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De 1995 até 2020, 55.712 pessoas foram encontradas em condição semelhantes à de escravidão no Brasil - Assessoria/MPT-PA/AP |
3 de novembro de 2021
Mais de 13 mil pessoas: Pará é o estado que mais resgatou trabalhadores escravizados em 15 anos
2 de novembro de 2021
Reinaldo, o Rei contra os Ditadores
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Reinaldo. (FOTO/ Reprodução/ Acervo Crítico). |
O
jogador que encarou os generais argentinos e brasileiros e ajudou a desvendar o
maior esquema de tortura da história da América do Sul
O
ano era 1977, e o Atlético Mineiro tinha um time de causar inveja. Em seu
elenco, o principal nome era Reinaldo, centroavante muito rápido e goleador,
que foi artilheiro daquela edição do Campeonato Brasileiro.
Reinaldo
comemorava gols com o braço levantado em riste, com punhos cerrados. Gesto
atribuído ao símbolo internacional de luta por direitos humanos e sociais e
incorporado à luta antirracista com os Panteras Negras.
Durante
o ano de 1978, a pressão pela convocação de Reinaldo era reprovada pelos
generais brasileiros que, na época, o consideravam de esquerda e subversivo.
No
período, a seleção brasileira tinha em seu quadro de cartolas mais de 50% de
membros do Exército. Porém, a pressão foi tão grande que acabaram levando o
jogador.
Durante
os últimos jogos da seleção em território nacional, o presidente do Brasil,
General Geisel, chamou Reinaldo para uma conversa e "recomendou" que
se ele fizesse gol, não se atrevesse a comemorar como sempre fazia, pois aquela
comemoração era coisa de comunista.
Malas
prontas, desembarque no aeroporto de Buenos Aires, a Copa do Mundo de 1978
começou na Argentina. Assim como o Brasil, o país vivia uma sangrenta Ditadura
Militar, comandada pelo General Videla.
O
jogo de estreia do Brasil foi contra a Suécia. Reinaldo e Zico estavam jogando
muito. Reinaldo, então, fez um gol e, após segundos de hesitação, soltou o
gesto dos Black Panthers.
O
atleta não jogaria mais pela seleção, foi sacado e nunca mais colocado naquela
Copa.
No
hotel, Reinaldo recebeu um envelope com um relatório. O documento contava a
história da "Operação Condor", uma cooperação entre países
sul-americanos para matar e torturar possíveis inimigos do Regime,
principalmente políticos. A documentação revelava que políticos importantes
chilenos foram mortos pela sanguinária Ditadura de Pinochet e que a morte do
ex-presidente JK, no Brasil, foi fruto da operação.
Como
não entendia espanhol direito, e de posse de um documento importante, o que o
jogador conseguiu entender já foi suficiente para compreender sua missão. Ele,
então, procurou o amigo Gonzaguinha, que tinha contatos com movimentos sociais
e instituições ligadas aos direitos humanos e entregou os documentos. Aqueles
papéis foram extremamente importantes para aumentar o desgaste na imagem
internacional dos generais sul-americanos e também para elucidar crimes contra
a humanidade cometidos por eles.
Por
fim, Reinaldo se tornou um dos maiores jogadores da história da América do Sul
e não foi só pelo talento e pelo futebol, mas sim por alterar os rumos da
história.
______________
Por Joel Paviotti, no Acervo Crítico.
1 de novembro de 2021
Conheça Tia Simoa, mulher negra e símbolo de luta contra a escravidão no Ceará
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(FOTO/ Reprodução). |
A
Preta “Tia Simoa” foi uma negra liberta que, ao lado de seu marido (José Luís
Napoleão) liderou os acontecimentos de 27, 30 e 31 de janeiro de 1881 em
Fortaleza – Ce , episódio que ficou conhecido como a “Greve dos Jangadeiros”,
onde se decretou o fim do embarque de escravizados naquele porto, definindo os
rumos para a abolição da escravidão na então Província do Ceará, que se
efetivaria três anos mais tarde. No entanto, apesar de sua importante
participação para a mobilização popular que impulsionou os acontecimentos, esta
mulher negra teve sua participação invisibilizada na história deste Estado
onde, ainda hoje, persiste a falsa premissa da ausência de negros.
As
mulheres negras cearenses são comumente indagadas sobre sua origem e
constantemente remetidas à Bahia, principalmente se não submetem seus cabelos a
processos de alisamento. Esta não aceitação de nossa identidade se deve a cruel
associação do negro à condição de escravo, que no caso do estado do Ceará, teve
seu processo diferenciado das principais capitanias importadoras de mão de obra
escravizada devido a suas condições climáticas e geográficas, o que não
significa dizer que aqui não tiveram escravos ou que não existiram negras e
negros livres, a exemplo da “Tia Simoa” que, além de liberta lutou pela
liberdade de seu povo, evidenciando uma expressiva característica da população
negra (escravizada ou liberta) deste período que ultrapassa a visão dicotomizada
entre o conformismo e a resistência, pois demonstra “uma experiência construída
historicamente pela etnia negra” (FUNES) estabelecida através de sua
sociabilidade, engajamento e luta inserida em seu cotidiano.
A
ausência desta documentação histórica se repete no tocante as demais lideranças
negras que atuaram no restante do país como Luíza Mahin (Ba), Mariana Crioula
(Rj), Tereza de Benguela (Mt) dentre tantas outras que poderiam figurar na
lista de resistência e resiliência negra feminina mas que são invisíveis na
historiografia oficial do país, bem como na história do feminismo brasileiro
que desconhece o extenso histórico de enfrentamento político e social da mulher
negra no Brasil. A omissão desta representação na história oficial perpetra o
imaginário social e destina, controla e manipula a subjetividade desse
contingente significativo de mulheres no Ceará, assim como no restante do
Brasil que, além de não veem suas demandas específicas inseridas no debate
sobre feminismo também não se percebem nos principais embates simbólicos
travados no bojo dessa importante organização política.
Atrelando
o conceito de gênero ao de “raça”, onde ambos descartam o discurso biologizante
das diferenças para se deterem ao campo semântico do conceito abreviado de “mulher
negra”, devemos considerar que este é, sobretudo, um conceito determinado pela
estrutura da sociedade e pelas relações de poder que a conduzem. Dessa forma,
conhecer a história de Simoa, mulher negra cuja história está submersa entre os
escombros da memória é, pois, estabelecer um sentido de pertencimento a um
grupo social historicamente invisibilizado no estado do Ceará. Ao sabermos da
influencia que as representações históricas exercem na organização social
poderemos compreender de que forma o discurso, inserido no pensamento social,
contribui para a construção das relações que se estabelecem neste meio.
Ao
eleger os sujeitos de uma representação histórica, estamos exercendo o que
Bourdieu chama de “poder simbólico” (2006, p.14), pois estamos nomeando um
objeto constituído na enunciação. Compreendendo o discurso como campo de
exercício deste poder e, portanto, como instrumento de dominação, ele assim se
efetua ao tomar reconhecimento e se concretiza ao tornar-se uma representação
social ideologicamente estruturada, vindo a contribuir significativamente para
a construção da realidade.
Com
isso quero dizer que, ao buscar conhecer a estrutura socioeconômica dos
responsáveis pela produção e reprodução deste discurso, podemos entender como
se formaram as configurações ideológicas acerca da imagem da população negra no
Ceará, sobretudo no discurso do período pós-abolição, onde se elegeu os
sujeitos para representarem o movimento abolicionista ao mesmo tempo em que
sepultava a memória dos “atores” esquecidos. É por meio do poder simbólico que
a historiografia oficial tende a forjar a “não presença” de negras e negros no
estado do Ceará e, assim, a naturalizar essa invisibilidade por meio da
reprodução deste discurso no âmbito educacional perpetrando o imaginário
social.
É,
portanto, percorrendo o itinerário oposto que buscamos desvendar os elementos
para compor nossa representação histórica a partir do protagonismo de mulheres
negras que tiveram sua participação omitida nos discursos sobre a série de
ações de resistência e de enfrentamento à escravidão, como no caso do movimento
abolicionista no Ceará que resultou em uma abolição pioneira no Brasil e que
este mês completa 130 anos, nos levando, mais uma vez, a refletir sobre os
desdobramentos deste processo no bojo dos discursos que se sucederam. Da mesma
forma, a omissão sobre o protagonismo de mulheres negras ao longo da história
do Brasil se reproduz no tocante a história oficial do feminismo brasileiro.
Ao voltar o olhar para o feminismo brasileiro percebemos as profundas desigualdades que se reproduzem em suas contradições internas, principalmente quando visto a partir da dimensão racial, ao desconhecer e desconsiderar o duro processo de aprendizagem em busca da construção da identidade da mulher negra. É necessário, portanto, avançar diante destas e outras contradições específicas através de um denso questionamento da lógica estrutural da sociedade, onde estará presente o racismo.
É
neste sentido que buscamos reescrever nossa história, para que possamos nos reconhecer
como sujeitos em nosso próprio discurso e, assim, fortalecer os laços de nossa
identidade através da organização coletiva. Pouco sabemos sobre a vida da Preta
“Tia Simoa”, que de forma quase que despercebida passa as vistas dos
historiadores, constando apenas um minúsculo relato sobre sua participação na
Greve dos Jangadeiros de janeiro de 1881 (GIRÂO, 1984, p.104), o que demonstra
a dívida histórica deste país para conosco.
Contudo, Simoa representa para nós uma visão alternativa de mundo ao mesmo tempo em que propõe para todos novas discussões acerca das estruturas sociais tradicionais, nos permitindo a reconfiguração de uma realidade social. Em nome dela, saudamos a todas as negras invisíveis na história e nos fortalecemos no eco de suas vozes silenciadas para dizer que aqui estamos e que daqui, do Ceará, falamos em inúmeras primeiras pessoas e dizemos que ainda há muito que se contar. Nossa história apenas começou.
Ataques contra o filme ‘Marighella’ são racistas, diz seu Jorge
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Seu Jorge (à esq) e Wagner Moura, o diretor do filme. (FOTO/ Reprodução/ Notícia Preta). |
O
ator e cantor Seu Jorge foi criticado nas redes sociais por ser supostamente
retinto demais para interpretar o papel do guerrilheiro Marighella no filme de
Wagner Moura. As críticas surpreenderam Seu Jorge e, em entrevista ao jornal
Folha de S.Paulo, o artista disse ver racismo nas raízes da controvérsia.
“Eu convivo com isso desde criança, nunca foi diferente. O que hoje é diferente é a possibilidade de representatividade. Um dos acertos desse filme é justamente devolver a origem de Carlos Marighella, um personagem que sofreu não só um apagamento, mas também um embranquecimento, como muitos outros da nossa história”, afirma.
“É
um processo de eugenização dizer que ele não era preto. Os avós dele foram
escravos, sabe, a questão é que ele nunca esteve nessa condição de homem negro
que se cala.”
A
situação é consequência de um país que ainda hoje não sabe ao certo como lidar
com seu histórico racista, acredita. Não ajuda também o fato de Sérgio Camargo
ocupar a presidência da Fundação Palmares, numa gestão que Seu Jorge julga ser
“contraproducente, um desserviço”. “É lamentável a postura desse senhor, que eu
não conheço e também não reconheço como um líder com capacidade de nos orientar
no caminho do progresso.”
Após
dois anos da estreia mundial no Festival de Berlim, o longa “Marighella” será finalmente lançado no
Brasil no dia 4 de novembro.
“É inacreditável que o filme só vá estrear
agora. Em Berlim, foi aplaudido de pé por dez minutos; Seu Jorge [que
interpreta Marighella] já ganhou prêmios na Itália e na Índia. Mas é um filme
feito para o Brasil. A primeira estreia foi cancelada pela Censura. Os pedidos
que a O2 [produtora] fez à Ancine eram absolutamente normais, negados
assustosamente numa época em que Bolsonaro atacava o cinema nacional“,
declarou o diretor do filme, Wagner Moura, ao jornal O Globo.
Gravado
na Bahia, em São Paulo e no Rio de Janeiro, o longa-metragem é baseado no livro
“Marighella o Guerrilheiro que Incendiou
o Mundo”, do jornalista e escritor Mario Magalhães, e mostra os últimos
anos de vida do guerrilheiro, morto em uma emboscada em 1969.
Com informações do Notícia Preta.
Jornalista que cobre o G20 relata a situação deprimente de Bolsonaro no evento
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(FOTO/ Twitter/ Reprodução). |
O
jornalista Jamil Chade, do portal UOL, que cobre o encontro do G20, em Roma, na
Itália, publicou um relato com as impressões sobre a presença de Jair Bolsonaro
no evento que reúne líderes responsáveis por 80% da economia mundial. Para o
correspondente, desde o primeiro minuto, o ocupante do Palácio do Planalto
parecia desconfortável e totalmente deslocado.
Na
antessala destinada a abrigar líderes mundiais, cercada de guarda-costas e
veículos militares blindados que fazem a segurança do evento, autoridades como
a alemã Angela Merkel, o francês Emmanuel Macron, o português Antônio Guterres,
secretário-geral da ONU, e a holandesa Ursula van der Leyen, presidente da
Comissão Europeia, tratam de assuntos de Estado, em tom característico,
enquanto Jair Bolsonaro se mantém isolado e ignorado num canto.
Tentando
se entrosar, pergunta a garçons e organizadores se “são todos italianos ali”.
Os empregados, preocupados em manter o foco no emprego, apenas fazem um sinal
com a cabeça. As investidas inconvenientes e desconexas seguem e se amplificam.
Bolsonaro, agora em tom mais alto, faz piada com a distante final da Copa de
70, entre Brasil e Itália. Ninguém entende e o radical de extrema direita segue
em seu isolamento.
Chade
relata ainda que, com a aproximação de um guarda-costas da conferência,
presumivelmente um agente de segurança do governo italiano, Bolsonaro olha para
o homem, trajado de terno e com o semblante sem expressão típico, e diz:
“máfia”.
Um
vexame. Quem conhece a história e as mazelas italianas das últimas décadas sabe
que o crime organizado é uma das chagas do país, onde quadrilhas altamente
sofisticadas operam em vários ramos, sobretudo no tráfico de drogas, colocando
a nação peninsular na desconfortável posição de uma das principais portas de
entrada de entorpecentes da comunidade europeia.
A
comitiva brasileira, formada por ministros e diplomatas, resolve agir. Saem com
chefe de Estado brasileiro em busca de interlocutores. Um dos abordados, como
já noticiado, é Recep Tayyip Erdogan, presidente da Turquia. A conversa entre
os dois é recheada de mentiras por parte de Bolsonaro, que falou sobre a “forte
recuperação econômica brasileira” e a “alta popularidade”, num país em que 58%
da população consideram seu governo ruim ou péssimo.
Numa
síntese, o jornalista do UOL afirma que nas cimeiras internacionais onde
Bolsonaro está presente nos últimos três anos, apenas seus ministros o cercam,
enquanto líderes mundiais o ignoram totalmente.
________________
Com informações da Revista Fórum.
31 de outubro de 2021
Nome de João Cândido é aprovado em comissão no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria
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O almirante João Cândido (FOTO/ Reprodução / Prefeitura de São João de Meriti). |
A
Comissão de Educação (CE) aprovou nesta quinta-feira (28) projeto que inscreve
o nome de João Cândido Felisberto no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. O
PLS 340/2018, do ex-senador Lindebergh Farias, teve parecer favorável do
senador Paulo Paim (PT-RS) e segue agora para análise da Câmara dos Deputados,
se não houver solicitação para análise em Plenário.
Nascido
no Rio Grande do Sul em 1880, filho de ex-escravizados, João Cândido trabalhou
por mais de 15 anos na Marinha de Guerra do Brasil, tendo sido instrutor de
aprendizes de marinheiro. Ele foi o marinheiro que liderou a Revolta da
Chibata, ocorrida em 1910 em navios atracados na Baía de Guanabara, no Rio de
Janeiro, e entrou para a história como o Almirante Negro.
Em
reunião anterior o senador Izalci Lucas (PSDB-DF) pediu vista “para melhor
conhecimento da matéria”. Nesta quinta-feira o parlamentar votou favoravelmente
ao projeto, mas leu para o colegiado nota de posição da Marinha, em que a
instituição considera que o movimento ocorrido em novembro de 1910 não pode ser
considerado como “ato de bravura” ou de “caráter humanitário”.
De
acordo com a nota técnica, “a revolta dos marinheiros de 1910 foi, de fato, um
acontecimento triste na história do país. Todos os envolvidos, dentre eles a
Marinha, setores do governo, os revoltosos e outras instituições tiveram culpas
e omissões. Mas, reconhecer erros não justifica avalizar outros e, por
conseguinte, exaltar as ações dos revoltosos”.
Emocionado,
Paim enfatizou que respeita a Marinha e que não a vê como um polo racista no
Brasil.
—O
nosso próprio homenageado, o Almirante Negro, que num movimento para a sociedade
já é um herói, escreveu a sua história dentro da Marinha, mas a Marinha, no
documento, reconhece que ela discordou também da chibata.
Paim
destacou o apoio de diversas personalidades e instituições, entre elas a
Defensoria Pública da União, a Coordenadoria de Assuntos Raciais, a Associação
Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as, a Coalizão Negra por Direitos, a
Associação Brasileira de História, a Frente Nacional Antirracista. Ele lembrou
ainda homenagens feitas a João Cândido, entre elas as realizadas pelo governo e
pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, além da Fundação Palmares.
—
Em 24 de julho de 2008, 39 nove anos depois da morte de João Cândido
Felisberto, publicou-se, como a própria Marinha reconhece, no Diário Oficial da
União, anistia total e irrestrita àqueles que lideraram a Revolta da Chibata.
Em 7 de maio de 2010 — olhe bem —, a Transpetro, a pedido do Presidente da
República, batizou com o nome de João Cândido o primeiro navio do Promef
(Programa de Modernização e Expansão da Frota).
Segundo
o senador, “João Cândido é, na verdade, um agente social, que lutou e deu sua
vida em defesa da dignidade e da justiça, uma personagem da história
brasileira”.
—
À época dos acontecimentos, ele já era tratado como herói, tornando-se então
figura lendária. É cantado em verso e prosa até os dias de hoje. Por muitos e
muitos anos, o assunto não veio ao debate, mas as raízes, que são profundas e
verdadeiras, jamais morrem. Elas não morrem, elas ficarão sempre vivas. Eu
sempre digo que as causas são indomáveis e ninguém consegue vencer as causas
onde elas são justas. Elas se eternizam, elas tornam-se povo. Isso também faz a
história de um povo e de um país.
O
senador Flávio Arns (Podemos-PR) ratificou seu apoio a Paim.
—
Esse é um fato que aconteceu naquela época. Já me manifestei que o
comportamento mais adequado da Marinha seria pedir perdão para a sociedade para
os fatos ocorridos, da mesma forma como o Brasil deveria pedir perdão pela
escravidão que ocorreu no nosso país. Isso não pode se repetir e temos de
reparar aquilo que cometemos — afirmou.
Líder
da bancada do PT no Senado, o senador Paulo Rocha (PT-PA) disse que foi
procurado pelo comando da Marinha.
—
Uma homenagem a João Cândido não significa uma posição de aversão à Marinha.
Nós consideramos a Marinha uma das forças armadas mais próximas da situação de
nosso povo. Eu quero demonstrar com isso o sentimento que nós temos em relação
à Marinha, para poder não colocar essa questão que o companheiro Paulo Paim
colocou na defesa e na homenagem a esse grande brasileiro chamado João Cândido
(…) Porque ele não atuou só como marinheiro; ele foi um personagem muito
importante na luta dos negros, dos povos daquela época.
Esperidião
Amin (PP-SC) considerou o assunto muito sério e complexo.
—
A nota técnica na Marinha deve constar por inteiro nos anais dessa sessão.
Porque uma coisa é homenagear uma pessoa, outra coisa é interpretar um
movimento — no caso, um movimento que não foi de um dia. (…) O personagem
merece, sim, o meu voto favorável porque, de alguma forma, contribuiu para uma
evolução.
Revolta
O
principal motivo da revolta foi a insatisfação dos soldados da Marinha com os
castigos físicos, os maus-tratos e as más condições de trabalho. Os castigos
cruéis eram proibidos na Marinha desde 1889. Mesmo assim, eram impostos pelos
oficiais aos soldados, negros em sua maioria. Várias tentativas de negociação
fracassaram, entre elas a que contou com a participação do então presidente da
República Nilo Peçanha.
O
estopim para a revolta foram as 250 chibatadas destinadas ao marinheiro
Marcelino Menezes, acusado de agredir um oficial. A punição incluiu a proibição
de que ele recebesse atendimento médico.
Por
quatro dias, quatro encouraçados apontaram seus canhões para a Baía da
Guanabara. A tensão terminou com o compromisso do governo, em acordo aprovado
pelo Senado e assinado pelo presidente Hermes da Fonseca, sucessor de Nilo
Peçanha, de dar fim ao uso da chibata e anistiar os envolvidos na revolta.
A
anistia prometida, contudo, não ocorreu. João Cândido foi expulso da Marinha e
preso por dois anos na Ilha das Cobras. Mesmo inocentado das acusações, foi
banido, sendo perseguido até mesmo ao buscar trabalho na Marinha Mercante.
Paim
afirma que Cândido morreu em 1969 sem o devido reconhecimento de suas
contribuições, sem patente e na miséria. Em 2008, o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva sancionou a Lei 11.756, que concedeu anistia póstuma a João Cândido
Felisberto e aos demais participantes da Revolta da Chibata.
________________
Com informações do Geledés.
30 de outubro de 2021
Dia da Consciência Negra pode se tornar feriado municipal em Altaneira
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Altaneira, Ceará. (FOTO/ Reprodução). |
O
projeto de Lei da Câmara de Altaneira, de número 026/2021, pode tornar o 20 de
novembro - dia da Consciência Negra - em feriado municipal. A iniciativa partiu
do presidente da casa, o vereador Deza Soares (PT).
Tornar
o dia em que se relembra toda uma história de resistência e de luta da
população negra do país, é uma das 11 (onze) propostas do Plano Municipal de
Combate ao Racismo e de Promoção da Equidade apresentado pelo professor e
fundador deste Blog, Nicolau Neto, junto aos poderes executivo e legislativo no
mês de maio do ano em curso.
Na
justificativa do projeto, Deza frisou que entende o racismo como estrutural e
que está cada vez mais latente nessa conjuntura política atual. Por isso,
desejo se contrapor ao extermínio da população negra. É preciso enfatizar,
ainda, que mudar e transformar cada espaço passa necessariamente pelo combate
ao racismo e concomitantemente pela promoção da equidade e para tanto, é
fundamental a construção de ações afirmativas concretas e viáveis.
“O projeto em destaque se insere dentro dessa discussão e contribui para que o grupo que representa mais de 56% da população, possa se sentir contemplado, além de demonstrar que Altaneira, por meio deste parlamento, está acenando positivamente para reconhecer a importância da negritude na formação do país”, escreveu.
O
projeto foi apresentado na última quarta-feira (27/10) e encaminhado à Comissão Permanente para análise e emissão
de parecer. Se for ao plenário e aprovado, a lei 674 de 1º de fevereiro de
2017, que tornou a data supracitada ponto facultativo ficará sem efeito,
passando a data a fazer parte do calendário municipal como feriado.
Clique aqui e conheça a Lei 674/2017.
Clique aqui e conheça o
Plano de Combate ao Racismo e de Promoção da Equidade em Altaneira.
Bolsonaro extingue Bolsa Família no momento que o povo mais precisa
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(FOTO/ Reprodução). |