática social dos indivíduos.  A poesia é resultado da produção dialética da humanidade, a partir do tempo e do espaço, das relações e contradições humanas.  A poesia está longe de ser dom, como alguns tentam impor, é antes que tudo resultado da vida.         

Ampliar o repertório de palavras para os filhos e as filhas da classe trabalhadora, é contribuir para o processo de ampliação da capacidade imaginativa, inventiva e argumentativa. Quanto maior for o quantitativo de palavras que se adquire, maior será a possibilidade de extensão de repertório e da visão social de mundo.  Cada palavra carrega um universo de ideias, ela nunca vem isolada e vai ganhando significados maiores a partir do momento que o repertório vai se estendendo.       

A escola tem um papel decisivo na democratização da linguagem. Incentivar à leitura é disponibilizar o conjunto da produção e das conexões historicamente criadas pela humanidade na qual a palavra também se insere.          

A poesia pode está em todo canto, entretanto, a escola pode ser um dos espaços para que ela possa ser enxergada de forma robusta, sistematizada, contextualizada e que componha uma trivialidade para muitos, se contrapondo, ao seu uso restrito e estratificado.

A palavra das camadas populares precisa ser legitimada. Desesconder a palavra imatura, destrinchar a escrita cheia de vida que ultrapassa a junção das letras, incrementar os códigos negadas historicamente, ter o popular, o senso comum, sempre como ponto de partida para apropriação do conhecimento sistematizado e erudito. Consagrar o popular unicamente, é negar o direito da classe trabalhadora de se apropriar dos conhecimentos necessários para o exercício do poder.

É preciso romper com uma lógica que esconde a poesia e a capacidade de leitura e escrita da classe trabalhadora. Ler, produzir, publicar, ainda continua sendo um direito restrito e todos os dias crianças, adolescentes e jovens deste país são instruídos a desacreditar que são capazes de escrever e construir a história. 

22 de outubro de 2021

Escritora Paulina Chiziane vence Prêmio Luís de Camões de 2021

 

Escritora Paulina Chiziane. (FOTO/ Divulgação).

O Prêmio Luís de Camões, de 2021, também vai para uma autora africana. Assim como o Prêmio Nobel de Literatura foi dado ao escritor da Tanzânia, Abdulrazak Gurnah, dessa vez foi a escritora moçambicana Paulina Chiziane a vencer o 33º Prêmio Luís de Camões. Suas obras se destacam pelo protagonismo feminino e o seu livro mais conhecido é Niketche: uma história de poligamia.

De acordo com o Estadão, Paulina foi a escolhida por uma comissão julgadora composta de seis membros (sendo dois de Portugal, dois do Brasil e dois representantes do PALOPS – países africanos de língua oficial portuguesa), que se reuniram no final da manhã desta quarta para anunciar o resultado.

Os dois jurados brasileiros presentes na comissão foram Jorge Alves de Lima e Raul Cesar Gouveia Fernandes.

Além deles, este ano, fazem parte da comissão: Carlos Mendes de Souza, Ana Maria Martinho, pela parte portuguesa; escritor Tony Tcheka (Guiné-Bissau) e Teresa Manjate (Moçambique) pela parte dos países africanos de língua portuguesa.

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Com informações do Nototerapia.

Desigualdade deve levar pandemia de covid-19 a ‘se arrastar por 2022’

 

Continente africano, por exemplo, vacinou totalmente apenas 5% de sua população. Essa média fora da África é de 40%. (FOTO/ Brenda Alcântara / Oxfam Brasil).

A pandemia de covid-19 segue recheada de incertezas. Enquanto cientistas alertam para perigos de retomada a partir do fim de medidas protetivas, pairam riscos do surgimento de novas variantes. Especialmente com o vírus circulando de forma intensa e descontrolada em boa parte do mundo. Também impacta no cenário da pandemia a desigualdade vacinal extrema entre países ricos e pobres. Diante dos fatos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que a crise vai “facilmente se arrastar profundamente em 2022”.

A OMS reforçou as críticas sobre a mercantilização das vacinas que deixa boa parte do mundo desassistida, enquanto mais de 70% das doses aplicadas foram em cidadãos dos 10 países mais ricos do mundo. Por exemplo, o continente africano vacinou totalmente apenas 5% de sua população. Essa média fora da África é de 40%. Mesmo o consórcio Covax Facility, criado pela OMS para entregar vacinas para os países mais pobres, não deve alcançar 30% de sua meta de 2 bilhões de doses. Até o momento, foram entregues menos de 371 milhões.

Nós realmente precisamos acelerar, ou sabe o que vai acontecer? Esta pandemia vai durar mais um ano do que precisa. Posso dizer que não estamos no caminho certo”, disse Bruce Aylward, alto diretor da OMS, em reportagem da BBC News. Ele reforçou que países com ampla disponibilidade de vacinas devem realizar uma “moratória” sobre a aplicação das terceiras doses. A ideia da organização é de vacinar, ao menos, 10% de todos os países antes que doses de reforço sejam aplicadas em pessoas sem comorbidades ou imunossuprimidas. Assim, o maior desafio para a superação da pandemia é a desigualdade.

Desigualdade chave

Em outro comunicado realizado hoje (21) o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, apontou para a lentidão na vacinação dos profissionais da Saúde no mundo, além de ampla desigualdade. De acordo com levantamento da entidade, apenas dois em cada cinco trabalhadores estão completamente imunizados. O mesmo estudo indica que morreram de 80 mil a 180 mil profissionais desde o início do surto, em março de 2020. A grande margem de erro tem relação com a subnotificação de alguns países, como é o caso do Brasil, que não adotou uma política pública em nível federal de combate ao vírus. Ao contrário, o governo do presidente Jair Bolsonaro desdenhou das mortes e minimizou os vírus, além de ser acusado de diversos crimes na condução da crise.

A OMS insistiu que esse grupo deve ser prioritário em todo o mundo no processo de vacinação. Adhanom ponderou que também existe ampla desigualdade regional em relação às mortes de profissionais de saúde durante a pandemia. “É óbvio que essa média esconde enormes diferenças entre regiões e setores econômicos. Na África, menos de 1 em cada 10 profissionais da saúde foi completamente imunizado, enquanto na maioria dos países de renda alta, mais de 80% estão vacinados com o esquema completo”, disse.

Balanço

Com quase 5 milhões de mortos em todo o mundo, a covid-19 é a maior crise sanitária global desde a gripe espanhola, em 1918. No Brasil, foram registradas 604.228 mortes, de acordo com balanço do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass), divulgado hoje. Além disso, é o país com mais vítimas do vírus em 2021 e segundo desde o início do surto, atrás dos Estados Unidos, com pouco mais de 700 mil mortes e população 50% maior.

Nas últimas 24 horas, foram 451 vítimas sem contar com dados do Ceará, não informados até o fechamento do balanço. Também foram notificadas 16.852 novas infecções, totalizando 21.697.341 desde o início do surto. A média de mortes e casos diários segue em tendência de estabilidade com leve crescimento desde a última semana. O índice, calculado em sete dias, está em 369 vítimas e 12.158 doentes. A métrica de mortes, que já foi a melhor desde abril de 2020, agora é superior, além do período inicial da pandemia, ao “vale” (movimento de queda exibido no gráfico) apresentado em novembro do ano passado.

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Com informações da RBA.

21 de outubro de 2021

Juazeiro do Norte receberá mais um ato Fora Bolsonaro

 

Ato realizado em Juazeiro do Norte. (FOTO/ Leandro Medeiros).

Por Nicolau Neto, editor

Movimentos sociais, coletivos, associações de bairro e partidos de esquerda irão mais uma vez às ruas de Juazeiro do Norte, no cariri, para protestarem contra os retrocessos do governo Bolsonaro e pedirem sua saída.

O ato está sendo uma convocação do Povo na Rua e congregará pautas nacionais e locais, a exemplo do passe livre no transporte público em Juazeiro do Norte e está marcado para ter início às 08:00 deste sábado, 23, na feira de trocas do bairro João Cabral.

Diante de tantos ataques a população, principalmente aos mais carentes, já praticados neste governo. Levando em consideração aqueles que ainda estão por vir, como por exemplo, a PEC 32 (Reforma Administrativa), não é hora de esperar resultados positivos apenas nas eleições de 22, mas de marcar posição. Ir às ruas protestar é um dos caminhos que deve continuar a ser trilhado.

Ampliação de políticas sociais passa por fim do teto de gastos

 

Na última quarta-feira (20), as centrais sindicais publicaram uma nota pedindo a ampliação do Bolsa Família, a revisão do chamado Teto de Gastos (Emenda 95) e outras medidas de proteção social. (FOTO/ Aline Souza).

Enquanto o governo Bolsonaro não define o formato exato e o alcance do Auxílio Brasil, programa que deve substituir o Bolsa Família, mas que esbarra entre outros fatores, no teto de gastos. O diretor adjunto do Dieese José Silvestre alerta que o limite fiscal do país precisa ser revisto para que a população seja contemplada por novas políticas públicas.

Na quarta-feira (20), as centrais sindicais publicaram uma nota pedindo a ampliação do Bolsa Família, a revisão do teto de gastos e a promoção de outras medidas de proteção social e de estímulo à geração de empregos.

É preciso furar o teto de gastos. Essa regra vai até 2026 e não dá para mantê-la em meio ao caos da pandemia. Estamos num momento em que precisa dos recursos do Estado para fomentar e bancar políticas públicas, como o Auxílio Brasil”, afirma, em entrevista a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual desta quinta-feira (21).

Fonte de renda

O especialista do Dieese lembra ainda que o Auxílio Brasil é uma incerteza, pois o governo Bolsonaro não detalhou como será a execução do projeto. Diante do limite orçamentário, Silvestre afirma que uma tributação sobre os milionários ajudaria no financiamento de medidas de proteção social.

As centrais não só pedem o auxílio como também mostram a fonte de recursos, por meio da taxação de grandes fortunas e lucros e dividendos. A partir disso, seria possível dar um auxílio de R$ 600 por família. Isso amenizaria o desespero da população. Não sabemos detalhes do projeto Auxílio Brasil, só dizem que passaria de 14,6 milhões de beneficiários para 17 milhões. Isto é menor do que o alcance do auxílio emergencial que ajudou mais de 67 milhões de brasileiros”, explica.

Ele lamenta ainda que o projeto apresentado pelo Executivo tenha duração prevista até dezembro de 2022. “Estes novos valores apresentados pelo governo federal possuem prazo de 14 meses. O Bolsa Família é um programa bem estruturado e com ótimos resultados, criar um programa com prazo limite tem uma conotação eleitoral”, alerta.

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Com informações da RBA.

20 de outubro de 2021

'Não me calarei diante dos ataques', diz primeira presidente negra da UNE

 

(FOTO/ UNE/ Divulgação).

A estudante de Direito Bruna Brelaz é uma mulher negra de 26 anos, que foi eleita presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), entidade que teve papel importante na campanha das 'Diretas Já' e no impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Melo. No entanto, a primeira presidente negra, nascida em Manaus (AM), da UNE tem enfrentado ataques racistas e machistas que tentam silenciar suas pautas de luta, que incluem uma agenda antirracista e de defesa da Amazônia.

Em entrevista exclusiva para a Alma Preta Jornalismo, Bruna Brelaz falou sobre as políticas afirmativas, a continuidade da lei de cotas nas universidades federais e a situação da educação no Brasil. “É preciso que os estudantes tenham condições de estudar, com políticas públicas que ofereçam alimentação, moradia e transporte”, afirma.

Confira abaixo a íntegra da entrevista com a presidente da UNE, que recentemente foi alvo de ataques por defender uma frente ampla em favor do impeachment do presidente Bolsonaro (sem partido).

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Com informações do Alma Preta. Clique aqui e leia a entrevista.

Dia da Consciência Negra será feriado municipal em Leopoldina

(FOTO | Reprodução | TV Globo).

O dia 20 de novembro será feriado municipal em Leopoldina em comemoração do Dia das Religiões de Matrizes Africanas, Afro-Brasileiras e Consciência Negra. A lei foi sancionada e publicada nesta semana pelo prefeito Pedro Augusto Junqueira (PL).

No final do mês de setembro, o g1 mostrou que o Projeto de Lei, de autoria do vereador Ivan Nogueira (PP), que tratava sobre o tema, foi aprovado por unanimidade após receber pareceres favoráveis das comissões permanentes e uma emenda do vereador Rogério Campos Machado (PSC).

Na justificativa do projeto, o vereador destacou ainda que a aprovação do projeto "contribuirá para que Leopoldina entre na vanguarda das medidas já tomadas por outros municípios e estados de reparação histórica, promoção da igualdade racial, educação para o respeito à diversidade, valorização da cultura e respeito à dignidade humana da população negra".

O novo feriado municipal deverá ser acatado por repartições públicas, indústria e comércio do município. A data representa as questões sobre o racismo, discriminação, igualdade social, inclusão dos negros e busca também valorizar a cultura afro-brasileira.

O autor do projeto destacou ainda que a data deve ser utilizada para a realização de atividades de reflexão e de conscientização, além de eventos culturais com o intuito de consolidar a edificação de uma cidade mais justa, fraterna, solidária, social e racialmente equitativa.

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Com informações do G1.

19 de outubro de 2021

As distintas formas de nossa tragédia social

 

(FOTO/ Reprodução/ Boitempo).

Conheci o autor de Sub-humanos: o capitalismo e a metamorfose da escravidão, livro de enorme força crítica, quando pude acompanhar sua corajosa atuação, como procurador do Trabalho, na Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo do Ministério Público do Trabalho. Foi exercendo intensamente essa vivência que Tiago Muniz Cavalcanti pôde mergulhar nos grotões do país onde proliferam as mais distintas formas de escravidão que ainda hoje maculam e singularizam nossa tragédia social. Foi essa atuação prática, adensada por uma rigorosa pesquisa acadêmica, que resultou nesta obra, uma viva radiografia dos tantos vilipêndios que talham o solo social brasileiro, o qual parece incapaz de se desvencilhar da escravidão.

Vale recordar que tivemos uma exceção a essa chaga: as comunidades indígenas pré-coloniais. Nelas, havia o exercício de um trabalho comunal e autônomo em que se trabalhava para viver (e não se vivia para trabalhar, como no capitalismo). A vida dos povos originários objetivava a fruição e a felicidade comum e não a exploração, a escravidão e a riqueza privada. Foi o mundo europeu (e eurocêntrico), nos inícios da acumulação primitiva, que nos impôs uma “nova civilização” cujo leitmotiv não era outro senão saquear nossas riquezas e alavancar uma produção de mercadorias visando ao enriquecimento privado da burguesia mercantil nascente, a qual não teve escrúpulos em recorrer ao trabalho escravizado para incrementar os próprios lucros.

Desenvolveu-se, no seio de nossa sociedade ainda juvenil, a modalidade mais aviltada e abjeta de trabalho que conhecemos e que, desde então, vem criando novas formas de escravidão. Basta recordar que os homens e as mulheres negras, após a abolição, foram excluídos das principais atividades assalariadas urbano-industriais e relegados aos porões da escravidão doméstica e de outras tantas atividades subterrâneas.

Tiago Muniz Cavalcanti, em Sub-humanos, com rara felicidade, consegue atar os fios dessas perversas engrenagens econômico-sociais, que principiaram com a escravização colonial e teimam em se perpetuar contemporaneamente. Articulando com maestria o ontem e o hoje, desvenda o que denominou taxonomia da escravidão, com suas expressões aberrantes, como: o escravo pela força, o escravo precoce, o escravo sexual, o escravo pela exaustão, o escravo pela degradância e o escravo pela servidão.

Ao proceder assim, o autor desnuda essa miríade quase interminável de “modalidades multifacetadas de trabalhos sub-humanos”, presente no escravismo colonial (“propriedades com alma”), passando pelo neocolonialismo e chegando até o capitalismo atual, com sua “subcivilização e sub-humanidade”. Para enfeixar os laços da dominação pela aberração, Cavalcanti realiza uma contundente crítica ao direito, cujo papel principal tem sido o de legitimar as tantas sujeições. Na última parte de Sub-humanos – “O amanhã” –, o autor oferece suas pistas sobre como adentrar no difícil e polêmico desafio: como começar a confrontar, para superar, o capitalismo atual.

Estamos diante de uma obra que será um importante marco para os estudos críticos e o combate à escravidão contemporânea.

Escravidão, servidão e outras formas de trabalho compulsório são parte da história de sociedades antigas e pré-modernas. Mas como explicar a permanência desse tipo de opressão e violência na contemporaneidade? Em Sub-humanos, o procurador do trabalho Tiago Cavalcanti faz uma impactante reflexão sobre as várias faces da exploração do trabalho em diferentes conformações sociais, com destaque para a sociedade capitalista atual. Indo além da análise jurídica, o livro propõe um olhar crítico à trajetória histórica do trabalho humano e busca alternativas que possibilitem uma vida digna e realmente livre para todos.

Na primeira das três seções que compõem a obra, Cavalcanti examina a ausência de liberdade e a negação da humanidade nas sociedades pré-capitalistas. A segunda seção se dedica à análise da exploração do trabalho nas sociedades contemporâneas. Aqui, o autor empreende uma classificação da classe trabalhadora em duas categorias, os semilivres e os sub-humanos, de acordo com os níveis de liberdade e humanidade presentes nas relações de trabalho atuais, investigando as metamorfoses que conferiram um novo feitio social às escravidões de outrora.

Na terceira seção, a reflexão aponta para o futuro. Sem a pretensão de propor soluções fechadas e milagrosas, a obra abre uma janela para a criação de um amanhã de liberdade e humanidade e a garantia de uma existência digna para a toda a comunidade global.

Este é um dos livros mais notáveis de sociologia e de teoria crítica do direito que li em tempos recentes. Tiago Cavalcanti permite-nos restituir uma nova credibilidade ao estudo e ao uso emancipador do direito como uma das formas ou dos campos de luta a que se deve recorrer para conquistar os objetivos da autodeterminação dos povos e da justiça social – justiça não só nas relações entre seres humanos, mas também nas relações entre seres humanos e a restante vida do planeta. Por todas essas razões, não poderia recomendar mais vivamente este magnífico trabalho.” – BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS

O livro de Tiago Muniz Cavalcanti tem prefácio de Boaventura de Sousa Santos, texto de orelha de Ricardo Antunes e capa de Antonio Kehl (sobre montagem com foto de Tiago Queiroz/Estadão Conteúdo). Sub-humanos faz parte da coleção Mundo do trabalho, coordenada por Ricardo Antunes.

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Por Ricardo Antunes, originalmente na Boitempo.