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Personagem histórico: A atuação de Luiz Gama como advogado libertou centenas de pessoas escravizadas. (FOTO/ Divulgação). |
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Personagem histórico: A atuação de Luiz Gama como advogado libertou centenas de pessoas escravizadas. (FOTO/ Divulgação). |
Por Alexandre Lucas, Colunista.
A
estratificação do conhecimento e a heterogenia pedagógica no capitalismo é uma
das características que permeiam as escolas. Uma ambiência conflituosa e
antagônica de concepções pedagógicas e uma educação hegemonicamente voltada
para manutenção ideológica do mercado favorece a escravidão espiritual das
massas.
A
existência de escolas públicas e privadas sinalizam o caráter mercadológico e
de classe da educação. O desalinhamento pedagógico institucional reflete
diretamente nas escolas e por conseguinte no tipo educação e de sociedade que se
pretende manter e construir.
A
guerra de concepções pedagógicas faz parte do cotidiano das escolas, umas
alinhadas à perspectiva da classe dominante, outras declaradamente
comprometidas com a classe trabalhadora e no entremeio tentativas de concepções
supostamente imparciais ou de conciliação, notadamente existe uma secundarização
do aporte teórico-pedagógico.
Neste
sentido, a escola voltada para atender aos interesses da classe trabalhadora
necessariamente passa pela defesa de um projeto nacional e unificado de
educação, alinhado a uma concepção pedagógica emancipacionista e de ruptura com
o pensamento de manutenção das relações de capital e trabalho que estruturam
ideologicamente e socialmente o caráter de exploração e opressão da classe
trabalhadora.
Entretanto,
não nos enganemos em achar que a educação transforma um país, sem haver
mudanças nas estruturas de poder político e econômico das classes sociais. O
que nos remete ao entendimento de que a luta pela transformação da concepção
pedagógica (alinhada à classe trabalhadora) compõe a mesma luta pela
transformação da sociedade, na sua inversão de poder, ou seja, uma escola para
classe trabalhadora, numa república dirigida pela classe trabalhadora.
Porém,
temos um longo percurso para construir a escola e a república da classe
trabalhadora. Enquanto, ainda estamos distantes desta realidade, precisamos
tratar dos problemas concretos e criar as condições objetivas para ocupar outra
realidade.
A
concepção filosófica, pedagógica e política da educação é parte da concepção e
do processo organizacional das estruturas educacionais. É preciso definir a
política para nortear a técnica e não o inverso, como a classe dominante tenta
imprimir como uma verdade.
Se
a escola compõe uma estrutura ideológica, ações isoladas, não alteram o
conjunto do cenário educacional, apesar de ter relevâncias microscópicas, não
revertem a hegemonia cultural dominante.
Faz-se
necessário a defesa de uma escola pública que radicalize a sua acessibilidade e
as condições de permanência dos educandos na escola, mas isso não basta, é
preciso favorecer o desenvolvimento multilateral e a formação integral, o que
inclui desde o desenvolvimento físico, a apropriação do conhecimento produzido
historicamente pela humanidade, a uma íntima ligação entre o trabalho
produtivo, prática social e o ensino. Se para a classe dominante a escola
pública serve para preparar operadores para operar suas máquinas de acumulação
e concentração do capital, para a classe trabalhadora a lógica deve ser
diferente, mas que aprender a operar é preciso se apropriar criticamente de
todo o processo da operação. A escola deve proporcionar para além do aprender a
apertar parafusos, é essencial que se saiba sobre os elementos físicos e
matemáticos dos parafusos, o seu processo de produção e o processo de organização
da indústria de parafusos.
A
escola pública deve preparar dirigentes, ao invés de dirigidos, deve cultivar a
capacidade crítica- reflexiva, em contraposição ao adestramento e ao discurso
meramente de apropriação técnica.
A
escola pública pode incluir no seu arcabouço pedagógico o trabalho produtivo
como parte de uma compreensão cooperativa de sociedade, que se distingue da
corrida individualista e competitiva em que a escola envereda, a partir do
modelo operante do sistema capitalista.
Enquanto o mercado dirige a educação no país, a escola não servirá aos interesses da classe trabalhadora, mas não podemos esperar que a sociedade se transforme para que a escola se transforme. É no curso dos acontecimentos que a escola pública deve ser defendida como instrumento para se contrapor a manutenção da ordem capitalista, o que significa em primeira instância para classe trabalhadora, a apropriação crítica do conhecimento produzido historicamente pela humanidade, o que requer uma concepção pedagógica que sirva aos interesses da classe do proletariado. Se existe uma pedagogia dominante, não nos cabe aceitar a condição de dominado.
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Em números absolutos, as universidades da Bahia são as que oferecem mais vagas aos quilombolas, 599 (FOTO/ Itamar Aguiar/Pálacio Piratini). |
Das
106 universidades públicas espalhadas pelo país, 67 federais e 39 estaduais,
apenas 20%, oferecem cotas para ingresso de quilombolas. Essas instituições de
ensino superior que oferecem cotas estão concentradas em apenas oito estados,
dos 27 da federação. São eles: Bahia, Ceará, Goiás, Mato Grosso, Pará, Rio
Grande do Sul, Santa Catarina e Tocantins.
Os
dados são do levantamento feito pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares da
Ação Afirmativa (Gemaa), ligado ao Instituto de Estudos Sociais e Políticos da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ), com informações
disponíveis até 2019. Ao todo as universidades públicas comportam até 384 mil
alunos. Desse total, apenas 2.035 vagas são entregues aos quilombolas, ou
0,52%, aponta a entidade.
No
Brasil não há uma legislação que obrigue as universidades públicas a reservarem
vagas por cotas a população quilombola. As instituições que adotaram essa
política afirmativa, o fizeram provocando alterações em seu regimento interno,
como explica o pesquisador Jefferson Belarmino de Freitas, um dos responsáveis
pelo levantamento do Gemaa.
“Isso
significa que o corpo diretivo dessas instituições é mais progressista e
flexível às demandas quilombolas. Outro fator importante, é que observamos que
o número maior de vagas ocorre em estados onde essa população está mais
organizada”, aponta Freitas, doutor em sociologia pelo IESP-UERJ.
Em
números absolutos, as universidades da Bahia são as que oferecem mais vagas aos
quilombolas, 599. Em seguida, Pará, 482, e Goiânia, 421. Foi justamente em
território baiano que ocorreu a primeira política específica para os quilombos,
em 2005, na Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Porém,
cruzando o número total de vagas ofertadas por cotas e a quantidade
disponibilizada aos quilombolas dentro desse grupo, a Bahia cai para o quatro
lugar no país, com apenas 2,3%. Em primeiro, está o Tocantins (4,5%), depois
Goiás (3,4%) e o Pará (2,8%).
Vergonha sudestina
Biko
Rodrigues, articulador nacional da Coordenação Nacional de Articulação de
Quilombos (Conaq), lamentou e confirmou os dados.
“Seria
importante que as cotas fossem estendidas para todo o país. Alguns estados
estão puxando a dianteira, como Pará e Tocantins, percebemos isso nos
territórios. Mas ainda está muito longe da realidade do nosso povo. Em São
Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, onde temos uma presença grande de
quilombolas, a realidade é muito ruim, não acessamos as universidades.”,
explica.
Os
fluminenses abrigam 31.354 estudantes em suas universidades federais e
estaduais, sendo 15.447, ou 49%, para cotistas. No entanto, nenhuma dessas
reservas foram destinadas à população oriunda dos quilombos.
Entre
os 29.856 estudantes das universidades federais e estaduais de São Paulo,
11.669, ou 39%, são cotistas. Assim como ocorre no Rio de Janeiro, não há
políticas afirmativas para os quilombolas.
O
Nordeste (706) é a região brasileira com maior número de vagas destinadas aos
quilombolas, seguida pelo Norte (671), Centro-Oeste (626), Sul (32) e por
último, o Sudeste, que não possui processos para ingresso da população oriunda
de quilombos em suas universidades públicas.
No
texto do estudo, o corpo de pesquisadores faz ressalvas sobre a necessidade da
distinção das vagas oferecidas aos diversos grupos e porque não seria
conveniente supor que os quilombolas estariam incluídos nas cotas raciais.
“A
adoção de conteúdos didáticos que façam parte do modo de vida das comunidades
quilombolas é uma demanda de militantes e intelectuais que atuam na causa
quilombola. Muitas vezes esposando uma perspectiva decolonial, tais agentes
ressaltam que a realidade quilombola não pode ser inteiramente submetida a
sistemas ocidentais e (falsamente) universalistas de conhecimento”, conclui o
estudo.
_____________
Com informações do Brasil de Fato.
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Deputado Idilvan Alencar. (FOTO/ Reprodução). |
O
deputado federal Idilvan Alencar (PDT-CE) chamou a atenção, nas suas redes
sociais, para um assunto muito pertinente para a educação: recuperação da
aprendizagem.
A
pandemia de Covid-19 paralisou as aulas presenciais e obrigou estudantes,
profissionais e gestores da educação a se adaptarem ao ensino remoto. Porém,
essa modalidade não atinge todos os alunos, por diversos fatores, o que causa
perdas na aprendizagem.
“Desde
que as aulas presenciais foram interrompidas, em março de 2020, que tenho
chamado a atenção para os impactos dessa interrupção e o que podemos fazer”,
disse Idilvan. “Apresentei projetos de lei para debater o retorno às aulas,
para comprar conexão e tablets para estudantes, para repassar dinheiro para as
escolas se adaptarem para o retorno, para repor o orçamento da educação”,
completa.
Segundo
o parlamentar, existe a necessidade de um grande “pacto pela recuperação da
aprendizagem”, para avaliar o impacto das perdas e propor os mecanismos para a
recuperação do tempo perdido.
“Sem
isso, não iremos recuperar as perdas. Vamos precisar dessa estratégia para cada
estudante e escola, como venho falando há algum tempo”, disse.
Idilvan
é autor de importantes projetos de lei, na Câmara dos Deputados, sobre educação
na pandemia. Dentre eles, destaque para o PL 2949/20, que propõe uma estratégia
nacional de retorno às aulas, e o PL 3477/20, que foi aprovado e se tornou a
Lei de Conectividade nº 14.172, que destina R$ 3,5 bilhões para acesso à
internet por alunos e professores rede pública.
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Texto encaminhado a redação do Blog por Aglecio Dias, da Assessoria do Deputado Idilvan Alencar.
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(FOTO/ Reprodução). |
A
prefeitura de São Paulo anunciou que homenageará cinco personalidades negras,
que ganharão estátuas pelo município paulista. O anúncio ocorreu durante a
Semana de Valorização do Patrimônio, organizada pela Secretaria Municipal de
Cultura para discutir o patrimônio histórico, semanas depois da estátua de
Borba Gato ser queimada, na Zona Sul de São Paulo. Entre os nomes, estão a
escritora Carolina Maria de Jesus, o cantor Itamar Assumpção, o músico Geraldo
Filme, o atleta olímpico Adhemar Ferreira da Silva e a sambista Deolinda Madre.
Segundo
a Secretaria Municipal de Cultura, as personalidades possuem forte ligação com
o município. As obras estão previstas para o próximo mês e serão entregues em
até seis meses. De acordo com a prefeitura, os monumentos públicos serão
instalados em locais onde as personalidades viveram e se destacaram na memória
da cidade.
Carolina
Maria de Jesus é uma das escritoras mais importantes do país e ficou conhecido
por seu livro ‘Quarto de Despejo’, publicado em 1960. O livro foi traduzido em
16 idiomas e vendeu cerca de 3 milhões de exemplares desde sua publicação.
A
estátua que representará a autora será instalada no Parque Linear de
Parelheiros, onde Carolina viveu parte de sua história; atualmente, em sua
homenagem, estão o Centro de Cidadania da Mulher e o Ponto de Leitura Carolina
de Jesus.
Itamar
Assumpção foi um cantor, compositor, instrumentista e produtor musical
brasieiro, que teve destaque na cena alternativa e independente nas décadas de
1980 e 1990, em São Paulo. É um dos principais nomes da ‘Vanguarda Paulista’.
Estão
sendo considerados pela prefeitura e familiares do artista, espaços como a Casa
de Cultura da Penha, em que Itamar gravou a trilogia 'Bicho de 7 cabeças', em
1993, que conta com um estúdio em sua homenagem.
Geraldo
Filme de Souza, ou apenas Geraldo Filme, foi um compositor, cantor e militante
negro brasileiro. Também foi conhecido como 'Seu Geraldo', 'Geraldão da Barra
Funda', 'Tio Gê', 'Corvão' e, na infância, como 'Negrinho das Marmitas'.
A
estátua representando o sambista será instalada na Praça David Raw, na Barra
Funda, próximo ao antigo Largo da Banana, muito frequentado por Geraldo e marca
do samba paulistano.
O
atleta Adhemar Ferreira da Silva foi o primeiro bicampeão olímpico do país,
recordista mundial no salto triplo cinco vezes e primeiro a quebrar a barreira
dos 16m no salto triplo. Foi vencedor nos jogos de Helsinque 1952 e Melbourne
1956.
A
provável localização da estátua que representará o atleta será no Canteiro
Central da Avenida Braz Leme (Casa Verde, Zona Norte), bairro onde o atleta
morou e em que clubes de atletismo surgiram a partir do sucesso dele.
Deolinda
Madre, conhecida como Madrinha Eunice, nasceu em Piracicaba e se mudou aos 4
anos para São Paulo, morando na Rua Tamandaré, na região central da cidade. A
sambista e ativista negra fundou uma das primeiras escolas de samba de São
Paulo, a Lavapés, na década de 1930, no bairro do Glicério, no Centro. A escola
já foi sete vezes campeã do Grupo Especial entres os anos 1950 e 1960.
Segundo
a Prefeitura, a estátua da sambista e ativista será instalada na Praça da
Liberdade - sugerido pelos familiares e pelo pesquisador sobre o Samba, Tadeu
Kaçula.
__________
Com informações do Alma Preta.
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Lista de aprovados e aprovadas do Menezes Pimentel. Designer Gráfico (Rosemberg). Montagem (Nicolau Neto). |
A
Escola de Ensino Fundamental e Médio Menezes Pimentel, do município de Potengi,
na região do cariri, divulgou na tarde desta segunda-feira, 16, lista dos
alunos e alunas que lograram êxito nos principais vestibulares da região no
processo seletivo 2021.1 e por meio do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).
11
estudantes aparecem na lista apresentada e estão distribuídos pela Universidade
Regional do Cariri (URCA), Universidade Federal do Cariri (UFCA), Centro
Universitário Unileão, Faculdade de Juazeiro do Norte (FJN) e Universidade
Paulista (UNIP). Estas duas últimas por meio do Programa Universidade para
Todos (ProUni) e do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) do ENEM, respectivamente.
Abaixo os nomes dos aprovados e
aprovadas por curso e universidade:
José
Vitor (Engenharia de Produção, URCA);
Bruna
Teixeira (Educação Física, URCA);
Antônio
Luís (Letras, URCA);
Bianca
Guedes (Ciências Sociais, URCA);
Maria
Carolina (Biblioteconomia, UFCA);
Isabela
Rodrigues (Pedagogia, UNIP);
Isabela
Mendes (Medicina Veterinária, UNILEÂO);
Iarla
Terto (Ciências Biológicas, URCA);
Angela
Terto (Matemática, URCA);
Débora
Sérgio (Ciências Biológicas, URCA);
Arineia
Dias (Medicina Veterinária, FJN).
Os
resultados foram comemorados pela direção, coordenação, professoras e
professores da instituição que destacaram o esforço dos/as estudantes,
principalmente em tempos de pandemia.
Aos que tentaram, mas não conseguiram a escola também direcionou calorosos parabéns, ao passo que afirmou que o sucesso se conquista com persistência, dedicação e muito estudo. “Continuem tentando, sua hora chegará”, destacou a direção.
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(FOTO/ Reprodução). |
Um homem foi resgatado do trabalho análogo ao de escravo em uma fazenda de gado durante uma operação de fiscalização, em Formosa (GO), após mais de oito anos de serviço. Ele vivia com sua esposa e cinco filhos dormindo entre escorpiões e cobras, sem água e luz, com pouca comida e sob a poeira da mineração de calcário que ocorria perto de seu alojamento. Enquanto isso, a alguns quilômetros dali, as Forças Armadas faziam um treinamento militar com a presença do presidente da República.
"Escorpião era demais, tinha muito. Um me picou e fiquei seis meses com a perna dormente. Já acordei com cobra no pescoço. Tinha coral, papa-pinto... Se não forrasse o chão e tapasse os buracos da casa todos os dias, os escorpiões picariam meus meninos. Dormia todo mundo no mesmo lugar. Assim eu ficava de olho nos bichos."
O relato é de Marilene da Costa, esposa de Itamar, trabalhador que foi resgatado na operação iniciada no dia 11, em Formosa, Goiás. Todos passaram anos usando o mato como banheiro, sem energia elétrica e consumindo água salobra de um poço.
Certamente você ouviu falar no município. Enquanto auditores fiscais do Ministério do Trabalho, um procurador do Ministério Público do Trabalho, um advogado da Defensoria Pública da União e policiais federais retiravam o trabalhador e sua família da propriedade, as Forças Armadas realizavam uma operação de treinamento militar no mesmo município.
Foram os blindados fumacentos da Operação Formosa que atravessaram a Esplanada dos Ministérios na "demonstração de força" de Jair Bolsonaro no dia da derrota do voto impresso na Câmara dos Deputados.
Tão alheia à existência das tropas quanto às tropas estavam alheias à sua existência, a família esperava a visita do poder público. "Fiquei oito anos sofrendo que nem cachorro. Só no finalzinho, vieram o Conselho Tutelar e a Assistência Social. E, com isso, chegou água e luz", explicou a esposa do trabalhador à coluna.
Ironicamente, após mais de oito anos sob velas, as lâmpadas chegaram uma semana antes da operação de fiscalização chegar e constatar o trabalho degradante.
O proprietário da fazenda Muzungo, Meroveu José Caixeta, informou através de seu advogado Ítalo Xavier que, até o momento, não teve acesso integral aos autos do procedimento de inspeção. O representante afirmou que "o cliente colaborou com os trabalhos da fiscalização, firmando Termo de Ajuste de Conduta com o Ministério Público do Trabalho, para atender todas as exigências que entenderam pertinentes".
Além dos bichos peçonhentos, da falta de comida, da água salgada e da escuridão, havia o pó. Muito pó.
A precária casa, em que caberia apenas uma pessoa, ficava a menos de 100 metros de uma empresa de mineração, vizinha à fazenda, e a 200 metros do canteiro de extração de calcário. A produção, que seguia barulhenta dia e noite, levantava uma nuvem de pó branco, que cobria comidas, roupas, pessoas.
"A quantidade de pó era impressionante", afirma a auditora fiscal Andréia Donin, coordenadora da operação. A filha de 13 anos do casal tem bronquite asmática e sofria com a poeira intensa - os outros filhos têm 16, 8, 7 e 4 anos.
A situação da saúde da família está sendo investigada por conta da exposição prolongada do produto.
"Toda hora você tinha que limpar a casa e ficar com pano no nariz porque era pó demais", afirma Marilene. "Eu tô com caroço no pescoço, perdendo a voz. Fui ao medico e ele disse que isso foi causado pela poeira. Tenho que ir pra Goiânia para operar, mas quem vai ficar com as crianças?"
O procurador do trabalho Tiago Cabral, que acompanhou a ação, diz que tem constatado uma piora nas condições oferecidas aos trabalhadores. Segundo ele, há patrões que acreditam que, para os trabalhadores, basta a replicação da miséria.
"Eles não conhecem seus direitos, são vítimas fáceis do trabalho escravo. O pai da família havia sido vítima de trabalho infantil. É a receita da superexploração. O empregador sabendo dessa situação colocou o trabalhador próximo de um local com extração mineral, aspergindo poeira sílica", afirma.
Marilene considera que a pior coisa foi ver o sofrimento dos filhos.
"Tenho dois filhos que nem sabem o que é uma televisão. Olhava para eles e chorava muito. No tempo da chuva, a gente tinha que ficar enrolado num canto porque a goteiragem era demais. Muita muriçoca, muito inseto. O fogão de lenha era dentro, tinha fumaça demais. Pó da firma [de mineração] e a fumaça do fogão... Sempre pedíamos uma casa melhor, e não faziam nada", afirma.
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Por Leonardo Sakamoto, em seu blog. Leia a íntegra do texto aqui.
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Um dos criadores do Dia da Consciência Negra, poeta é influência para novas gerações TÂNIA MEINERZ/GAZETA DE ROSÁRIO/DIVULGAÇÃO/JC |