A educadora Givânia Maria Silva coordena o Coletivo Nacional de Educação da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ). (FOTO | Divulgação). |
O Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, que no Brasil também homenageia a líder quilombola Tereza de Benguela, comunica para o mundo desde 1992, quando a data foi reconhecida pela ONU, o valor e a atenção necessária para as demandas dessas mulheres. Givânia Maria Silva, uma educadora quilombola que coordena o Coletivo Nacional de Educação da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ), fala sobre a data comemorada nesta quinta-feira (25).
“A primeira coisa que queremos destacar é que
essas datas trazem para a sociedade uma história que a todo tempo tentou ser
apagada. A história das mulheres no mundo todo e das mulheres latino-americanas
e caribenhas tiveram e continuam tendo um papel fundamental em vários processos”,
pontua a professora e pesquisadora, que atua em parceria com o Projeto SETA.
Giovânia
é de Conceição das Crioulas, em Pernambuco, e foi a primeira mulher de seu
território a cursar o Ensino Superior. Para ela, as mulher negras e também as
indígenas, são símbolo de resistência, ams que esses conhecimentos são apenas
difundidos pela sociedade civil, mas, que não é registrado pela história.
“O Brasil e a América tentam ser a história
de um único lado, a história de um vencedor e de um perdedor”, explica a
educadora, que não acredita que as pessoas negras e indígenas devam ser
colocadas no lugar de perdedoras, por serem responsáveis pela construção desses
territórios.
“O dia 25 de julho é uma data extremamente
importante. Aproveito para agradecer às mulheres que vieram antes, animar as
que estão aqui e pedir as que irão vir para não deixarem o legado das mulheres
cair por terra e não permitirem mais que elas sejam apagadas como a história
tentou fazer”. Mas o dia também deve ser sinônimo de reflexão, segundo
Giovânia.
Em
maio deste ano o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud)
destacou que as mulheres negras representam 28,5% da população brasileira. Ou
seja, mais de 60 milhões de brasileiras, que segundo o Pnud, são as que ficam
mais longe dos ganhos em desenvolvimento humano no país. São elas as principais
responsáveis pela renda da casa de 27,4% das famílias no país, mas também são
as que ganham menos se comparado com homens negros, e homens e mulheres
brancas.
Por
isso, e por tantos outros dados que destacam a vulnerabilidade em que se
encontram as mulheres negras no Brasil, a educadora ressalta o valor que
implica a data. “O dia 25 tem que ser,
para nós, esse dia de reflexão. Quais são as estratégias que estão dando certo?
Por que o estado brasileiro tem tanta dificuldade de reconhecer a ação das
mulheres? O dia 25, além de ser um dia celebrativo, é também um dia que não
podemos deixar de refletir sobre esses silenciamentos e apagamentos”.
Reflexões para além do dia 25 de Julho
Giovânia
destaca a importância da democracia nas discussões que tangem a data dedicada
às mulheres negras. Para ela, é preciso também alinhar democracia com a
igualdade e a equidade de gênero e de raça.
“Como mulher negra quilombola, residente do
bioma caatinga, educadora, professora da educação básica e pesquisadora, eu
sempre penso que permitir que as mulheres tenham o seu trabalho visibilizado é
tarefa cidadã de todos nós brasileiros. Não é apagando a história das mulheres
que nós vamos ter um país mais plural ou democrático”.
Para
ela o dia 25 de julho “é uma data muito
importante, pois ela mexe com o imaginário cristalizado de uma sociedade que
sempre colocou a mulher e, principalmente, a mulher negra, em segundo plano”,
mas que a discussão não deve ser concentrada apenas nesse dia.
“A gente precisa discutir esses temas como
conteúdo programático, conteúdo escolar. É impossível que nós, pessoas negras,
passemos invisíveis durante 364 dias do ano e apenas em um dia sejamos
visibilizados”, diz a educadora ao citar também outras datas importantes
como o Dia da Consciência Negra, no dia 20 de novembro.
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Com informações do Notícia Preta.
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