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Reinaldo. (FOTO/ Reprodução/ Acervo Crítico). |
O
jogador que encarou os generais argentinos e brasileiros e ajudou a desvendar o
maior esquema de tortura da história da América do Sul
O
ano era 1977, e o Atlético Mineiro tinha um time de causar inveja. Em seu
elenco, o principal nome era Reinaldo, centroavante muito rápido e goleador,
que foi artilheiro daquela edição do Campeonato Brasileiro.
Reinaldo
comemorava gols com o braço levantado em riste, com punhos cerrados. Gesto
atribuído ao símbolo internacional de luta por direitos humanos e sociais e
incorporado à luta antirracista com os Panteras Negras.
Durante
o ano de 1978, a pressão pela convocação de Reinaldo era reprovada pelos
generais brasileiros que, na época, o consideravam de esquerda e subversivo.
No
período, a seleção brasileira tinha em seu quadro de cartolas mais de 50% de
membros do Exército. Porém, a pressão foi tão grande que acabaram levando o
jogador.
Durante
os últimos jogos da seleção em território nacional, o presidente do Brasil,
General Geisel, chamou Reinaldo para uma conversa e "recomendou" que
se ele fizesse gol, não se atrevesse a comemorar como sempre fazia, pois aquela
comemoração era coisa de comunista.
Malas
prontas, desembarque no aeroporto de Buenos Aires, a Copa do Mundo de 1978
começou na Argentina. Assim como o Brasil, o país vivia uma sangrenta Ditadura
Militar, comandada pelo General Videla.
O
jogo de estreia do Brasil foi contra a Suécia. Reinaldo e Zico estavam jogando
muito. Reinaldo, então, fez um gol e, após segundos de hesitação, soltou o
gesto dos Black Panthers.
O
atleta não jogaria mais pela seleção, foi sacado e nunca mais colocado naquela
Copa.
No
hotel, Reinaldo recebeu um envelope com um relatório. O documento contava a
história da "Operação Condor", uma cooperação entre países
sul-americanos para matar e torturar possíveis inimigos do Regime,
principalmente políticos. A documentação revelava que políticos importantes
chilenos foram mortos pela sanguinária Ditadura de Pinochet e que a morte do
ex-presidente JK, no Brasil, foi fruto da operação.
Como
não entendia espanhol direito, e de posse de um documento importante, o que o
jogador conseguiu entender já foi suficiente para compreender sua missão. Ele,
então, procurou o amigo Gonzaguinha, que tinha contatos com movimentos sociais
e instituições ligadas aos direitos humanos e entregou os documentos. Aqueles
papéis foram extremamente importantes para aumentar o desgaste na imagem
internacional dos generais sul-americanos e também para elucidar crimes contra
a humanidade cometidos por eles.
Por
fim, Reinaldo se tornou um dos maiores jogadores da história da América do Sul
e não foi só pelo talento e pelo futebol, mas sim por alterar os rumos da
história.
______________
Por Joel Paviotti, no Acervo Crítico.
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