30 anos do Plano Real: moeda mais longeva desde o fim do mil-réis

Imagem ilustrativa - Lucas Miranda por Pixabay.

 

Três décadas se passaram desde que o Brasil testemunhou uma das transformações econômicas mais significativas de sua história recente: a implementação do Plano Real, em 1º de julho de 1994.

Na época, a medida estabelecida pelo governo do presidente Itamar Franco — e liderada pela equipe econômica chefiada pelo ministro Fernando Henrique Cardoso — foi uma corajosa resposta à hiperinflação devastadora que assolava o país.

Quando entrou em circulação, a alta dos preços chegava perto dos 50% ao mês. Segundos dados do Banco Central, no acumulado dos doze meses anteriores à implementação do Real, a inflação chegou a 4.922%. A inflação fechou o ano de 1994 em 916%; número que caiu bruscamente em 1995: 22%.

O Real também é a moeda mais longeva desde o fim do mil-réis, em 1942. Se incluindo os cortes nos zeros e dos centavos, o Brasil teve 12 unidades monetárias diferentes em toda sua história; sendo cinco delas apenas nos últimos 50 anos: Cruzeiro (1974 até 1986); Cruzado (1986 - 1989); Cruzado Novo (1989 - 1990); Cruzeiro (1990 - 1993); o Cruzeiro Real (1993 - 1994); e o Real (de 1994 até os dias atuais).

Cédula do cruzeiro - Banco Central do Brasil.

O Plano Real não apenas deteve a espiral inflacionária, como também estabeleceu as bases para um período de crescimento econômico mais estável e duradouro. Entenda!

Era da Hiperinflação

Embora o Real tenha sido criado em 1994, para entender a importância do plano econômico do governo de Itamar Franco, primeiro precisamos entender o contexto econômico de tudo o que aconteceu.

Nos anos, 1990, o Brasil enfrentava uma grave crise de hiperinflação devido a uma série de fatores econômicos e políticos que se acumularam ao longo das décadas anteriores.

O Brasil passou a viver seu processo de industrialização durante os governos de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, que impulsionou setores considerados chaves: como transporte, alimentação, educação e infraestrutura.

Em 1964, o país sofre o Golpe Militar, mas goza com o chamado 'milagre econômico', entre 1969 até 1973 — quando houve um extraordinário crescimento econômico combinado com taxas relativamente baixas de inflação; que resultou com um PIB médio de cerca de 10% ao ano.

No entanto, as coisas começaram a mudar de direção com a primeira crise do petróleo de 1973, impulsionada pela Guerra do Yom Kippur, que fez os países árabes aumentarem os preços dos barris de petróleo de 3 para 12 dólares em apenas três meses.

Seis anos depois, a segunda crise do petróleo ocorreu devido à revolução fundamentalista do Irã, que fez o preço do barril disparar para cerca de 60 dólares (considerando valores atuais).

Esse cenário fez a dívida externa brasileira saltar de maneira considerável, o que acarretou com a escalada da inflação no país — que passou a corroer cada vez mais os salários, comprometer investimentos e minar a confiança dos cidadãos.

Collor em imagem oficial - Ubirajara Dettimar | Agência Brasil).

Para combater essa alavancada nos preços, quase uma década antes da implementação do Real, o Brasil tentou implantar diversos planos econômicos: Plano Cruzado (I e II), Plano Bresser, Plano Verão e o fatídico Plano Collor; que culminou com o impeachment do presidente Fernando Collor de Mello. Com o fracasso de cada um deles, a inflação reaparecia cada vez mais feroz, aponta a Câmara dos Deputados.

Implementação do Plano Real

O lançamento do Plano Real, em 1º de julho de 1994, representou uma ruptura drástica com as políticas econômicas anteriores e enfrentou o ceticismo do cidadão brasileiro em relação ao plano de estabilização.

Conforme aponta o Banco Central do Brasil (BCB), a execução do Plano Real exigiu esforços de planejamento e inovação de gestores políticos econômicos; sendo estabelecido em três fases de desenvolvimento cooperativo entre o próprio BCB, o Ministério da Fazenda e a Casa da Moeda.

O primeiro processo da etapa consistiu no esforço de ajuste fiscal, onde aconteceu a criação do Fundo Social de Emergência (FSE). O segundo ficou marcado pela utilização de uma moeda escritural: a Unidade Real de Valor (URV). E a última pela introdução de fato do novo padrão monetário.

A estratégia do Plano Real era simples em sua essência, mas complexa em sua execução: introduzir uma nova moeda, o real, indexada ao dólar americano, e implementar medidas rigorosas de controle monetário e fiscal para conter a inflação.

A URV, por exemplo, serviu como uma moeda virtual que fez uma ponte ente a inflação descontrolada e a estabilização econômica. Assim, durante alguns meses, os preços foram gradualmente convertidos de cruzeiros reais para URVs, permitindo que a inflação fosse desindexada da economia.

Como o sucesso, a nova moeda, o real, enfim foi introduzida em 1º de julho de 1994,o que foi sentido imediatamente devido à contenção da inflação.

Manchete sobre a implementação do Real - O Pioneiro | Biblioteca Nacional Digital).

Vale ressaltar, conforme recorda matéria do jornal O Globo, que o Plano Real foi apresentado pela equipe do então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, que deixou o cargo para concorrer à presidência antes mesmo do lançamento do real.

"Se não tivesse havido a determinação firme de Itamar Franco de me manter como ministro, não seria possível manter o Plano Real. Ele tomou a decisão de me tornar ministro da Fazenda, para o que eu tinha pouca capacitação. Eu disse que ia tentar resolver três problemas: a inflação, a inflação e a inflação. Eu não sabia como resolver. Foi preciso juntar um grupo jovem de economistas que, a cada momento, tinha novas ideias", disse FHC em 2009, durante sessão do Congresso em homenagem aos 15 anos do Plano Real.

A popularidade da nova moeda garantiu à FHC sua eleição logo no primeiro turno das eleições de 1994, quando o tucano (PSDB) recebeu 54,3% dos votos; antes 27% do atual presidente Lula na sua então segunda tentativa a presidência.

Trinta anos após sua implementação, o Plano Real continua sendo um marco na história econômica do Brasil, celebrado por sua coragem política e por ter estabelecido as bases para uma economia mais estável e integrada globalmente.

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Com informações do Aventuras na História.

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