Vinicius Freire é professor e líder do Ministério Nissi em Altaneira. (FOTO/ Reprodução/ Facebook). |
Graça
e Paz, estamos vivendo o feriado do carnaval, feriado esse, no qual
tradicionalmente, a Igreja utilizava para realizar retiros, com o intuito de
“fugir” da folia e ficar reservadamente buscando a presença de Deus, afinal o
carnaval é para os evangélicos, uma festa da carne. Mas o carnaval 2020 tem
sido marcado por uma presença massiva dos evangélicos, de formas distintas,
enquanto uns usam a “folia” para evangelizar, outros usam as redes sociais para
se expressarem acerca dos desfiles das escolas de samba, dessa vez, o alvo tem
sido a escola de samba carioca Estação Primeira de Mangueira.
A
Mangueira que desfilou no último domingo (23/02), trouxe o tema da tolerância
segundo seus partícipes, através da figura de Jesus Cristo, retratando o
próprio Cristo como uma mulher negra, um jovem apanhando da polícia e também,
crucificado e ressuscitado como um negro. Claro que a reação dos evangélicos,
em sua maioria foi de condenação pela forma como Cristo fora retratado.
Comentários do tipo: “De Deus não se zomba...”, “Isso foi crime de vilipêndio
contra nossa fé!”, “Absurdo!”, foram os mais vistos em sites de notícias gospel
e em perfis de evangélicos no Facebook.
Mas
o que esses comentários realmente revelam, é um total desconhecimento histórico
e da realidade social brasileira. Claramente, o desfile da Mangueira teve como
objetivo o protesto ou a crítica social, mas a maioria dos evangélicos ao que
me parece, não conseguem diferenciar uma critica social de um claro desrespeito
à nossa fé. Como cristão, não me senti ofendido, pelo contrário, compriendi a
crítica feita pela escola e me envergonhei não só das reações ao desfile, como
também, pelo que tenho visto e ouvido dentro de muitas igrejas. A meu ver,
maior desrespeito ao sacríficio da cruz fazem aqueles que usam a fé para
enriquecimento próprio através da teologia da prosperidade, pessoas que usam a
“fé” em Cristo para subirem degraus rumo ao poder político, que usam igrejas
como palanque e as ovelhas de cristo como curral eleitoral. Antes de apontar
aqueles que não conhecem o evangelho, temos que tirar a trave do nosso olho
primeiro, tomar cuidado com o farisaísmo existente em nosso meio. Devemos
lembrar também que Cristo andava com pessoas socialmente e religiosamente
excluídas, como publicanos, prostitutas, leprosos, sim Cristo andava com elas e
os levava ao arrependimento, a mudar de vida, mas antes disso Ele as incluía
sem distinção.
Acerca
do desconhecimento histórico, fica claro, uma vez que boa parte das críticas se
deram ao mostrar Jesus como negro e ao criticarem Jesus Crucificado como um
bandido ferido a balas, sobre isso, temos que desconstruir a imagem que temos
de Cristo como branco de olhos claros, isso foi uma construção do catolicismo
europeu, Jesus viveu em uma região árida, é mais provável que Jesus fosse
negro, do que branco, o que não muda em nada quem Ele é e o que Ele fez por
nós.
Ademais,
Jesus foi crucificado, a crucificação era utilizada para punir bandidos, era a
pior forma de punição utilizada pelos romanos, e por isso, Ele foi crucificado
com dois ladrões, Isaías 53: 12 afirma que “...foi contado entre os
transgressores...”, compreendo claro que Jesus não foi um bandido, Ele é Santo,
a própria bíblia afirma que nEle não foi achada nenhuma transgressão, mas para
a sociedade, para os líderes religiosos da época, a mensagem do evangelho e o
próprio Jesus foram considerados perigosos, por isso lutaram tanto para que Ele
fosse crucificado.
Encerro
esse texto, parafraseando um colega de trabalho: O Rio de Janeiro é o Estado
brasileiro com o maior número de evangélicos, e mesmo assim, continua reduto do
tráfico de drogas, milícia e de políticos corruptos, o traficante é evangélico,
o miliciano é evangélico, o político corrupto é evangélico, que evangelho tem
sido pregado no Brasil?
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Publicado
originalmente no Blog Ministério Nissi.
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