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Ceará supera Brasil em indicadores educacionais para população negra

 

(FOTO | Governo do Ceará).

Um recente estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece) revelou que o estado  se destaca em quatro dos seis indicadores de educação para a população preta ou parda, demonstrando avanços significativos na área. Os dados, referentes a 2022, destacam o desempenho cearense em comparação com o Nordeste e o Brasil.

Memória da população negra, por Henrique Cunha Júnior

 

(FOTO | Danny Abensur).


Memória é assunto importante, entretanto subjetivo. A memória é a base da historia de populações, sendo, portanto um documento da historia. Temos que história é o reconhecimento da existência de um grupo social e da sua inscrição na sociedade. O que não faz parte da historia é como não houvesse existido ou não tivesse importância em ter existido. Portanto numa sociedade de hierarquias sociais e de dominação entre os grupos sociais a memória e historia são componentes importantes para os direitos culturais, históricos e sociais. Brasil não se escreveu a história do escravismo criminoso na perspectiva da população negra pois seria peça para cobrança de indenizações e reparações sociais por estes crimes baseado na justiça da democracia liberal atual. As memórias dos grupos populacionais são especificas e formadas a partir da cultura processada pelo grupo social. Temos que a memórias é particular e especifica dos grupos sociais. Visto que os fatos sociais que tem importância para o grupo social não tem a mesma importância para os demais. As memórias do escravismo criminoso são importantes apenas para a população negra. Assim como as memórias das comunidades quilombolas tem importância para a população dessas localidades e para historia da população negra.

Sendo que essas memórias quilombolas quando reunidas formam uma peça histórica e que através de processos de reconhecimento pela fundação cultural palmares e pelo INCRA dando direito legal a posse e titulação das terras. Assim a memória e a historia são dois patrimônios culturais das populações que revertem em direitos sociais. Desse fato dos direitos sociais é surgem as controvérsias e disputas sobre a memória e a sua subjetividade.

Parte dos historiadores africanos se dedicaram ao aperfeiçoamento do uso da memória nos seus diversos suportes, como a literatura, a musica, a danças e o teatro na produção da historia. Parte da historia Geral da África é consequência do uso do equipamento documental produzido pelos memorialistas das sociedades africanas. A produção da Historia Geral da África é um marco revolucionário no estudo da historia no mundo ocidental. Sendo que cristaliza os estudos da memória e dos memorialistas dentro dos patamares científicos do ocidente. Foi uma revolução no estudo da historia que parte dos historiadores brasileiros conservadores relutam em aceitar e muito menos em incorporar ao ensino da historia no Brasil. A memória e os memorialistas, e o seu reconhecimento se transformou numa questão política e de relações sociais entre grupos sociais. Estamos falando também de estruturas racistas antinegro inseridos nestas disputas. Os assuntos científicos da memória no ocidente e no Brasil ficaram muito limitados e condicionados a invenção da memória através de uns poucos nomes europeus. Sendo que a cristalização e a limitação dos enfoques reproduzem as geopolíticas da dominação ocidental e do racismo antinegro em suas estruturas de aparência liberal e livremente cientifica. A ciência da historia no Brasil incorporou apenas a referência europeia e não trata as referencias africanas, afro-caribenhas e afrobrasileiras. Portanto a produção da Historia Geral da África apresenta pouco impacto e pouco usa na formação dos historiadores brasileiros por um defeito da cor do poder e da geopolítica do grupo dominante.

Memória seja individual ou coletiva se processa pela lembrança e interpretação dessas lembranças que temos do que foi vivido pelos indivíduos, em dado lugar ou região e num período temporal. São lembranças das paisagens, das localidades, dos fatos, as pessoas e das coisas que envolvem essas pessoas. O lugar sempre é um grande ingrediente da lembrança. Que é composto de coisas, conversas, fatos, relações entre pessoas e pessoas e coisas, de situações impares que pela importância data ficam registradas na mente humana. A razão do registro e forma de registro é variável, as vezes inexplicável, o importante é compõe um conjunto de registros mentais e que explicam as nossas existências. As lembranças tem lugar, cenário, familiar, de trabalho, de casa, da escola e de lugares por onde passamos. A lembrança é um elo com o passado, é uma interpretação do passado onde vivem as pessoas e onde construíram as sua existência. A lembrança é marca em ter existido.

Das lembranças decorre a memória, como uma sistematização. Temos como primeira instancia as lembranças que formam a memória e constituem um forma individual ou coletiva de recuperar o passado, seja por problemas sentimentais, de se localizar no mundo vivido, seja por problemas de ordem política da afirmação das existências dos grupos sociais, a base da primeira forma da memória que possibilita a recuperação do nosso passado. As lembranças e as memórias são especificas dos grupos sociais, da mesma forma que deveriam ser os conceitos científicos do tratamento dessas. Decorre também a impossibilidade de uma historia universal ou universalizada. Sendo esse ainda um enorme problema da pesquisa e do ensino de historia no Brasil. Esses desconsideram as perspectiva das populações negras brasileiras.

A memória da população negra é a síntese das lembranças da vida dessa população dentro dos fatos que são importantes e relevantes na nossa formação cultural. As memórias da população negra são condicionadas a vivência social e cultural das populações negras e é especifica. Para as lembranças da população branca racismo antinegro nunca existiu. Para uma parcela da população negra essa é a lembrança mais cruel das experienciais vividas, mesmo as pessoas não saibam conceitua-las como racismo antinegro. Sendo que racismo não é um problema de raças e sim de política de dominação. Sendo que também não vale pensarmos que na sociedade socialista não haverá racismo antinegro, pois as nossas lembranças são parte do passado e não do futuro.

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Henrique Cunha Júnior é professor da Universidade Federal do Ceará (UFC). Possui mestrado em Dea de Historia - Université de Nancy- França (1981) e Doutorado em Engenharia Elétrica pelo Instituto Politécnico de Lorraine (1983) e orienta doutoramentos e mestrados em Educação com temas relacionados a história e cultura africana, espaço urbano, bairros negros.


O direito e a teimosia de sonhar: janeiro celebra a memória de Martin-Luther King



Enquanto vivia, a grande mídia norte-americana tentou destruí-lo. Depois que foi assassinado, fez dele um herói.
Do Ceert

Um dos problemas mais sérios do mundo atual é que a sociedade dominante se tornou tão forte e, de tal forma, a todos impõe os seus valores que rouba das pessoas até o direito de sonhar. A sociedade do shopping cria fantasias de consumo que parecem sonhos, mas não têm a consistência de projetos de vida. As pessoas se preparam para ganhar mais ou ter sucesso na vida mas poucas pensam para que empreender toda essa luta. E a juventude que tem todo o direito de, através do conhecimento, se apossar da história e do pensamento dos grandes sonhos da humanidade. A educação não pode ser fragmentada e esfacelada, como manda o projeto criminoso do atual governo brasileiro.

No mundo inteiro, nesse próximo final de semana, as pessoas que trabalham pela paz entre os povos e pela igualdade entre os seres humanos celebram a memória do pastor negro Martin-Luther King.  No começo dos anos 60, nos Estados Unidos, o pastor King coordenava a luta da população negra pela igualdade social e por seus direitos civis. Enquanto ele vivia, a grande mídia norte-americana tentou destruí-lo de todos os modos possíveis. Depois que ele foi assassinado, fez dele um herói. O dia do aniversário de seu nascimento, 15 de janeiro, foi consagrado como feriado nacional, celebrado sempre na terça segunda feira de janeiro.

Mais de 50 anos depois dessa vitória legal do povo negro, tanto nos Estados Unidos, como na maioria dos países do mundo, a humanidade ainda não eliminou o apartheid social e econômico. Na América Latina, quase sempre, ser negro é sinônimo de ser pobre. A África do Sul superou o apartheid político, mas mantém uma imensa desigualdade racial, baseada na divisão econômica. Com relação a isso, ainda ressoam as palavras do pastor Martin-Luther King: “O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons. Mais do que a violência de poucos, me assusta a omissão de muitos”. Ele explicava: “Uma pessoa que não descobriu nada pela qual aceitaria morrer, não está ainda pronta para viver”. Onde ele mais expressou essa causa maior pela qual viver e lutar foi no célebre discurso, considerado por várias pesquisas o discurso mais importante feito nos Estados Unidos, durante o século XX. Nos degraus do Lincoln Memorial em Washington, ao encerrar a marcha por direitos civis e igualdade de emprego, diante de mais de 200 mil pessoas, no 28 de agosto de 1963, o pastor Martin- Luther King começou seu discurso dizendo: “Eu tenho um sonho”. Apesar de ter sido proferido há mais de 50 anos, suas palavras ainda se mantêm atuais e proféticas. O sonho dele era viver em um mundo no qual os seus filhos negros pudessem andar de cabeça erguida e conviver de igual para igual com os colegas brancos, freqüentar os mesmos colégios e participar dos mesmos ambientes sociais. “Sonho com um mundo no qual meus filhos possam ser julgados por sua personalidade e não pela cor de sua pele”. Era o sonho de ver o mundo superar as divisões raciais e sociais que ainda tornam esta terra um vale de lágrimas e injustiças.

Desde a última década do século XX, mas principalmente a partir dos primeiros anos desse século, vários países na América Latina conseguiram transformar o sonho de justiça e libertação dos nossos povos em projetos que se concretizaram em novas constituições cidadãs em países como a Venezuela, o Equador e Bolívia. Os povos conseguiram eleger governos mais progressistas e, mesmo em meio a muitas ambiguidades, mais ligados à causa dos mais pobres. No entanto, as elites locais insatisfeitas, patrocinadas e apoiadas pelo império norte-americano, ávido de retomar o seu poder no continente, conseguiram fragilizar os processos sociais, derrubar alguns governos e reinstalar de novo em vários países a dependência e a opção pela maior desigualdade e discriminação social. A memória de profetas como o pastor Martin-Luther King nos assegura que, mesmo com todos os ataques do império, ninguém conseguirá destruir os melhores sonhos dos nossos povos.

É bom lembrar que a espiritualidade é a opção de viver desde agora para tornar realidade aquilo que sonhamos. Toda a Bíblia pode ser lida a partir da revelação progressiva de um projeto divino de paz, justiça e comunhão entre os seres humanos e com a natureza. O pastor Martin-Luther King nos recordava: “Lembremo-nos de que existe no mundo um poder de amor que é capaz de abrir caminho onde não há caminho e de transformar o ontem escuro em um amanhã luminoso”.  

"No começo dos anos 60, nos Estados Unidos, o pastor King coordenava a luta da população negra pela igualdade social e por seus direitos"/ Foto: Reprodução -  Brasil de Fato.

Para ativista outro mundo só é possível com debate sobre população negra



O cabelo crespo, o turbante e a estética africana nas roupas são exemplos de como a resistência e a história das mulheres negras se apresentam no cotidiano. Durante o Fórum Social Temático, que ocorre em Porto Alegre, elas trouxeram para uma roda de conversa as diversas experiências que marcaram a vidas delas e o processo de construção da própria identidade.


Assumi meu cabelo há dois anos. Antes, eu alisava. Engraçado que ninguém disse que ficou bom. As pessoas dizem que ficava melhor antes. Quem me disse o contrário foram vocês [mulheres negras], fomos nós”, relatou Ana Carla Vidal, da Associação Cultural de Mulheres Negras (Acemun).

Debate com o tema "Mulheres Negras: história, memória e resistência", durante o Fórum Social Temático em Porto Alegre.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil.
Ana Carla lembrou também o período em que entrou na faculdade de história no início dos anos 2000. “Eu me orgulhava pela ideia da meritocracia. Só depois fui entender porque só éramos dois negros naquele curso e porque outros não chegavam ali”, relatou.

Ao lado dela, Renata Lopes, representante da Fundação Cultural Palmares, lembrou que entrou assustada e se sentindo estranha na universidade. “Quando vejo a juventude que está entrando hoje, espero que estejam mais empoderadas do que eu estive”, disse ao relembrar dificuldades básicas, como a falta de recursos para o transporte e para o lanche.

Giselle dos Anjos Santos, do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert), organização não governamental que propôs a atividade, aponta que há grande invisibilidade em relação a história das mulheres negras. “Sempre faço uma provocação de perguntar quando as pessoas tiveram contato, na formação escolar, com mulheres negras, de como elas se fizeram presentes na história. Vejo a incógnita na cara das pessoas”, destacou.

Ela lembra que esse segmento representa cerca de 25% da população brasileira. “Se não acessamos essas contribuições, não conhecemos nossa história”, avaliou.

Para ela, não é possível pensar outro modelo de desenvolvimento, como propõe o Fórum Social Mundial, sem o recorte de gênero e raça. “Não dá para pensar na construção e ressignificação de outro mundo sem discutir e problematizar quais são as pessoas que estão em uma condição mais vulnerável na nossa sociedade, que sempre é a população negra, a mulher negra”, defende.

Vanda Vieira, do Movimento Negro Unificado, lembrou formas de resistência como o uso da palavra em espaços públicos e a participação em registros fotográficos em eventos. “Normalmente, não falamos no microfone e sentamos lá nas últimas cadeiras. Costumo falar que não podemos passar da terceira fila [de cadeiras]. Temos tantas formas de resistir que não usamos”, disse.

Giselle reforça que é fundamental perceber pequenos atos de insurgência no cotidiano. “Muitas mulheres relataram a questão de entrar na universidade, a questão estética, que, para nós, assumir o cabelo natural é política, diante de um padrão que é excludente”, citou.

A coordenadora do Geledés – Instituto da Mulher Negra, Nilza Iraci, questiona a falta de mulheres, por exemplo, nos espaços de maior expressão do Fórum Social Temático, que são as mesas de convergência. “Sempre é uma luta muito grande para incluir a questão racial, seja no comitê internacional, seja em qualquer outro espaço”, avaliou.