O
servidor público Manoel de Sousa, conhecido popularmente por Nézio, candidato derrotado
ao cargo de presidente do Servidores Municipais de Altaneira (Sinsema) no
último domingo, 04, rebateu as declarações do presidente eleito José Evantuil.
Nézio, candidato derrotado nas eleições do Sinsema. (Foto: Reprodução/Blog de Altaneira).
Tão
logo o resultado oficial do processo eleitoral saiu, o professor e sindicalista
Evantuil falou a redação do Blog Negro Nicolau (BNN). Naquela oportunidade, ele
destacou que seu opositor obteve apoio de padrinhos político. “Graças a deus a gente evitou que um afilhado
do grupo político, com padrinho entrasse no sindicato. A gente sabe que, afinal
de contas, ele, o grupo que estava se opondo a nós estava tutelado por pessoas
partidárias, da política partidária”.
O
Blog de Altaneira (BA) teve acesso as declarações de Nézio e as reproduziu. O BA
cita que o candidato derrotado usou a rede social Facebook para reforçar a tese
de que o presidente eleito contou com o apoio dos gestores municipais. Menciona
ainda que “os membros da chapa2”, da qual
ele fez concorreu, “nunca negaram que contava com o apoio de lideranças, mas o
presidente eleito sempre negou o apoio dos atuais gestores”.
“Essa diretoria que se reelegeu sim, tem
partido, e todos nós sabemos qual é. Certamente não será o dos servidores”,
destacou Nézio.
O Blog Negro Nicolau procurou o servidor Nézio, mas este não respondeu aos questionamentos.
Tia Simoa. Cordel biográfico de Jarid Arraes. (Foto/ Reprodução/ Blog Mônica Aguiar Souza).
A
Preta “Tia Simoa” foi uma negra liberta que, ao lado de seu marido (José Luís
Napoleão) liderou os acontecimentos de 27, 30 e 31 de janeiro de 1881 em
Fortaleza – Ce , episódio que ficou conhecido como a “Greve dos Jangadeiros”,
onde se decretou o fim do embarque de escravizados naquele porto, definindo os
rumos para a abolição da escravidão na então Província do Ceará, que se
efetivaria três anos mais tarde. No entanto, apesar de sua importante
participação para a mobilização popular que impulsionou os acontecimentos, esta
mulher negra teve sua participação invisibilizada na história deste Estado
onde, ainda hoje, persiste a falsa premissa da ausência de negr@s.
As
mulheres negras cearenses são comumente indagadas sobre sua origem e
constantemente remetidas à Bahia, principalmente se não submetem seus cabelos a
processos de alisamento. Esta não aceitação de nossa identidade se deve a cruel
associação d@ negr@ à condição de escrav@, que no caso do estado do Ceará, teve
seu processo diferenciado das principais capitanias importadoras de mão de obra
escravizada devido a suas condições climáticas e geográficas, o que não
significa dizer que aqui não tiveram escrav@s ou que não existiram negras e
negros livres, a exemplo da “Tia Simoa” que, além de liberta lutou pela
liberdade de seu povo, evidenciando uma expressiva característica da população
negra (escravizada ou liberta) deste período que ultrapassa a visão dicotomizada
entre o conformismo e a resistência, pois demonstra “uma experiência construída
historicamente pela etnia negra” (FUNES) estabelecida através de sua
sociabilidade, engajamento e luta inserida em seu cotidiano.
A
ausência desta documentação histórica se repete no tocante as demais lideranças
negras que atuaram no restante do país como Luíza Mahin (Ba), Mariana Crioula
(Rj), Tereza de Benguela (Mt) dentre tantas outras que poderiam figurar na
lista de resistência e resiliência negra feminina mas que são invisíveis na
historiografia oficial do país, bem como na história do feminismo brasileiro
que desconhece o extenso histórico de enfrentamento político e social da mulher
negra no Brasil. A omissão desta representação na história oficial perpetra o
imaginário social e destina, controla e manipula a subjetividade desse
contingente significativo de mulheres no Ceará, assim como no restante do
Brasil que, além de não veem suas demandas específicas inseridas no debate
sobre feminismo também não se percebem nos principais embates simbólicos
travados no bojo dessa importante organização política.
Atrelando
o conceito de gênero ao de “raça”, onde ambos descartam o discurso biologizante
das diferenças para se deterem ao campo semântico do conceito abreviado de “mulher
negra”, devemos considerar que este é, sobretudo, um conceito determinado pela
estrutura da sociedade e pelas relações de poder que a conduzem. Dessa forma,
conhecer a história de Simoa, mulher negra cuja história está submersa entre os
escombros da memória é, pois, estabelecer um sentido de pertencimento a um
grupo social historicamente invisibilizado no estado do Ceará. Ao sabermos da
influencia que as representações históricas exercem na organização social
poderemos compreender de que forma o discurso, inserido no pensamento social,
contribui para a construção das relações que se estabelecem neste meio.
Ao
eleger os sujeitos de uma representação histórica, estamos exercendo o que
Bourdieu chama de “poder simbólico” (2006, p.14), pois estamos nomeando um
objeto constituído na enunciação. Compreendendo o discurso como campo de
exercício deste poder e, portanto, como instrumento de dominação, ele assim se
efetua ao tomar reconhecimento e se concretiza ao tornar-se uma representação
social ideologicamente estruturada, vindo a contribuir significativamente para
a construção da realidade.
Com
isso quero dizer que, ao buscar conhecer a estrutura socioeconômica dos
responsáveis pela produção e reprodução deste discurso, podemos entender como
se formaram as configurações ideológicas acerca da imagem da população negra no
Ceará, sobretudo no discurso do período pós-abolição, onde se elegeu os
sujeitos para representarem o movimento abolicionista ao mesmo tempo em que
sepultava a memória dos “atores” esquecidos. É por meio do poder simbólico que
a historiografia oficial tende a forjar a “não presença” de negras e negros no
estado do Ceará e, assim, a naturalizar essa invisibilidade por meio da
reprodução deste discurso no âmbito educacional perpetrando o imaginário
social.
É,
portanto, percorrendo o itinerário oposto que buscamos desvendar os elementos
para compor nossa representação histórica a partir do protagonismo de mulheres
negras que tiveram sua participação omitida nos discursos sobre a série de
ações de resistência e de enfrentamento à escravidão, como no caso do movimento
abolicionista no Ceará que resultou em uma abolição pioneira no Brasil e que
este mês completa 130 anos, nos levando, mais uma vez, a refletir sobre os
desdobramentos deste processo no bojo dos discursos que se sucederam. Da mesma
forma, a omissão sobre o protagonismo de mulheres negras ao longo da história
do Brasil se reproduz no tocante a história oficial do feminismo brasileiro.
Ao
voltar o olhar para o feminismo brasileiro percebemos as profundas
desigualdades que se reproduzem em suas contradições internas, principalmente
quando visto a partir da dimensão racial, ao desconhecer e desconsiderar o duro
processo de aprendizagem em busca da construção da identidade da mulher negra.
É necessário, portanto, avançar diante destas e outras contradições específicas
através de um denso questionamento da lógica estrutural da sociedade, onde
estará presente o racismo.
É
neste sentido que buscamos reescrever nossa história, para que possamos nos
reconhecer como sujeitos em nosso próprio discurso e, assim, fortalecer os
laços de nossa identidade através da organização coletiva. Pouco sabemos sobre
a vida da Preta “Tia Simoa”, que de forma quase que despercebida passa as
vistas dos historiadores, constando apenas um minúsculo relato sobre sua
participação na Greve dos Jangadeiros de janeiro de 1881 (GIRÂO, 1984, p.104),
o que demonstra a dívida histórica deste país para conosco.
Contudo,
Simoa representa para nós uma visão alternativa de mundo ao mesmo tempo em que
propõe para tod@s novas discussões acerca das estruturas sociais tradicionais,
nos permitindo a reconfiguração de uma realidade social. Em nome dela, saudamos
a todas as negras invisíveis na história e nos fortalecemos no eco de suas vozes
silenciadas para dizer que aqui estamos e que daqui, do Ceará, falamos em
inúmeras primeiras pessoas e dizemos que ainda há muito que se contar. Nossa
história apenas começou. (Texto de Karla Alves, no Blog Pretas Simoa).
Conceição Evaristo é a homenageada do ENEM 2018. (Foto: Flip/Direitos Reservados).
A
escritora mineira Conceição Evaristo foi a homenageada no Enem 2018, segundo o
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Trechos de sua obra foram selecionados e estão impressos nas capas das provas
do Enem. A cada ano o Inep elege uma personalidade ou um tema para as frases.
Os
participantes precisam transcrever a frase apresentada na capa do Caderno de
Questões para o Cartão-Resposta. Cada tipo de prova – são quatro cores
diferentes, além das provas acessíveis – tem uma frase diferente. Segundo o
Inep, uma das frases usadas na prova do Enem é: “E não há quem ponha um ponto final na história”.
Negra,
nascida em 1946, em uma favela de Belo Horizonte, Conceição Evaristo concluiu o
curso normal aos 25 anos e mudou-se para o Rio de Janeiro. É formada em letras
pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mestre em literatura
brasileira pela PUC-RJ e doutora em literatura comparada pela Universidade
Federal Fluminense (UFF).
Conceição
Evaristo publicou Ponciá Vivêncio, seu primeiro romance, em 2003. É autora
ainda de Becos da Memória e Insubmissas Lágrimas de Mulheres.
Enem
Ontem
(4) foi o primeiro dia de prova do Enem. Os estudantes fizeram provas de
linguagem, ciências humanas e redação em mais de 1,7 mil municípios. O exame
segue no dia 11 de novembro, quando serão aplicadas as provas de ciências da
natureza e matemática.
A
nota do exame poderá ser usada para concorrer a vagas no ensino superior
público pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), a bolsas em instituições
privadas, pelo Programa Universidade para Todos (ProUni) e para participar do
Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). (Com
informações do O Dia).
Paulo Guedes quer fim do investimento em cultura pelo Sesc. (Foto: Divulgação).
Um
dos maiores apoiadores de iniciativas culturais poderá deixar de existir como
conhecemos hoje. Segundo o colunista d’O Globo Lauro Jardim, “o Sistema S como
funciona hoje está com os dias contados a partir da posse de Paulo Guedes no
Ministério da Fazenda”.
De
acordo com o jornalista, Sebrae, Sesc, Sesi, Senai e outros serão profundamente
reformulados. “Entre as mudanças
previstas está o fim de patrocínios que nada tenham a ver com a formação e
capacitação de trabalhadores.”
Atualmente
o Sesc tem uma forte atuação na promoção da cultura, com extensa programação de
shows, exibição de filmes, mostras, teatro, dança, oficinas, entre outras
atividades, em suas unidades presentes em diversas cidades do país.
Além
de retirar a cultura do Sistema S, Bolsonaro defendeu a extinção do Ministério
da Cultura durante sua campanha à Presidência.
A
Frente Parlamentar Evangélica, também conhecida como bancada evangélica,
elaborou um “manifesto à nação” com
uma série de propostas na última semana. Os 180 parlamentares da frente
defendem o fim do Ministério da Cultura, que seria incorporado ao da Educação (Com informações da Revista Fórum).
O
primeiro dia de prova do Enem trouxe questões sobre feminismo, nazismo,
escravidão, regime militar, crise de refugiados, entre outros. Já o tema da
redação foi “Manipulação do comportamento
do usuário pelo controle de dados na internet”.
Entre
as questões da prova, uma abordava um dicionário criado somente para o
vocabulário usado por travestis. Outra de inglês utilizou um trecho do clássico
livro do escritor inglês George Orwell, “1984”, no qual o herói da narrativa,
Winston, conversa com o colega O’ Brien sobre o controle do partido. Houve
outra sobre verbos no modo imperativo, que apresentou uma peça publicitária
sobre violência contra a mulher.
Mais
de 5,5 milhões de estudantes fizeram provas de linguagem, ciências humanas e
redação em mais de 1,7 mil municípios neste domingo (4). O exame segue no dia
11 de novembro, quando serão aplicadas as provas de ciências da natureza e
matemática.
A
nota do exame poderá ser usada para concorrer a vagas no ensino superior
público pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), a bolsas em instituições
privadas, pelo Programa Universidade para Todos (ProUni) e para participar do
Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).
Veja os temas da redação de edições
anteriores do Enem, desde que foi reformulado, em 2009:
Enem
2009: O indivíduo frente à ética nacional
Enem
2010: O trabalho na construção da dignidade humana
Enem
2011:Viver em rede no século XXI: Os
limites entre o público e o privado
Enem
2012: O movimento imigratório para o Brasil no século XXI
Enem
2013:Efeitos da implantação da Lei Seca
no Brasil
Enem
2014: Publicidade infantil em questão no Brasil
Enem
2015: A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira
Enem
2016: Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil e Caminhos para
combater o racismo no Brasil – Neste ano houve duas aplicações do exame
Enem
2017: Desafios para formação educacional de surdos no Brasil (Com informações da Agência Brasil, O Globo e
Revista Fórum).
Evantuil durante votação. (Foto: Reprodução/Facebook).
O
professor e sindicalista José Evantuil foi eleito neste domingo, 04/11,
presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de Altaneira (Sinsema) com
larga vantagem.
Evantuil
recebeu 61% dos votos, depois de apuradas 100% das urnas em cédulas de papel.
Seu opositor, o servidor público Manoel de Sousa, conhecido popularmente por
Nézio, ficou com 38% dos votos. Brancos e nulos somou 1%.
Em
contato com a redação do Blog Negro Nicolau (BNN) o presidente eleito afirmou
que quer aproveitar essa “festa
democrática que é a escolha do dirigente do sindicato”. Para ele o processo
eleitoral ocorreu na mais absoluta tranquilidade. “O colegiado de servidores do município que são associados participaram
de forma tranquila”, ponderou. Evantuil argumentou ainda que a eleição
ocorreu de forma limpa, “sem vício”. “Tudo foi republicanamente correto”.
Ele
aproveitou para agradecer a todos os servidores que “acreditaram” nas propostas
e que de igual modo acreditaram que o grupo “está mais preparado para assumir
os desafios do sindicato”.
O
presidente eleito destacou ainda o papel da oposição. “Quero agradecer a todos
os que participaram do processo democrático, afinal a democracia precisa
daqueles que pensam contrário. Então os que pensaram contrário, foram no
sindicato e fizeram sua participação”. Ele afirmou que irá respeitar o
posicionamento da oposição e aproveitou para parabeniza-lo.
Quanto
a sua atuação à frente da entidade sindical, o eleito rebateu as críticas que
surgiram nos dias que antecederam a eleição, principalmente do fundador do
SINSEMA, o jurista e blogueiro Raimundo Soares Filho e do professor e vereador
Adeilton. Ambos chegaram a mencionar “interferência do executivo dentro da
entidade”, o que, segundo eles, dificultavam a autonomia sindical e
interferência no resultado eleitoral. Evantuil ressaltou que “não quer influência de partido político”.
Disse que sua chapa “não tem padrinho
político nem da situação, nem da oposição”.
Por
outro lado, Evantuil destacou que seu opositor obteve apoio de padrinhos
político. “Graças a deus a gente evitou
que um afilhado do grupo político, com padrinho entrasse no sindicato. A gente
sabe que, afinal de contas, ele, o grupo que estava se opondo a nós estava
tutelado por pessoas partidárias, da política partidária”. Segundo ele, seu
grupo vai fazer de tudo “para o sindicato
não ser aparelhado nem para servir a gestores e nem também para estar fazendo
plataforma de oposição”, pois “a
gente entende que isso atrapalha muito a vida do servidor”. Disse ainda que
“o sindicato não pode nem ser omisso e
ajoelhado a gestores, mas também o sindicato muito aguerrido politicamente e
partidariamente falando e muito opositor também bloqueia todas as portas do
sindicato que não consegue negociar com o gestor e nós sabemos que a negociação
ela é importante”.
Centos
e oitenta e nove (189) servidores sócios estavam aptos a votarem, mas apenas
cento e setenta e seis (176) compareceram. Destes, Evantuil 108 resolveram
creditar sua confiança em Evatuil, enquanto que 66 optaram por Nézio. Treze não
compareceram e brancos e nulos foram dois.
A
redação do BNN também procurou o candidato derrotado, mas até o fechamento
desta matéria não obteve resposta.
Candidatos do ENEM entram para fazer a prova pouco depois que os portões da Universidade Veiga de Almeida, no Maracanã, são abertos. (Foto: Marcelo Regua/ Agência o Globo).
O
tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2018 é 'Manipulação do
comportamento do usuário pelo controle de dados na internet' . O Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que é
responsável pela prova, divulgou a informação no twitter logo após o início da
prova.
Neste
domingo, os candidatos fazem as provas de Ciências Humanas, Linguagens e
Redação. Eles terão das 13h30 às 19h para resolver 180 questões e escrever o
texto. No próximo domingo, os participantes farão as provas de Ciências da
Natureza e Matemática das 13h30 às 28h30.
A
prova de redação avalia cinco competências, a primeira diz respeito ao domínio
da linguagem formal. Na competência dois, a banca avalia a capacidade do
candidato de compreender a proposta e aplicar conceitos das várias áreas de
conhecimento para desenvolver o tema. Na terceira competência, os avaliadores
observam a capacidade de relacionar opiniões e argumentos a favor de um ponto
de vista.
A
quarta competência se refere ao conhecimento dos mecanismos linguísticos para
construção da argumentação. O último critério avaliado pelo Enem se refere à
elaboração de proposta de intervenção para o problema, com respeito aos
direitos humanos.
Até
o ano passado, o candidato que desrespeitasse os Direitos Humanos na prova de
redação do Enem recebia zero. Na última edição, após uma determinação do
Supremo Tribunal Federal, o critério passou a não mais zerar a prova, mas ele
ainda penaliza, com retirada de pontos. (Com informações do O Globo).
“Acham
que caímos de paraquedas na universidade!”. A afirmação é de Márcia
Pinheiro, 22 anos, estudante do curso de Jornalismo na Universidade Federal do
Pará (UFPA), moradora da comunidade de Itacuruçá Alto, em Abaetetuba, região
Nordeste do Estado. A fala demonstra o quanto a conquista de uma vaga no ensino
superior por um remanescente de quilombola é algo complexo e considerado
distante.
A
jovem se queixa quando algumas pessoas dizem que ela e os demais alunos
quilombolas estariam ocupando a vaga de um estudante que mereceria mais que
eles a oportunidade de acesso a uma universidade. O assunto reúne uma série de
discussões, como preconceitos de diversas ordens e dificuldades estruturais
intrínsecas à maioria das comunidades no país.
Márcia Pinheiro (centro) é uma das primeiras aprovadas no processo seletivo especial da UFPA. A incompreensão de outras pessoas sobre sua comunidade e sobre o vestibular especial ainda incomodam a jovem. (Foto: Cezar Magalhães).
Apesar
do Pará ser o estado da região Norte com o maior número de Comunidades de
Remanescentes de Quilombos (CRQs), ainda há pouco sendo feito para facilitar o
acesso e melhorar a educação nestas áreas, especialmente em relação ao ingresso
ao Ensino Superior.
Tais
dificuldades partem desde as metas do Plano Nacional de Educação (PNE), que não
possui nenhum ponto específico para a educação quilombola. Segundo o Ministério
da Educação (MEC), no entanto, as metas são bastante abrangentes: contemplam
crianças, jovens e adultos de todas as raças e etnias sejam elas de comunidades
tradicionais ou não, independentemente do Estado.
Com
227 comunidades espalhadas em mais de 40 municípios paraenses, esta camada da
população, ainda que tenha papel fundamental para a formação sociocultural do
país, permanece à margem da sociedade e sem condições adequadas de educação,
saneamento, saúde e segurança.
Em
geral, os remanescentes de quilombolas no estado estão ligados à produção
agrícola familiar, o que demanda bastante tempo, já que envolve o plantio, a
colheita e a distribuição dos produtos. Com isto, desde a infância, muitas
pessoas não conseguem prosseguir nos estudos e não concluem sequer o Ensino
Fundamental.
Contribui
ainda para este panorama o número reduzido de escolas em áreas quilombolas (o
Pará possui de 158 a 430 escolas, segundo dados de 2012 da Secretaria de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial). A problemática completa, assim, um
ciclo histórico: sem alternativas econômicas e grandes perspectivas sociais, os
quilombolas no Pará dificilmente concluem todos os níveis de ensino. Ingressar
a um curso superior ainda é visto por eles como um grande desafio que, quando
alcançado, é comemorado não somente pela família, mas por toda a comunidade.
Estas
comunidades ainda carregam algumas chagas do período de escravidão, possuindo
problemas que estão longe de serem solucionados.
Para
Maria do Socorro Amoras, doutora em Antropologia e professora no curso de
Serviço Social da UFPA, é necessário levar em conta que essas populações são
agentes de suas escolhas e têm o direito de dizer como querem continuar vivendo
em seus territórios e fazendo suas incursões com os grupos externos, seja como
professores, advogados, médicos, engenheiros, assistentes sociais, físicos etc.
“Permanecer na terra e lutar por ela não
significa viver unicamente do trabalho rural. Tive a oportunidade de ver
eletricistas, professores graduados, pedreiros, motoristas e estudantes
universitários que trabalham na cidade, mas que dizem não conseguir afastar-se
do trabalho com a terra. Nessas comunidades é comum se ouvir que é desonroso
abandonar a terra”, diz.
Mudanças
são aguardadas e necessárias, há décadas. Entre elas, está até mesmo a ausência
de definição de um local próprio – já que boa parte das localidades
remanescentes já tiveram suas terras tituladas, enquanto outras seguem
aguardando a confirmação da posse da terra. A educação, que deveria ser a base
da busca de um futuro promissor e melhores condições de vida, também fica
comprometida.
Algumas
ações vêm contribuindo para de algum modo facilitar a entrada dos remanescentes
em instituições de ensino superior, como a existência, desde 2013, do Processo
Seletivo Especial (PSE), promovido pela Universidade Federal do Pará UFPA e
pela Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa). O vestibular é voltado para
as comunidades quilombolas, indígenas e moradores do campo.
De
acordo com o MEC, em todo o Brasil, há atualmente seis universidades federais
oferecendo formação continuada para professores que trabalham com alunos
quilombolas. Outra ação destacada pelo Ministério é o incentivo à capacitação
de gestores dos sistemas, das escolas, das coordenações pedagógicas e/ou
núcleos da diversidade, sejam de instituições públicas ou particulares.
Além
disso, o crescimento no número de faculdades particulares na Grande Belém e em
municípios do interior, maior disponibilidade de aparelhos tecnológicos,
operadoras de internet e aumento de iniciativas, como a criação de infocentros,
contribuem para o acesso à informação, interesse e possibilidade de tentativas
de vagas por parte dos quilombolas.
Tais
mudanças, ainda que tímidas, ainda não conseguem alterar outro problema grave
que se arrasta há séculos: o preconceito. Falar da história dos negros é fazer
referência também, infelizmente, à história do racismo, que ainda persiste,
velado ou não, na sociedade brasileira.
Neste
caleidoscópio de dificuldades, mas também possibilidades, surgem então novas
lutas que envolvem os quilombolas na busca pelo acesso e pela permanência no
Ensino Superior. Diversas trajetórias, dificuldades, processos seletivos ajudam
a compor um quadro de possíveis modificações na educação no estado e mesmo no
país. (Com informações do Diário Online).