10 de maio de 2025

Cadê o povo na nossa luta?

 

(FOTO | Reprodução).


Por Alexandre Lucas, Colunista

Atuação territorial como elo de mediação/conflito entre organizações da sociedade civil e o poder público, comumente chamado de articulação em rede, é uma alternativa da luta política nos territórios. Organizações da sociedade civil se reinventam nos seus processos de construção política, reorientando suas metodologias de organização e mobilização social, isso é uma necessidade trivial de adaptação a realidade.

Os movimentos sociais têm suas estruturas organizativas e políticas que dão o norte de suas concepções e atuações diante da realidade. Entretanto, se faz necessário criar metodologias de trabalho que possam criar estruturas de participação popular que não firam a autonomia dos movimentos, mas sirvam de instrumento pedagógico para diagnosticar contextos, fazer escutas para compreensão das condições objetivas e das subjetividades, criar as condições de participação na luta e incidência política e ser espaço educativo para tomada de consciência.

A ausência destes mecanismos pode favorecer isolamento sociopolítico. Fortalecer a base social é fundamental para correlação das forças políticas dos movimentos sociais. A base social precisa ser compreendida neste sentido como potenciais lutadores e lutadoras do povo que necessariamente não compõe a estrutura orgânica dos movimentos e organizações sociais.

A capacidade de ampliar a musculatura política não se dá no isolamento; pelo contrário, tende a ocorrer no diálogo permanente com outras forças políticas e com a reoxigenação constante da base social. Esses dois elementos não devem ser negligenciados. Não existe dicotomia entre organização de vanguarda e atuação de massas. São partes inquestionáveis dos processos de rupturas e incidências políticas da história, nem só as massas, nem só as vanguardas.

Cada movimento e organização gera uma metodologia de organização política baseada na realidade concreta. Alinhavar o fortalecimento da base social às necessidades históricas de superação das relações de opressão e exploração, conjugada às subjetividades, afetividades e identidades políticas, talvez seja o grande desafio.

Na luta pelo direito à cidade, a participação da população que não está organicamente vinculada aos movimentos sociais, organizações e partidos políticos se faz necessária para uma compreensão mais apurada da luta política. Na luta política, a compreensão pedagógica de que o conhecimento empírico (popular) deve ser a premissa para apropriação de um conhecimento calculado em dados e nas condições objetivas concretas (leis, planejamentos, números, impactos econômicos, sociais e ambientais, etc.), deve ser bússola educativa para formação de lutadoras e lutadores do povo (militantes e dirigentes e dirigentes/militantes).

Aprender a tomar café com o povo é uma condição para fortalecer as bases sociais. Vincular-se ao povo e às suas lutas é reaprender, ampliar horizontes. Retomar metodologias utilizadas no passado, conectadas às formas contemporâneas de organização popular, parece ser um caminho para ganhar impulso e capilaridade.

Vejamos os mecanismos utilizados pela extrema-direita para recrutar e formar suas e seus soldados. O que estamos fazendo para nos contrapor? Quais os espaços que ocupamos na luta pelo direito à cidade? Quais os mecanismos de envolvimento da população que estamos criando?

Se não existe espaço vazio na política, nós estamos com um grande problema. Enquanto movimentos sociais e partidos políticos alinhados à luta pela superação deste sistema de opressão e exploração da classe trabalhadora, tendo em vista que os espaços institucionais e parlamentares não têm o tom dos nossos discursos, e nas cidades a extrema-direita ganha capilaridade em cada bairro. A nossa musculatura ainda é pequena, temos dificuldade de mobilizar o povo para a luta, o que pode ser percebido na baixa incidência política e nos resultados eleitorais do nosso campo.

Amplitude com o nosso campo para recompor densidade política das forças populares, democráticas e de esquerda e criação de metodologia de organização popular que potencialize o envolvimento quantitativo e qualitativo da população. Sem base social, estaremos fadado a uma estrutura esquelética.

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