Temer e Amaury Jr. durante café da manhã no Alvorada. Clima amistoso. (Foto: Reprodução/ CartaCapital). |
Com
o desejo de ser celebrado "como o
sujeito que fez as reformas necessárias para o Pais", o presidente
Michel Temer tem feito nos últimos dias um périplo por diversos veículos de
comunicação brasileiros, como foco em programas populares, para defender a
reforma da Previdência, que pode ser votada em fevereiro. Em todas as suas
participações, Temer traçou um cenário fiscal catastrófico para o Brasil caso
as mudanças não sejam aprovadas.
O
primeiro compromisso de Temer foi no programa de estreia de Amaury Jr. na Band,
levado ao ar na noite de sábado 27. Com seu tradicional estilo amistoso, o
apresentador disse que Temer, aos 77 anos, está "muito conservado" e descobriu que o drink predileto do
presidente é caipiroska. Na parte política da conversa, ouviu Temer defender o
teto de gastos, a "modernização
trabalhista" e a "retomada
do prestígio" da Petrobras.
O
peemedebista gastou a maior parte de seu tempo, no entanto, enfatizando a
reforma do sistema de aposentadorias. "Nós
precisamos fazer já uma reforma da Previdência para que mais adiante não seja
necessária uma reforma mais radical", afirmou, para acrescentar em
seguida que a proposta atual apenas "corta
privilégios". "A esta
altura, do jeito que esta a reforma, sem causar problema, apenas cortando
privilégios, já esta sendo absorvido pela população. E isso vai se refletir no
Congresso. Tenho certeza que vamos conseguir aprovar em fevereiro",
afirmou.
Na
noite de domingo 28, no SBT, Temer encontrou um parceiro mais adequado para
debater a reforma, Silvio Santos, o dono da emissora. Na conversa, os dois se
revezaram na defesa das mudanças na Previdência. Em alguns momentos, o
apresentador foi, inclusive, mais enfático que o presidente, dizendo que, caso
não ocorra a reforma, "talvez não
haja dinheiro para pagar a aposentadoria" dos brasileiros. Ainda
segundo o empresário, a reforma não beneficiará Temer pessoalmente porque ele
não tem mais pretensões eleitorais, uma vez que "foi obrigado a ser presidente" após o impeachment de
Dilma Rousseff.
Temer,
aproveitando as deixas de Silvio Santos, foi na mesma linha. "Se não houver uma reformulação da
Previdência, o que vai acontecer daqui a dois, três anos, é aquilo que
aconteceu em Portugal e na Grécia. Ou seja, a dívida previdenciária tão grande,
tão expressiva, que lá foi preciso cortar 30%, 40% dos vencimentos dos
funcionários públicos", afirmou.
O
presidente destacou, ainda, que a reforma “não
prejudica os mais pobres”, que só os que ganham salários mais altos "sofrerão uma pequena consequência"
e pediu ajuda do público para fazer a reforma avançar. "É importante que as suas colegas de trabalho
sensibilizem os deputados, porque eles de alguma maneira representam a vontade
popular", afirmou.
No
fim de sua participação no "Programa Silvio Santos", Temer buscou
fazer uma brincadeira com Silvio Santos e com o fato de ele distribuir dinheiro
a quem vê seu programa da plateia.
Temer:
“Posso dar um dinheiro para você aqui?”
Silvio Santos: "À vontade"
Temer:
"Eu vou fazer uma coisa que você faz
com suas colegas de trabalho. Vou passar um dinheiro pra você."
Silvio Santos:
"Ganhei 50? Ganhei 50! Ganhei 50
reais!"
A
cena de Temer dando dinheiro a Silvio Santos é curiosa tendo em vista as
relações recentes do governo com o SBT. De acordo com o sistema de Execução
Contratual de Publicidade, gerenciado pela Secretaria de Comunicação da
Presidência, o governo federal investiu ao menos 15,1 milhões de reais para a
veiculação de peças publicitárias no SBT em 2017.
O
montante refere-se apenas aos contratos celebrados com a matriz da emissora,
sediada em São Paulo, e é 20% superior às verbas destinadas à tevê de Silvio
Santos em 2015 (12,5 milhões de reais), último ano completado por Dilma
Rousseff no Palácio do Planalto. Na noite desta segunda-feira 29, Temer estará
no program do Ratinho, também no SBT.
Na
manhã desta segunda-feira 29, Temer esteve na Rádio Bandeirantes e manteve o
tom. "Se nós não consertarmos a
Previdência, daqui a dois, três anos a Previdência não resiste",
afirmou Temer, citando mais uma vez a possibilidade de se "cortar benefícios" e de o próximo
governo "falir" caso a reforma não seja aprovada.
O
colunista Salomão Ésper questionou o presidente não sobre a proposta, mas a
respeito do fato de existir oposição a ela, considerado inconcebível por ele.
"Por que esse comportamento? Tendo
[o governo] cedido, conversado, ainda a oposição quer mais, a ponto de tornar
inútil a reforma da Previdência?". Temer atribuiu a questão ao ano
eleitoral. Mais tarde, mandou um recado aos deputados. "Quem não votar pela previdência, está
fazendo um mal para o País", afirmou.
Ao
jornal Valor Econômico, em entrevista também publicada nesta segunda-feira,
Temer rejeitou a possibilidade de a reforma se restringir à imposição de uma
idade mínima. "Não, ela terá que
ampliar-se para a questão das contribuições. Uma ou outra coisa ainda será
examinada. O ponto central é a obediência absoluta ao princípio da igualdade,
que é uma determinação constitucional. Servidores públicos ou trabalhadores da
iniciativa privada têm um teto para a aposentadoria, hoje de R$ 5.645. Acima do
teto, terão que fazer contribuição para a previdência complementar. Isso não
altera a sua aposentadoria. Altera seus ganhos mensais, porque, um pedacinho
vai sair para a aposentadoria complementar", afirmou. (Com informações de CartaCapital).