Ao
decidir homologar as delações da Odebrecht mantendo o sigilo dos documentos, a
presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Cármen Lúcia, tomou uma decisão
que prejudica o país. Deixa na sombra fatos que o Brasil merece conhecer porque
muita coisa já foi vazada nos últimos meses.
Esses
vazamentos causaram incertezas políticas e econômicas e deram margem a
manipulações para direcionamento das investigações. Uma das delações veio à
tona na íntegra, vazada e distribuída por meio das redes sociais, a de Cláudio
Melo Filho.
|
Kennedy Alencar critica decisão de Carmem Lúcia. Foto: Divulgação. |
Cármen
Lúcia obedeceu aos sinais que emitiu publicamente. Não faria sentido ir ao
gabinete no sábado estudar um caso que não estava diretamente sob os seus
cuidados. Agiu assim para homologar, recorrendo a brechas no regimento do
Supremo. Não era o caminho preferido de colegas dela no STF, mas o regimento da
corte é suficiente amplo para dar esse poder à presidente.
O
novo relator da Lava Jato deverá ser escolhido nesta semana. Logo, do ponto de
vista prático, as homologações poderiam ter esperado a escolha do substituto de
Teori Zavascki, ainda mais com a manutenção do sigilo. É prudente que esse novo
relator seja escolhido ainda neste semana.
A
homologação feita pela presidente do STF é uma atitude política de Cármen Lúcia
para atender a um desejo da opinião pública. Porém, é uma decisão que vem pela
metade. Falta dar publicidade e transparência ao que foi revelado pelos 77
delatores da empreiteira. O segredo tende a elevar especulações.
Delação
por si não é prova. São necessárias a denúncia e o processo. Todos os acusados
têm direito de defesa. Mas é preciso que o país saiba o que foi descrito pela
Odebrecht. Certamente, essa revelações resultarão numa enorme turbulência
política e econômica. Melhor que aconteça logo a deixar o país à espera de uma
tempestade que só ameaça e não cai nunca.