Professor Nicolau Neto destaca em fórum regional que lei 10.639/2003 deve ser orientadora dos PPPs das escolas. (FOTO | Reprodução | Google Meet | Laene Augusto). |
Por Valéria Rodrigues, Colunista
Na manhã desta terça-feira, 27, no formato virtual, a 18ª Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação (CREDE 18) reuniu vinte e dois grêmios dos vinte e sete ligados a esta coordenadoria no Fórum Regional dos Grêmios Estudantis.
Com
o tema “O protagonismo estudantil e a promoção de práticas de bom convívio
escolar para a construção de uma sociedade antirracista”, o encontro
que teve a mediação do estudante Francisco Helder, da EEMTI Wilson Gonçalves, foi aberto com a fala de Luciana Brito, coordenadora da CREDE. Ao
frisar a importância do fórum para o envolvimento dos estudantes nas questões fundamentais
da educação e no despertar do espírito de liderança e do senso crítico destes,
ela agradeceu a todos e em particular ao professor Nicolau Neto, palestrante no
encontro. “Nicolau é uma referência na
temática a ser discutida”, disse. Segundo Luciana, o próximo evento em
Agosto será presencial.
Coral
da EEMTI Padre Luís Filgueiras e Histórico das Atuações dos Grêmios
Antes,
porém, do diálogo a ser estabelecido entre Nicolau e os/as gremistas, o Coral
da Escola de Ensino Médio em Tempo Integral Padre Luís Filgueiras se
apresentou. O coral é composto por estudantes dos segundos e terceiros anos.
Posteriormente,
Francisco Helder contou um pouco da sua trajetória e frisou que os grêmios
estudantis é resultado da luta dos movimentos estudantis de outrora na luta
pelo restabelecimento da democracia e que são (os grêmios) símbolos de
resistência.
Diálogo entre Nicolau e as lideranças
estudantis
O
professor Nicolau iniciou agradecendo o convite da CREDE 18 em nome de Luciana
Brito e de Laene Augusto, destacando que o evento representa um compromisso
institucional em refletir acerca de temas tão salutares para a democracia
brasileira, a construção de uma sociedade de fato antirracista.
“Analisar e refletir sobre as práticas de bom
convívio escolar com foco em uma sociedade antirracista passa necessariamente
por tomada de posição acerca do processo ensino-aprendizagem. E isso é urgente”,
iniciou. “Afinal”, continuou, “não há democracia plena onde o racismo ainda
define lugares que pretos, pretas e indígenas devam ou não ocupar. Nesse
sentido, as escolas precisam assumir seu papel na construção de uma sociedade
que propague os multisaberes, sobretudo aqueles que foram silenciados ou
apagados da história, a exemplos dos indígenas e negros”.
Nicolau
questionou como desenvolver práticas de bom convívio escolar com foco
antirracista. Para contribuir na discussão, trouxe o pensamento da filósofa
Lélia Gonzáles que foi uma das mais importantes intelectuais negras do país.
Lélia defendeu a necessidade de aproximar as narrativas acadêmicas com a linguagem
dos estudantes, primando pelos saberes plurais, emergindo o termo “pretuguês.”
Segundo Nicolau, é urgente trazer as mais variadas contribuições das populações
pretas para as escolas e desapegar desse modelo europeu ainda reinante, em que
se fala de pretos, pretas e indígenas somente no período da escravidão ou
eventos esporádicos.
O
professor mencionou ainda que pensar em práticas de bom convívio escolar passa
por construir outra escola e defendeu que o caminho para tal é fazer com que as
leis 10.639/2003 e 11.645/2008 se tornem orientadoras do Projeto Político
Pedagógico e Regimento Interno de cada escola. Só assim teremos um currículo
descolonizado e teremos livros didáticos que valorizem os múltiplos saberes.
Nicolau voltou a defender a inclusão da disciplina História Afro-indígena como obrigatória
em todas as escolas do país. “Quero
aproveitar a presença das lideranças estudantis e da CREDE 18 para solicitar
apoio nessa causa”, disse.
Práticas
antirracistas desenvolvidas no 1º semestre de 2023
Por
fim, ele trouxe ao evento ações antirracistas desenvolvidas junto aos/as
estudantes da EEMTI Padre Luís Filgueiras, em Nova Olinda, no primeiro semestre
de 2023, a saber:
1 –
Oficina “Os saberes afro-indígenas e o ensino de Sociologia nos livros didáticos”,
desenvolvido nas três turmas de 3º ano;
2 –
Oficina “Construindo nossa identidade – a mestiçagem enquanto instrumento de
poder”, junto as quatro turmas de 2º ano;
3 – Oficina
“Conhecendo
as leis 10.639/2003 e 11.645/2008”, junto as 5 turmas de 1º ano;
4 –
Aplicação de um censo (critérios IBGE) por meio do Google Forms com todos os
estudantes matriculados na escola em regime integral, onde os dados
preliminares constam que 77% destes se autodeclararam negros.
Nicolau encerrou sua fala frisando que os desafios são muitos e trouxe o provérbio africano “Sankofa”, conceito desenvolvido entre os povos de língua Akan, na África Ocidental. Segundo ele, ao ser traduzido ficaria “não é tabu voltar atrás e buscar o que esqueceu”, se referindo aos saberes e as contribuições africanas na formação do país.
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