Às vésperas do Dia da Consciência Negra, Escola Menezes Pimentel homenageia Tia Simoa e Oliveira Silveira

 

Menezes Pimentel homenageia Tia Simoa e Oliveira Silveira. (FOTO/ Prof. João Lucian).

Por Nicolau Neto, editor

A Escola de Ensino Fundamental e Médio Menezes Pimentel, do município de Potengi, na região do cariri, realizou na noite desta sexta-feira (19), via Google Meet e as véspera do Dia Nacional da Consciência Negra, um conjunto de atividades oriundas do projeto “Nossos Passos Vêm de Longe - Ensino da História e Culturas Afro-brasileiras e Indígenas.”

Com o tema “A Importância da Aplicabilidade das Leis 10.639/2003 e 11.645/2008 nas Escolas”, estudantes se revezaram com poemas, documentários, vídeos, rodas de conversas e debates, além de apresentarem dados estatísticos das populações negras e dos povos nativos (indígenas) na região do cariri, trazendo para o embate a grande distância que há entre os números populacionais, visto que o Brasil é o país mais negro do mundo fora do continente africano, e a representatividade nos espaços de poder.

O evento foi apresentado pelas alunas Vivianne Cruz, do 2º Ano A, e Luiziany Fideles, do 1º Ano C. Segundo elas, “foram séculos de violência física, mental e de extermínio que teve como consequência um racismo estrutural.” Elas trouxeram dados que corroboram com a assertiva. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) a chance de um negro ser alfabetizado é cinco vezes menor do que um branco. No nível superior a realidade é praticamente a mesma. Somente uma a cada quatro pessoas formadas é negra. Sem contar os inúmeros casos de discriminação e racismo que crianças e jovens de pele negra sofrem todos os dias nas salas de aulas. Muitos inclusive abandonam as escolas por não serem capazes de superar esse câncer que assola o país desde invasão dos portugueses, apontaram as estudantes.

Nos livros didáticos, negros, negras e povos nativos não se reconhecem. Não conseguem se perceber nele porque nosso currículo ainda é pautado pelo viés europeu”, disseram.

Para o professor de História, Nicolau Neto, “é dentro desse contexto que necessitamos construir uma educação voltada para a diversidade, para a pluralidade e que esteja direcionada a combater cotidianamente o racismo. A nossa educação precisa ser antirracista e um dos caminhos para isso é o debate, a reflexão e promoção de ações que perceba negros, negras e povos nativos não só como contribuidores na formação do país, mas principalmente como produtores de conhecimentos e de saberes, como grandes intelectuais e lideranças da sua própria história. Isso precisa está na mente e nos livros didáticos.”

Personalidades Negras Homenageadas

Tia Simoa e Oliveira Silveira. (FOTO/ Divulgação/ Monstagem/ Blog Negro Nicolau).

Duas personalidades foram homenageadas no evento. Tia Simoa, mulher negra e símbolo de luta contra a escravidão no Ceará. “A Preta Tia Simoa foi uma negra liberta que, ao lado de seu marido (José Luís Napoleão) liderou os acontecimentos de 27, 30 e 31 de janeiro de 1881 em Fortaleza – Ce , episódio que ficou conhecido como a ‘Greve dos Jangadeiros’, onde se decretou o fim do embarque de escravizados naquele porto, definindo os rumos para a abolição da escravidão na então Província do Ceará, que se efetivaria três anos mais tarde”, conforme destaca a historiadora e ativista Karla Alves. A biografia de Simoa foi lida pela estudante Keury, do 1º Ano A. Oliveira Silveira foi outro homenageado. Ele é o idealizador do estabelecimento do dia 20 de Novembro – data da morte de Zumbi dos Palmares em 1695 – como o “Dia Nacional da Consciência Negra”. Sua biografia foi destacada pelo prof. Nicolau Neto.

Por isso”, complementou, “precisamos fazer das palavras da escritora Conceição Evaristo, uma das maiores intelectuais e referência negra do pais, um hino: ‘o que os livros escondem, as palavras ditas libertam.’ “Creio que é por ai que devemos continuar a nos movimentar”, asseverou.

O que nos move?

Contribuir para o cumprimento das leis 10.639/2003 e 11.645/2008 e para a descolonização e europeização do currículo, visando trazer para o cerne da discussão a história contada pelo viés do povo que foi escravizado por mais de 300 anos, é que os estudantes se movimentaram a partir de várias intelectuais negras e intelectuais negros do passado e do presente por meio de diversas linguagens. Além de apresentarem obras de literatura afro-brasileiras que podem ser incluídas nas aulas e desmistificaram a famigerada ideia do racismo reverso.

Abaixo as principais atividades desenvolvidas:

Poema “Encontrei Minhas Origens”, de Oliveira Silveira, recitado pela estudante Vivianne (2º A);

Poema “Negro forro”, de Adão Ventura, recitado pelo estudante Yarllei (1º A);

Frases de personalidades negras que nos dão uma dimensão do quão são necessárias a resistência e a luta para construir uma sociedade com equidade, falada pela estudante Alice (1º C);

Biografia de Abidias Nascimento lida pela estudante Maria Alice (2º C);

Dados da população nativa (indígena) no Ceará, apresentado pelo estudante Luiz Kauã (2º A);

Exibição do vídeo “Tem nome de índio o meu Ceará”, do integrante do Movimento de Arte e Cultura do Sopé e Serra do Araripe, Manoel Leandro, pelo prof. Nicolau Neto;

Biografia da filósofa Djamila Ribeiro, pela estudante Vivianne (2º A);

Poema “Sou Negra Sim”, recitado pela estudante Maria Luiza;

Dança a partir da música “Waka Waka”, pelas estudantes Hesedy, Nicole, Kariny, do 2º Ano A;

Poema “Negro”, de Jorge Posada, recitado pelo estudante Luiz Kauã (2º A);

Desmitificação do Racismo Reverso, pelas estudantes Ana Letícia e Rayssa Mayra (ambas do 2º A);

Exibição do vídeo “Mapeamento das Comunidades Rurais Negras e Quilombolas do Cariri”, construção do Grunec e da Cáritas Diocesana, pelo prof. Nicolau Neto;

Biografia da ativista Rosa Parks, apresentada pela estudante Maria Eduarda (2º C);

Poema “poeta”, de Carolina Maria de Jesus, recitado pela estudante Jhennifer (2º D);

15 obras sobre literatura afro-brasileira e africana que podem ser incluídas nas nossas aulas de literatura, apresentado pelos estudantes Kayky e Naiala (ambos do 2º A);

Poema “Vozes-mulheres”, de Conceição Evaristo, recitado pelo estudante Luiz Gustavo (1º A);

Vídeo contando a histórias de várias mulheres negras, a exemplo de Tereza de Benguela, produzido pelas estudantes Ana Flávia, Maria Eduarda, Eduarda Custódio, Sarah, Mikael, Emilly e Iure (todos do 3º A).

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