Professora Liliane Rosado. (FOTO | Arquivo Pessoal). |
Por Nicolau Neto, editor
A professora, historiadora e ativista dos movimentos sociais, Liliane Rosado, do município de Assaré, na região do cariri cearense, é uma das figuras mais respeitadas no campo da educação, sobretudo por sua atuação e luta em defesa dos direitos das mulheres.
No
início deste ano, ela decidiu agregar seu ativismo ao ato de propor e fazer
leis. Liliane vai incorporar suas ideias à vereança.
Mulheres
ocupando os espaços de poder e de decisão não é uma tarefa das mais fáceis, principalmente
no Brasil. Quando se faz um recorte racial o caminho é mais difícil e tortuoso.
Na
verdade, são números chocantes e que não condizem com a realidade, visto que as
mulheres constituem a maioria tanto em população - 51,1% -, como no
eleitorado (52,62%). Segundo os últimos dados do Tribunal Superior Eleitoral
(TSE), as filiações a partidos políticos são predominantemente do gênero
masculino, perfazendo 53, 8%. Já as mulheres correspondem a 46,2%.
No
último processo eleitoral de 2022, por exemplo, quase 10.000 mulheres
concorreram a algum cargo eletivo, mas apenas 311 conseguiram ser eleitas. Isso
equivale a somente 18, 2% do total de eleitos. Isso sem falar das fraudes nas
cotas de gêneros, onde as mulheres são preteridas dentro dos partidos,
aumentando a sub-representação.
A
professora Liliane conversou com o blog Negro Nicolau sobre o que a motivou a
seguir este caminho e como ela pretende romper esse muro do machismo presente
nos cargos de poder. Ela destaca que as mulheres tem pouca representação na
Câmara. Apenas duas das 11 cadeiras são ocupadas pelo gênero feminino e nenhuma
é negra, “aprofundando a nossa sub-representação e, com ela, as lacunas nas
pautas que nos atravessam”, disse.
Na
entrevista, ela fala sobre isso e sobre os projetos que irá lançar para modificar esse ambiente ainda moldado pela figura masculina e branca.
Confira a íntegra da entrevista abaixo:
Blog Negro Nicolau - Quem é Liliane
Rosado?
Liliane Rosado -
Sou mãe, esposa, professora, advinda da classe trabalhora, presidenta do
Conselho da Mulher, Historiadora, Mestre em Educação, uma mulher negra, que aos
40 anos, conjuga as experiências de vida como um forte mecanismo para concorrer
a vereança no meu município, Assaré.
BNN - Como você percebe o legislativo em
Assaré?
Liliane - Em
nosso município, o Legislativo é composto por 11 cadeiras, sendo que 9 dos
nossos representantes são homens e apenas 2 duas mulheres, adentrando a questão
racial não há nenhuma mulher negra, aprofundando a nossa sub-representação e,
com ela, as lacunas nas pautas que nos atravessam.
BNN - Há quanto tempo você
está filiada ao partido que pretende se candidatar a vereadora?
Liliane -
Bom sobre a filiação partidária, a minha primeira filiação foi no PT (Partido
dos Trabalhadores), no início de 2023, até então sem pretensões de me colocar
na disputa política, apenas pelo fato de considerar importante o engajamento
político a partir de uma organização institucional, e sempre fui de encontro
com as ideias defendidas pelo partido do PT. Porém, diante do processo político
do município, recebi o convite do prefeito Libório para participar do seu grupo
e me filiar ao PSB, assim, diante de muitas conversas com companheiros de luta,
decidi somar ao atual gestor no PSB, no início deste ano de 2024, por acreditar
no trabalho que ele vem desenvolvendo na nossa cidade e acredito que esta será
uma ótima oportunidade para esperançarmos cada vez mais firmando nossa luta e
compromisso com o povo do Assaré.
BNN - Você é professora e
conhecida por ser ligada aos movimentos sociais, sobretudo feminista. De que
forma você pretende levar essa pauta para a Câmara caso seja eleita?
Liliane -
minhas principais bandeiras de luta é em defesa das nossas Mulheres e a
Educação. São dois pontos importantes que dialogam entre si e estão
atravessados por inúmeras outras pautas. Assim, caso seja eleita manterei o meu
mandato atravessado por ações que impactem nossa população sempre pelas lentes
do gênero, da raça, classe e território.
BNN - Quais projetos ligados à luta
antirracista você tens e que, sendo eleita, irá apresentar?
Liliane- da
luta Antirracista pretendo seguir utilizando da Educação como mecanismo
poderoso ao nosso favor! Um dos nossos grandes desafios é começar pela
afirmação da nossa identidade negra, para dar visibilidade às nossas histórias
de lutas e resistências, assim pretendo indicar projetos que envolvam o
Legislativo e a Educação como concursos de redação que envolvam às temáticas
Étnico-racial, a criação de GT sobre Gênero e Raça no nosso município para
diagnosticar a realidade do nosso povo e verificar questões como a equidade no
desenvolvimento e participação social, afim de fortalecer as lutas por
politicas públicas; Outro projeto que tenho em mente é "O Mandato nas
Escolas" conheci através da Vereadora Adriana Almeida de Fortaleza, e
quero aprimorar e aplicar aqui em Assaré, levando a Educação Antirracista para
as escolas e junto a toda a comunidade escolar, atuar com palestras, oficinas,
práticas de leitura, enfim, colaborar para a formação e atuação dos
professores.
BNN - Nas suas redes
sociais há uma frase bem chamativa: "Dias mulheres virão." Didatiza o
que você quer demonstrar com ela.
Liliane -
Sobre o "Dias Mulheres Virão" enfatiza a nossa luta por alcançar os
espaços de poder e levar as nossas vozes. É o anúncio de um tempo novo, regado
de resistências e transformação!
BNN - Quais pessoas lhe inspiram?
Liliane- as pessoas que me inspiram, em primeiro lugar , cito a minha mãe, uma mulher batalhadora, vinda da zona rural que enfrentou o mundo para dar a mim e meus irmãos a oportunidade de uma existência digna! Foi dela que ouvi a vida toda "minha filha estude para ser gente " e isso é muito simbólico para mim, ela nunca teve a oportunidade de estudar, ou seja foi tirado dela esse direito, devido a invisibilidade enquanto gente! E na vida pública são muitas mulheres, mais quero citar a nossa grandiosa Zuleide Queiroz, que tanto nos inspira com suas falas, ações e afirmações! E suadar aquelas que vieram antes de nós, como Preta Simoa, Carolina de Jesus, Lelia González, mulheres pretas de fibra, como diz o ditado popular!
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