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Fundo Brasil anuncia investimento de R$ 1 milhão para enfrentamento ao racismo

 

(FOTO | Mídia Ninja).


O Fundo Brasil de Direitos Humanos anunciou a doação de R$ 1.25 milhão para 25 organizações que atuam no combate ao racismo em todo o país. As inscrições vão acontecer por meio de edital até o dia 25 de março.

Comissão do senado aprova inclusão do combate ao racismo no currículo escolar

 

(FOTO |Reprodução |Alma Preta).

A Comissão de Educação e Cultura (CE) do Senado aprovou um projeto de lei que obriga os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio a abordarem o combate ao racismo. O Projeto de Lei 288/2022, do senador Randolfe Rodrigues (REDE-AP), recebeu relatório favorável da senadora Professora Dorinha Seabra (União-TO).

“Vamos para o combate”, diz vereadora ao inaugurar Comissão Especial de Combate ao Racismo

 

Na ordem: Iya Wanda Araújo, vereadora Monica Cunha e vereadora Thaís Ferreira durante a inauguração da Comissão /Foto: Divulgação

A Câmara Municipal do Rio de Janeiro inaugurou a Comissão Especial de Combate ao Racismo em uma atividade realizada no Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (MUHCAB) presidida pela vereadora Monica Cunha (PSOL) e composta pelos vereadores Thaís Ferreira (Psol) e Édson Santos (PT). O evento de lançamento foi na última sexta-feira (05).

A atividade inaugural foi realizada com a presença de personalidades que compuseram a mesa: a vereadora Thaís Ferreira, o ativista Lucas Batal do Movimento Negro Unificado (MNU), a jornalista, historiadora e diretora-geral do Arquivo Nacional, Ana Flávia Magalhães, a defensora pública e membro do Núcleo Contra a Desigualdade Racial (Nucora) Danielle da Silva e a Iya Wanda Araújo.

Durante o evento que inaugurou a primeira comissão com esse viés no país, a vereadora rechaçou o status de pioneirismo, mas enfatizou a importância da comissão. “ O que nós estamos falando nesse Rio de Janeiro é que nós vamos para o combate. Não aceitamos menos! Queremos o fim do racismo”, falou no discurso de abertura.

Em seguida a vereadora Thais Ferreira falou sobre a força coletiva. “A nossa comunidade cuida junto, que ampara junto, que faz crescer e se desenvolver junto. Então não poderia ser diferente quando a Monica propôs uma Comissão Especial de Combate ao Racismo, estarmos nós parlamentares negros e negras com suas diferenças que se somam, porque sozinho não tem como fazer”.

Já Ana Flávia Magalhães destacou o poder de resistência do povo negro diante as violências produzidas pelo sistema. “O racismo é perverso, ele organiza essa sociedade, mas até hoje ele não foi capaz de nos destruir. Somos maioria populacional desse país, e isso está inscrito na nossa história como nação, como sociedade”, diz a historiadora, que afirma que defender a comissão é uma forma de torná-la permanente.

A última integrante da mesa a discursar foi a Iya Wanda Araújo, que ressaltou a importância da inauguração da comissão ser feita no MUHCAB. “Esse é um espaço sagrado, um espaço de luta e essa comissão nascer aqui oficialmente, significa vida longa”, disse a Yalorixá.

Também estiveram presentes alguns apoiadores da comissão, como o deputado federal Pastor Henrique Vieira (PSOL), a vereadora Monica Benicio (PSOL), a deputada estadual Dani Monteiro (PSOL), a vereadora de Niterói Benny Briolly (PSOL) e o deputado estadual professor Josemar (PSOL), que disseram algumas palavras durante a audiência pública.

Nós sabemos que o racismo é um golpe fatal em nossa frágil democracia, e que nós precisamos em todas as esferas, sair da civilizatória. Pois enquanto o nosso corpo for alvo da violência, da violação e da produção permanente da morte, nós não podemos nos silenciar”, disse o deputado federal Pastor Henrique Vieira.

Além dos parlamentares, as mães de jovens mortos pela violência do município também estiveram presentes. A vereadora Monica Cunha, que também perdeu seu filho de forma violenta, levou alguns familiares das vítimas, que na maior parte são negros e moradores de favela, para não deixar que essas fatalidades caiam no esquecimento, e mostrar o quão importante é o trabalho que será feito pela comissão.

A gente precisa seguir firme nessa luta para que outras mães possam ter o direito assegurado de conviver com seus filhos. Eu sonho e luto por um dia em que as mulheres pretas, pobres e moradoras de favelas vão poder ter o direito de conviver com os seus filhos, ter o direito de serem enterradas pelos seus filhos, e não o contrário”, disse Ana Paula Oliveira, mãe do Johnatha de Oliveira Lima, um jovem de 19 anos que foi assassinado com um tiro nas costas pela polícia.

Dentre os familiares que participaram do evento, alguns perderam seus parentes na  Chacina do Jacarezinho, que completa dois anos neste sábado (06), uma das maiores da história do Rio de Janeiro, que deixou 28 mortos.

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Com informações do Notícia Preta.

Racismo e o desafio de combatê-lo

 

Movimento Negro em passeata. (FOTO/ Reprodução/ Humanistas).

Apesar do avanço da tecnologia, que nos traz uma gama de conhecimentos sobre o certo e errado, e de a Lei Caó (lei 7.716/89), que combate o racismo no Brasil, ter completado 32 anos no último dia 5 de janeiro, vivemos um retrocesso na questão racial. As atitudes criminosas provêm desde o meio virtual (internet e redes sociais) ao pessoal, em que os intolerantes se manifestam sem se importar com os valores do ser humano.

Vasco da Gama se solidariza com Gerson, do Flamengo, vítima de racismo

 

Gerson, do Flamengo, em entrevista. (FOTO/ Reprodução).

Por Nicolau Neto, editor-chefe

O Clube de Regatas Vasco da Gama publicou nota em suas redes socais em que se solidariza com o meio campista Gerson, do Flamengo, que relatou ter sofrido racismo durante o jogo contra o Bahia neste último domingo, 20, pelo Campeonato Brasileiro.

Projeto “Conhecer, Acolher e Semear” que combate racismo em escolas recebe prêmio


O projeto foi selecionado entre 400 inscritos e um dos 10 contemplados. (FOTO/ Reprodução/ Notícia Preta).

O projeto Conhecer, Acolher e Semear foi selecionado para o prêmio Educar para Transformar do Instituto MRV e irá receber R$ 160 mil para o desenvolvimento do projeto, que é uma iniciativa do Instituto Mulheres Negras Enedina Alves Marques, de Maringá (PR), e tem como objetivo capacitar professores da Escola Estadual Unidade Polo, no Jardim Alvorada, para temas como gênero e racismo.

“Não contrato negros”. Em rede social, Presidente da Bayer Brasil denuncia caso de racismo durante processo de seleção


Foto: Google Images.
Racismo no mercado de trabalho não é novidade para ninguém. Agora um homem branco poderoso denunciando e levando seus seguidores a refletirem sobre como muitos profissionais negros, altamente competentes e gabaritados, são descartados durante processo seletivo só por pela cor da pele, aí já é algo raro, porém necessário. E foi isso que presidente da Bayer aqui no Brasil, Theo Van Der Loo fez em seu perfil no Linkedin, neste último domingo, 26 de março.

Mundo Negro - “NÃO ENTREVISTO NEGROS” Ontem, dia 24 de Março, ouvi uma história inaceitável e revoltante. Um conhecido meu, afro-descendente, com uma excelente formação e currículo, foi fazer uma entrevista. Quando o entrevistador viu sua origem étnica disse à pessoa de RH que ele não sabia deste detalhe e que não entrevistava negros! Eu disse ao meu amigo para fazer uma denúncia. Aí outra surpresa! A resposta: “Pensei, mas achei melhor não fazer, pois posso queimar minha imagem. Sou de familia simples e humilde custou muito para chegar onde cheguei”.


Veja a postagem abaixo


Loo também se mostrou muito perplexo com a atitude do amigo em não expor o ocorrido, o que é muito compreensível. Apesar de soar cômodo, o covarde (isso não foi sugerido no post), às vezes escolher se calar para não ser descartado em outros lugares é uma das decisões mais penosas, sobretudo para quem tem formação e experiência. Não é engolir sapo. É estratégico. E é sofrido.

Racismo é crime, mas é também é uma violência. Cada vítima reage de uma forma, mas há casos de pessoas que mesmo cientes dos seus direitos, sabem que também, são o lado mais vulnerável e podem comprometer sua carreira de forma irrecuperável, até porque a denúncia seria um caso de polícia.

Há poucos negros em cargos de liderança que possam levantar essa bandeira no sentido de mostrar que denunciar o racismo no meio corporativo e nos processos seletivos, especificamente, não é uma sujeira que deve ser jogada debaixo do tapete. Isso não pode ser uma luta solitária de um candidato discriminado, nem do único executivo negro da empresa. Também não é uma causa somente negra.

Por isso atitudes como Van Der Loo são preciosas. Líderes brancos não serão demitidos por denunciar racismo, machismo, ou qualquer tipo de afronta à lei e aos direitos humanos. As pessoas param para ouvir, repercutem e é assim que as coisas mudam.

Acredito na união de forças para avanços mais amplos e efetivos, homens e mulheres, negros e brancos. Afinal de conta se nós não criamos o problema, porque eliminar o racismo é tarefa só nossa?

Símbolo de combate ao racismo, escola quer levar nome da escritora Carolina Maria de Jesus


O nome de Carolina Maria de Jesus batizará a EMEF Infante Dom Henrique, próxima de onde a autora viveu.
Foto: Reinaldo Canato/ Uol.

"Os visinhos de alvenaria olha os favelados com repugnancia. Percebo seus olhares de odio porque êles não quer a favela aqui. Que a favela deturpou o bairro. Que tem nojo da pobrêza. Esquecem êles que na morte todos ficam pobres."

Mantidas em sua grafia original, exatamente como foram publicadas em 1960, estas linhas foram redigidas por uma das mais importantes escritoras brasileiras do século passado, Carolina Maria de Jesus (1914-1977).
Do Uol

No livro "Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada", ela narra, a partir de sua própria experiência de vida, as agruras de uma comunidade miserável às margens do rio Tietê. O bairro ao qual se refere no trecho é o Canindé, na região central de São Paulo, onde ficava o barraco de madeira que dividia com os filhos. Quase 60 anos depois, a vizinhança já não lança olhares de ódio para a favela, demolida às pressas após a enorme repercussão da obra. Agora, ao contrário, a área prepara-se para, enfim, homenagear a sua ilustre ex-moradora.

O nome de Carolina batizará a EMEF (Escola Municipal de Ensino Fundamental) Infante Dom Henrique, próxima de onde a autora viveu. A alteração, decidida num referendo entre alunos, professores, funcionários e pais de estudantes, traz também a carga simbólica de resgatar a memória de uma mulher negra migrante num colégio público frequentado por muitos estrangeiros --em especial, bolivianos e angolanos.

Escola tem mural com discussões sobre o racismo. Foto: Reinaldo Canato/ Uol.

A novidade se insere num quadro de atividades promovidas pelos gestores da escola para combater práticas racistas e xenofóbicas entre os alunos. O diretor da unidade, Cláudio Marques da Silva Neto, conta que, quando assumiu o cargo, em 2011, eram frequentes as ofensas dessa natureza, e as crianças bolivianas chegavam ao ponto de andar separadas das demais, para evitar assédios.

Desde então, com projetos voltados à valorização da diversidade cultural, étnica e racial, a situação melhorou substancialmente. Recentemente, a Unesco, braço da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, convidou a unidade para integrar o seu programa mundial de escolas associadas.

"Foi a partir da discussão do tema das identidades que se pensou em levar essa questão às últimas consequências, inclusive com o nome da escola, já que, para nós e para os pais, como expresso na votação, o nome Infante Dom Henrique [nobre português do século 15] não diz muito sobre nós", explica Silva.

A escritora Carolina Maria de Jesus, autora de 'Quarto de Despejo'. Acervo UH/Folhapress.

Entre fevereiro e novembro, diversas reuniões foram realizadas e a comunidade escolar pôde indicar nomes para a substituição. As sugestões foram, além de Carolina Maria de Jesus, o escritor Ariano Suassuna, a pintora mexicana Frida Kahlo e a escritora Patrícia Galvão. Com 432 eleitores contabilizados, uma votação final resultou na escolha de Carolina, preferida por 42% dos votantes.

Inaugurada em 1960, a escola tem cerca de 530 alunos -- cerca de um quinto é de estrangeiros. O processo agora resultará num projeto de lei que será encaminhado por um vereador na Câmara Municipal, onde deve ser aprovado, para depois seguir para a sanção do prefeito.

Não é a primeira vez que uma escola pública paulistana decide trocar de nome para enfatizar sua luta por uma sociedade mais igualitária. Em junho passado, a Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) Guia Lopes, no Limão, na zona norte, conseguiu modificar sua denominação para homenagear o ex-presidente sul-africano Nelson Mandela (1918-2013), expoente da luta contra o apartheid que vigorou em seu país até a década de 1990. Há alguns anos, os muros e portões da unidade, que desenvolve trabalhos para estimular a diversidade, foram pichados com inscrições racistas.

Voz da Comunidade

Cláudio Marques da Silva Neto, diretor da escola municipal. Foto: Reinaldo Canato/ Uol.

A vida e a obra da homenageada Carolina Maria de Jesus entrarão no dia a dia dos estudantes, pais e professores. "Assim que o projeto de lei for votado na Câmara de Vereadores, nós faremos a reinauguração da escola com uma mesa de debate que possivelmente contará com a filha da escritora [Vera Eunice, que também é professora pública]", afirma Silva, acrescentando que os livros de Carolina farão parte do currículo da unidade em 2017.

Para Cesar Luís Sampaio, professor de informática educativa da escola, a troca reforçará os laços de identidade entre estudantes, funcionários e vizinhança. "Simbolicamente vai dar um novo impulso às discussões raciais e sociais em nossa escola. É dar protagonismo para nossa gente, nossa comunidade, nossa realidade social. É dar luz para a população que sempre foi ofuscada. É dar voz àqueles que nunca tiveram oportunidade de falar. Desejamos o empoderamento popular."

Pai de um aluno do 9º ano, o administrador de empresas Sidnei Palmieri, 48, fez questão de matricular seu filho no colégio, apesar de a família morar longe dali, no bairro de Lauzane Paulista, na zona norte. "Resolvi colocá-lo nessa escola devido à qualidade de ensino, ao respeito e principalmente às oportunidades oferecidas."

Antes dos debates sobre a alteração de nome, ele ainda não havia tido contato com a trajetória de Carolina. "Soube que sua obra é reconhecida em muitos países, mas que, infelizmente, é muito pouco aqui no Brasil."

Nascida em Sacramento, no interior de Minas Gerais, Carolina Maria de Jesus desembarcou na Estação da Luz, em São Paulo, em 1937. Mãe solteira, trabalhou como catadora de papéis para sustentar os três filhos, até ser alçada à fama repentina, com a publicação de seu primeiro livro, a partir dos muitos escritos que produzia cotidianamente.

Suas obras, que incluem "Casa de Alvenaria", "Pedaços de Fome", "Provérbios" e o póstumo "Diário de Bitita", foram traduzidos para muitos idiomas, entre os quais o inglês, o espanhol e o francês. Nos Estados Unidos, seus livros são constantemente reeditados e estudados.

O nome de Carolina já é utilizado por uma EMEI na Vila Dalva, na zona oeste. Segundo a Secretaria Municipal de Educação, não haverá conflito quando a EMEF Infante Dom Henrique ganhar a sua nova denominação, pois as unidades oferecem etapas de ensino diferentes.

Vasco da Gama é o primeiro clube a enfrentar o Racismo no esporte


Do portal CR Vasco da Gama

No Brasil, o dia 20 de novembro é considerado o Dia Nacional da Consciência Negra, dedicado à reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira. A data foi escolhida por coincidir com o dia da morte de Zumbi dos Palmares, em 1695. Nesta data, procura-se lembrar a resistência do negro à escravidão de forma geral, desde o primeiro transporte de africanos para o solo brasileiro, ocorrido em 1594. Esta celebração é feita desde a década de 1960, embora só tenha ampliado seus eventos nos últimos anos.

No futebol não foi diferente, como escreveu Mário Filho em seu livro O negro no futebol brasileiro: “O mulato e o preto eram, assim, aos olhos dos clubes finos, uma espécie de arma proibida”.

O Vasco sempre foi democrático, desde suas cores (preto, branco e vermelho), que se encaixam na ideia de uma comunhão de etnias. Foi o primeiro clube a eleger um presidente “não branco”, Cândido José de Araújo, em 1904, reeleito no ano seguinte. Lutou contra preconceitos raciais e sociais nos anos 20, contribuindo decisivamente para que o futebol deixasse um esporte exclusivo de descendentes de ingleses e jovens da aristocracia, e foi o único que teve coragem de desafiar o sistema vigente.

Adhemar Ferreira da Silva, atleta olímpico
vascaino que fez história/Divulgação.
O clube, fundado por portugueses, se distinguia de outros criados pela colônia lusitana por abrir suas portas também para brasileiros. De qualquer origem. O critério para ser convidado a defender o clube da Cruz de Malta não era a cor da pele ou a situação social. Era saber tratar bem a bola, tanto que, em 1923, o clube conquistou o Campeonato Carioca, logo em seu ano de estreia na elite carioca.

A reação dos clubes tradicionais não demorou. No ano seguinte, o grupo formado por América, Botafogo, Flamengo e Fluminense decidiu deixar a Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT) e fundar a AMEA (Associação Metropolitana de Esportes Atléticos).

Elenco campeão carioca em 1923/Divulgação.
Pelas regras da nova entidade, os jogadores precisariam provar que estudavam ou trabalhavam. Não em um trabalho qualquer. “Um emprego decente (…). Empregados subalternos eram riscados”, segundo Mário Filho. E precisavam saber ler e escrever corretamente. Além disso, todos os clubes deveriam ter campos e sedes próprios. O Bangu, com um time formado em boa parte por operários da fábrica de tecidos instalada no bairro da Zona Oeste, foi convidado pelo quarteto a ingressar na entidade. Os cinco fundadores tinham peso maior nas votações, garantindo que as suas propostas fossem vitoriosas.

Ao Vasco, foi exigido que 12 jogadores fossem afastados, por não atenderam aos requisitos impostos pela AMEA. Diante do ultimato, o presidente do clube, José Augusto Prestes, assinou um ofício no dia 7 de abril, que ficou famoso na história do futebol carioca e brasileiro, desistindo de participar da nova liga criada. Com isso, o Vasco permaneceu na LMDT, ao lado de outros clubes que não aceitaram as condições ou que não conseguiram cumpriram as exigências impostas, sendo campeão em 1924.

Com mais experiência, o Vasco foi crescendo no mundo do futebol, conquistando títulos e muitos admiradores. A desculpa de que o Cruzmaltino não possuía uma casa para receber os adversários caiu por terra quando, após uma memorável mobilização de torcedores, foi erguido, em menos de 12 meses, um gigante, chamado São Januário, no dia 21 de abril de 1927, em resposta aos que tentaram barrar a ascensão do time de negros e brancos pobres que estava conquistando a elite do futebol carioca.

No ano seguinte, houve  um acordo entre o clube e a AMEA. Nele, o Cruzmaltino manteve seus atletas negros, mulatos e pobres, entrando para a história esportiva do país ao contribuir decisivamente para tornar o futebol um esporte realmente de todos os brasileiros.

Barbosa, goleiro vascaíno no "Expresso da Vitória" e da Seleção Brasileira/Divulgação.
Na temporada de 2011, o Vasco lançou seu terceiro uniforme, com um modelo inspirado no utilizado na década de 20, fazendo referência a atuação do clube naquele período, em prol da inclusão de jogadores negros e de classes mais humildes. No lado esquerdo do peito da camisa, há a imagem de uma mão espalmada em preto e branco. E, na gola, as palavras “Inclusão” e “Respeito”.

Um grande exemplo de processos de inclusão ocorreu no início do século passado, quando o Vasco da Gama foi expulso da Liga de Futebol, porque havia incluído no seu quadro social e desportivo os negros. Hoje, todos os clubes têm negros. O Vasco estava certo. O ingresso de estudantes negros e negras no ensino público superior e a inclusão da população negra na fruição dos bens não pode ser uma exceção. Precisa ser algo de fato integrador.” - Declarou Eloi Ferreira de Araújo, Ministro da Igualdade Racial.

A imprensa e a luta contra o racismo, por Silvia Elaine Santos de Castro



Esquizofrenia. Essa foi a doença utilizada para justificar a agressão física e verbal a um senegalês no centro da cidade de Londrina, norte do estado do Paraná, no começo de setembro. Ngale Ndiaye é vendedor ambulante e mantém seu ponto de venda em frente ao prédio em que reside a agressora. Aos gritos de “preto fedido”, “macaco” e “ladrão”, a moradora jogou bananas no imigrante e exigia que ele mudasse seu ponto de venda. A humanidade, a dignidade e os direitos de Ngale foram negados neste ato.

Esse é apenas mais um caso de discriminação entre tantos outros vividos e presenciados no cotidiano brasileiro. Ação explícita que causou a revolta de muitos que passavam pelo local. Mais do que depressa, pessoas que assistiram a cena e a imprensa, que cobria, tentaram amenizar a situação. Uma senhora, emocionada, pediu desculpas à vítima em nome da pessoa agressora e do país, afirmando que aquela não era uma atitude típica dos brasileiros, que somos corteses etc. Essa foi a principal perspectiva na cobertura jornalística do fato.

Como desmembramento da cobertura, um jornal da cidade aproveitou a ocasião para abordar o tema da crise de imigração europeia e os diversos refugiados na cidade. Por que não podemos dizer que o caso de Ngale foi xenofobia? Ele foi atacado por causa da cor da sua pele, e não por seu país de origem.

Os principais sintomas da esquizofrenia são delírios e alucinações. O doente desenvolve crenças em fatos irreais que não possuem base na realidade. Na simplicidade dessa descrição, penso que vivemos uma esquizofrenia social, que insiste em negar o óbvio. Para compreender o racismo no Brasil é preciso se libertar da zona de conforto e ir além. Como já denunciou o antropólogo Kabenguele Munanga, o racismo brasileiro é um crime perfeito, um racismo sem racistas, um crime sem ator.

O regime de castas deixou legados

Pensar o racismo como caso isolado, como exceção, é um dos principais erros que cometemos ao refletirmos sobre como acontece este fenômeno no país do futebol. Numa metodologia foucaultiana, sugiro pensarmos sobre as capilaridades do racismo. Do micro para o macro. Interpretar cada ato de discriminação racial como casos isolados e desconexos reforça a ideia do “mito da democracia racial”, que o racismo está no ar, que ninguém o pratica.

É imprescindível refletir como o racismo se estrutura e é estruturado por ações cotidianas, seus efeitos e consequências. Para, quem sabe assim, podermos construir uma sociedade efetivamente menos preconceituosa. Reforçar a ideia de uma igualdade desejável, porém utópica, como já apontou Florestan Fernandes (2008), apenas cumpre a função de preservar as distancias sociais, econômicas e culturais em nosso país.

O racismo é operante em nossas relações como mecanismo de hierarquia social, quando um ser humano se identifica como sendo mais digno e detentor de mais direitos do que o outro. É preciso admitir que o regime de castas operante no período escravocrata deixou legados nas nossas relações raciais que ainda não conseguimos nos desvencilhar. A negação da humanidade de africanos foi a justificativa usada para o regime de trabalho escravo. Isso soa familiar?

A esquizofrenia social na/da mídia

Diversas estratégias foram utilizadas para a manutenção dos privilégios sociais herdados do período escravista. A principal delas são as nossas relações raciais. O entendimento de que as vivemos harmonicamente por sermos um país miscigenado é a máxima operante, e este fato é utilizado para minimizar possíveis enfrentamentos sociais diretos. A orientação moral do brasileiro foi historicamente de tolerar [utilizo o verbo tolerar no sentido de suportar com indulgência, ou seja, sempre com um mal estar aparente] a diversidade, desde que esta não interfira ou transgrida o seu padrão de normalidade. Talvez, essa pode ser esta uma das causas da nossa dificuldade de enxergarmos o abismo que separa brancos e negros em nosso país.

Qual o lugar dos veículos de comunicação na manutenção deste padrão?

Como já apontou Muniz Sodré (1999), a mídia é o intelectual coletivo deste poderio. Os discursos midiáticos tecem uma rede de produção e reprodução do preconceito e do racismo. “Funcionam também como uma espécie de ‘grupo técnico de imaginação’, responsável pela absorção, reelaboração e retransmissão de um imaginário coletivo atuante nas representações sociais” (pág.244).

Sodré aponta quatro fatores operantes do racismo mediáticos: 1) a negação, ou seja, “a mídia tende a negar a existência do racismo, a não ser quando este aparece como objeto noticioso”; 2) o recalcamento, a repressão de aspectos positivos das manifestações simbólicas de origem negra; 3) a estigmatização, segundo Goffman, estigma é a marca de desqualificação da diferença que sucinta juízo de inferioridade sobre o outro. Ou seja, num país de dominação branca, a pele escura tende a tornar-se um estigma; 4) a indiferença profissional, por se organizar empresarialmente, quando a obtenção do lucro é o objetivo principal, os profissionais da mídia pouco se interessam por questões referentes a discriminação do negro e das minorias.

O caso de Ngale teve repercussão nos noticiários locais devido à não conformidade do comportamento da agressora com o padrão moral da sociedade brasileira. Em âmbito nacional, o racismo é discutido, apenas, como tema esporádico, dissociado da realidade e do seu contexto.

Por uma outra comunicação

O discurso da atriz Viola Davis na premiação do Emmy Awards no último domingo (20/09) foi emblemático. Ganhadora do premio de melhor atriz dramática, Viola resgata a humanidade de todos os descendentes de africanos escravizados na Diáspora quando afirma que o que separam brancos e negros em nossa sociedade são as oportunidades.

Para combater o nosso imaginário preconceituoso é fundamental que sejam pensadas políticas públicas que promovam a diversidade étnica e racial dos agentes dos veículos de comunicação. Se quisermos ter um país realmente igualitário é preciso que ações práticas sejam feitas.

O geógrafo Milton Santos, ao pensar o processo de globalização, propunha o entendimento de que ela era composta por três perspectivas: a primeira seria o mundo como nos fazem ver (a globalização como fábula), a segunda o mundo tal como ele é (a globalização como perversidade) e uma outra globalização, ou o mundo como ele pode ser.

Conduzindo este olhar para a comunicação, penso que nossa produção na mídia flutua entre os veículos como fábula e tal qual eles são, perversos, que segrega e discrimina.

Chegamos ao tempo em que, pensar uma outra comunicação se faz necessário para se (re)pensar a identidade nacional e a verdadeira democratização da mídia.

Compreendendo a importância de seu papel neste cenário, a Federação Nacional do Jornalista, tem desenvolvido ações neste sentido como a criação de Comissões de Jornalista pela Igualdade Racial (Cojiras) em diversos estados. Recentemente esta iniciativa foi implementada no Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Norte do Paraná. Este é um primeiro passo para se efetivar a discussão sobre qual o papel dos profissionais e sua qualificação para a cobertura em casos que envolvem as questões de raça, gênero e etnia.

Pensar o racismo na/da mídia e os meios de se enfrentar preconceito racial nos meios de comunicação é o caminho que temos para combater a esquizofrenia social que nos assola e caminhar em direção de uma sociedade efetivamente democrática.

Segundo relatório, no Brasil jovem negro corre 2,5 vezes mais risco de ser assassinado



Segundo relatório divulgado nesta quinta-feira (7) pela Secretaria Nacional de Juventude da Presidência da República, em Brasília, as chances de um negro entre 12 e 29 anos ser assassinado é 2,5 vezes maior em relação aos brancos no país. Dos quase 30 mil jovens assassinados em 2012 no Brasil, 76,5% eram negros.


O Nordeste reúne as quatro capitais com maior índice de vulnerabilidade juvenil: Alagoas, Paraíba, Pernambuco e Ceará. Nos casos de maior risco em detrimento da raça ou cor, a Paraíba aparece em primeiro lugar: são 13,4 vezes maiores os riscos de um jovem negro ser morto do que um jovem branco. Em seguida, aparece Pernambuco, onde o risco relativo é de 11,6, e em terceiro, Alagoas, com 8,7 mais chances de assassinato entre a juventude negra. Em todo o Nordeste, os jovens negros correm cinco vezes mais chances de serem mortos em relação aos brancos. No Rio de Janeiro, o índice é de 2,3.

O único estado da federação que apresentou risco maior para um jovem branco em relação ao negro é o Paraná, onde o índice é quase equivalente: 0,7. A cidade do Cabo de Santo Agostinho (PE) foi a cidade mais vulnerável à violência. O município em melhor situação era São Caetano do Sul (SP), com índice 0,174, o mais baixo verificado. A Região Nordeste possui o maior número de municípios com “alta” e “muito alta” vulnerabilidade juvenil à violência, englobando 35 das 59 cidades avaliadas neste grupo.

O estudo incluiu todos os municípios com mais de 100 mil habitantes nas 27 unidades da federação, o que corresponde a 288 cidades e 107 milhões de habitantes (pouco mais de 55% da população brasileira). Entre os municípios analisados, 24 estão na Região Norte, 59 no Nordeste, 139 no Sudeste, 48 no Sul e 18 no Centro-Oeste.

Segundo o governo, o novo indicador será utilizado pelo Plano Juventude Viva, da Secretaria Nacional de Juventude, para orientar políticas públicas de redução da violência contra jovens no país.

Após publicar foto no facebook jornalista negra sofre ataques racistas



Jornalista negra posta foto nas redes sociais e sofre enxurrada de ataques racistas. Em apoio à Cristiane Damacena, internautas se mobilizaram e também comentaram em repúdio ao preconceito. Agressores estão sendo identificados e podem ser punidos

Um ataque racista contra uma jornalista negra de Brasília (DF) por meio do seu perfil numa rede social causou forte comoção dentro e fora da Internet nesta terça-feira (5). Cristiane Damacena publicou no dia 24 de abril uma nova foto no Facebook e cinco dias depois passou a sofrer injúrias de cunho racial por ao menos 5 perfis diferentes. Ela foi chamada de “macaca” e “escrava” e sofreu zombarias por causa da cor da pele.

De lá pra cá o caso ganhou repercussão e o apoio a Cristiane extrapolou sua rede de amigos no Facebook. Ao meio-dia desta terça-feira já eram 14.663 curtidas na foto, onze mil comentários e 353 compartilhamentos. Mensagens em defesa da jornalista, elogios a sua beleza e manifestações de apoio formam a maior parte dos comentários. Ela é chamada de “linda” em vários deles. Numa das agressões, um internauta afirma que ela usa um vestido amarelo “porque é a cor preferida do macaco pois lembra a banana”.

Denúncias à Secretaria da Igualdade Racial

De janeiro até agora, a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial recebeu cerca de 200 denúncias de racismo. Um dos casos que chegou ao órgão foi o da jornalista de Brasília Cristiane Damacena. A jovem, que não quis gravar entrevista por orientação dos advogados, afirmou que também vai recorrer à Justiça para punir os culpados. E disse que ainda está atônita com tudo o que aconteceu.

De acordo com Dalila Negreiros, do grupo Nosso Coletivo Negro, que organiza ações afirmativas para Negros no Distrito Federal, o caso de Cristiane é lamentável e se soma a várias situações racistas na internet. Segundo ela, usuários da rede que praticam esse tipo de crime se sentem à vontade para se expor porque acham que não serão encontrados. E o que dificulta é a falta de denúncias em muitos casos e a lentidão das investigações.

Injúria racial

O advogado Paulo Duarte diz que o caso da jornalista é classificado como injúria racial e a pena varia de um a três anos de prisão. Ele destaca que é possível identificar os envolvidos.

No ano passado, a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial recebeu cerca de 560 denúncias. De acordo com o órgão, os casos dão origem a um procedimento administrativo, que é avaliado e investigado para, então, ser encaminhado aos órgãos competentes.

Para a advogada Indira Quaresma, da Comissão de Direitos Humanos da OAB-DF, as vítimas de injúria racial devem tirar uma cópia da página em que as ofensas estão postadas e com ela fazer um boletim de ocorrência. A partir do boletim a investigação começa a ser feita pela Polícia mediante uma ação penal privada.

IV Encontro de Negros e Negras desenvolveu o tema o “O Brasil que queremos para a população negra”



É com o tema “O Brasil que queremos para a população negra” que o 4º Encontro de Negros e Negras da UNE (ENUNE) desafia juventude negra  a refletir sobre o seu papel na luta contra o racismo. Estudantes em todo o país se mobilizam para comparecer ao IV ENUNE. Muitas universidades através das entidades do movimento estudantil realizaram o Pré-ENUNE nas mais variadas universidades do País.

IV Encontro do ENUNE ocorreu entre os dias 3 e 5 abril na UNEB.
Um dos primeiros encontros em preparação para o ENUNE acontenceu em Palmas e Araguaina no Tocantins. Logo depois aconteceu em Belo Horizonte-MG, Fortaleza-CE, Rio de Janeiro-RJ e na Bahia aconteceu em Jequié e Salvador. A expectativa da coordenação do encontro é de 700 pessoas.

Marcela Ribeiro, diretora de Combate ao Racismo da UNE (União Nacional dos Estudntes), garante que esse evento representa uma nova metodologia de disputa da consciência da juventude negra brasileira. Salienta que é essa metodologia de trabalho que se torna central para construir um país verdadeiramente democrático, mais fraterno e que enfim, apresente um cenário de justiça social expurgando a chagas do racismo na sociedade brasileira.

Está garantido na programação do evento a presença da Ex-ministra da Igualdade Racial Luiza Barros, o secretário Nacional de Juventude Gabriel Medina, o blogueiro da Carta Capital Douglas Belquior e outros nomes de formulação de Políticas para Juventude.

É também o primeiro ano que junto ao ENUNE será produzido o Festival Nacional de Cultura e Juventudes Negra. Herlon Miguel, produtor do Festival, afirma que “foi lançado um novo desafio: reunir mais de 15 grupos e movimentos de diferentes expressões da juventude negra. Além do entretenimento e da produção cultural, a ideia é consolidar uma grande articulação nacional desses mecanismos de organização da juventude negra dentro da óptica organizativa do enfrentamento ao racismo. Faremos manifestações políticas e culturais das mais diversas, do rap de São Paulo ao Afoxé de Pernambuco, dos seminários e formações políticas ao ato público nas ruas do bairro do Cabula.”

Na cena da cultura personalidades como Nelson Triunfo e Afoxé Omó Nilê Ogunjá confirmaram presença. O 4º ENUNE aconteceu entre os dias 3 a 5 de abril, no campus 1 da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) no Bairro do Cabula em Salvador-BA.

Maiores informações podem ser adquiridas pelo site do ENUNE ou pela fanpage da Diretoria de Combate o racismo da UNE: www.facebook.com/pages/UNE-Combate-ao-Racismo.