Segundo informações do Congresso em Foco, juízes
federais vão cruzar os braços no próximo dia 15 em protesto contra a
possibilidade de extinção do auxílio-moradia para a categoria. A decisão foi
tomada pela Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) após consulta
entre os seus associados (veja a íntegra da nota abaixo). “A indignação contra o tratamento dispensado à Justiça Federal se
materializou”, disse o presidente da entidade, Roberto Veloso, ao anunciar
a paralisação.
De acordo com o site, a medida tem o apoio de 81% dos 1.300 magistrados federais que participaram da
consulta interna. Em comunicado, Veloso atribui a campanha contra o benefício a
um movimento de grupos atingidos pela Operação Lava Jato.
“Assim, a forma encontrada para punir a
Justiça Federal foi atacar a remuneração dos seus juízes. Primeiro e de forma
deliberada, quando não se aprovou a recomposição do subsídio, direito previsto
na Constituição Federal, cuja perda já atinge 40% do seu valor real; segundo,
quando foi acelerada a tramitação do projeto de alteração da lei de abuso de
autoridade, em total desvirtuamento das 10 medidas contra a corrupção, projeto
esse de iniciativa popular”, cita o juiz em nota.
Roberto
Veloso compara a possibilidade de extinção do benefício mesmo para o juiz que
mora em residência própria na cidade onde atua às medidas repressoras contra
magistrados adotadas na Itália após a Operação Mãos Limpas. Ele aponta outras
categorias que também recebem auxílio-moradia e questiona por que só os juízes
estão ameaçados.
“Porém, de maneira seletiva, somente a
magistratura é alvo de questionamento e de ataques injustos e levianos, mesmo
percebendo o benefício com base na lei e em uma decisão judicial legítima e
extensamente fundamentada. Os juízes federais não irão aceitar um tratamento
discriminatório”, afirma.
Benefícios
Desde
setembro de 2014, os juízes federais do país têm direito a receber um
auxílio-moradia de R$ 4.378. A determinação veio por meio de liminares
deferidas pelo ministro do STF Luiz Fux. Segundo a decisão, todos os
magistrados têm o direito de receber o benefício, exceto nos casos em que haja
uma residência oficial à disposição na localidade em que atuam. Isso vale até
mesmo para a cúpula do Judiciário. Mesmo com um salário mensal de R$ 32.075, um
dos mais altos da República, ministros de tribunais superiores também embolsam
o auxílio.
Devido
ao princípio da isonomia, outras carreiras jurídicas passaram a usufruir do
benefício, por exemplo, procuradores da República, promotores de Justiça e
juízes estaduais. Tudo isso tem um alto custo.
Um
cálculo feito pela ONG Contas Abertas aponta que, de setembro de 2014 até
dezembro do último ano, o auxílio-moradia custou à União e estados R$ 5,4
bilhões. Para chegar a esse montante, a ONG considerou que os benefícios se
destinam a um universo de cerca de 30 mil pessoas, entre 17 mil magistrados e
13 mil membros do Ministério Público.
Veja a íntegra da nota da Ajufe:
“Encerrada a consulta aos associados, que
integram a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), na data de ontem
(28/02), os juízes federais se manifestaram, por ampla maioria, compreendendo
81% de mais de 1.300 votantes, pela realização do movimento com paralisação no
próximo dia 15 de março. A indignação contra o tratamento dispensado à Justiça
Federal se materializou.
A operação Lava Jato vem mudando a
cultura brasileira em relação à corrupção, combatendo-a, sem limites, o que
está comprovado pela condenação de diversas autoridades nacionais que ocuparam
cargos expressivos, fato inédito, até então, na história da República. É bom
lembrar que várias pessoas poderosas estão atrás das grades.
Assim, a forma encontrada para punir
a Justiça Federal foi atacar a remuneração dos seus juízes. Primeiro e de forma
deliberada, quando não se aprovou a recomposição do subsídio, direito previsto
na Constituição Federal, cuja perda já atinge 40% do seu valor real; segundo,
quando foi acelerada a tramitação do projeto de alteração da lei de abuso de
autoridade, em total desvirtuamento das 10 medidas contra a corrupção, projeto
esse de iniciativa popular.
Essa perseguição à magistratura
federal é similar à que ocorreu depois da Operação Mãos Limpas, na Itália dos
anos de 1990, quando, para enfraquecer o combate à corrupção, várias medidas
foram aprovadas como punição aos juízes.
Chega-se, então, ao debate sobre o
auxílio-moradia, ajuda de custo devida à magistratura, conforme previsão na Lei
Orgânica da Magistratura Nacional há quase 40 anos.
Esse mesmo benefício é pago em
dinheiro ou através de concessão de moradia funcional a membros dos três
Poderes da República, agentes políticos, oficiais das Forças Armadas, oficiais
das Polícias Militares, servidores públicos, dentre tantas outras carreiras da
União, dos Estados e dos Municípios, tudo dentro da mais estrita normalidade e
sem nenhuma reclamação.
Porém, de maneira seletiva, somente a
magistratura é alvo de questionamento e de ataques injustos e levianos, mesmo
percebendo o benefício com base na lei e em uma decisão judicial legítima e
extensamente fundamentada.
Os juízes federais não irão aceitar
um tratamento discriminatório.
Brasília, 1º de março de 2018.
ROBERTO CARVALHO VELOSO
Presidente da Ajufe”
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Roberto Veloso: "A indignação contra o tratamento dispensado à Justiça Federal se materializou". (Foto: Augusto Dauster/ Ajufe). |