Do
portal CR Vasco da Gama
No
Brasil, o dia 20 de novembro é considerado o Dia Nacional da Consciência Negra,
dedicado à reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira. A data
foi escolhida por coincidir com o dia da morte de Zumbi dos Palmares, em 1695.
Nesta data, procura-se lembrar a resistência do negro à escravidão de forma
geral, desde o primeiro transporte de africanos para o solo brasileiro,
ocorrido em 1594. Esta celebração é feita desde a década de 1960, embora só
tenha ampliado seus eventos nos últimos anos.
No
futebol não foi diferente, como escreveu Mário Filho em seu livro O negro no
futebol brasileiro: “O mulato e o preto
eram, assim, aos olhos dos clubes finos, uma espécie de arma proibida”.
O
Vasco sempre foi democrático, desde suas cores (preto, branco e vermelho), que
se encaixam na ideia de uma comunhão de etnias. Foi o primeiro clube a eleger
um presidente “não branco”, Cândido José de Araújo, em 1904, reeleito no ano
seguinte. Lutou contra preconceitos raciais e sociais nos anos 20, contribuindo
decisivamente para que o futebol deixasse um esporte exclusivo de descendentes
de ingleses e jovens da aristocracia, e foi o único que teve coragem de
desafiar o sistema vigente.
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Adhemar Ferreira da Silva, atleta olímpico vascaino que fez história/Divulgação. |
O
clube, fundado por portugueses, se distinguia de outros criados pela colônia
lusitana por abrir suas portas também para brasileiros. De qualquer origem. O
critério para ser convidado a defender o clube da Cruz de Malta não era a cor
da pele ou a situação social. Era saber tratar bem a bola, tanto que, em 1923,
o clube conquistou o Campeonato Carioca, logo em seu ano de estreia na elite
carioca.
A
reação dos clubes tradicionais não demorou. No ano seguinte, o grupo formado
por América, Botafogo, Flamengo e Fluminense decidiu deixar a Liga
Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT) e fundar a AMEA (Associação
Metropolitana de Esportes Atléticos).
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Elenco campeão carioca em 1923/Divulgação. |
Pelas
regras da nova entidade, os jogadores precisariam provar que estudavam ou
trabalhavam. Não em um trabalho qualquer. “Um
emprego decente (…). Empregados subalternos eram riscados”, segundo Mário
Filho. E precisavam saber ler e escrever corretamente. Além disso, todos os
clubes deveriam ter campos e sedes próprios. O Bangu, com um time formado em
boa parte por operários da fábrica de tecidos instalada no bairro da Zona
Oeste, foi convidado pelo quarteto a ingressar na entidade. Os cinco fundadores
tinham peso maior nas votações, garantindo que as suas propostas fossem
vitoriosas.
Ao
Vasco, foi exigido que 12 jogadores fossem afastados, por não atenderam aos
requisitos impostos pela AMEA. Diante do ultimato, o presidente do clube, José
Augusto Prestes, assinou um ofício no dia 7 de abril, que ficou famoso na
história do futebol carioca e brasileiro, desistindo de participar da nova liga
criada. Com isso, o Vasco permaneceu na LMDT, ao lado de outros clubes que não
aceitaram as condições ou que não conseguiram cumpriram as exigências impostas,
sendo campeão em 1924.
Com
mais experiência, o Vasco foi crescendo no mundo do futebol, conquistando
títulos e muitos admiradores. A desculpa de que o Cruzmaltino não possuía uma
casa para receber os adversários caiu por terra quando, após uma memorável
mobilização de torcedores, foi erguido, em menos de 12 meses, um gigante,
chamado São Januário, no dia 21 de abril de 1927, em resposta aos que tentaram
barrar a ascensão do time de negros e brancos pobres que estava conquistando a
elite do futebol carioca.
No
ano seguinte, houve um acordo entre o clube e a AMEA. Nele, o Cruzmaltino manteve
seus atletas negros, mulatos e pobres, entrando para a história esportiva do
país ao contribuir decisivamente para tornar o futebol um esporte realmente de
todos os brasileiros.
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Barbosa, goleiro vascaíno no "Expresso da Vitória" e da Seleção Brasileira/Divulgação. |
Na
temporada de 2011, o Vasco lançou seu terceiro uniforme, com um modelo
inspirado no utilizado na década de 20, fazendo referência a atuação do clube
naquele período, em prol da inclusão de jogadores negros e de classes mais
humildes. No lado esquerdo do peito da
camisa, há a imagem de uma mão espalmada em preto e branco. E, na gola, as
palavras “Inclusão” e “Respeito”.
“Um grande exemplo de processos de inclusão
ocorreu no início do século passado, quando o Vasco da Gama foi expulso da Liga
de Futebol, porque havia incluído no seu quadro social e desportivo os negros.
Hoje, todos os clubes têm negros. O Vasco estava certo. O ingresso de
estudantes negros e negras no ensino público superior e a inclusão da população
negra na fruição dos bens não pode ser uma exceção. Precisa ser algo de fato
integrador.” - Declarou Eloi Ferreira de Araújo, Ministro da Igualdade
Racial.
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