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Guilherme Boulos, coordenador nacional do MTST, na Conferência Cidadã, em São Paulo (SP). (Foto: Mídia Ninja). |
"Não é um encontro óbvio, a realidade nos
uniu, o avanço do conservadorismo nos forçou a buscar alternativas novas"
disse Guilherme Boulos, coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores
Sem-Teto (MTST) e agora pré-candidato à Presidência da República pelo Psol, em
referência à chapa, que inclui Sonia Guajajara, coordenadora da Articulação dos
Povos Indígenas do Brasil (APIB), como vice. O ato de lançamento da candidatura
aconteceu neste sábado (3), na Casa das Caldeiras, capital paulista, sob o nome
de "Conferência Cidadã".
Com
a presença de integrantes de movimentos indígenas, sem-teto, LGBT e de diversas
personalidades do mundo político e da cultura, a atividade contou com análises
e diagnósticos sobre a crise que vive o país, bem como críticas contundentes ao
governo golpista de Michel Temer. Entre eles, Caetano Veloso, Maria Gadú e Frei
Betto, além de mensagens em vídeo, como foi o caso dos atores Wagner Moura e
Gregório Duvivier. "Esse nosso
espaço, nosso encontro de hoje é um retrato do que nós queremos para o Brasil.
Aqui tem trabalhadores, indígenas, sem-teto, negros e negras, LGBT,
intelectuais, professores, gente que resiste e que inspira", disse
Boulos.
O
dirigente dos sem-teto fez questão de defender o direito do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva de ser candidato nas eleições de 2018: "Uma condenação sem provas, injusta não pode
ser naturalizada, principalmente quando bandidos comprovados estão no Congresso
Nacional e no Palácio. Quero registrar aqui a minha sincera solidariedade ao Lula.
Diferenças políticas não podem significar conivência com a injustiça. Só quem
se ilude acredita que vai acabar no Lula. Isso pega toda a esquerda."
Durante
o ato, foi exibida uma mensagem do ex-presidente dirigida a Boulos: "Eu quero que você saiba que acho que você
vai ter sucesso, você merece todo meu respeito, você jamais vai me ver fazer
qualquer crítica a você. Sou muito grato pela solidariedade que você tem tido
comigo pessoalmente, e com o PT", disse Lula, convidando tanto Boulos,
como Manuela D'Ávila (pré-candidata à presidência pelo PCdoB) para participarem
de seus comícios eleitorais.
Boulos,
assim como ocorreu em diversas falas, criticou a intervenção militar decretada
por Temer: "É grave o avanço da
intolerância e do militarismo, que vai atingir o mesmo alvo de sempre, a
juventude negra das periferias. Essa intervenção que ocorre no Rio, eles dizem
ser em nome da ordem e da paz. Ora, ordem e paz pra nós é o respeito à
democracia e a vontade popular, é a garantia de direitos e o combate à
desigualdade. Essa não é definitivamente a ordem do Temer", criticou.
Em
uma fala prévia, o deputado estadual pelo Psol-RJ, Marcelo Freixo, disse que
uma das possíveis primeiras medidas que Boulos poderia tomar como presidente
seria "voltar atrás em todas medidas
golpista tomadas pelo Michel Temer. Vocês são uma candidatura anti-sistêmica".
Em resposta, o dirigente do MTST afirmou: "Temos que fazer plebiscito e referendo sobre todos os temas".
Guajajara
classificou a Conferência como um "momento
histórico e potente": "Eu
estou muito feliz porque com muita ousadia e coragem estamos aqui. Esse
encorajamento vem de cada um que ta junto, da forças das mulheres, do povos
indígenas, das negras e negros, das famílias das periferias, da juventude, das
crianças, de todos que acreditam num processo de reconstrução deste país",
afirmou.
"Há 518 anos vivemos sob intervenção, mas nós
resistimos. O Brasil não pode jamais negar a nossa presença, negar que somos os
povos originários. Limitam nossos territórios, negam nossos direitos, mas
estamos firmes e juntos. Fazemos nossa convocatória para estarmos juntos na
linha de frente", convocou a dirigente indígena e pré-candidata à
vice-Presidência.
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Sônia Guajajara, coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB). (Foto: Mídia Ninja). |
Frei Betto também classificou o evento como "uma noite histórica", mas ponderou que "para ser histórica, precisamos iniciar a partir de hoje uma longa e difícil caminhada. Eu não vim aqui apoiar uma candidatura, vim apoiar um novo projeto de Brasil".
Betto
falou da importância de pensar o processo de construção para além das eleições:
"Vamos começar um processo de
organização popular a partir de hoje? E não ficar esperando daqui a sete meses
dar meu voto a Sônia e ao Boulos? Precisamos sedimentar esse caminho brasileiro
de luta de uma profunda e radical transformação deste país. E só vamos
conseguir isso, se sairmos daqui com o compromisso de organizar algo no âmbito
de relações de cada um não só pra interferir nas eleições neste ano, mas
sobretudo pra nós conseguirmos criar um projeto de poder".
Perfis
Guilherme
Boulos é coordenador nacional do MTST - Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto.
Militou no movimento estudantil da União da Juventude Comunista, e se formou em
Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP).
Sônia
Guajajara é coordenadora da Articulação
dos Povos Indígenas do Brasil (APIB). Indígena formada em Letras e em
Enfermagem, especialista em Educação Especial pela Universidade Estadual do
Maranhão, fez parte da coordenação das organizações e articulações dos povos
indígenas no Maranhão (Coapima) e da Coordenação das Organizações Indígenas da
Amazônia Brasileira (Coiab). (Com
informações do Brasil de Fato).