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(FOTO/ Joshua Mcknight) |
No
ano de 2001 vivíamos o limiar de transformações sociais importantes por conta
da entrada em vigor de uma lei que instituiu o sistema de cotas raciais nas
universidades estaduais do Rio de Janeiro. Há, nesta história, muitos
significados, mas destacamos alguns. Com as cotas, pela primeira vez estudantes
negros ingressariam de forma significativa no ensino superior, mormente em
cursos mais elitistas como Direito, Medicina, Engenharia, etc. Além de tornarem
mais democrático o acesso às instituições, as cotas também começariam a trazer
um novo desafio para as políticas públicas brasileiras.
A
construção de políticas públicas antirracistas no Brasil se insere num contexto
de lutas que paulatinamente fazem com que as desigualdades raciais se tornem um
desafio para o Estado Brasileiro. Neste contexto, nas últimas décadas, leis
foram produzidas, políticas de promoção da igualdade foram criadas e o Supremo
Tribunal Federal legitimou esse processo garantindo a constitucionalidade das
políticas de cotas. Mas vinte anos depois de todas aquelas tensões que
embalaram o início deste período de inclusão racial nas universidades do Rio de
Janeiro, o que nos cabe dizer?
Ganhamos
todos! É num contexto de avanços democráticos antirracistas que devemos
assentar os desdobramentos trazidos pelas políticas de cotas. Os opositores, de
um modo geral, foram silenciados pelo próprio caráter de inclusão,
redistributivo e democrático que estas políticas trouxeram.
Há
problemas? Sim. Fraudes, falta de recursos, um monitoramento mais preciso dos
impactos das políticas por todo país, além de uma articulação entre as
instituições e as empresas para se otimizar a promoção de talentos ávidos por
mais oportunidades. Como em toda política contra hegemônica que para se
consolidar está sujeita aos mais variados tipos de desafios institucionais, o
sistema de cotas precisa e pode ser sempre aprimorado.
Os
dados que chegam demonstram avanços significativos no que tange ao aumento de
afrobrasileiros nas universidades. As pesquisas apontam que a população negra,
de um modo geral, goza de melhores índices educacionais, mas ainda se mantém
atrás das pessoas brancas. Neste sentido, a experiencia bem sucedida das cotas
revelou a necessidade de construir um sistema de ações afirmativas que
contemple um feixe de medidas que vão desde estimular estudantes pobres e
negros a ingressarem na graduação, até a pós-graduação e inclusão no mercado de
trabalho. Mas quem frequentou as universidades antes das ações afirmativas e
volta por lá hoje, se surpreende com o alunado que anda pelo campus. O corpo
discente está cada vez mais em sintonia com a diversidade que encontramos na
sociedade brasileira.
Podemos
dizer que as políticas de ação afirmativa deram certo e se estabilizaram de
modo inexorável. Esse fato nos convida a refletir sobre muitos dos seus
desdobramentos positivos. As cotas para as pessoas negras, em especial, marcam
o fim da democracia racial na educação, democratizam um dos espaços mais
importantes para a reprodução do poder e do saber, estimulam nossa juventude a
vencer na vida por meio do acesso ao conhecimento crítico, contribuem para
diversificar nossas elites e ajudam a transformar a vidas de milhares de
pessoas.
Esse
processo, ainda em curso, não está mais relacionado somente à graduação. As
cotas são medidas poderosas e foram adotadas em mestrados, doutorados,
concursos públicos federais, em muitos estaduais e municipais. Em relação ao
mercado de trabalho, elas estão desafiando o silêncio corporativo dos que
ainda, equivocadamente, pensam que pode haver compatibilidade entre democracia
e desigualdade racial.
Com
as cotas, a democratização que o antirracismo promove criou instituições mais
justas, uma verdadeira transformação social vem se consolidando, apesar de todo
retrocesso dos últimos anos.
O
Brasil precisa cada vez mais, reconhecer para libertar. Consignar o consenso de
que estudantes negros e pobres a partir das cotas estão mudando a universidade
pra melhor, e por elas transformando o país. As ações afirmativas são uma
realidade, um fato social potente e democrático, que se desenvolvem em diversas
áreas, fomentando a cidadania e tornando possível o que antes delas era
impensável.
____________
Com informações do Notícia Preta.
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