Do
Brasil 247
Neste
Primeiro de Maio, a presidente Dilma, primeira mulher eleita presidente da
República, fez um discurso que ficará guardado como um importante registro
histórico de um dos momentos mais tristes da história do Brasil.
Ao
que tudo indica, no próximo 11 de maio, ela deve ser afastada do poder por um
Congresso corrupto, sem ter cometido crime de responsabilidade.
Mesmo
que seja esse o desfecho, ela fez um discurso histórico, em que merecem
destaque alguns pontos:
1)
o golpe fere não só a democracia, como direitos trabalhistas, que, em breve,
serão suprimidos.
2)
grande parte da crise econômica atual se deve à sabotagem de um Congresso,
liderado por Eduardo Cunha, que apostou no 'quanto pior, melhor', provocando
recessão e desemprego.
3)
a luta, agora, é mais ampla: em defesa não só da democracia, como das
conquistas sociais dos últimos anos.
4)
se a elite brasileira é capaz de tomar o poder à força, suprimindo direitos de
uma presidente legitimamente eleita, o que fará com o cidadão ou a cidadã
anônima?
Leia, abaixo, texto de Fernando Brito, editor do Tijolaço, e assista o discurso:
Se Dilma falasse sempre as verdades
como as disse hoje não haveria golpe
Por
Fernando Brito, editor do Tijolaço
Deu
gosto e desgosto ouvir o discurso de Dilma, hoje, no Vale do Anhangabaú.
Deu
gosto ver ali a mulher que já dividiu
comigo, quando ambos fomos do PDT, brizolistas, a fé em que o povo, quando pode
perceber claramente a verdade, não precisa que o guiem, sabe onde ir.
Gente
que não era só de esquerda – e nem de esquerda era, para muito “punho de renda”
arrogante – mas era antes apaixonada por seu povo.
Gente
que falava uma língua que o povo entender, que nessa língua não tinha papas e
que no que dizia tinha um lado, claro, límpido, transparente, evidente.
A
força deste discurso, o espírito que se apossa de nós quando somos intérpretes
da História é tão poderoso que até nossas próprias limitações oratórias
desaparecem, os gaguejos são escorraçados pela fluidez das ideias, as vacilações
se vão, tangidas pela certeza e pela convicção.
Não
precisou sequer ter Lula ao lado, para traduzi-la ao povão.
Bastou-se,
mergulhada no fervente borbulhar da história e, na linguagem campeira, meteu os
peitos na porteira e foi rompendo os que os, perdoem, cagões prudentes acham bom por de cerca nos
nossos próprios pensamentos.
Deu
gosto ver uma Dilma de coração valente, que entendeu que a única força com quem
um governante popular pode contar, mesmo na pior das tempestades, é aquela
parcela da população que, de tanto sofrer e perder ao longo de gerações,
tornou-se invulnerável ao sofisticado discurso do inimigo.
Os
tão badalados reajustes do Bolsa Família, quase serão usados como exemplo de
“farra fiscal” pelos canalhas – que farra, hein, de R$ 15! Pagam três dúzias de
ovos ou um quilo de músculo ou acém! – são uma miséria que só pode escandalizar
quem tem a barriga cheia e já estavam mais que previstos.
E
o que vão dizer do índice de 9% estes canalhas, que haviam proposto e aprovado
16,8% no Orçamento, forçando a Presidente a vetá-los?
E
se tudo isso me deu gosto, o que desgosto deu?
Deu
desgosto que tenha sido preciso sofrer tanto na mãos dos falsos, dos inimigos,
dos traidores, da gente que não pode nem quer falar assim ao povo brasileiro
para descobrir aquilo que já se deveria saber: que é no meio deste povo,
falando a ele de peito aberto, dizendo as verdades de forma crua e
compreensível que está a nossa força, está o que nos faz invencíveis.
O
lugar para onde vamos, quando estamos fracos, é o que sabemos que nos
fortalece. O meio do povo, a língua do povo, as dores do povo são nossa seiva,
o que não nos deixa secar, murchar, o que faz o nosso viço não ser fugaz como o
de flores num jarro, mas perene como num campo.
Não
costumo fazer isso, nem tenho procuração do além, mas sei que o velho Brizola,
depois do teu discurso, te daria uma abraço daqueles que quebrar costela.