Mostrando postagens com marcador machismo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador machismo. Mostrar todas as postagens

Lula reafirma espaço das mulheres e comunidades tradicionais em seu governo

 

Lula em encontro na Casa Palmeira de Babaçu Dada e Dijé, sede do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu no centro histórico de São Luís. (FOTO | Ricardo Stuckert).


O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reafirmou hoje (3) seu compromisso de recriar o Ministério das Mulheres, criar uma pasta assuntos indígenas e de pesca, atualmente no Ministério da Agricultura, e de retomar políticas voltadas à segurança alimentar que beneficiam pequenos produtores, extrativistas e pescadores artesanais. É o caso do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), extinto pelo governo de Jair Bolsonaro (PL) em meio ao retorno do Brasil ao Mapa da Fome.

Vamos recriar o Ministério das Mulheres, criar ministério para cuidar dos povos originários, para cuidar da pesca. Não tem sentido Ministério da Agricultura cuidar da pesca. Vamos também retomar as conferências nacionais e estreitar a participação popular, a democracia”, disse Lula.

O candidato à Presidência da República atendeu assim reivindicação de lideranças de quebradeiras de coco de babaçu, com quem se reuniu na manhã deste sábado na Casa Palmeira de Babaçu Dada e Dijé, sede do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), no centro histórico de São Luís.

Mulheres do Maranhão, Pará, Piauí e Tocantins, que começam a coletar e quebrar coco já aos cinco anos, expuseram a Lula os avanços que alcançaram a partir de seu governo. Entre eles o fomento a formação de cooperativas e abertura de minifábricas para o beneficiamento das amêndos, produzindo azeite, sabão, sabonetes e outros. Falaram da melhoria nas condições de vida, inclusive de entrada de filhos na universidade. E da volta à situação de fome durante o atual governo.

Lula aproveitou para cobrar mais respeito às mulheres

Além da recriação do Ministério das Mulheres, as quebradeiras querem medidas para conter a perseguição e criminalização por fazendeiros, que impedem a entrada das extrativistas. E leis que obrigem um mínimo de 60 palmeiras de babaçu por hectare de pastos e monocultivo de soja que avançam na região. Outro aspecto ambiental envolvido nas reivindicações, diretamente associado ao trabalho das quebradeiras, é a proibição das pulverizações aéreas de agrotóxicos, que contaminam os cocos e toda a roça dos agricultores.

Durante o encontro, Lula e Janja fizeram diversas perguntas sobre a lida para entender mais sobre as dificuldades enfrentadas pelas mulheres no dia a dia de um trabalho perigoso, que envolve uso de ferramentas de corte. E que na melhor das hipóteses, por ser executado no chão, causa dores em diversas partes do corpo.

Nosso governo não quer tirar nada de ninguém. Mas queremos que todos tenham o mínimo que é de direito. Nenhuma mulher tem de ser quebradeira de coco a vida inteira. Quem de ter oportunidade de outras coisas e vamos incentivar as cooperativas”, disse o ex-presidente.

Em nome das quebradeiras de coco, Lula aproveitou para valorizar todas as mulheres enquanto puxava a orelha dos homens, inclusive “progressistas de boteco”, que não dividem as tarefas domésticas.

Não há números atualizados sobre quebradeiras de coco. Dados de 2010 apontavam mais de 300 mil distribuídas pelo Maranhão, Para, Piauí e Tocantins.

_______

Com informações da RBA.


Coluna da Karla Alves: Verdade e justiça caminham juntas

 

(FOTO/ Reprodução).

Por Karla Alves*

Essa constatação (na foto) explica o que significa MACHISMO ESTRUTURAL. Significa que o homem é formatado para praticar o machismo sem reconhecer, pois existem mecanismos (na lei, na família, na escola, nas mídias, religião...) para forçar a naturalização dessas práticas, impedindo que elas sejam reconhecidas por quem pratica e submentendo as vítimas de tais práticas à violenta a aceitação.

Nunca um presidente foi tão vulgar com uma mulher. Espere o efeito bumerangue, por Carla Jiménez


O presidente Jair Bolsonaro, no Palácio da Alvorada, no último dia 4 de fevereiro.
(FOTO/ Adriano Machado/ Reuters).

Os covardes machistas podem fingir que não são covardes machistas, mas em algum momento eles se revelam. E não há momento mais oportuno para os atores públicos do Brasil mostrarem que não o são, longe de serem coniventes com a baixaria empreendida pelo presidente Jair Bolsonaro contra a repórter Patrícia Campos Mello, da Folha de S.Paulo, na manhã desta terça-feira. Num país em que 52% do eleitorado é feminino, deputados e senadores deveriam ficar alertas. 

Estudantes cearenses combatem machismo com literatura de cordel


Alunas da Escola Estadual de Educação Profissional Edson Queiroz. (FOTO/ Divulgação).

Estudantes do ensino médio de uma escola em Cascavel, município com 85 mil habitantes no interior do Ceará, descobriram uma forma criativa de colocar em pauta o feminismo e as várias formas de discriminação. Para isso, elas passaram a produzir literatura de cordel, típica da região, baseada nesses temas.

Bolsonaro ofende jornalistas: "Todo mundo gostaria de passar a tarde com um príncipe. Principalmente vocês, mulheres"


Presidente da República, Jair Bolsonaro fala com a imprensa na Chegada ao Hotel
Intercontinental Riade. (FOTO/José Dias/PR). 

"Todo mundo gostaria de passar a tarde com um príncipe. Principalmente vocês, mulheres, né?" O comentário foi feito na manhã desta terça-feira, 29, por Jair Bolsonaro a jornalistas, na saída do hotel onde está hospedado em Riade, capital da Arábia Saudita, para uma série de compromissos oficiais.

Vídeo - Bolsonaro diz que teve filha mulher por "fraquejada"


Imagem capturada do vídeo abaixo. 

Em novo dia de declarações polêmicas, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) disse que sua única filha mulher ocorreu após uma “fraquejada”. “Eu tenho cinco filhos. Foram quatro homens, aí no quinto eu dei uma fraquejada e veio uma mulher", disse.

O Povo - A declaração ocorreu durante palestra do deputado na sede do Clube Hebraica, uma associação cultural de pessoas da religião judaica, do Rio de Janeiro. O evento ocorreu após uma série de protestos de integrantes do grupo, que criticaram convite feito ao deputado pela diretoria do clube.

Na mesma palestra, o deputado também criticou a presença de refugiados no País e prometeu extinguir "todo tipo" de território indígena ou quilombola no País. “Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais. Mais de R$ 1 bilhão por ano é gasto com eles".

           

Ministro da Saúde culpa mães por obesidade infantil. “Hoje as mães não ficam em casa..”


Ricardo Barros, ministro da Saúde, relacionou o problema da obesidade infantil no Brasil ao fato de crianças “não terem a oportunidade de aprender a descascar alimentos” com suas mães.

Pragmatismo Político- Em sua fala, o ministro afirmou ainda que, como as mães não ficam em casa, crianças não têm oportunidade de acompanhá-las nas tarefas diárias, como ocorria no passado.

Hoje as mães não ficam em casa, e as crianças não têm oportunidade, como tinham antigamente, de acompanhar a mãe nas tarefas diárias de preparação dos alimentos. E vai ficando cada vez mais distante a capacidade de pegar um alimento natural e saber consumi-lo”, disse Barros.

Em nenhum momento o ministro faz referência à figura paterna. “É preciso descascar mais e desembalar menos.

A declaração de Barros ocorre uma semana depois da polêmica fala de Michel Temer no dia Internacional da Mulher, quando enalteceu o papel doméstico da mulher no cuidado com as crianças, com o marido, com o lar e com compras de supermercado.

Não é a primeira vez que Barros comete esse tipo de gafe. Em agosto, o ministro afirmou que homens vão menos ao médico porque trabalham mais. Na época, as declarações arrancaram críticas até de sua filha, Maria Victoria Barros. “Trabalhamos 5 horas a mais na semana que os homens”, reagiu a filha.

Ricardo Barros, ministro da saúde do governo Temer.



Homem ataca mulher durante 13ª Marcha da Consciência Negra: "Sou machista sim, vagabunda!"


Simpatizante do MBL ataca mulher da marcha da consciência negra. Imagem
capturada do vídeo abaixo.

A 13ª Marcha da Consciência Negra, realizada no último domingo (20) em São Paulo, percorreu a avenida Paulista e a rua da Consolação até chegar ao Teatro Municipal, no centro.

Para nós agora é um momento de nos organizarmos, para estar em luta porque a conjuntura não está favorável… E também estamos aqui para lutar contra o racismo e o genocídio da população negra”, disse uma manifestante ao final da marcha.

Publicado originalmente no Pragmatismo Político

Integrantes de movimentos sociais e de defesa dos direitos da comunidade negra estiveram representados na marcha.

Neste ano, o manifesto teve como tema principal Fora Temer e Nem um Direito a Menos. Uma das bandeiras dos participantes foi a não aprovação da proposta de emenda à Constituição (PEC) 55, que propõe o congelamento dos gastos públicos por 20 anos.

Se aprovada, a PEC atingirá principalmente os programas sociais voltados para a educação e a saúde.

Tensão

O Movimento Brasil Livre (MBL) convocou um ato para o mesmo horário e local da Marcha da Consciência Negra no domingo. Por esta razão, houve confusão quando integrantes da Marcha passaram diante do grupo liderado pelo menino Kim Kataguiri e pelo Vereador vernando Holiday (DEM).

Pessoas do movimento conservador vaiaram e insultaram participantes da marcha da Consciência Negra, principalmente os que estavam vestidos de vermelho.

Vem tirar foto do meu pau. Eu tô louco, sim! E sou machista, sim! Vagabunda”, gritou um homem para uma mulher que participava da marcha que ocorre todo ano naquele local (vídeo abaixo).

Ao Jornalistas Livres, uma integrante do movimento negro rebateu o ódio do MBL. “Eles não acham que aqui é lugar de negro. Quando eles viram a negritude aqui, vieram tomar espaço. Eles se esqueceram que a maior população do Brasil é negra”, disse Malvina Joana de Lima.

Confira o Vídeo

           

ONGs e Defensoria vão à Justiça contra apresentador Faustão por declaração machista



ONGs que integram a Rede Mulher e Mídia, série de entidades que defendem direitos das mulheres, enviaram à Rede Globo pedido de direito de resposta às declarações machistas do apresentador Fausto Silva no seu programa “Domingão do Faustão”. Para as entidades, Fausto Silva “corrobora para manutenção do machismo” quando diz que existe “mulher que gosta de homem que dá porrada”.
Publicado originalmente na Revista Fórum

As organizações apontam que o apresentador faz declarações ofensivas e que suas falas “atentam contra a dignidade da mulher, uma vez que reforçam estereótipos que há muito vêm sendo rechaçados pelo conjunto das mulheres brasileiras”. Além disso, as entidades explicam que, uma vez que a rede Globo dispõe de concessão pública, “deve manter alguns compromissos com a ética e a dignidade humana”.

A Defensoria Pública do Estado de São Paulo caminha em direção similar, para o Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher da entidade, Fausto Silva vai contra a Constituição Federal ao atentar contra o fim das desigualdades e convenções de direito internacional das quais o Brasil é signatário e ratifica.

Em nota, o órgão explica que “Nenhuma mulher gosta de apanhar. Muitas mulheres não sabem como buscar ajuda numa situação de violência, não recebem apoio da família ou da sociedade, inclusive com receio de ser julgada, como fez o apresentador”. A defensoria pede, em oficio enviado a emissora, que a Globo abra o programa para o debate com especialistas e promova uma campanha pelo fim da violência contra mulher.

Em resposta, a Rede Globo explica que não havia recebido o pedido de direito de resposta até a noite da última quarta-feira (9). Em nota, a Globo afirma que “tem tradição de ser um veículo de comunicação que sempre defendeu os direitos da mulher em campanhas de conscientização, no seu conteúdo jornalístico e de entretenimento e em ações de responsabilidade social veiculadas em suas obras de dramaturgia e por apoio a projetos de entidades civis”, e conclui:


Temáticas que envolvem as mulheres, como equidade de gênero, violência doméstica e saúde da mulher, sempre foram discutidas pelas novelas da Globo ao longo dos anos —dados de 2008 a 2015 mostram que 2.130 cenas abordaram o assunto, ajudando a desconstruir estereótipos e divisões de gênero. Programas de variedades também repercutem as tramas e os principais fatos do país, colaborando para ampliar as reflexões”.

Apresentador Faustão, da Rede Globo. Foto: Alef L Reis.

10 anos da Lei Maria da Penha. Comemorações e preocupações em um cenário onde o Machismo mata


A delegada Camila Delcaro Fernandes conversava com a reportagem quando foi interrompida por uma funcionária da delegacia, localizada na zona leste de São Paulo. Ela informava que, na sala ao lado, havia uma mulher aos prantos.
Publicado originalmente no Ceert

Maria Lúcia, uma dona de casa de 50 anos, estava desesperada porque, um dia antes, tinha ido ao Fórum e, sem entender direito, assinara um documento em que se comprometia a retirar a medida protetiva que mantém seu ex-companheiro violento longe dela. Em troca, segundo o acordo, ele voltaria a incluir o filho do casal no convênio médico que recebe da empresa, do qual o menino, com problemas de saúde, havia sido excluído. Só entendeu direito o documento quando já estava no ônibus a caminho de casa e o lia com calma.

- Se isso acontecer, ele vai me matar dentro da minha própria casa!, soluçava ela.

A reportagem é de Talita Bedinelli, publicada por El País, 07-08-2016.

Pouco mais de 16 quilômetros dali, no centro de São Paulo, sua xará Maria Márcia, uma técnica de enfermagem de 46 anos, deixava horas antes a 1ª Delegacia de Defesa da Mulher, após registrar mais uma queixa contra o companheiro. Acompanhada da filha adolescente, ela explicava que, dessa vez, o marido levou os habituais xingamentos de "puta" e "vadia" para um outro nível: agarrou seu pescoço e tentou sufocá-la. Dali, ela seguiria ao Instituto Médico Legal para atestar as marcas da agressão em seu corpo. Esperava assim que, desta vez, o juiz considerasse a violência física algo grave o suficiente para determinar a medida protetiva e manter o homem longe de sua casa.

- Da última vez que prestei queixa, por causa dos xingamentos, o juiz achou que não era o caso. Falei: o que precisa? Que ele me quebre toda para que se tome alguma providência?

Há dez anos, o 7 de agosto de 2006, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionava uma lei, inspirada em outra Maria, a da Penha, para proteger mulheres como as Marias com as quais a reportagem conversou na última sexta-feira em delegacias especializadas de São Paulo. No Brasil, o quinto país onde mais se matam mulheres no mundo -mais do que na Síria, que está em guerra e onde atua o Estado Islâmico -ainda morrem mais de 4.000 mulheres ao ano, um número que só aumenta, apesar da lei.

A primeira década da Lei Maria da Penha é de comemoração, avaliam as feministas. Mas, em um país machista que tem ganhado contornos mais conservadores a cada ano, também é preciso se preocupar, apontam elas. Dentre os aspectos positivos, destaca-se o fato de que foram criados novos atributos para a polícia e para a Justiça, como juizados especiais, e também a definição de que órgãos de diversas esferas tenham que se articular para criar ações e dar assistência às mulheres em situação de violência doméstica. A mudança na forma como as medidas protetivas passaram a ser dadas às mulheres é uma das vitórias, afirm a a delegada Fernandes. Antes, era necessário que um advogado as pedisse. Agora, tudo é feito diretamente pela mulher, na delegacia, e dada pelo juiz em um prazo de até 96 horas.

Esse aspecto, entretanto, está, no momento, no centro de uma polêmica. Um Projeto de Lei que tramita no Congresso quer que as medidas protetivas sejam dadas pelo próprio delegado de polícia, sem que ela seja autorizada antes pelo juiz, que deve confirmá-la em até 24 horas. Para os defensores da mudança, isso vai acelerar o processo para menos das 96 horas previstas. Para os críticos, é um risco alterar a lei para dar mais atribuições às delegacias, que atualmente já são sobrecarregadas e, muitas vezes, não prestam o serviço de acolhimento adequado. "Muitas delegacias fazem um bom trabalho, mas a maioria delas acaba mandando a pessoa para casa, coloca panos quentes na situação, pois acha que há crimes mais importantes para cuidar", afirma Leila Linhares, advogada e coordenadora da Cepia, uma organização que participou da elaboração da lei, há dez anos. "Um dos avanços da lei foi, justamente, fazer com que a mulher tivesse um melhor acesso ao judiciário", ressalta ela.

A falta de delegacias especializadas em número suficiente também é apontada por organizações feministas como uma falha na aplicação da lei. Em um país com 5.570 municípios, existem 502 delegacias de atendimento à mulher, a maioria concentrada nos grandes centros urbanos e com um horário de funcionamento pouco acessível -até as 18h e apenas nos dias de semana. São Paulo, por exemplo, apenas neste mês terá uma delegacia do tipo 24 horas e que abrirá aos finais de semana. Em tese, o Boletim de Ocorrência pode ser feito em qualquer delegacia, mas, na prática, isso nem sempre é possível. Maria Lúcia, que chorava na delegacia, foi ameaçada com um pedaço de pau pelo ex-marido na noite de um sábado. No domingo, foi ao distrito policial do bairro prestar queixa e acabou sendo orientada pelo delegado a procurar, no dia seguinte, uma delegacia especializada, pois seria "mais bem atendida", conta ela.


Melhorar a articulação entre os diversos setores que atendem a mulher vítima de violência também é uma necessidade, na opinião de organizações que trabalham com o assunto. Além disso, se espera que, nos próximos anos, o país invista mais em uma parte da legislação que foi mais esquecida: a prevenção à violência. "A lei tem sido aplicada mais na ótica do depois da violência, com ênfase na delegacia e no Judiciário", aponta Linhares. A delegada Fernades concorda. "Há um círculo da violência que a gente não consegue romper. A vítima, por dó companheiro ou por necessidade, acaba voltando. É preciso investir mais nessa parte psicológica, de empoderar a mulher e fortalecer a autoestima dela, desde a escola. É preciso ensinar desde cedo que ela precisa ser independente e não tem que aguentar um bêbado que bate nela dentro de casa."




“Mulheres de verdade” não querem ser empoderadas, diz deputado em discurso




Depois de muita discussão, o plenário da Câmara Federal aprovou no final da noite de ontem (27), por 221 votos a favor, 167 contra e uma abstenção, a criação de duas novas comissões técnicas permanentes na Casa: Defesa dos Direitos da Mulher e de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa.


Entre os que se colocaram contra o início das novas comissões, o deputado Flavinho (PSB/SP) fez um discurso que chamou a atenção pelo tom preconceituoso. “As mulheres que estão lá fora, que não são feministas, como muitas aqui, a mulher de verdade que está lá fora ralando para sobreviver não quer empoderamento. Ela quer ser amada. Ela quer ser cuidada”, afirmou sob protestos das deputadas presentes.

Flavinho ainda disse às parlamentares que elas não representam as brasileiras. “E não venham me dizer que nós, homens, não entendemos de mulher. Entendemos, sim. É que as senhoras, muitas vezes, não entendem o que é ser amadas e acham que essas mulheres não querem ser amadas como as senhoras. Respeitem as mulheres do Brasil que querem ser mães, que querem ser amadas”, enfatizou.

Assista à fala do deputado a partir de 1:47.

                           

“...Qual teu problema?”, diz aluna Kézia em resposta a comentários machistas durante desfile


O município de Nova Olinda, na região do cariri cearense, promoveu na tarde desta quinta-feira, 14 de abril, ações educativas e culturais visando comemorar os seus 59 (cinquenta e nove) anos de emancipação política.

Na programação a participação das escolas de ensino infantil, fundamental e médio foi atração à parte e, como tal, permitiu a divulgação de projetos desenvolvidos em seus estabelecimentos. Porém, um fato estarrecedor foi exposto pela aluna Kézia Adjane, matriculada no curso técnico de Redes de Computadores (2º ano) na Escola Estadual de Educação Profissional Wellington Belém de Figueiredo.

Dentre os vários projetos que a escola expôs nos desfile estava o “Humanizando” idealizado e sustentado pelos próprios alunos com o apoio de professores que, tem como um dos objetivos denunciar a violência física e psicológica pelo qual passa as mulheres, além de promover o empoderamento destas. 

Kézia, Vivian e Emanuelly - da esquerda para a direita durante desfile em alusão aos 59 anos de emancipação política do município de Nova Olinda. Foto: Prof. Clodovânio.
Junto com Viviam Matos e Emanuelly Alves, alunas da mesma instituição de ensino, elas ostentavam placas que iam de encontro com os objetivos do projeto. “Denuncie”, “Humanize” e “Não se Omita” expuseram elas. Kézia não escondeu a alegria de ter participado da ação da escola, mas foi taxativa ao demonstrar o desgosto por uma sociedade arraigada em preconceitos e que infelizmente ainda não saiu da idade média revelando comentários machistas e homofóbicos. Segundo ela, sem revelar nomes, os comentários deram-se durante o desfile. A discente descreveu alguns: ‘mulher é pra apanhar mesmo’; ‘sai daí viado’ (retirado do jeito que estava na rede social), ‘vem se omitir aqui em casa’.. Com todo o rigor ideológico e a criticidade que ela tem respondeu à altura – “qual teu problema?”, disse. “... fiz questão de virar essa plaquinha da foto especialmente pra você e dizer o que eu queria...”, complementou.

Com muito zelo e propriedade ela afirmou “O que mais eu poderia sentir por uma pessoa que precisa tentar (só tentar mesmo, porque não conseguiu) humilhar uma mulher para "reforçar sua masculinidade”? Passar bem e muito amor pra ti”.

Confira a íntegra da nota de Kézia Adjane:

Tô cansada, com sono, mas não poderia deixar de postar isso. O desfile de 14 de abril foi incrível, amei representar a violência contra a mulher. Mas não vou mentir que alguns comentários que ouvi durante o desfile me deixaram com nojo; "mulher é pra apanhar mesmo"," sai daí viado", "vem se omitir aqui em casa"...se você que disse algo assim está lendo isso...qual teu problema? Não vou responder aqui pois já disse o que eu tinha para dizer no desfile mesmo, fiz questão de virar essa plaquinha da foto especialmente pra você e dizer o que eu queria. Só espero que esse seu pensamento um dia mude, tenho muito dó de você, mesmo! O que mais eu poderia sentir por uma pessoa que precisa tentar (só tentar mesmo, porque não conseguiu) humilhar uma mulher para "reforçar sua masculinidade”? Passar bem e muito amor pra ti

A relação entre o preconceito e o preconceituoso


Muitos se julgam espertos suficientemente para manter preconceitos e achar que ninguém percebe. Alguns têm consciência de suas cismas mentais. Outros chegam a sentir orgulho. Mas isto desafia reflexões.

Toda pessoa preconceituosa é um moralista. A relação é de promiscuidade mental. O preconceituoso reprova, inadmite e exclui o outro apenas pelo que este outro é. Nietzsche já desmontava esse farisaísmo social. ‘Nada é mais raro entre moralistas e santos do que a retidão’, ensinava o filósofo na obra Crepúsculo dos ídolos, número 42.

O preconceito não é algo que se ‘quer’ apenas de uma forma estigmatizada ou feia. Também não é uma ‘escolha’ que a parcela ‘cult’ ou ‘entrei-numa’ da sociedade fez no sentido de começar a achar ruim certo comportamento. Aliás, esses ‘yuppies’ da sociedade, os ‘metro-mentais’ com seus ternos pretinhos de calça fusô não produzem nada muito admirável.

O preconceito pode ter duas causas: atraso ou provincianismo. Mas uma coisa é certa, é uma manifestação de ignorância. No sentido ruim. Está na contramão do progresso social como um todo, da natural evolução dos povos e dos novos direitos. Historicamente sempre foi assim.

Quem acha bonito cultivar preconceitos deve refletir que passa para o mundo a imagem do ‘fariseu’ de Nietzsche. Ou a imagem do famoso ‘imbecil’ de Bertold Brecht, no poema ‘O analfabeto político’.

O capiau ou matuto da roça tem seus preconceitos pacatos. Talvez mais defensivamente, por ‘medo’ da cidade grande e sua gente. Mas certamente o preconceito mais danoso seja o do ‘doutor’ referido por Marilena Chaui na obra Cultura e democracia, p. 355. Ou de sua esposa, a lourinha com cabelo autoritariamente liso e mente ultrarreacionária sugerida por Chaui no espetacular vídeo-aula sobre a ‘classe média’, no Youtube.

Certa elite capitalista, deslumbrada com o poder financeiro, desperta para a ideia do ‘pensar’. Como se esta tarefa humana fosse simples e fácil. Aí talvez esteja uma das raízes do preconceito como se conhece nas sociedades urbanas e tecnológicas. Valores, juízos, educações, relações e visões de mundo são ‘teorizados’ por qualquer um desses aí. De um esquizofrênico cabo nazista chamado Hitler e sua horda de energúmenos, até um nouveau riche do petróleo ou da soja qualquer. ‘Mesmo’ que bilionário.

Racismo, sexismo, machismo, discriminações ou ódios étnicos, rácicos e religiosos, tão comuns na sociedade brasileira, ainda que alguns bem disfarçados, são exemplos de preconceitos danosos. Também o tal do ‘bom gosto’ tão bem referido por Adriana Calcanhoto na música ‘Senhas’, é uma forma perigosa de intolerância disfarçada de ‘chique’.

O fato é que o preconceito ficou bastante estigmatizado. Ninguém vai querer assumir uma posição discriminatória. Todo mundo jurará não ser preconceituoso, apenas ter um ‘modo próprio’ de ver a questão. Daí, uns invocarão liberdade de expressão; liberdade de pensamento; liberdade de crença filosófica ou religiosa; e mesmo a não-discriminação para exercer seu ‘modo de pensar’. Ou seja, querem que o preconceito seja um direito.

Como não há um menu universal de o que é ser preconceituoso, ficam noções gerais e principiológicas. Na educação, nas sociedades e nos sistemas jurídicos. A Constituição da República, por exemplo, no artigo 5o, inciso XLI, é taxativa: ‘A lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais.’

Nos 78 incisos que compõem o citado artigo constitucional, que garantem a plena liberdade da pessoa, está um indicativo seguro de que nada que ‘discrimine’ relativamente àquele rol será aceito. Ou seja, reduza, diminua, impeça a pessoa de ser o que ela queira ser, livremente. Desde que este ‘livremente’ não seja ser livremente preconceituoso.

A defesa do preconceito costuma invocar uma ou outra ‘lógica’. O problema é que como a lógica não se interessa com a verdade ou falsidade das premissas, mas apenas com sua relação, dá-se uma aparência de perfeição. Mas no caso do preconceito, saber se o conteúdo é bom ou podre faz toda a diferença.

Políticos brasileiros ultraconservadores, reacionários ou fundamentalistas, por exemplo, têm se insurgido contra a união gay. Este é apenas um exemplo. Alegam, os políticos, que não podem ser ‘discriminados’. Querem exercer a intolerância com liberdade. O problema é saber se, por exemplo, alguém tem direito a ser nazista, alegando que não pode ser discriminado. O ‘conteúdo’ nazista ofende a história e o mundo. Houve uma coesão mundial em torno do tema. Assim é com outros tantos temas.

O direito comparado, a história, a sociologia dos sistemas evoluídos, o cinema e as artes são um ótimo referencial para se identificar o rumo que determinadas questões vêm tendo no mundo. Se uma determinada questão vem sendo paulatinamente aceita ou proibida.

Qualquer pessoa que queira ‘calibrar’ o próprio pensamento, sua visão de mundo e suas ideias, se tomar por base um menu de referências assim terá uma ótima ferramenta. Poderá melhorar muito os próprios conceitos.

Mas uma coisa é certa. Quando se começa a ouvir, maciçamente, que determinada questão é preconceituosa, pode-se estar diante de um poderoso indicativo. Não é o meu umbigo que diz o que é ou não é preconceito. Nem o seu. É o mundo. E ele precisa de mais tolerância, afeto e amor. Não apenas nominalmente, como bandeira política. Mas de verdade.



A análise é de Jean Menezes de Aguiar, do Observatório Geral