(Foto/Elizabeth Nader/Prefeitura de Vitória). |
Vulnerabilidade
social, violência doméstica, fome e racismo são alguns dos relatos comuns
compartilhados por 21 catadoras de materiais recicláveis de diferentes cidades
do Brasil, que, assim como a escritora e catadora Carolina Maria de Jesus,
encontraram na escrita uma forma de partilhar as suas dores e tomarem o
protagonismo das suas próprias histórias.
As
histórias estão reunidas nas 243 páginas do livro 'Quarentena da resistência',
publicado pela editora Coopacesso, que conta a história de catadoras de
materiais recicláveis de forma intimista e a busca dessas mulheres, de maioria
negra e chefes de família, por melhores condições de vida e oportunidade. O
livro está disponível para download no site da Organização Internacional do
Trabalho (OIT), uma das parceiras do projeto.
Durante
sete meses, as trabalhadoras participaram de uma formação virtual com oficinas
de criação literária e escrita através da leitura do livro 'Quarto de Despejo: Diário de uma
favelada', da escritora Carolina Maria de Jesus. Por meio das trocas de
experiências e debates, as catadoras compartilharam sobre as suas realidades.
Cada participante recebeu uma bolsa de estudos mensal com valor de R$ 385 para
os custos de internet e cestas básicas.
"Inspiradas em Carolina Maria de Jesus, as
catadoras, trabalhadoras severamente atingidas pela pandemia, em sua maioria
negras, encontraram um lugar de fortalecimento e luta pela palavra e
compartilhamento das dores e afetos. O potencial trazido pela literatura, a
partir de reflexões sobre trabalho, racismo, gênero e outras questões que
atravessam a vida das catadoras, reflete na organização do grupo e na defesa de
direitos", afirma Elisiane dos Santos, procuradora do Trabalho do
MPT-SP e uma das idealizadoras do projeto.
A
ideia do livro surgiu em meio a pandemia de Covid-19, período em que grupos em
situação de vulnerabilidade sofreram impactos devastadores, sobretudo os
catadores e catadoras de materiais recicláveis, expostos a condições de
trabalho precárias e baixa remuneração.
A
iniciativa é fruto de uma parceria entre a Organização Internacional do
Trabalho (OIT), o Ministério Público do Trabalho (MPT) de São Paulo, a Festa
Literária das Periferias (FLUP) e a Cooperativa Central do ABC (Coopcent ABC),
com o apoio da Universidade Federal do ABC (UFABC) e os Laboratórios da Palavra
e de Teorias e Práticas Feministas do Programa Avançado de Cultura Contemporânea
da Faculdade de Letras/UFRJ.
'O resgate da história de organização da
categoria profissional, agora em livro, mostra à sociedade a importância
fundamental do trabalho que realizam, ao tempo em que cobra do Poder Público as
condições e políticas públicas para a valorização e reconhecimento do trabalho
de milhares de mulheres e famílias no Brasil, trabalho este do qual depende a
vida das pessoas e do planeta. Essa obra deve ser lida por todos e todas",
ressalta Elisiane.
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Com informações do Alma Preta.
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