Debatedores
e deputados apresentaram divergências em relação à reforma do ensino médio. O
tema foi debatido, nesta terça-feira (4), em audiência pública que lotou o
plenário da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados.
A
proposta de reforma do ensino médio foi enviada pelo Governo Temer ao
Congresso, em 23 de setembro, na forma de uma medida provisória (MP 746/16). Os
deputados e senadores apresentaram 568 emendas para tentar aperfeiçoar a medida
provisória.
A
MP amplia gradualmente a carga horária para 1.400 horas; prevê português,
matemática e inglês obrigatoriamente nos três anos do ensino médio; e adota
currículo composto pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), com
possibilidade de ênfases em linguagens, matemática, ciências da natureza,
ciências humanas e formação técnica e profissional.
MP inibe o debate
Logo
no início da audiência pública, o Movimento Nacional em Defesa do Ensino Médio,
formado por entidades de profissionais da educação, divulgou um manifesto pela
rejeição da MP.
Na
avaliação do coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação,
Daniel Cara, a medida provisória inibe o amplo debate em torno de tema tão
complexo e polêmico. A MP trancará a pauta de votação da Câmara a partir de 7
de novembro.
"O Congresso Nacional tem que ficar bastante
cauteloso em relação a essa medida provisória e precisa assumir a sua
responsabilidade de priorizar o Plano Nacional de Educação em detrimento de uma
medida açodada e pouco estudada e trabalhada no conjunto da sociedade",
afirmou Cara.
Danos
As
entidades também identificaram, no manifesto, uma série de danos, que, segundo
elas, encontra-se no conteúdo da medida provisória, como:
-
o "fatiamento" do currículo em cinco fases ou itinerários formativos;
-
o "reforço das desigualdades de oportunidades educacionais";
-
o "incentivo à ampliação da jornada (tempo integral) sem que se assegure
investimento de forma permanente"; e
-
"sonegação do direito ao conhecimento" por meio da retirada de
obrigatoriedade de algumas disciplinas.
Rejeição
A
secretária-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, Marta
Vanelli, pediu aos parlamentares que rejeitem a medida ou que o Executivo a
retire de tramitação.
"Estamos perplexos. Houve muitos debates na
educação brasileira, mas, em nenhum momento, foi apresentada uma proposta tão
ruim para o ensino médio brasileiro", disse Vanelli.
Vários
profissionais de educação levaram cartazes onde se lia: "Diga não ao ensino médio medíocre"
e ao "Retrocesso na educação".
Também denunciaram o risco de profissionais com "notório saber" substituírem professores em sala de aula, mesmo
sem licenciatura.
MEC rebate críticas
Em
defesa da medida provisória, a secretária-executiva do MEC, Maria Helena de
Castro, rebateu as críticas. Ela disse que as matérias obrigatórias do ensino
médio serão definidas na reformulação da Base Nacional Comum Curricular.
Castro
argumentou que a reforma é urgente para reverter a crise do atual modelo.
"O ensino médio praticamente se
transformou em preparatório para o Enem. O Plano Nacional de Educação, na meta
3, fala da universalização e da melhoria da qualidade. A estratégia 3.1
estabelece a flexibilização do sistema e do currículo para atender melhor às
necessidades e demandas da juventude.”
“Tudo foi acompanhado por um conjunto de
pesquisas que trouxeram evidências impressionantes sobre a falta de interesse
do jovem brasileiro pela escola de ensino médio", acrescentou a
secretária-executiva do MEC.
Avaliação do Enem
Por
coincidência, a audiência pública na Câmara ocorre no dia em que foram
divulgadas as notas por escola do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de
2015. O resultado reforça a preocupação com a crise de qualidade dessa fase
escolar:
-
queda nas notas médias dos alunos em linguagens, matemática e ciências da
natureza;
-
38% das escolas avaliadas com nota abaixo da média;
-
das 100 escolas com maior nota média, 97 são privadas;
-
elevado número de professores sem formação específica nas escolas; e
-
apenas 15% do total de alunos avaliados oriundos de famílias mais pobres.
Entre
os bons resultados do Enem 2015, destaca-se apenas o aumento na média geral das
notas de ciências humanas e, principalmente, de redação. Para a secretária do
MEC, ficou claro que o atual ensino médio é "excludente".
Urgência
O
deputado Lobbe Neto (PSDB-SP), um dos autores do pedido de audiência pública,
defendeu a aprovação da reforma. "É
um debate importante, mas não novo. São gerações e gerações que saem do ensino
médio muito mal e, por isso, o tempo urge. Nós precisamos debater e resolver."
Já
o deputado Danilo Cabral (PSB-PE) disse que não admite o uso de medida
provisória para temas tão complexos. "Vai
ser por MP que a gente vai discutir a Reforma Política? Não. O papel do
Congresso Nacional tem que ser respeitado e o diálogo com a sociedade tem que
ser, sim, aprofundado. Então, é um equívoco a forma como foi colocada a medida
provisória."
A
deputada Professora Dorinha Seabra Rezende (DEM-TO) concorda com a rapidez na
tramitação, mas fez um alerta. "Sem
financiamento, não vai sair do papel. Só de boa vontade, não se consegue
construir educação de qualidade".
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A Comissão de Educação da Câmara dos Deputados reuniu especialistas para debater a MP que reforma o ensino médio. |