 |
Professor Nicolau Neto fala sobre abolição inconclusa na abertura do VII Festival Alunos que Inspiram na EEMTI Pe. Luís Filgueiras. (FOTO | Reprodução). |
A
abolição do sistema escravagista brasileiro foi uma das últimas do
mundo a ser implementada e ocorreu apenas em 13 de maio de1888, o que
deu ao Brasil o título de último país da América Latina a acabar
com a escravidão.
Depois
do Brasil, faltava ainda 11 países eliminarem o regime escravocrata:
Tunísia (1890), Gâmbia (1894), Madagascar (1897), China (1906),
Serra Leoa (1928), Nigéria (1936), Etiópia (1942), Alemanha (1945),
Marrocos (1956), Arábia Saudita (1962) e Mauritânia (1981).
A
extinção do trabalho escravo foi um longo processo, que transcorreu
ao longo da segunda metade do século 19, quando a preocupação em
relação à utilização da força do trabalho negro entrou no
debate público.
Segundo
o professor e historiador Duílio Battistoni Filho, a
intelectualidade brasileira se esforça até os dias atuais para
explicar a abolição, principalmente por ter sido tardia. A maioria
dos países latino-americanos decidiu suprimir o tráfico e a própria
escravidão durante as guerras de independência (1810-1825). Como
exceção, ocorreu ainda a abolição nas colônias holandesas, em
1863, Estados Unidos da América, em 1865, e no Brasil, em 1888.
Trabalho
escravo era rentável
A
conclusão, trazida por Battistoni no artigo “Por que o Brasil foi
o último país da América Latina a abolir a escravidão”, é de
que a rentabilidade do trabalho escravo teria permitido prolongar o
sistema escravista quase até o fim do século. Somente a pressão
abolicionista provocou a mudança das expectativas dos fazendeiros do
Rio de Janeiro e arredores.
Entre
as razões políticas do caráter tardio tomado pela abolição no
Brasil, é possível destacar a demora da campanha abolicionista, em
particular na região fluminense. O problema eleitoral foi
importante, pois com a abolição os antigos escravos teriam direito
ao voto, o que poderia provocar um abalo na sociedade racista e ferir
os interesses políticos da classe dirigente. O próprio ministério
Cotegipe procurou cercear qualquer campanha que tivesse o objetivo de
acabar com a escravidão.
“A
preferência pelo imigrante europeu, as poucas oportunidades aos
ex-escravos ocasionaram em uma desigualdade social que reforçou o
racismo e está presente até os dias atuais”, diz o texto.
Já
para o sociólogo Gilberto Freyre, o atraso na aboliçãol decorreu
da fácil adaptação do português à população negra, razões
genéticas e culturais, além da facilidade das relações sexuais
entre senhores de engenho e suas escravas. De um modo geral, os
proprietários rurais estavam fortemente comprometidos em manter o
regime escravista por razões de dependência econômica, prestígio
social e poder político.
Esse
processo ocorre, portanto, a partir de medidas legais que,
gradativamente, tentavam propor resoluções à questão da
escravização de pessoas. A primeira medida adotada efetivamente foi
a Lei Eusébio de Queirós (1850), que proibiu de vez o tráfico por
meio do Oceano Atlântico.
Já
na década de 1870 a Lei do Ventre Livre (1871) declarou livres os
nascidos no Brasil, criando um desconforto com os cafeicultores do
Vale do Paraíba, base importante de apoio ao governo. Próxima à
Lei Áurea, a Lei dos Sexagenários libertou os escravos com mais de
60 anos de idade. Contudo, todas essas medidas pareciam tentativas de
adiar o fim da escravidão.
Abolicionistas
Na
década de 1880, a campanha abolicionista ganhou força e diversos
atores sociais participaram delas, com suas variadas classes sociais.
Joaquim Nabuco foi um importante nome do abolicionismo. Vindo de uma
família de proprietários de terras em Pernambuco, o ativista fez
frente ativa à campanha abolicionista.
José
do Patrocínio é outro nome de destaque no contexto. Filho de um
dono de escravizados com uma mulher negra, foi o responsável pelo
jornal Gazeta da Tarde, meio de propagação das ideias
abolicionistas. André Rebouças, que hoje nomeia uma avenida da
cidade de São Paulo, foi outro importante adepto destes ideais.
Protagonizou
a luta pelo abolicionismo também Luís Gama, que foi ilegalmente
escravizado, fugiu, se formou soldado e depois atuou como jornalista
e advogado na cidade de São Paulo.
Caminho
para a abolição
A
historiadora Ana Luíza Mello Santiago de Andrade, em seu artigo
“Abolição da escravidão no Brasil”, explica que entre 1885 e
1888 houve uma fuga em massa dos escravizados das fazendas paulistas,
incentivados por ativistas. Neste cenário as elites paulistas,
observando a ruína iminente do sistema escravagista, apressaram o
plano de imigração para dar conta da produção cafeeira.
O
senador conservador Antônio Prado, representante do Oeste Paulista,
ainda tentou conter os danos aos fazendeiros que seriam causados pela
abolição dos escravizados. Ele defendeu que se libertasse os
negros, mas garantindo primeiramente a indenização aos senhores,
bem como a prestação de serviços por mais três meses, para
assegurar a colheita seguinte.
Por
fim, optou-se pela abolição sem restrições, aprovada pela maioria
do Senado e assinada pela Princesa Isabel, então na regência do
trono. Com a Lei Áurea sancionada, o destino dos ex-escravos foi
marcado por dificuldades devido à falta de condições para
subsistência em todas as regiões do Brasil.
___________
Com
informações do Alma Preta.