Manifestação na av. Paulista começou às 11h no sábado (18) - Lucas Martins / @lucasport01. |
“Funai
anti-indígena”; “Fora Xavier”; “Basta de ataques aos direitos indígenas”;
“Contra o genocídio”. Os cartazes
levantados neste sábado (18) no MASP, em São Paulo, marcam o primeiro de um
calendário de protestos agendados pelo país, reivindicando justiça pelo
indigenista Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips.
Cerca
de 100 pessoas compareceram ao ato na av. Paulista, convocado pela associação
de servidores da Funai (INA – Indigenistas Associados), o Sindicato dos
Trabalhadores do Serviço Público Federal de São Paulo (Sindsef-SP) e a CSP
Conlutas. Indígenas do povo Guarani Mbya estiveram entre os presentes.
Bruno,
servidor licenciado da Funai, atuava com um grupo de vigilância indígena no
Vale do Javari para monitorar e denunciar a atuação ilegal de pescadores,
caçadores e garimpeiros nesta que é a segunda maior Terra Indígena (TI) do
país. Dom, colaborador de veículos internacionais como o inglês The Guardian,
viajava para colher material para o livro que escrevia, sob o título Como
salvar a Amazônia.
A
comoção nacional e internacional desde que ambos desapareceram no dia 5 de
junho no Vale do Javari toma de forma mais consistente as ruas depois da
confirmação, nesta sexta (17) e sábado (18), que os restos mortais encontrados
pela Polícia Federal (PF) são de Phillips e Bruno.
Atos pelo Brasil
Há
manifestações marcadas para este domingo (19) em Belém (PA) às 9h na Praça da
República, e em Brasília (DF) às 9h30 no Eixão Norte. Na segunda-feira (20)
acontece novo ato em Brasília, mas na Praça dos Três Poderes, e outro em Belo
Horizonte (MG), na Praça 7 – ambos às 17h.
Na
terça-feira (21) estão sendo convocados protestos em Manaus (AM) às 12h no Centro
de Convivência da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), e em Cuiabá (MT), às
17h na Praça Alencastro.
Além
disso, uma vigília permanente em frente à sede da Funai em Brasília acontecerá
ao longo da semana, dos dias 20 a 24 de junho, a partir das 18h.
Na
quinta-feira (23), em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF) em Brasília,
acontece um protesto contra a aprovação do Marco Temporal, convocado pela
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). Esse é o dia em que,
originalmente, o tema seria retomado pelos magistrados. A pauta, no entanto,
foi adiada e ainda não tem data marcada.
“Que não se repita jamais”
Além do apelo por continuidade das investigações sobre o caso de Bruno e Phillips identificando motivação e possíveis mandantes, os atos têm em comum a exigência de justiça também pelo indigenista Maxciel Pereira dos Santos.
Ex-servidor
da Funai na mesma região amazônica, Maxciel foi assassinado em 2019 com dois
tiros na nuca em Tabatinga (AM). O caso até agora não foi solucionado. Próximo
e colega de trabalho de Bruno, Maxciel atuava na Frente de Proteção
Etnoambiental, setor responsável pela parte operacional de ações de
fiscalização na região.
Poucos
minutos depois que terminou, na quarta-feira (15), a coletiva de imprensa em
que a PF anunciou ter encontrado remanescentes de corpos na mata fechada da
região do Vale do Javari, a esposa de Dom Phillips, Alessandra Sampaio, tornou
pública uma nota.
Nela,
Sampaio explicita que, mais do que a justiça referente à elucidação dos casos,
só haverá paz “quando as medidas
necessárias forem tomadas para que tragédias como esta não se repitam jamais”.
Fora Marcelo Xavier: “um interventor na
Funai”
As
manifestações também exigem a exoneração do presidente da Funai, o delegado da
PF Marcelo Xavier, que ocupa o posto desde agosto de 2019.
“O que aconteceu com Bruno desencadeou um
sentimento de indignação que vinha se acumulando ao longo desses três anos e
meio e agora transbordou”, expõe Fernando Vianna, presidente da INA –
Indigenistas Associados, associação de servidores da Funai.
Em
uma “mobilização muito intensa”, como
descreve Vianna, os servidores da Funai fizeram uma greve e apresentaram uma
pauta de reivindicações que, apesar de “muito
modesta” na visão de Fernando, não foi atendida pela presidência do órgão.
Os
servidores pedem uma retratação da direção da Funai a respeito de Bruno Pereira
e Dom Phillips. No último dia 9, Xavier deu uma entrevista à imprensa com a
informação falsa de que a dupla teria que ter pedido autorização à Funai para
estar no local onde desapareceram.
A
afirmação não se sustenta pois eles estavam fora da Terra Indígena. Além disso,
segundo comunicado da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja),
Bruno havia recebido permissão para ingressar na área protegida, em documento
assinado no mês anterior pela gestora da unidade descentralizada da Funai na
região.
“Outra reivindicação muito básica é que seja
garantida a segurança, neste momento, dos servidores que continuam na região.
São poucos e estão completamente expostos”, explica o presidente da INA. “Essas
pautas iniciais foram desprezadas”, ressalta.
“Não há qualquer possibilidade de diálogo com
a atual gestão”, salienta Vianna, ao explicar que agora a principal
bandeira é a exoneração de Xavier. “É um
corpo estranho, um interventor na Funai”, descreve: “Ele tem que sair da Funai para que volte a ser possível o órgão atuar
na defesa, promoção e proteção dos direitos indígenas”.
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Com informações do Brasil do Fato.