Lançamento do Projeto "Nossas Raízes" na Escola Estadual
Santa Tereza, em Altaneira, coordenado pelo Professor Fabrício
Ferraz. Foto: Cícero Chagas.
Em
Altaneira, os professores da área de Ciências Humanas da Escola Estadual Santa
Tereza lançaram um excelente projeto intitulado “Nossas Raízes” que concorrem
para a efetivação da Lei nº 10. 639/2003.
O Projeto tem a coordenação do professor de História e Filosofia
Fabrício Ferraz e tem como uma das finalidades trabalhar a participação da
cultura africana na formação da sociedade brasileira. O projeto foi lançado
oficialmente no dia 13 de maio e se estenderá até novembro.
Pensando
localmente, a iniciativa é louvável, mas precisa ser ampliada, abarcando assim,
todas as escolas do município. Quando se pensa a nível global, o assunto ganha
ainda mais contornos dramáticos e pesa sobre a não adesão das escolas a Lei
muitos fatores.
“E
o povo negro entendeu que o grande vencedor se ergue além da dor. Tudo chegou
sobrevivente num navio. Quem descobriu o Brasil foi o negro, que viu a
crueldade bem de frente e ainda produziu milagres de fé no extremo ocidente.”
(Caetano Veloso).
O
professor de História, Sociologia e Filosofia, Marcelo Melo discorre sobre esse
assunto e apresenta alguns pontos que merecem destaques:
Vivemos
no 2º país mais negro fora da África. Ficamos atrás apenas da Nigéria. Mais da
metade da nossa população é negra (pardos e negros). Vivemos no estado mais
negro deste país, e, paradoxalmente, também o mais racista. As razões para esse
status quo (estado de coisas) são muitas, ainda mais ao saber que fomos o
último país das Américas a abolir a escravidão, que por aqui durou mais de 300
anos. Mas a grande questão que se nos apresenta nesse momento de reflexão dos
dez anos da implementação/promulgação da Lei nº 10.639/2003, e o que
constatamos, talvez perplexos, é que esta Lei, como tantas outras deste nosso
país tão burocrático, ainda não “pegou”. É que tudo por aqui é mesmo lento e
demorado.
O
fato dessa Lei não ter “pegado” é um pouco do reflexo da própria sociedade
brasileira, onde metade da população ainda tem de lutar um bom tempo para
ocupar papeis sociais na mesma medida de sua contribuição para a formação do
povo brasileiro. Outro fator, também importante, é a falta de vontade de muitos
diretores de escolas, o desinteresse de muitos professores com temáticas das
culturas africana e afro-brasileira, além da falta de material didático.
Vivemos
numa sociedade plural e multiétnica. E a escola precisa estar aberta para essa
pluralidade. É preciso que a informação se dê. A escola é um universo. E é
dentro desse grande universo, que precisamos contemplar todos os universos
possíveis, trazendo nesse bojo as questões indígenas, as questões quilombolas,
as ações afirmativas (cotas), a cultura cigana e os movimentos todos que foram
e são referências dessa mudança, como o Movimento Hip-Hop, que nos últimos 15
ou 20 anos vem mobilizando e conscientizando a juventude negra periférica e
favelada deste país.
Não
nos iludamos. A Lei nº 10.639/2003 é um marco histórico importante das lutas do
povo negro neste país. Muita coisa mudou nesses dez anos, mas muito ainda
precisa mudar. Continuemos na luta.