O
cabelo crespo, o turbante e a estética africana nas roupas são exemplos de como
a resistência e a história das mulheres negras se apresentam no cotidiano.
Durante o Fórum Social Temático, que ocorre em Porto Alegre, elas trouxeram
para uma roda de conversa as diversas experiências que marcaram a vidas delas
e o processo de construção da própria identidade.
“Assumi meu cabelo há dois anos. Antes, eu
alisava. Engraçado que ninguém disse que ficou bom. As pessoas dizem que ficava
melhor antes. Quem me disse o contrário foram vocês [mulheres negras], fomos
nós”, relatou Ana Carla Vidal, da Associação Cultural de Mulheres Negras
(Acemun).
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Debate com o tema "Mulheres Negras: história, memória e resistência", durante o Fórum Social Temático em Porto Alegre. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil. |
Ana
Carla lembrou também o período em que entrou na faculdade de história no início
dos anos 2000. “Eu me orgulhava pela
ideia da meritocracia. Só depois fui entender porque só éramos dois negros
naquele curso e porque outros não chegavam ali”, relatou.
Ao
lado dela, Renata Lopes, representante da Fundação Cultural Palmares, lembrou
que entrou assustada e se sentindo estranha na universidade. “Quando vejo a juventude que está entrando
hoje, espero que estejam mais empoderadas do que eu estive”, disse ao
relembrar dificuldades básicas, como a falta de recursos para o transporte e
para o lanche.
Giselle
dos Anjos Santos, do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades
(Ceert), organização não governamental que propôs a atividade, aponta que há
grande invisibilidade em relação a história das mulheres negras. “Sempre faço uma provocação de perguntar
quando as pessoas tiveram contato, na formação escolar, com mulheres negras, de
como elas se fizeram presentes na história. Vejo a incógnita na cara das
pessoas”, destacou.
Ela
lembra que esse segmento representa cerca de 25% da população brasileira. “Se não acessamos essas contribuições, não
conhecemos nossa história”, avaliou.
Para
ela, não é possível pensar outro modelo de desenvolvimento, como propõe o Fórum
Social Mundial, sem o recorte de gênero e raça. “Não dá para pensar na construção e ressignificação de outro mundo sem
discutir e problematizar quais são as pessoas que estão em uma condição mais
vulnerável na nossa sociedade, que sempre é a população negra, a mulher negra”,
defende.
Vanda
Vieira, do Movimento Negro Unificado, lembrou formas de resistência como o uso
da palavra em espaços públicos e a participação em registros fotográficos em
eventos. “Normalmente, não falamos no
microfone e sentamos lá nas últimas cadeiras. Costumo falar que não podemos
passar da terceira fila [de cadeiras]. Temos tantas formas de resistir que não
usamos”, disse.
Giselle
reforça que é fundamental perceber pequenos atos de insurgência no cotidiano. “Muitas mulheres relataram a questão de
entrar na universidade, a questão estética, que, para nós, assumir o cabelo
natural é política, diante de um padrão que é excludente”, citou.
A
coordenadora do Geledés – Instituto da Mulher Negra, Nilza Iraci, questiona a
falta de mulheres, por exemplo, nos espaços de maior expressão do Fórum Social
Temático, que são as mesas de convergência. “Sempre é uma luta muito grande para incluir a questão racial, seja no
comitê internacional, seja em qualquer outro espaço”, avaliou.
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