Um
tema que me intriga é a resolução de divergências. É comum, principalmente nas
esquerdas brasileiras, as pessoas tratarem opiniões diferentes como inimizades
pessoais que não levam a nenhum resultado positivo.
A
tradição da filosofia política há muito se debruça sobre a capacidade do ser
humano de se organizar em sociedade através de acordos e superação de
controvérsias. Quando as questões se tornam irreconciliáveis o desafio do ser
humano é conseguir conviver, respeitar aqueles com os quais não concorda. A
cooperação social e muitos avanços só são possíveis com essa convivência.
Fazer
política requer entender que há quem pense distinto e que a melhor análise de
conjuntura e a melhor leitura da realidade nem sempre serão suas.
Não
existe somente diferenças de interesses sociais e econômicos como também
diferenças entre teorias políticas, econômicas e sociais gerais sobre o
funcionamento das instituições, bem como concepções diferentes sobre as
prováveis conseqüências de políticas públicas. As pessoas tem o direito de
pensar diferente sobre essas questões.
É
um aprendizado quando entendemos que aqueles que o fazem tem legitimidade para
tal e nem por isso são antiéticos, desonestos, safados, pelegos, chapa branca;
ou por outro lado, sectários, porra locas, baderneiros, vândalos e ignorantes.
No
fundo as relações de poder, de classe e culturais estão acima dos sujeitos,
demandam disputas coletivas para serem modificadas, disputas essas que são
inerentes à política.
Vale
trazer a interessante passagem do autor John Rawls no livro Justíça como
equidade para ilustrar o que estou dizendo.
Acredito
que uma sociedade democrática não é e não pode ser uma comunidade, entendendo
por comunidade um corpo de pessoas unidas por uma mesma doutrina abrangente, ou
parcialmente abrangente. O fato do pluralismo razoável, que caracteriza uma
sociedade com instituições livres, torna isso impossível. Esse fato consiste em
profundas e irreconciliáveis diferenças nas concepções religiosas e
filosóficas, razoáveis e abrangentes, que os cidadãos têm do mundo, e na idéia
que eles têm dos valores morais e estéticos a serem alcançados na vida humana.
Publicado
originalmente no Gregoriogrisa