Passados
alguns dias da repercussão da entrevista – interpretadas como fala de
candidato, em “campanha eleitoral”
antecipada – de Luciano Huck, no palco do programa do Faustão no domingo 7, o
apresentador negou que irá se candidatar à Presidência da República em 2018.
Não foi uma negativa categórica por meio de nota oficial à imprensa – apenas um
comentário pelas redes sociais, mas sem efetivamente descartar sua candidatura.
Disse ainda que continuará atuando em movimentos cívicos para “oxigenar a política brasileira com novas
cabeças, novas ideias e, principalmente, novas práticas”.
Já
a TV Globo levou três dias para informar em nota oficial, que cumpre a
legislação eleitoral e que não apoia qualquer candidato nas eleições de 2018. A
afirmação só veio após parlamentares do PT entrarem com representação no
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra a emissora por abuso dos meios de
comunicação e de poder econômico.
Quando
questionada pela imprensa a emissora justificou que a participação de Luciano
Huck e Angélica no Domingão do Faustão havia sido gravada antes de o
apresentador afirmar que não concorreria à Presidência. Mas isso sem explicar
por qual razão a entrevista só foi ao ar agora, “fora do tempo”, e nem por que
o telespectador não foi avisado de que se tratava de uma gravação.
A
argumentação não convenceu. Negações como essa são como a fumaça que confirma o
fogo.
Se
ainda restava alguma dúvida de que a aparição de Huck no programa tinha
discurso de candidato, uma notinha de sexta-feira (12), da jornalista Daniela
Lima, da coluna Painel, da Folha de S.Paulo, deixou evidente a candidatura.
De
acordo com a jornalista, "informação de que a entrevista de Luciano Huck
ao “Domingão do Faustão” foi gravada
em 11 de novembro esbarra em um dado. Durante a conversa, Fausto Silva diz que
Huck 'deixou bem claro em comunicado enviado a todos os jornais que não seria
candidato' a presidente."
O
artigo em que o apresentador afirmou que não concorreria em 2018 foi publicado
nos jornais no dia 27 de novembro. Portanto, o marketing político da Globo, no
primeiro domingo do ano, foi quase dois meses depois de o apresentador anunciar
que não seria candidato.
Além
disso, a entrevista também ocorreu depois da divulgação de uma pesquisa Ipsos,
no dia 23 de novembro, na qual Huck aparecia com e melhor avaliação de imagem
junto ao eleitor.
Luciano
Huck nunca abandonou o sonho de ser presidente da República.
Mesmo cobrando ética, Luciano Huck construiu casa em área de preservação ambiental. (Foto: Raquel Cunha/ TV Globo). |
No
programa, o apresentador posou de bom moço, bom marido, o “novo”, o “não político”.
Em relação à ideologia, Huck afirmou não ser de direita – e nem de esquerda.
Não
é de hoje que o todo queridinho da Globo mostra pretensões políticas. Em 2007,
durante o governo do presidente Lula, o apresentador que hoje se diz
representar “o novo”, o “não político”, nem esquerda e nem
direita, se engajou ferozmente na campanha para retirar R$ 40 bilhões (valores
da época) por ano do orçamento do SUS, detonando a CPMF.
Fazendo
a vez do pato amarelo, Huck se apresentou como mestre de cerimônia “voluntário” para um show gratuito
promovido pela Fiesp – de Paulo Skaf – em São Paulo, contra a CPMF. Recheado de
atrações famosas, a imprensa anunciava que os organizadores esperavam atrair um
público de dois milhões de pessoas, mas só sete mil apareceram. Ao ser avisado
sobre o público pífio, Luciano Huck cancelou sua participação na última hora,
pouco antes de subir ao palco, alegando “problemas
de agenda”.
Mesmo
assim, a bancada demotucana (DEM e PSDB) no Senado, com ajuda do Psol,
conseguiu detonar a CPMF e o empresário Luciano Huck ficou um pouco mais rico,
ao manter em sua conta o dinheiro que pagava de CPMF e era usado para financiar
a saúde pública.
Voltando
ao programa do Faustão, ao discorrer sobre o atual cenário político, Huck falou
sobre ética com declarações como “pequenas
corrupções levam às grandes corrupções”.
Aparentemente,
o apresentador não deve ter lembrado – ou terá tentado se aproveitar da
tradicional "memória curta"
do brasileiro – que em 2003, teve sua pousada em Fernando de Noronha (PE)
interditada pelo Ibama, por ter sido construída em área de preservação
ambiental.
Pela
lei da época, só moradores que possuíam autorização de ocupação de solo
poderiam construir em Fernando de Noronha, declarada pela ONU Patrimônio
Natural da Humanidade.
Mas
isso não foi problema: Huck, deu um “jeitinho”
e a Pousada Maravilha foi construída pelo apresentador juntamente com os
empresários João Paulo Diniz, Pedro Paulo Diniz e Ed Sá, no terreno onde morou
o ex-chefe do Parque Nacional Marinho, José Gaudêncio Filho, o dono formal do
empreendimento. Em 2011, Huck e os sócios, venderam a pousada ao cientista
político filiado ao PSDB, Antonio Lavareda.
Luciano
Huck também falou no programa sobre combate à corrupção. Ao mesmo tempo cobrou
mais ética. “Os brasileiros estão
envergonhados da classe política”, disse. Isso tendo o ex-governador do Rio,
Sérgio Cabral (MDB), criado o Decreto 41.921, que ficou conhecido como “Lei Luciano Huck”, para alterar a
legislação sobre Áreas de Proteção Ambiental, e manter "protegida" uma mansão do
apresentador numa reserva ambiental de Angra dos Reis (RJ), construída sobre
rochas e um espelho d'água.
Faustão
bem que poderia fazer novo convite a Luciano Huck e abrir o "Arquivo Confidencial" dele. (Com informações do Blog da Helena)